153 – Caminhos percorridos pelo homem livre

Conforme prometido no Trem de História anterior, os caminhos percorridos pelo homem livre formam a “bagagem” para a viagem de hoje.

Quando se fala em antigos caminhos é comum se pensar em rios como estradas. Mas é preciso observar que nem sempre estes cursos d’água se prestavam a isto, simplesmente porque muitas das vezes não eram navegáveis.

Na verdade, os caminhantes seguiam os rios, nos dois sentidos, muito mais como forma segura de orientação para avançar pelas matas, já que as águas correntes não retornam ao ponto de onde vieram e porque lhes dava a certeza da direção a seguir no retorno.

Agora, mergulhem num tempo em que a mão humana contava com poucos equipamentos que lhe facilitassem a jornada. Esqueçam o GPS – Global Position System, e se imaginem no meio de uma floresta. Imaginem quantas vezes estas pessoas terão seguido um curso d’água que seria afluente do que acabaram de deixar para trás? Esta era a realidade.

E saiba que estas observações se referem aos primeiros entrantes e não às famílias que viriam mais tarde se estabelecer na Mata Mineira. É lícito supor que os primeiros homens livres que exploraram a região chegaram a pé, por picadas muitas vezes abertas pelos nativos, porque não existiam estradas carroçáveis.

Conforme lembrou Sérgio Buarque de Holanda[1], mesmo para transporte de cargas os cavalos foram “de escasso préstimo, preferindo-se os carros de bois sempre que houvesse estrada capaz”. Embora o autor se referisse aos sertões de São Paulo no século XVIII, a situação na capitania mineira nos primeiros anos do século seguinte não era diferente. Somente quanto da mudança da “família estendida”[2] para o novo endereço, quando já havia caminho que o permitisse, eram utilizados carros de bois para o transporte da carga. E mesmo aí, as pessoas continuavam viajando a pé.

É ainda de Sérgio Buarque a indicação de que, em alguns casos, eram contratados indígenas, mamelucos ou escravos de carga. O que não justifica as histórias contadas de que os fazendeiros possuíam numerosa escravaria, contada às centenas.

Até porque pelo que foi apurado nas contagens populacionais de 1831, 1834 e 1843 do Feijão Cru, a média de escravos por unidade era de 4,45 nos dois primeiros censos e, no terceiro, por terem aumentado as famílias sem escravos, a média diminuiu para 2,91 escravos por fogo[3].

Numa visita à cidade de Descoberto (MG), na década de 1990, foi entrevistado um antigo morador, descendente de militar da tropa que encontrou o então denominado “Descoberto do Rio Novo”. Declarou ele que a tropa saiu do Rio Pomba na Cachoeira Alta, entrando por um riacho que nasce na Serra do Descoberto. Do sopé da Serra eles teriam seguido o córrego Pouso Alegre, afluente do Ribeirão do Descoberto que deságua no Rio Novo. Seu antepassado teria sido designado para ficar de guarda no Arraial do Descoberto.

No Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo[4] de 2014, o pesquisador Geraldo Barroso apresentou uma comunicação sobre rotas a leste do Caminho Novo. Segundo ele, “os tropeiros do lado oriental do Caminho Novo enfrentavam dificuldades em suas viagens e tiveram que abrir novos caminhos que ficaram conhecidos por Caminhos de Dentro”. Um deles, que passa por Cipotânea, segue em direção a Mercês, depois vai aos municípios de Rio Pomba e Rio Novo de onde busca a cidade de Mar de Espanha.

Tropeiros do Caminho de Dentro

O pesquisador apresentou fotos de tropeiros do início do século XX que continuavam a fazer o mesmo trajeto, ressaltando que, apesar de mais tortuoso, desviava da trilha montanhosa e passava por várias localidades onde eles vendiam, compravam e trocavam produtos, reabasteciam e evitavam a exaustão de seus animais.

Os dois relatos indicam percurso que coincide, em parte, com o trajeto da primeira diligência chefiada por Galvão de São Martinho. A diferença básica é que depois de Roça Grande a diligência caminhou e tomou a direção do Terra Corrida, descendo pelo Ribeirão Aventureiro e atingindo o Paraíba do Sul.

Por hoje o Trem de História fica por aqui. Mas a viagem com Pioneiros de Leopoldina continuará na próxima edição do Jornal. Até lá!

