No início deste mês de março chegou-nos o pedido abaixo, de Lilian Sapucahy.
Olá todos do site! Estou começando a rastrear minhas raízes leopoldinenses... Localizei no arquivo acima o casamento de meus bisavós (Albertino X Maria Rosa). Não tenho nenhum nome da geração anterior (mães e pais de Albertino e Maria). Acredito que poderia achar essa informação no registro de BATISMO dos meus avós... Onde teria acesso a esse documento?
Este é o arquivo ao qual a Lilian se referiu e a partir do qual foi possível encontrar algumas informações adicionais.
O assento de matrimônio original não existe mais, pois na década de 1920 o Padre Aristides fez a transcrição e descartou o livro. Há muitas inconsistências nas transcrições e, portanto, é sempre interessante procurar outras fontes que possam confirmar ou corrigir os nomes.
Segundo o assento que se encontra na folha 355 do livro 5 de Matrimônios, sob o termo 2 consta que a cerimônia foi realizada no dia 6 de fevereiro de 1915, pelo Padre Julio Fiorentini. O noivo Albertino José da Silva é citado como filho de Francelino Hipolito da Silva e de Maria Rosa da Conceição.
É do mesmo padre a transcrição do batismo de Olivia, filha de Francelino e Maria Rosa, nascida no dia 12 de abril de 1916, cujo assento se encontra no livro 16 de batismos, folha 30v, termo 203. Os nomes dos pais aparecem grafados da mesma forma no batismo do filho José, nascido no dia 23 de janeiro de 1918, conforme assento encontrado no livro 17 de batismos, folha 20v, termo 70.
Os padrinhos de Olivia foram Francisco Manoel Teixeira e Jacintha de Rezende Cimbron. Talvez o padrinho fosse o marido de Maria Candida de Jesus, com quem teve os filhos Paulino, Ruy e Heitor entre 1908 e 1915. A madrinha provavelmente foi a açoriana Jacinta de Jesus Cimbron, casada em Leopoldina em 1889 com o também açoriano José de Rezende Mendonça, carpinteiro.
Os padrinhos de José foram José de Rezende Mendonça e Ernestina de Rezende Mendonça. José era o marido de Jacinta acima citada e Ernestina era a filha deles que mais tarde se casou com Nelson de Moraes Lima.
A noiva de Albertino foi identificada com o nome Maria Rosa da Silva, filha de Antonio Ferreira Moura e Virginia Rosa Moura. Os pais de Maria Rosa são mencionados no livro 2 de batismo, folha 162v, termo 1548, como pais de Lídia, nascida no dia 30 de julho de 1886. Foram padrinhos Luiz Augusto Salgado Lima e Maria do Carmo Cruz. Talvez o padrinho fosse Luiz de Salgado Lima, marido de Virginia Angelica da Gama.
Não foi possível identificar as testemunhas do casamento, já que os nomes não aparecem em outras fontes.
Hoje o Trem de História volta à Estação Leopoldina, de onde partiu na década de 1990 para conhecer cerca de seis mil imigrantes europeus e asiáticos que viveram no município entre a segunda metade do século XIX e os anos de 1920. Em mais de uma centena de viagens, muitas anteriores à chegada da ferrovia, foi possível recolher informações variadas e iniciar um cadastro que hoje conta com 4.046 imigrantes italianos documentados, além de 183 pessoas de origem açoriana, egípcia, francesa, germânica, espanhola, libanesa, portuguesa continental, síria ou turca. Ressalte-se que, ao abordar essa trajetória, corre-se o risco da redução a números ou percentuais que podem ser modificados a cada novo documento encontrado.
Depois do projeto sobre os imigrantes, que culminou com a festa pelo Centenário da Colônia Agrícola da Constança em 2010, o Trem de História começou a transportar informações sobre A Imprensa em Leopoldina no período de 1879 a 1899 e, logo em seguida, a estadia do poeta Augusto dos Anjos em nossa cidade. O assunto seguinte foram os Expedicionários Leopoldinenses, soldados que participaram da Segunda Guerra Mundial.
