O dia 10 de dezembro de 1874 representa a data oficial de inauguração da primeira estação em território que ainda hoje pertence ao município de Leopoldina. Esta é a data informada por Xavier da Veiga, nas Efemérides Mineiras: 1664-1897 [Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998. 2 volumes. pag 1042]. Entretanto, uma nota no Jornal do Commercio de 18 de dezembro de 1874, edição 350, página 4, informa que a estação de Providência foi aberta ao tráfego no dia 9 de dezembro de 1874.
Como se sabe, a lei nº 1.826 da antiga província de Minas Gerais, datada de 10 de outubro de 1871, concedeu privilégio para a construção de uma primeira estrada de ferro entre Porto Novo do Cunha, na fronteira entre os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, e Leopoldina. Posteriormente o decreto do governo imperial nº 4.914, de 27 de março de 1872, modificou a concessão, estendendo o percurso até Cataguases, com uma estação em Vista Alegre – então um povoado às margens do Pomba em território de Leopoldina, e o centro de Leopoldina.
Dois meses antes da inauguração da estação em Providência começaram a funcionar as estações Porto Novo (Além Paraíba), Pântano (depois Antônio Carlos, atual Fernando Lobo) e Volta Grande. A estação de São José, localizada entre a Porto Novo e a Pântano, só foi construída mais tarde, com o objetivo de desafogar a estação Porto Novo que era o ponto de ligação da Estrada de Ferro Pedro II com a Leopoldina.
No mesmo dia em que Providência foi inaugurada, começou também a funcionar a estação São Luiz (Trimonte). No ano seguinte foi a vez de iniciarem as operações em São Martinho e ser concluído o assentamento dos trilhos até Santa Isabel (Abaíba), cuja estação foi inaugurada somente em 25 de maio de 1876. Entre junho e agosto de 1876 foi a vez das estações Recreio e Campo Limpo (Ribeiro Junqueira) e no dia 02 de julho de 1877 foram inauguradas as estações Vista Alegre e Leopoldina.
Nasce em Leopoldina, Manoel Funchal Garcia, patrono da cadeira nº 12 da Academia Leopoldinense de Letras e Artes. [Arquivo da Diocese de Leopoldina, Livro 3 de batismos, fls 80]
11 de fevereiro
1900
Inaugurada a iluminação a gás em Leopoldina.
12 de fevereiro
1868
Criado Comando da Guarda Nacional em Leopoldina.
1874
Gama Cerqueira e Joaquim Barbosa de Castro são nomeados inspetores de instrução pública em Leopoldina. [Diário de Minas, edição 206, 12 fev 1874, página 2]
13 de fevereiro
1857
Notícias do Correio Oficial de Minas, 23 fev 1874, página 4:
– Ângelo Lopes dos Reis é nomeado como professor substituto de primeiras letras em Leopoldina;
– José Augusto Monteiro de Barros e Francisco José de Freitas Lima são nomeados juízes municipais substitutos.
1891
O Distrito de Nossa Senhora das Dores do Monte Alegre do Pomba, atual Itapiruçu, é transferido de Leopoldina para Palma, conforme Decreto Provincial 374 desta data.
18 de fevereiro
1855
Aberto o Primeiro Livro de Batismos, com o assento relativo a Cristina, filha de Francisco de Vargas Corrêa e Venância Esméria de Jesus, neta paterna de Francisco de Vargas e Teresa Maria de Jesus e neta materna de Antonio Rodrigues Gomes e Rita Esméria de Almeida. Há, porém, uma questão ainda não solucionada sobre este assento. Segundo a lápide do túmulo de Cristina, ela nasceu aos 21 de janeiro de 1853. Teria sido um engano da época do óbito, em 1907?
Quando se procura pelos primeiros livros de batismos em Leopoldina, verifica-se que o volume tido oficialmente como número 1 é uma transcrição iniciada pelo Padre José Francisco dos Santos Durães no dia 10 de abril de 1885 e concluída pelo Cônego José Ribeiro Leitão aos 28 de dezembro de 1958. O original não foi preservado e as datas demonstram que o trabalho não parece ter sido realizado com os devidos cuidados. Neste volume não há referência ao Termo de Abertura do original e o primeiro batismo é de 1852, de uma criança da família Monteiro de Barros. Os seis assentos seguintes, na mesma página, são de batismos dos anos de 1861, 62 e 63. No verso, o primeiro é de 1863 e a seguir vem a transcrição do batismo de Cristina, acima citado, acrescentando que ela teria nascido em dezembro de 1854.