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 406 no jornal Leopoldinense de 16 de junho de 2020

Fontes consultadas:

[1] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos do Sertão. In: Revista de História, São Paulo, v. 28 n. 57, pp-59-111, 1964. p.73

[2] O significado mais usual para ‘família estendida’ é grupo composto por pais, filhos, irmãos e outros parentes próximos.

[3] Fogo era o nome dado a cada unidade habitacional que podia ser composta de uma ou mais moradias.

[4] BARROSO, Geraldo. Caminhos de Dentro. In V Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo, Juiz de Fora, junho 2014.

138 – Colônias em Minas Gerais e migrações entre elas

O Trem de História de hoje faz uma viagem um pouco mais abrangente para trazer para este espaço um pouco sobre as colônias criadas em todo o estado.

E começa lembrando que a organização de colônias agrícolas em Minas Gerais foi determinada pela necessidade de oferecer atrativos que fixassem os imigrantes no estado. O caminho encontrado pelos dirigentes foi, então, criar e incentivar a criação de núcleos agrícolas em terras devolutas e no entorno das estradas que se abriam, inclusive da ferrovia.

A partir de 1880, há referências esparsas a colônias criadas pelas municipalidades, como foi o caso da Colônia Santo Antônio que existiu em Leopoldina, conforme se depreende das contratações de imigrantes realizadas pela Câmara Municipal.

No final daquela década funcionavam o núcleo de São João del Rei, a Colônia Maria Custódia em Sabará e a Colônia Rodrigo Silva em Barbacena, todos transferidos da União para o Governo de Minas em 1892.

Já entre 1893 e 1930, o governo de Minas Gerais criou os seguintes núcleos coloniais: em 1893 a Colônia Francisco Sales, em Pouso Alegre; 1899 a Colônia Carlos Prates, Américo Werneck, Afonso Pena, Bias Fortes e Adalberto Ferraz, no subúrbio da capital; em 1900 a Colônia Nova Baden, em Lambari; em 1907 as Colônias Vargem Grande na capital e Itajubá no município de mesmo nome; em 1908 a Colônia João Pinheiro, criada em conjunto com o governo federal em Sete Lagoas; em 1910 as Colônias Constança em Leopoldina, Santa Maria em Astolfo Dutra, Barão de Ayuruoca em Mar de Espanha e, em conjunto com o governo federal, Colônia Inconfidentes em Ouro Fino; em 1911 as Colônias Major Vieira em Cataguases e Rio Doce em Ponte Nova; em 1912 as Colônias Wenceslau Braz em Sete Lagoas e Pedro Toledo em Carangola; em 1913 a Colônia Guidoval em São Domingos da Prata; em 1914 a Colônia Joaquim Delfino, em Cristina; em 1915 a Colônia Vaz de Melo em Viçosa; em 1920 a Colônia Álvaro da Silveira, em Pitangui; em 1921 a Colônias David Campista em Bom Despacho, Júlio Bueno Brandão em Peçanha e Francisco Sá em Teófilo Otoni; em 1923 a Colônia Padre José Bento, em Pouso Alegre; em 1924 a Colônia Brucutu, em Santa Bárbara; em 1926 a Colônia Raul Soares, em Pará de Minas; e, em 1927 a Colônia Mucuri, em Teófilo Otoni.

Desse grupo de colônias há informações nos relatórios disponíveis no Arquivo Público Mineiro, através dos quais foram identificadas algumas migrações entre as localidades.

É o caso da família de Andreas Stievano que chegou ao Brasil em 1888 e foi para Itajubá. Pouco depois da criação do núcleo colonial naquele município, não tendo conseguido adquirir o lote, os Stievano migraram para Leopoldina. O mesmo aconteceu com alguns Scantamburlo que foram para Chiador e os Magiollo que foram para Soledade, distrito de Mar de Espanha e, não conseguindo lote na colônia criada em Mar de Espanha em 1910, migraram para Leopoldina. Houve relato semelhante envolvendo os sobrenomes Bellan, Calloni, Conti, Pighi, Precisvale e Vetorello que foram inicialmente para Ponte Nova. Entretanto, o núcleo daquele município foi criado após o de Leopoldina e as famílias mencionadas já haviam migrado alguns anos antes.

Esclareça-se, a propósito, que não foi apenas a organização de um núcleo colonial, com venda de lotes a imigrantes, a causa das migrações. Tome-se, por exemplo, os municípios de Juiz de Fora e Muriaé, nos quais não existiu colônia nos moldes da nossa Constança. Foi grande o número de imigrantes italianos que se estabeleceram nos dois municípios e que migraram posteriormente dentro da própria zona da mata ou para outras regiões.