Entre 2016 e o início de 2019, diversos Personagens Leopoldinenses viajaram pelos trilhos, trazendo na bagagem informações sobre suas atividades e seus familiares. Sucederam-lhes os Italianos em Leopoldina, numa revisão e atualização da pesquisa como forma de comemorar os 110 anos da Colônia em 2020.
A etapa seguinte, iniciada em abril de 2020, abordou os Pioneiros de Leopoldina. Foram considerados pioneiros os proprietários que se estabeleceram no Feijão Cru desde a primeira década dos oitocentos, que registraram suas terras em 1856 ou foram citados em processos judiciais abertos até 1859. Etapa na qual foram citadas fazendas estabelecidas em diversos pontos do município, como a até então desconhecida Santana dos Miranda, que abrangia o território onde se instalou a estação de Vista Alegre, até a também esquecida Boa Vista dos Barbosa, da qual uma pequena parte encontrava-se dividida, em 1924, em dezenas de pequenos sítios no início da estrada para Abaíba, local outrora conhecido como Volta da Cobra.
Na mais recente viagem, um artista português foi trazido pelo Trem de História não por ser proprietário pioneiro, mas por ser o pioneiro escultor e entalhador de que se tem notícia em Leopoldina. Inicialmente, a ideia era que ele pegasse o Trem em julho de 2020, quando se completou o centenário de sua morte. Não tendo sido possível concluir a pesquisa na época, viajou no mês passado, quando se completaram 175 anos de seu nascimento.
Será necessário um novo intervalo. Uma parada. Até agora são 234 proprietários pioneiros, distribuídos em 125 propriedades catalogadas, das quais menos de 30% fecharam a bagagem para viajar. Um projeto dessa envergadura depende de inúmeras fontes e análises que, muitas vezes, indicam a necessidade de consultas complementares. Não basta divulgar seus nomes porque, tal como ocorreu na Idade Média, é necessário agregar um sobrenome ou nome explicativo para individualização dos homônimos. Se lá no passado o sobrenome distinguia os filhos do Rodrigo dos filhos do Fernando, acrescentando aos seus nomes o sobrenome Rodrigues e o Fernandes, para as fazendas é preciso identificá-las pelos pioneiros que as construíram e também pelas divisões que geraram suas sucessoras, muitas delas ainda existentes.
Assim como Nietzsche estudou a origem dos princípios morais que regem o ocidente para compor a sua Genealogia da Moral[1], e Sinval Santiago[2] organizou os normativos legais que determinaram os desmembramentos do território de Rio Pomba e publicou a genealogia dos 73 municípios resultantes, os autores da série analisaram algumas centenas de fontes documentais para compor a genealogia das Fazendas Pioneiras de Leopoldina. Grande parte delas está profundamente imbricada na trajetória de fazendas vizinhas, sobre as quais ainda há fontes por analisar. Sendo assim, o Trem de História vai agora para a oficina de manutenção, outrora sediada ali no canto da praça João XXIII, e espera retomar as atividades tão logo o trabalho seja concluído.
Até breve!
Luja Machado e Nilza Cantoni - Membros da ALLA
Publicado na edição 439 no jornal Leopoldinense, dezembro de 2022
[1] NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral, uma Polêmica. Leipizig: s.n., 1887
[2] SANTIAGO, Sinval. Município de Rio Pomba: Síntese Histórica. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1991. p. 489
Passado o centenário de sua morte, ocorrido no ano da pandemia, hoje o Trem de História resgata o nome e a obra do artista de origem portuguesa, Inacio de Castro Buena Flor, que ainda jovem veio para Leopoldina, aqui se casou e viveu até sua morte. Um grande artista como se verá adiante.
Inácio de Castro Buena Flor nasceu a 17 de novembro de 1847 no Lamego, Beira Alta, Portugal. Era filho de João de Castro Buena Saabedra e Maria de Jesus Castro Saabedra.
Entre 1870 e 1880 ele aparecia como escultor em Leopoldina. Já em 1886 era citado como entalhador e escultor, na cidade. Em 28 de janeiro de 1888 estava construindo dois altares para a Igreja de Santana, em Pirapetinga, MG.