A propósito, esclareça-se que os batismos realizados ao tempo do ainda Curato de São Sebastião do Feijão Cru devem ter sido lançados nos livros da Freguesia, que ainda não foram localizados. Estariam no arquivo da Arquidiocese do Rio de Janeiro, a cujo bispado o Feijão Cru estava subordinado.
1856
Iniciado o Registro de Terras em Leopoldina.
1883
Notícias sobre Libertação de Escravos em Leopoldina.
1915
Matéria paga publicada no jornal Correio da Manhã desta data, página 5, traz um conjunto de informações do município de Leopoldina naquele momento.
20 de fevereiro
1848
O mais antigo batismo registrado em livro da Paróquia de São Sebastião do Feijão Cru.
21 de fevereiro
1851
Aberto o Alistamento dos Votantes do Curato de São Sebastião do Feijão Cru, então distrito de São João Nepomuceno, constando de 8 quarteirões nos quais foram computados 357 votantes. [Arquivo Público Mineiro, PP 11 cx 36 pacote 29].
22 de fevereiro
1895
Autorizada a compra de um prédio para a Câmara Municipal de Leopoldina.
24 de fevereiro
1882
Juízes de paz multados por não terem presidido as respectivas juntas de alistamento eleitoral.
25 de fevereiro
1875
Nasce em Abaíba, Custódio Monteiro Ribeiro Junqueira, patrono da cadeira nº 16 da Academia Leopoldinense de Letras e Artes. [Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, data na lápide no túmulo]
27 de fevereiro
1945
Nasce em Leopoldina Luiz Raphael Domingues Rosa, patrono da cadeira nº 14 da Academia Leopoldinense de Letras e Artes.
Memorial diário da história de Leopoldina, com acontecimentos do mês de março.
1 de março
1891
Começam a funcionar em Leopoldina o Colégio Werneck e o Banco de Leopoldina.
9 de março
1990
Morre em Leopoldina a professora Judith Lintz Guedes Machado[1], patrona da cadeira nº 4 da Academia Leopoldinense de Letras e Artes.
12 de março
1891
Baldoíno Teixeira Lopes Guimarães presta exame de habilitação para atuar como advogado.
13 de março
1897
Nasce em Leopoldina, Ormeo Junqueira Botelho[2], patrono da cadeira nº 22 da Academia Leopoldinense de Letras e Artes.
15 de março
1891
Antigos fotógrafos em Leopoldina: F. S. Teixeira, Manoel Machado de Azevedo Dias, Cesar Rolly, Hamilton Vascencelos e Jarbas Pereira da Silva.
18 de março
1941
Morre em Leopoldina o médico e político Custódio Monteiro Ribeiro Junqueira[3], patrono da cadeira nº 16 da Academia Leopoldinense de Letras e Artes.
23 de março
1843
O Feijão Cru aparece pela primeira vez num Relatório da Presidência da Província, relativo ao ano de 1842, como freguesia composta dos distritos do Feijão Cru e do Angu, pertencendo ao município de São João Nepomuceno, contando com 562 casas e 220 eleitores[4].
25 de março
1855
Leopoldina conta com 3 igrejas e 1 capela.
1894
Nasce em Pedralva, MG, Irineu Lisboa[5] patrono da cadeira nº 1 da Academia Leopoldinense de Letras e Artes.
1899
Dilermando Cruz publica o poema Ser Noivo, dedicado ao amigo e colega de trabalho Ricardo José de Oliveira Martins.
27 de março
1841
O curato de Madre de Deus do Angu é elevado à categoria de Distrito de Paz.
A lei que criou o Distrito do Angu é a mais antiga referência ao Distrito do Feijão Cru em documentos oficiais, já que não foi encontrado o documento que o criou. Como se pode ver na imagem abaixo, em seu Artigo 5 determina que o Ribeirão do Rio Pardo marque a divisa entre os distritos do Feijão Cru e do Senhor Bom Jesus (atual Argirita).