Vale a pena registrar que em 1911, um ano após sua fundação, a Constança ocupava a 7ª posição em número de habitantes, superando 4 núcleos mais antigos. Em 1912 já era a 2ª, tendo à frente a Rodrigo Silva, de Barbacena. No ano seguinte a Santa Maria, de Astolfo Dutra, alcançou a segunda posição e a Constança ficou em 3º lugar no número de habitantes e na produtividade. Nos anos subsequentes a Rodrigo Silva manteve-se como a de maior número de habitantes mas sua produção foi caindo, cedendo a posição para a Constança e a Santa Maria alternadamente. A partir de 1915 a Constança manteve-se como a segunda maior colônia do estado em número de habitantes.

Digno de registro, também, é o fato de que, ao serem emancipadas, estas colônias agrícolas sofriam pequena mudança administrativa, especialmente no que se refere ao fornecimento de equipamentos e sementes. Mas de acordo com a mensagem do presidente Fernando de Mello Vianna em 14 de julho de 1926, “apesar de emancipadas e com vida autonoma, permaneciam subordinadas ás leis geraes do Estado e do paiz”.

E para encerrar é bom lembrar que as despesas de manutenção da estrutura dessas colônias foram mantidas até a extinção de cada uma delas, não tendo havido um prazo previamente determinado para que fossem dispensados os funcionários administrativos e vendido o lote reservado pelo estado para moradia do administrador e funcionamento do serviço burocrático. Em diversas mensagens presidenciais, foram mencionadas despesas de manutenção das casas-sede, limpeza de córregos, reparo de pontes e outros serviços nas estradas internas dos núcleos por longo tempo após a emancipação. Tudo levando a crer que tais serviços eram realizados pelos próprios colonos, representando uma renda adicional para além do cultivo da terra. Analisando as falas anuais do dirigente estadual até 1930, é possível supor que a extinção só ocorria após todos os lotes terem sido quitados e emitidos todos os títulos definitivos de posse.

O Trem de História, neste final da viagem de hoje, lembra aos eventuais interessados neste estudo sobre a história pública da cidade que a emancipação da Colônia Agrícola da Constança ocorreu em março de 1921, mas as datas de emissão dos títulos definitivos estão em poder do Cartório de Registro de Imóveis de Leopoldina e infelizmente, por razões burocráticas, não foi possível acessá-los para completar esta lacuna.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 391 no jornal Leopoldinense de 1 de novembro de 2019


Fontes de referência:

MONTEIRO, Norma de Góes. Imigração e Colonização em Minas 1889-1930. Belo Horizonte: Itatiaia, 1994. p. 189

Relatórios da Presidência da Província / Governo do Estado de Minas Gerais 1837-1930.

Decretos 4194 de 30.05.19146430 de 15.12.1923, 11.874 de 12.01.1916, 5597 de 03.03.1921, 5598 de 03.03.1921, 3207 de 01.07.1911, 6614 de 20.07.1923, 5596 de 03.03.1921, 6631 de 10.09.1923, 6624 de 16.06.1924, 8145 de 13.01.1928 e 6613 de 20.07.1923.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 391 no jornal Leopoldinense de 1 de novembro de 2019

75 – O Feijão Cru: antes de ser Villa Leopoldina

O Trem de História agora inicia uma viagem por tempos mais antigos. Lança dormentes e trilhos nas primeiras clareiras abertas na Mata Mineira para a formação do povoado do Feijão Cru. E começa no ano de 1847, quando foi produzida a “Carta topographica dos seus (Municipios) e Termos do Presídio, Pomba e São João Nepomuceno cum noticias do Paiz que delles segue até o mar pela costa oriental”, por João José da Silva Teodoro. Parte desse documento que é, até aqui, a mais antiga representação conhecida da região a incluir o então Distrito do Feijão Cru, uma importante informação sobre o processo de ocupação do lugar.

Como se sabe, na divisão eclesiástica a localidade de São Sebastião do Feijão Cru pertenceu oficialmente ao Bispado do Rio de Janeiro até 1897. Fato que dificulta enormemente a localização de fontes daqueles primeiros tempos porque nada é encontrado em Mariana e nos centros de documentação do Rio há apenas pistas esparsas que até hoje não conduzem aos instrumentos legais que criaram não só o povoado como a freguesia e o distrito civil do Feijão Cru. Assim, são poucas as informações sobre o estágio em que se encontrava o Feijão Cru quando de sua emancipação político administrativa.