Em Leopoldina participou da Sociedade de Beneficência Portuguesa, fundada em 1888, tendo sido eleito seu 2º Secretário a 19 de abril de 1891.
Em 1900 Buena Flor residia Rua Tiradentes nº 112. A 12 de março de 1904, casou-se com Narcisa Florinda Garcia, nascida por volta de 1852 em Horta, Portugal, filha de Caetano Garcia Neves e Francisca Luiza Pereira. Narcisa também usou o nome Narcisa de Matos.
A Gazeta de Leopoldina de 14 de abril de 1910, anunciava que no “próximo sábado” seria realizado o casamento de Joaquim da Silva Barbeiro com Hermengarda do Amaral, neta de Ignacio Buena Flor. Porém, tanto o testamento quanto o inventário de Buena Flor não se referem a filhos seus. E o apurado até aqui dá conta de que Hemengarda do Amaral foi batizada em 09 de novembro de 1887 e seria filha de Guilhermina Florinda e José Lopes do Amaral. Ela se casou com Joaquim da Silva Barbeiro, filho de outro do mesmo nome e de Margarida Augusta da Costa, a 16 de abril de 1910. Joaquim nasceu a 06 de agosto de 1887 em Leopoldina e o casal teve dois filhos: Joaquim e Odaleia.
Buena Flor embarcou, a 04 de junho de 1912, para Bremen, Alemanha. Faleceu a 08 de julho de 1920 em Leopoldina, vítima de uma enterite.
OS BENS
No testamento feito a de 30 de junho de 1920, em Leopoldina, o artista declarou ter bens em Portugal, herança dos pais no Carleto em São Martinho de Mouros, os quais deixou para a Santa Casa de Caridade de Lamego, Com a observação de que não poderia despejar o caseiro que lá residia, Alexandre Pereira e sua mulher. Deixou para a Casa de Caridade de Leopoldina os bens de raiz que possuía em Leopoldina e em Vista Alegre, com a cláusula de inalienabilidade, em uso fruto de sua mulher Narcisa enquanto viva for. E deixou os “mais bens constantes de trastes e pequenas dívidas ativas” para sua mulher Narcisa.
No seu processo de inventário constam como herdeiros a viúva e a Casa de Caridade Leopoldinense. Na descrição dos bens foram citados: um sobrado com loja à rua Barão de Cotegipe nº 36, divisa com José Martiniano Barros Lintz, Ignacio de Lacerda Werneck e fundos com antigo caminho que segue para a Matriz, atual Rua Coronel Marco Aurélio; um prédio com armação de negócio na rua Barão de Cotegipe nº 32, divisa com Ignacio de Lacerda Werneck e Luiz Eugenio Botelho e fundos com o antigo caminho para a Matriz; um prédio na Rua Tiradentes nº 45, divisa com Dr. Custodio de Almeida Lustosa e o beco do antigo chafariz, com o prédio e terreno de Pedro Gadas e com Eliza Levasseur; um prédio à rua Tiradentes nos 31 a 37, divisas com Antonio Jorge da Cruz e com Dr. Custodio de Almeida Lustosa, pelos fundos com o córrego das Tabocas; prédio em Vista Alegre, divisas com a Rua do Conselho, com a Rua da Ponte, e com o prédio de Sebastião Pereira e fundos para o Rio Pomba.
Segundo o jornal carioca Correio da Manhã, de 20 de março de 1921, reunião do Supremo Conselho da Casa de Caridade Leopoldinense fora realizada na véspera para deliberar sobre as providências que deveriam ser tomadas em relação ao legado deixado em testamento por Ignacio de Castro Buena Flor para a instituição. Na oportunidade foram concedidos amplos poderes para a diretoria agir como melhor se apresentasse.
A 28 de outubro de 1939 a Casa de Caridade pediu autorização judicial para vender os imóveis de Vista Alegre e da Rua Tiradentes.
O ARTISTA
Escultor, pintor e artista extremamente considerado em Leopoldina, Buena Flor foi o autor de monumentais altares das igrejas da cidade e da região.