1872
Decreto Imperial concede ao engenheiro Antonio Paulo de Mello Barreto autorização para organizar uma companhia que se incumba de construir uma estrada de ferro econômica, entre a Estação do Porto Novo do Cunha e Santa Rita da Meia Pataca[6]
28 de março
1818
Maria Umbelina de Santa Brígida e Antônio Francisco Teixeira Coelho recebem duas sesmarias no Sertão do Rio Paraíba do Sul[7]. No testamento de Antônio Francisco confirma-se que eles haviam tido a filha Maria Antônia de Jesus que se casou em Prados, os 18 de setembro de 1822[8], com Bernardo José Gonçalves Montes, que recebeu as duas sesmarias como dote. No mesmo testamento é informado que as terras foram repassadas para Antônio José Monteiro de Barros. As duas sesmarias estão na origem da Colônia Agrícola da Constança e da Fazenda Paraíso.
[1] Cartório de Registro Civil de Leopoldina, MG, Livro de Óbitos 88-91 fls 206 termo 4407.
[2] Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, lápide no túmulo.
[3] Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, lápide no túmulo.
[4] Exposição feita pelo Exmo. Conselheiro Bernardo Jacintho da Veiga, na qualidade de presidente da província de Minas Gerais, a seu sucessor, o Exmo. Tenente-general Francisco José de Souza Soares de Andréa, no ato da sua posse. Rio de Janeiro: Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve e C.a, 1843, Mapa 9, p. 2
[5] Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, data na lápide no túmulo.
[6] VEIGA, José Pedro Xavier da. Efemérides Mineiras: 1664-1897. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998. v. 1, p. 338
[7] Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, vol. 37, nr. 1, 1988, SC. 377 fls 68 e 70.
[8] SETTE, Bartyra e JUNQUEIRA, Regina Moraes. Projeto Compartilhar(http://www.projetocompartilhar.org/), ensaio Os Rodrigues Dantas. Acesso set.2007.
O Relatório da Presidência da Província informa que naquele ano o distrito do Feijão Cru estava dividido em 4 quarteirões, que ali residiam 237 votantes e que pertencia ao município de Mar de Espanha. Informa ainda que o distrito da Piedade contava com 199 votantes em 7 quarteirões, que o Rio Pardo dividia-se em 9 quarteirões com 154 votantes e que Conceição da Boa Vista contava com 358 votantes. No ano seguinte o Feijão Cru seria emancipado e, além dos distritos da Piedade, Rio Pardo e Conceição da Boa Vista, seria cabeça de uma grande área territorial.
9 de maio
1890
Criação do distrito de Providência.
12 de maio
1895
Uma notícia sobre pagamento a professores permitiu costurar alguns dados sobre antigas escolas no distrito de Campo Limpo, atual Ribeiro Junqueira.
15 de maio
1855
No segundo ano de emancipação, Leopoldina contava com os seguintes professores públicos: Antônio Felício de Miranda e Maria Carlota da Gama.
16 de maio
1867
O proprietário da Fazenda Suspiro teve negado seu pedido para interromper um caminho que ele mesmo mandara fazer.
20 de maio
1865
Nasce Lino Montes, um dos mais antigos restratistas pintores de Leopoldina.
21 de maio
1881
Decreto nº 8.117 organiza os distritos eleitorais da Província e Leopoldina é o nono distrito.
24 de maio
1855
Assembleia Legislativa Provincial autoriza a Câmara Municipal da Vila Leopoldina a construir uma barca para dar passagem no Rio Pomba, cobrando as taxas devidas dos passantes.
25 de maio
1876
Inauguração da Estação de Santa Isabel (Abaíba) da Estrada de Ferro Leopoldina[1]
31 de maio
1856
Assembléias Legislativa Provincial aprova as Posturas da Câmara Municipal da Vila Leopoldina: 220 artigos divididos entre 7 títulos.
1893
Território mineiro é dividido em 5 distritos de imigração, sendo que o 2º tem sede em Leopoldina [2]
______________________________________
Notas
[1] VEIGA, José Pedro Xavier da. Efemérides Mineiras: 1664-1897. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998. 2 volumes, p. 516
Olímpio Clementino de Paula Corrêa é professor de Português, Francês e Latim em Leopoldina.