Sabe-se, por exemplo, que a primeira contagem populacional, antes mesmo da existência do distrito, encontrou 62 ‘fogos’ em 1831, ou seja, 62 unidades habitacionais com 589 moradores no território que mais tarde viria a formar o Curato de São Sebastião do Feijão Cru. E que em 1835, quando o povoado passou a Distrito de São Sebastião do Feijão Cru, Termo da Vila do Pomba, o censo encontrou 135 unidades habitacionais ocupadas por 1.294 moradores. Em 1843, dois anos depois da elevação da povoação de São João Nepomuceno a Vila, abrangendo entre outros o distrito do Feijão Cru, aqui existiam 213 fogos com 2.171 moradores.

Importante esclarecer que tais ‘fogos’ estavam espalhadas por todo o grande território do distrito e, pelo mapa de Teodoro, observa-se que o Feijão Cru se estendia da margem direita do Rio Novo até a Serra Bonita e da margem direita do Rio Pomba até a margem esquerda do Paraíba do Sul.

A representatividade da população do Feijão Cru pode ser medida, também, pelo número de eleitores. Mas para melhor situar o tema é preciso lembrar que o Curato de Nossa Senhora das Mercês do Kágado (Mar de Espanha) era filial do Curato de São José da Parahyba (Além Paraíba) desde julho de 1832. Quando se deu a emancipação de São João Nepomuceno, o Kágado e São José do Parahyba foram incorporados à nova vila, assim como Conceição do Rio Novo, Santíssima Trindade do Descoberto, Bom Jesus do Rio Pardo (Argirita), Espírito Santo (Guarará), Madre de Deus do Angu (Angustura), Porto de Santo Antonio (Astolfo Dutra) e o Feijão Cru.

Ainda no final daquela década de 1840, forças políticas lutavam para emancipar o distrito do Kágado e um alistamento eleitoral, realizado entre junho de 1850 e fevereiro de 1851, serviria como argumento para preservar São João Nepomuceno com autonomia, abrangendo os distritos de Rio Novo, Descoberto, Astolfo Dutra, Feijão Cru e Rio Pardo. Nesse alistamento foram qualificados 1071 eleitores assim distribuídos: 357 eram moradores do Feijão Cru, 247 em Rio Novo, 171 em São João Nepomuceno, 164 no Rio Pardo, 80 em Descoberto e 52 no Porto de Santo Antonio. Mas São João Nepomuceno perdeu a batalha e em setembro de 1851 a sede da Vila foi transferida para o Arraial do Kágado, com a denominação de Villa do Mar de Hespanha, e, no mês seguinte, foi suprimida a Freguesia de São João Nepomuceno. Naquele momento, como se vê, o Feijão Cru era a maior unidade em território e população entre as que foram incorporadas ao Kágado.

Dois anos e sete meses depois, a 27 de abril de 1854, quando Mar de Espanha ainda nem tinha conseguido instalar toda a burocracia de seu novo status, foi a vez do Feijão Cru emancipar-se pela lei nº 666, com o nome de Vila Leopoldina, levando consigo os distritos da Piedade, do Rio Pardo, de Madre de Deus, de São José do Parahyba, de Conceição da Boa Vista, da Capivara, de Laranjal e do Meia Pataca.

Dois pontos fora da curva na história de Leopoldina

Diante destas afirmações cabe comentar dois pontos que se considera fora da curva da verdadeira história da cidade. Versões repetidas com certa frequência. Trechos da história contada por dois autores sobejamente conhecidos e que, de certa forma, acabaram por distorcer o estágio em que Leopoldina se encontrava na segunda metade do século XIX.

O primeiro deles é Francisco de Paula Ferreira de Rezende, um dos mais citados memorialistas da cidade que desconsiderou as reais condições econômicas e de desenvolvimento da região para dizer que Leopoldina, em 1861, encontrava-se “em um ponto de atraso extraordinário”, que o “Angu e S. José […] como em tudo o mais estavam mil furos adiante de Leopoldina” e que Leopoldina “deveria ter umas setenta ou oitenta casas”.  Informações estas que não espelham a realidade trazida pelos documentos compulsados.