Sobre um destes trabalhos, o da Igreja do Rosário, assim se refere Barroso Júnior em “Leopoldina e seus Primórdios”: “Buena Flor, que deixou em tantas obras o testemunho de sua arte, fez também o altar-mor, púlpitos e florões ornamentais desse gracioso templo”.
E é do mesmo Barroso Júnior o comentário a seguir, sobre outro trabalho do escultor:
“Pelo morro acima, quase em socalcos, sobe o Colégio Imaculada, com sua capela limpinha, a guardar com carinho o altar-mor da antiga matriz, primoroso trabalho de talha de Inácio Buena Flor e dádiva do coronel José Joaquim Monteiro de Castro e seu filho Gervásio A. Monteiro de Castro, que depois foi comendador”.
Capela da sede anterior do Colégio Imaculada Conceição – Acervo Emília Rodrigues de Almeida
Infelizmente parte dessa obra, cantada e decantada por todos os que a conheceram, foi dilapidada pelos responsáveis por sua conservação. Consta, inclusive, que as peças da capela do antigo prédio do Colégio Imaculada Conceição foram vendidas a colecionadores. Uma obra que, considerando a data de morte do artista, provavelmente tenha sido sua última de grande porte.
Sobre a demolição da Capela, vale lembrar que o artista plástico Luiz Raphael Domingues Rosa, que a duras penas manteve o Espaço dos Anjos na cidade, contava que, ao tomar conhecimento de que a capela do colégio estava sendo derrubada, dirigiu-se ao local na tentativa de evitar um desastre maior. Mas apesar de seus protestos, nada mais podia ser feito. A destruição já estava consumada. Rafael conseguiu apenas recolher partes de alguns entalhes, conservando-as em exposição no Espaço dos Anjos.
E talvez este mesmo caminho tenham tomado outras peças, porque também não se conhece o destino do altar da Igreja do Rosário.
Como exemplo do impacto de sua obra, é de se citar o Almanaque de Leopoldina de 1886 em que se lê:
“[…] a Matriz […] possue um altar-mór, que é um primor de talha do artista Ignacio Buena Flôr… ricamente dourado às expensas de Manoel Antonio de Almeida. […] igreja do Rosario… Buena Flôr é o artista que talha seus altares e elegantes pulpitos: ficará um brinco.”
Vale registrar que isto deve ter ocorrido antes de 1873, quando faleceu o citado Manoel Antonio.
Luja Machado e Nilza Cantoni - Membros da ALLA
Publicado na edição 438 no jornal Leopoldinense, 1 novembro de 2022
Fontes consultadas:
Almanaque de Leopoldina. Leopoldina: s.n., 1886. p. 86 e 89.
Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 3 cas fls 210 termo 10
BARROSO JÚNIOR. Leopoldina: os seus primórdios. Rio Branco: Gráfica Império, 1943. p.20 e 22
Cartório de Registro Civil de Leopoldina, MG, lv 3 cas fls 159
Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, lv 2 fls 98 nr 100
Correio da Manhã. Rio de Janeiro: 20 mar 1921 ed 853 fls 2
Correio Portuguez. Rio de Janeiro: 29 abr 1891 ed 381 pag 1.
Gazeta de Leopoldina. Leopoldina: 18 ago 1926, 17 fev 1974
Gazeta Nacional. Rio de Janeiro: 28 jan 1888 ed 24 pag 2
GUIMARÃES, Joaquim Custódio. História da Medicina em Leopoldina. Leopoldina: s.n., 1987. p. 09.
Inventário de Ignacio de Castro Buena Flor processo 38402003
LAEMMERT, Eduardo e Henrique. Almanak Laemmert. Rio de Janeiro: 1880, pag 455 e 1883, pag 154
O Leopoldinense. 1 maio 1881 ed 31 pag 3.
O Mediador. Leopoldina: 25 julho 1896 ed 37 p. 2
O Paiz. Rio de Janeiro: 5 jun 1912 ed 10104 pag 3.