2 de julho
1877
Inauguração da Estação de Leopoldina da Estrada de Ferro Leopoldina. [1]
4 de julho
1857
Laranjal
A Capela de Nossa Senhora da Conceição do Laranjal, município de Leopoldina, fica elevada a Distrito de Paz. [2]
10 de julho
1876
Presidente da Província é autorizado pela Assembleia Legislativa a auxiliar na construção de uma estrada (caminho) que da estação de ferro de Providência se dirija à cidade de Leopoldina. [3]
14 de julho
1832
São José do Paraíba: trajetória administrativa.
1895
Lançamento do jornal O Mediador, tendo como redator Alberto Moretz-Sohn Monteiro de Barros e como gerente, Alexandre Chaves. O novo jornal foi saudado nas edições dos concorrentes A Voz de Thebas – edição de 14 julho e Gazeta de Leopoldina – edição de 18 de julho.
15 de julho
1872
Criação da Comarca de Leopoldina e seus primeiros juízes.
1896
Em 1895 estava em funcionamento uma Hospedaria de Imigrantes em Leopoldina, nas proximidades da Estação de Vista Alegre da Estrada de Ferro Leopoldina. [4]
16 de julho
1897
Leopoldina deixa de pertencer à diocese do Rio de Janeiro e é transferida para Mariana. [5]
17 de julho
1883
Antonio Diogo Vieira, professor público de Leopoldina.
19 de julho
1872
O Curato de Conceição da Boa Vista, pertencente do município de Leopoldina, é elevado à categoria de Paróquia. [6]
Referências:
[1] VEIGA, José Pedro Xavier da, Efemérides Mineiras: 1664-1897. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998. 2 volumes, pag. 639
[2] Lei Mineira nr 818, de 04 de julho de 1857
[3] Lei Mineira nr 2287, de 10 de julho de 1876
[4] Mensagem do Presidente da Província Crispim Jaques Bias Fortes, 15 de julho de 1896, pag. 31
[5] Ata de Instalação da nova Comarca Eclesiástica, no livro de batismos 1897-1898, páginas 49 verso e 50
[6] Lei Mineira nº 1902, Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro
No início, o Feijão Cru era subordinado ao distrito de São José do Paraíba. Em 1854, quando foi emancipado com o nome de Vila Leopoldina, foi a vez do São José do Paraíba lhe ser subordinado. Mais tarde o território do atual município de Além Paraíba foi transferido para Mar de Espanha até emancipar-se.
Aspecto ainda não estudado da história de Leopoldina, os Caminhos do Povoamento da zona da mata mineira estão sendo pesquisados em parceria por Nilza Cantoni e Joana Capella e deste trabalho foi extraído o material utilizado em palestra realizada no Cefet, campus Leopoldina, na abertura do II Festival de Arte e Cultura, neste ano de 2012.
O convite para encontrar-me com os profissionais da Educação que atuam em Leopoldina foi um grande presente. Ao longo do tempo eu venho colhendo dados e buscando interpretá-los à luz do conhecimento produzido pelos especialistas de diversas áreas, tendo chegado a algumas conclusões que gostaria de dividir com vocês. Hoje falarei sobre um estudo inédito que acredito ser importante para ampliar o conhecimento sobre a então Vila Leopoldina.
Localização de Leopoldina pelo Google Earth
Neste recorte, destaquei os pontos importantes para o assunto de hoje: a localização de Ouro Preto, Mariana, Barbacena, Cataguases, Leopoldina, Cantagalo, Campos dos Goitacazes e Rio de Janeiro.
Agora viajaremos para 1847.
Cartografia de 1847
Esta cartografia[1] foi produzida por João José da Silva Teodoro e concluída em 1847. O original encontra-se na Biblioteca Nacional. Fazendo um recorte no mapa, verifica-se que a cartografia detalha os termos do Pomba, Presídio de São João Batista (atual Visconde do Rio Branco) e São João Nepomuceno:
Os Termos do Pomba em 1847No território do Termo de São João Nepomuceno, o distrito do Feijão Cru em destaque.
No território do Termo de São João Nepomuceno encontra-se em destaque o distrito do Feijão Cru.