Pode-se imaginar que ele tenha escrito isto por falta de informação ou porque, como se pode deduzir da sua obra, aqui chegara aborrecido por não ter conseguido ser reconduzido ao cargo de Juiz Municipal e de Órfãos de Queluz (Conselheiro Lafaiete), para o qual houvera sido indicado por políticos, mas que para mantê-lo precisava do apoio dos votantes locais. Ainda assim, não se deve descartar suas posições. Antes, deve-se aprofundar a pesquisa para confrontar as informações e estabelecer um panorama sustentado nas fontes ainda existentes.

O outro autor que cometeu deslizes foi Alfredo Moreira Pinto, em “Apontamentos para o Dicionário Geográfico do Brasil”. No verbete Feijão Cru, declara que se baseou em informações do vigário, embora não informe o nome desse religioso. Uma rápida consulta aos livros paroquiais foi o bastante para verificar que o Vigário era o Padre José Francisco dos Santos Durães, chegado a Leopoldina provavelmente em 1879 e que desde 1881 era também inspetor de ensino. Possivelmente foi o criador da lenda do Feijão Cru, que veio a público inicialmente pelo Almanaque de Leopoldina de 1886 e foi quase integralmente copiada pelo autor dos Apontamentos.

Depois de sua morte, uma segunda obra de Alfredo Moreira Pinto foi publicada por seu filho Justiniano Moreira Pinto, com o título Supplemento aos Apontamentos para o Diccionario Geographico do Brazil. Nela o autor manifesta opinião pessoal de uma visita a Leopoldina que talvez não tenha durado mais que um dia. Segundo se apurou, durante o período em que escreveu seus livros, Moreira Pinto viajava de trem e descia nas estações que lhe agradavam para colher os informes. E por este método pouco ortodoxo conclui ele que os povoadores de Leopoldina “foram infelicíssimos” na escolha do local onde estabeleceram a sede do município e que “seus prédios, em número de 450, são antigos e de feia aparência”. Embora declare que o comércio movimentava “avultado capital”, que a cidade contava, dentre outras atividades, com cinco médicos, cinco hotéis, dois engenhos de beneficiar café, duas tipografias, quatro escolas estaduais, uma escola municipal, dois colégios particulares e um curso noturno subsidiado pela Câmara. Informou, também, que Leopoldina era abastecida por água de boa qualidade e servida por rede de esgotos, contando com cerca de três mil moradores na área urbana.

Mas apesar de todas as farpas perpetradas, assim como foi dito sobre o Ferreira Rezende, reiteramos que nem por isto se pode desconsiderar Moreira Pinto. Até porque, são dele informações que não se encontram em outras fontes, como a existência de cinco cemitérios, “três dos quais extintos”: “o do Aterrado, para os lados de Cataguazes, o do morro da Forca e o da Matriz”. Dos ainda existentes na época, indicou a localização de apenas um deles: “no extremo da cidade, na ponta do morro que limita a chácara denominada do João Neto com a de José Alves”.

Mas isto pode ser assunto para um futuro Trem de História, porque o de hoje ficará por aqui. Até o próximo Jornal.


Fontes consultadas:

Arquivo Público Mineiro. Mapa da População de Além Paraíba – 1831CX 07 DOC 07; Mapa da População do Feijão Cru, 1835 e 1843 CX 03 DOC 06 e CX 03 DOC 04; Alistamento Eleitoral de São João Nepomuceno PP 11 cx 36 pacote 29.

Decreto Imperial de 14 de julho de 1832.

Leis Mineiras nr. 202, 01 abril 1841; nr. 514, 10 setembro 1851; nr. 542, 9 outubro 1851; nr. 666 27 abril 1854.

PINTO, Alfredo Moreira. Apontamentos para o Diccionario Geographico do Brazil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1899.

_______, Suplemento aos Apontamentos para o Diccionario Geographico do Brazil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1935.

REZENDE, Francisco de Paula Ferreira de. Minhas Recordações. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 330 no jornal Leopoldinense de 27 de abril  de 2017

O Feijão Cru em 1853

No momento em que nasceu a Vila Leopoldina, conheciam-se os seguintes dados a respeito do até então distrito do Feijão Cru:

Além dos distritos acima mencionados, a Vila passou a administrar, também, os distritos de Santa Rita da Meia Pataca, Capivara, São José do Paraíba, Angú e Santo Antônio do Aventureiro. Os dois primeiros, conforme o mesmo relatório, compunham a Freguesia de Santa Rita da Meia Pataca, Município de São Januário do Ubá, Comarca do Pomba. Os outros três formavam a Freguesia de São José da Paraíba, Município de Mar de Espanha, Comarca do Pomba.

Utilizando-se das informações do mencionado Relatório de 1 de maio de 1854, temos que o Município de Leopoldina, em seus primeiros anos de emancipação, contava com 1.488 votantes, ou seja, 1.488 homens aptos a participar das decisões políticas, sendo 948 deles estabelecidos na sede e nos distritos da Piedade, da Boa Vista e do Rio Pardo, atuais Piacatuba, Recreio e Argirita. Nos distritos de Meia Pataca (atual Cataguases) e Capivara (atual Palma), encontravam-se 341 votantes. Os demais 199 votantes estavam em São José do Paraíba (Além Paraíba), Angu (Angustura) e Santo Antônio do Aventureiro.

Efemérides Leopoldinenses: Janeiro

Memorial Diário da História de Leopoldina, com acontecimentos do mês de janeiro.

1 de janeiro

1879

Sai a primeira edição do mais antigo jornal de Leopoldina: O Leopoldinense [1]

1899

Um soneto do poeta leopoldinense Dilermando Cruz é publicado na Gazeta de Leopoldina desta data.


2 de janeiro

1868

As fazendas Morro Alto e Bom Destino passam a ser subordinadas à paróquia de Leopoldina.

1875

Assembleia Legislativa Provincial autoriza o governo da província a reconstruir ponte na estrada geral de Leopoldina para Meia Pataca. (Lei Mineira 2095).


5 de janeiro

1883

Morre a senhora Maria do Carmo Monteiro de Barros que, com seu marido, formou a Fazenda Desengano em terras que fizeram parte de sesmaria doada aos irmãos Fernando Afonso e Jerônimo Pinheiro Corrêa de Lacerda.

1883

A população servil da Província atinge a 311.666 indivíduos. A cidade com maior número de escravos é Juiz de Fora, com 21.808, em seguida Leopoldina, com 16.001, em terceiro Mar de Espanha, com 15.183, em quarto Muriaé com 7.775 e os demais municípios em ordem decrescente. [7]


8 de janeiro

1882

Nesta data Alberto Jackson era professor no então distrito de Campo Limpo[2].

1899

Circula a primeira edição de O Recreio, periódico do então distrito de Leopoldina, editado por A. Napoleão & Co.


9 de janeiro

1881

Leopoldina é sede do 9º Distrito Eleitoral da Província. [3]


11 de janeiro

1882

Onças atacam fazendas em Leopoldina.


19 de janeiro

1883

Inaugurava-se um local de espetáculos em Leopoldina, denominado Theatro Alencar. Localizado na atual Rua Cotegipe, segundo noticiou o jornal O Leopoldinense dois dias depois, a cerimônia aconteceu às 20:30, “sem o menor aparato” e a comissão encarregada da construção foi composta por Chagas Lobato, Marciano Guimarães e Santa Cecília.


20 de janeiro

1855

Instalação solene do município de Leopoldina[4].

1883

Anúncio do início das atividades do Colégio Leopoldina, filial do Colégio Venerando estabelecido na Corte.[5]


21 de janeiro

1861

Assento paroquial de casamento dos escravos Agostinho e Tereza, pertencentes a Vicente Ferreira Monteiro de Barros é o mais antigo registro deste tipo, encontrado na página 10 do Livro número 1. Entretanto, a data de abertura deste livro é 21.1.1857, o que pode indicar que houve registros anteriores e que o livro de casamentos de pessoas livres foi aberto na mesma data. Conforme declarou o padre Aristides de Araújo Porto já na década de 1910, quando iniciou a transcrição dos antigos livros paroquiais de Leopoldina, o livro de casamentos de pessoas livres não foi encontrado.


22 de janeiro

1899

O poeta leopoldinense Dilermando Cruz inaugura um externato em Leopoldina, conforme anúncio publicado na Gazeta de Leopoldina.


23 de janeiro

1874

Maria Augusta de Freitas Malta foi uma das primeiras professoras públicas em Leopoldina.


31 de janeiro

1874

Fernando Pinheiro de Souza Tavares é nomeado Juiz Municipal e de Órfãos.


[1] Editorial na página 1 da edição de 1 janeiro 1883.

[2] Anúncio publicado ‘O Leopoldinense, 8 de janeiro de 1882, página 3.