Procurando saber quem foram as pessoas que se estabeleceram no Feijão Cru[2], verifiquei que, à exceção de uma das primeiras famílias que aqui se fixaram, todas as que consegui identificar procediam de região agrícola. Donde se derruba um dos mais arraigados mitos da história de Leopoldina, ou seja, de que os povoadores eram deserdados do ouro.
Voltemos ao mapa completo de João José da Silva Teodoro.
Rio Paraíba do Sul na zona da mata mineira, recebendo o Pomba e seus dois principais afluentes: o Novo e o Xopotó
Além dos rios Paraíba do Sul, Pomba, Novo e Xopotó, e do Caminho Novo à esquerda, acima destacamos as localidades de Ouro Preto, Presídio, Campos dos Goitacazes e Cantagalo.
Acrescentado o provável percurso do Caminho do Cantagalo [na cor vinho] mencionado em diversas Cartas de Sesmaria[3] e aberto pelas tropas de Pedro Afonso Galvão de São Martinho nas investidas de 1784[4] e 1786[5]. Pelo que nos foi dado apurar, o Caminho do Cantagalo foi o trajeto utilizado pela maioria dos povoadores do Feijão Cru e serviu de base para uma estrada de rodagem de São João del Rei a Cantagalo[6].
Em verde a estrada Presídio-Campos
Prosseguindo, temos agora a Estrada Presídio – Campos dos Goitacazes[7], aberta por volta de 1812[8]. O trajeto desta estrada foi definido a partir de anotações colhidas em correspondência de Guido Marliére, referências em Cartas de Sesmarias[9], em Spix & Martius[10] e em Burmeister[11].
Segundo Helena Guimarães Campos[12],
O estudo dos caminhos é determinante para a compreensão dos processos históricos, pois eles estão associados à exploração, ocupação e povoamento dos territórios [...] A existência, a inexistência ou as condições dos caminhos traçam os rumos dos limites e das possibilidades da história dos povos, que tem ou não seus territórios articulados com outros.
Abordando as pesquisas realizadas sobre o Caminho Novo, o professor Ângelo Alves Carrara[13] informou que os Diários de Viagem dos Soldados Dragões demonstram que havia um caminho “vertebrador” e uma boa quantidade de variantes, sendo de notar que os soldados eventualmente faziam o percurso de ida por um trecho e na volta utilizavam outra variante, dando notícia precisa da distância entre cada parada que faziam.
Embora não tenhamos “diários de viagem” sobre os nossos caminhos, as referências encontradas na cartografia que pesquisamos indicam que o Caminho do Cantagalo e a Estrada Presídio-Campos dos Goitacazes também não eram uma via de percurso único. No caso do acesso a Cantagalo, temos referências sobre alternativas existentes em 1858, quando a viajante Ida Pffeifer o atingiu na altura da Aldeia da Pedra, hoje Itaocara[14].
Trilhando e abrindo novos caminhos, os povoadores do Feijão Cru foram ampliando sua área de influência, conforme podemos verificar no mapa seguinte.
Aí está um trecho de cartografia produzida pelos engenheiros Halfeld e Tschudi[15] e publicada em 1855, no qual destaquei o território que formou a Vila Leopoldina em 1854.
Pensar os nossos antigos caminhos é fundamental para compreendermos a nossa história. Por esta razão eu convido a todos para refletirem sobre a ocupação das áreas cortadas pelo Caminho do Cantagalo e pela Estrada Presídio-Campos dos Goitacazes. De onde vieram as pessoas que implantaram em nossa terra a lógica colonial? Quais eram as suas práticas culturais? Como se alimentavam? Como supriam as necessidades básicas de suas famílias? Por onde escoavam a produção? De que forma produziam riqueza?
Voltando o olhar para estes aspectos, as informações acumuladas nos fizeram chegar à imagem seguinte, montada a partir de topografia disponível no Arquivo Público Mineiro[16].
Segundo Bloch[17], “textos ou documentos […] não falam senão quando sabemos interrogá-los”. Para Le Goff[18] a “memória, na qual cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro”. Nosso trabalho tem tido como objetivo resgatar textos e documentos sobre a história de Leopoldina, analisando-os e divulgando-os para que todos tenham acesso.
a) Nilza Cantoni
NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] TEODORO, João José da Silva. Carta Topographica dos Termos do Presidio, Pomba e S. João Nepomuceno. 1847. Disponível na Biblioteca Nacional, Seção de Mapas, 2617.