[3] VEIGA, José Pedro Xavier da. Efemérides Mineiras: 1664-1897. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998. 2 volumes, pag 139.

[4] Primeiro Livro de Atas da Câmara Municipal de Leopoldina, página 1.

[5] Anúncio n’O Leopoldinense, 1 de janeiro de 1883, página 4.

[7] Fala do Presidente da Província em 2 de agosto de 1883, página 66 e 67.

Efemérides Leopoldinenses: Maio

Aconteceu em Leopodina, em antigos meses de maio.

1 de maio

1853

O Relatório da Presidência da Província informa que naquele ano o distrito do Feijão Cru estava dividido em 4 quarteirões, que ali residiam 237 votantes e que pertencia ao município de Mar de Espanha. Informa ainda que o distrito da Piedade contava com 199 votantes em 7 quarteirões, que o Rio Pardo dividia-se em 9 quarteirões com 154 votantes e que Conceição da Boa Vista contava com 358 votantes. No ano seguinte o Feijão Cru seria emancipado e, além dos distritos da Piedade, Rio Pardo e Conceição da Boa Vista, seria cabeça de uma grande área territorial.


9 de maio

1890

Criação do distrito de Providência.


12 de maio

1895

Uma notícia sobre pagamento a professores permitiu costurar alguns dados sobre antigas escolas no distrito de Campo Limpo, atual Ribeiro Junqueira.


15 de maio

1855

No segundo ano de emancipação, Leopoldina contava com os seguintes professores públicos: Antônio Felício de Miranda e Maria Carlota da Gama.


16 de maio

1867

O proprietário da Fazenda Suspiro teve negado seu pedido para interromper um caminho que ele mesmo mandara fazer.


20 de maio

1865

Nasce Lino Montes, um dos mais antigos restratistas pintores de Leopoldina.


21 de maio

1881

Decreto nº 8.117 organiza os distritos eleitorais da Província e Leopoldina é o nono distrito.

Artigo do Decreto 8117 de 21 de maio de 1881


24 de maio

1855

Assembleia Legislativa Provincial autoriza a Câmara Municipal da Vila Leopoldina a construir uma barca para dar passagem no Rio Pomba, cobrando as taxas devidas dos passantes.


25 de maio

1876

Inauguração da Estação de Santa Isabel (Abaíba) da Estrada de Ferro Leopoldina[1]


31 de maio

1856

Assembléias Legislativa Provincial aprova as Posturas da Câmara Municipal da Vila Leopoldina: 220 artigos divididos entre 7 títulos.

Caput da Resolução nr 788 de 31 de maio de 1856

1893

Território mineiro é dividido em 5 distritos de imigração, sendo que o 2º tem sede em Leopoldina [2]

______________________________________

Notas

[1] VEIGA, José Pedro Xavier da. Efemérides Mineiras: 1664-1897. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998. 2 volumes, p. 516

[2] idem, p. 525

Efemérides Leopoldinenses: Setembro

Memorial diário da história de Leopoldina, com acontecimentos do mês de setembro.

4 de setembro

1898

Fundada a Lyra Leopoldinense. Seu primeiro presidente foi José Marciliano Vieira Nepomuceno, natural de Conceição da Boa Vista e Fiscal da Câmara Municipal de Leopoldina desde 1881.


6 de setembro

1882

O normalista Angelo de Souza Nogueira, professor provisório em Leopoldina, é nomeado professor efetivo de instrução primária, conforme noticia o jornal Liberal Mineiro, desta data, página 2.


7 de setembro

1838

A Contagem Populacional do Feijão Cru, realizada em 1835, é encaminhada para a Presidência da Província, conforme documento do Arquivo Público Mineiro, caixa 03 doc 06.

Encaminhamento do Mapa de Habitantes do Feijão Cru


8 de setembro

1895

Aquisição de terreno para estabelecer a Hospedaria de Jacareacanga.


10 de setembro

1851

Transfere a sede da Vila de São João Nepomuceno para então criada Villa do Mar de Hespanha. Desta forma, todos os distritos que estavam subordinados a São João Nepomuceno, incluindo o Feijão Cru, passam para a dependência administrativa de Mar de Espanha.

Carta de Lei nr 514 , Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro


12 de setembro

1882

Professora pública Clara Sophia Adolphina Gaëde de Carvalho é transferida de Cataguases para Leopoldina.

Relatório de Antonio Gonçalves Chaves para a Assembleia Provincial de Minas em 2 de agosto de 1883, pag.24


13 de setembro

1881

O então distrito da Piedade, hoje Piacatuba, cede mais uma parte de seu território para Cataguases

Lei 2764, Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro


15 de setembro

1879

Nasce em Leopoldina, Dilermando Martins da Costa Cruz, patrono da cadeira nº 15 da ALLA

Fonte: Gazeta de Leopoldina, 16 de setembro de 1899, edição 23, pag 2


16 de setembro

1894

É lançado o jornal A Voz de Tebas, cujo editor era F. S. Teixeira.

Fonte: A Voz de Tebas, 16 de setembro de 1896, pag 2.


17 de setembro

1876

Bento Xavier doa terrenos de sua Fazenda Campo Limpo para a formação do povoado, hoje distrito de Ribeiro Junqueira.

Fonte: Escritura de Doação, Arquivo Particular.

14 de julho de 1832: São José do Paraíba

Há 181 anos o Curato de São José do Parahyba (Além Paraíba) era elevado à condição de Paróquia por Decreto Imperial, tendo por filiais os Curatos de Nossa Senhora das Mercês do Kagado (Mar de Espanha) e Santa Rita do Meia Pataca (Cataguases).

Em 1851 a situação se inverteu em relação a Mercês do Kagado e pela emancipação de Mar de Espanha ficou-lhe subordinada. Pouco tempo depois, aos 27 de abril de 1854, foi incorporado à Vila Leopoldina pela Lei número 666, aí ficando por dez anos até que a Lei número 1235, de 27 de agosto de 1864, determinou nova transferência para Mar de Espanha.

Sua emancipação ocorreu em 30 de novembro de 1880, através da Lei número 2678.

1 de abril de 1841: São João Nepomuceno

Há 172 anos a Lei Mineira número 202 elevava a povoação de São João Nepomuceno à categoria de Vila, desmembrando-a do Município da Vila do Pomba e incorporando-lhe vários distritos, incluindo o Feijão Cru.

Dez anos depois a Carta de Lei número 514 transferiu a sede para Mar de Espanha, no dia 10 de setembro de 1951.

Entre 1841 e 1851 o território de São Nepomuceno era o seguinte:

Resultado de uma Eleição em 1852

 

Em setembro de 1852 foi realizada, em Piacatuba, uma Assembleia Paroquial para eleger sete vereadores para formar a Câmara Municipal de Mar de Espanha, e quatro juízes de paz para o Distrito do Feijão Cru.

Livro 1 de Atas de Assembleias Eleitorais de Piacatuba

Resultado apurado para vereador:

Nomes: Votos
Francisco Correa Pinto 93
Joaquim Vidal Leite Ribeiro 79
Domiciano Mateus Monteiro de Castro 70
José Joaquim Ferreira Monteiro de Barros 69
Joaquim Antonio de Almeida e Gama 67
Domingos Eugenio Pereira 62
Domingos da Costa Matos 51
Emidio José de Barros 41
Antônio José de Carvalho 39
Custódio Ferreira Leite 27
José Dutra Nicacio 22
José Garcia de Matos 20
Domiciano Alves Garcia 17
Francisco Soares Valente 16
José Augusto Monteiro de Barros 08
Francisco de Paula Galdino Leite 08
Francisco Teixeira Alves 03
Manoel José Pires 02
João Pereira da Silva 02
João Gualberto Ferreira Brito 02
Antonio José Monteiro de Barros 02
José Antonio de Matos 01
José Eugênio Teixeira Leite 01
Antonio Avelino Teixeira Alves 01
Manoel José Monteiro de Barros Galvão de São Martinho 01
José Soares Valente 01
Joaquim Cláudio Nogueira 01
Claudino Vieira da Silva 01

Resultado para Juiz de Paz:

Nome: Votos
Claudino Vieira da Silva 77
Custódio Dias Moreira * 71
Antônio Pereira da Silva * 71
Joze Henriques da Mata 68
Manoel de Sá Rocha 21
Luiz Pereira da Silva 20
João Patricio de Moura e Silva 20
Francisco Henriques Júnior 18
Teodoro Antunes da Costa 15
Ezequiel Henriques Brandão 06
João Batista Mendes 06
Vital Antonio de Mendonça 05
José Fajardo de Melo 02
Domingos Henriques de São Nicácio 02
Hipólito Pereira da Silva 01
Manoel Henriques 01