[2] CANTONI, Nilza. Povoadores do Feijão Cru. In: História Social através da Genealogia. Comunicação apresentada no 2º Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo. São João del Rei: 21 agosto 2011.
[3] Carta de sesmaria consultada no Arquivo Histórico Municipal Professor Altair Savassi, de Barbacena: MACHADO, José Joaquim Machado, Fundo PJ, Grupo 1SVC, Série AC. Caixa 42, Ordem 12.
Sesmarias consultadas no Arquivo Público Mineiro: Códice SC 275 [BRANDÃO, Manoel Carvalho / p. 164]; Códice SC. 352 [CARVALHO, Domingos Gonçalves de/ p. 73 v; MATTOS, Marcelino Pereira de/ p. 74 v; NICACIO, Antonio Dutra/ p. 78 v]; Códice SC. 377 [ANNA Margarida/p. 119; AZEVEDO, Manoel Ferreira de/p. 95; BAPTISTA, Joanna/p. 123; BARROS, Francisco Xavier de/p. 5; CARNEIRO, João Nepumuceno – sac/p. 136; CASTRO, Antonio José de/p. 93; CASTRO, Clara Maria de Sá e/p. 106; CASTRO, Jacintho Manoel de/p. 126; CASTRO, Maria do Carmo de/p. 121; CONCEIÇÃO, Maria Joanna da/p. 97; CONSTANCIA, Francisca/p. 107; CORREA, Je. Joaquim – sgt mor/p. 48; FERREIRA, José Lopes/p. 149; FIGUEIREDO, Luiza Alexandrina da Mota e/p. 80; GAMA, Francisco Xavier Monteiro da/p. 125; GAMA, Maria Balbina Monteiro da/p. 108; JOZÉ, Maria/p. 103; MARGARIDA, Eufrásia/p. 96; MATTOS, Matheus Herculano Monteiro da Cunha e/p. 124; MONTEIRO, Francisca de Assis/p. 129; MONTEIRO, José Maria/p. 105; MONTEIRO, Lucas Antonio/p. 92; MONTEIRO, Miguel Antonio/p. 102; MOTTA, José Luiz da/p. 81; OLIVEIRA, João José/p. 138; PAULA, Barbara Marcelina de/p. 47; PIMENTEL, Alexandre Pereira/p. 43; PIMENTEL, João Pereira alf./p. 42; SÁ, Ana Maria de/p. 120; SILVA, Francisco Antunes da/p. 140; SILVA, Joaquim José da (tem.)/p. 137; SOARES, João Teixeira/p. 139; SOUZA, Fernando José de Almeida e/p. 41].
[4] CARTAS do sargento-mor Pedro Afonso Galvão de São Martinho para Luiz da Cunha Meneses, de São Manuel do Pomba, 12 de maio e 7 de agosto de 1784; da Margem do Paraíba, 22 de maio e 10 de junho de 1784; do Porto Novo do Cunha, 5 e 18 de junho de 1784; do Sertão do Rio Novo, 24 de junho de 1784. Disponíveis no Arquivo Público Mineiro, Coleção Casa dos Contos, caixa 13, item 10266; caixa 3, itens 10060, 10061, 10071, 10072.
[5] CASTRO, Celso Falabella de Figueiredo. Os Sertões de Leste: achegas para a história da zona da mata. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1987.
[6] PLANTA da Estrada de Automóvel São João del Rei a Canta Galo, 1928. Disponível no Arquivo Público Mineiro, Fundo Secretaria de Agricultura, SA – 263(10) e MAPA de saída dos gêneros alimentícios de Cantagalo para Baependi, Sabará, Tamanduá, Barbacena, Pitangui, São João, Jacuí, Vila Rica, Caeté, Vila do Príncipe e Campanha, 30 de setembro de 1819, Coleção Casa de Contos, caixa 37, item 30094.
[7] PINTO, A. P. Mapa Topográfico do Povoamento da Ex-Vila do Presídio. 1854. Disponível no Arquivo Público Mineiro, Fundo Presidência da Província, PP 012.
[8] Em correspondência. ao Presidente do Conselho da Província, datada de 07.01.1826, Revista APM, vol. XI, pag 123, Guido Tomaz Marlière declara, sobre a Estrada de Minas aos Campos de Goytacazes: “Esta utilissima Estrada desde que se abrio em 1812, pela authoridade do Exmo. Governador e Capitão General Conde de Palma, não vio o menor concerto […] desde a Serra da Onça, no Prezidio de S. João Baptista, até o Registro da Pomba nossa fronteira em hua extenção de 33 leguas.” Afirma ainda que a estrada era utilizada pelos tropeiros para aprovisionar colonos dosTermos de Mariana, Barbacena e Caeté.
[9] Sesmarias consultadas: Códice 352 [ARAUJO, Manoel (Marçal) José de/p. 39; CABRAL. Francisco de Assis Ferreira/p. 60; CANDIDO, Antonio Gomes/p. 62; CANDIDO, Francisco de Paulo/p. 61; COSTA, Antonio Pereira da/p. 43 v; COSTA, Salvador Pereira da/p. 44 v; FRANCISCO, Antonio/p. 63; GODOY, Anna Joaquina de/p. 41 v; JARDIM, Manoel Roiz – sac./p. 39 v; MACHADO, Antonio da Cruz/p. 55; MELLO, Manoel Ignacio de/p. 33 v; MONTEIRO, Francisco de Assis Lopes/p. 34 v; MONTEIRO, João Procópio Lopes/p. 36; PICADO, José Marinho Lopes/p. 57 v; PINTO, Luiz Maria da Silva/p. 38; RIBEIRO, Diogenia Pereira (Izabel Dioguina Ribeiro Pereira de Vasconcelos)/p. 46; RIBEIRO, Joaquim José Lopes Mendes – padre/p. 35; ROCHA, Candido Joaquim da – sac./p. 32 v; SACRAMENTO, Joanna Umbelina Clara do/p. 37; UMBELINA, Anna Roza/p. 62 v; VASCONCELLOS, Fernando Pereira de/p. 49; VASCONCELLOS, Joanna Jacintha Pereira Ribeiro de Vasconcellos/p. 42 v; VELASCO, Francisco José Pereira de/p. 56]; Códice SC 363 [ARAUJO, Lucas José de/p. 114; COSTA, Joaquim Marques da/p. 137 v; FONSECA, Manoel Escorcia da/p. 9 v; GOMES, Antonio José/p. 15; MOREIRA, Antonio Marques/p. 178; MOREIRA, Francisco Antunes/p. 76 v; PIRES, Joaquim Correa/p. 73; VASCONCELLOS, Antonio Francisco/p. 8]; Códice SC 377 [ALMEIDA, Manoel Carlos de/p.202; COURA, Manoel Barbosa/p.85; FERREIRA, Joaquim de Freitas/p.165 ]. Disponíveis no Arquivo Público Mineiro.
[10] SPIX, Johann Baptista von e MARTIUS, Carl Friedrich von . Viagem pelo Brasil: 1817-1826. São Paulo: Melhoramentos, 1976
[11] BURMEISTER, Herman. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980
[12] CAMPOS, Helena Guimarães. Caminhos da História: Estradas Reais e Ferrovias. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012. p. 15
[13] CARRARA, Ângelo Alves. O Caminho Novo em 3D. Comunicação apresentada no 3º Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo. Conselheiro Lafaiete: 30 jun 2012
[14] LAMEGO, Alberto Ribeiro. O Homem e a Serra. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. p. 223
[15] HALFELD, Henrique Guilherme Fernando e TSCHUDI, Johann Jakob von. A Província Brasileira de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998
[16] Cartas Topográficas das cidades de Cataguases, Além Paraíba e Ubá, produzidas pela Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais, publicadas pela Seção Cartográfica da Companhia Melhoramentos, de São Paulo, em 1926 e 1927, folhas 18, 19, 20, 22 e 23.
[17] BLOCH, Marc. Apologia da História ou O Ofício de Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 79-80, 102-104
[18] LE GOFF, Jacques. História e Memória. 5. ed. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2003. p. 471Os Caminhos do Povoamento e a Origem da Vila Leopoldina