Testamento de Ignacio de Castro Buena Flor processo 38403903
Francisco da Silva Barbosa, proprietário da Fazenda Boa Vista dos Barbosa, nasceu em 1782 em São Mateus do Bunheiro, Porto, Portugal e faleceu no dia 20.09.1860. Casou-se em Bocaina de Minas, em 1812, com Ana Josefa da Silva, filha de José Gonçalves Neto e Ana Custódia da Cunha. Francisco já morava no Feijão Cru em 1831 com a mulher e sete filhos.
Ressalte-se que José Gonçalves Neto se casou com Ana Custódia da Cunha aos 08.11.1790 e o casal teve outros descendentes entre os pioneiros de Leopoldina. José era filho de Manoel Machado Neto e Ana Maria do Espírito Santo e nasceu na Vila Inhomirim, Magé, RJ.
Em 1835 a família de Francisco foi recenseada no 3º quarteirão do Feijão Cru que incluía a área onde formou a fazenda Boa Vista, registrada em 1856.
O casal Francisco e Ana Josefa teve os sete filhos a seguir discriminados.
1 – Ana Francisca, também conhecida por Ana Josefa da Silva, que teve três filhos: Vicência, que foi casada com Francisco da Costa Muniz; Carolina que se casou com Elias Carlos da Paixão; e, Domiciano, que se casou com Balbina Carolina de Jesus, filha de José Casemiro da Costa.
2 – Joaquina Francisca de Jesus se casou com Severino José de Santana com quem teve, pelo menos, os filhos José e Manoel.
3 – Maria do Rosário Neto se casou com Joaquim Luiz de Medeiros ou de Santana, filho de José Luiz de Medeiros e Ana Silvéria de São José. Ele faleceu a 06.08.1863 em Leopoldina. O casal teve dez filhos: Maria Messias do Espírito Santo cc Antônio Silveira Garcia; João Gualberto Luiz de Medeiros cc Maria Flausina de Jesus; José Maria de Medeiros cc Antônia Rita de Jesus; Francisco Luiz de Medeiros cc Ignacia Rosa Lina de Lacerda; Manoel Luiz de Medeiros cc Elidia Carolina de Lacerda; Rita Esméria da Conceição cc o italiano Felicio Bello; Umbelina Emiliana de Jesus casada primeira vez com Vicente Antonio de Rezende e segunda com Bento José Oliveira; Carlos, n. 05.10.1855 e f. 1864; Antonio Luiz de Medeiros cc Senhorinha Luiza da Conceição; e, Júlia Maria da Trindade casada primeira vez com o italiano Sebastiano Tambasco e segunda vez com Manoel Joaquim Soares, também conhecido como Manoel Carlos Soares.
Registra-se, aqui, os agradecimentos aos descendentes Maria José Ribeiro Queiroz e Rodrigo Fidelis Macedo que contribuíram com informações e documentos para o estudo da família.
4 – Rita Francisca ou Josefa da Silva cc Carlos José Luiz de Santana com quem teve nove filhos: Maria Inácia do Nascimento cc Carlos Machado Neto de Aguiar; Mariana Rita do Espirito Santo cc José de Rezende Barbosa; João Carlos Neto cc Porfiria Maria de Jesus; Antonio Carlos Neto cc Rita Romualda da Silva; Matilde Virginia do Rosario cc Manoel Francisco Barbosa Neto; Rita; José Carlos Neto cc Francisca Teodora de Bem; Carlos José Neto cc Maria Prudenciana de Jesus; e, Francisco Carlos Neto cc Laurinda de Souza Neiva.
5 – José Francisco Barbosa Neto cc Maria Antônia de Jesus com quem teve seis filhos: Francisco da Silva Neto cc Brígida Maria da Silva; José Francisco Neto cc Marciana Zeferina de Almeida; Domingos Francisco Neto cc Maria Justina de Jesus; Maria Cândida de Jesus cc José Francisco Ferraz; Barbara Maria de Jesus cc Joaquim Pedro Nolasco; e, Manoel Damasceno Neto cc Mariana Umbelina da Silva.
6 – Antonio Francisco Barbosa Neto casou-se duas vezes. A primeira com Prudenciana Josefa da Silva, filha de José Ferreira Brito Júnior e Brígida Joaquina Custódia da Silva. Ela faleceu em fevereiro de 1865 em Ribeiro Junqueira e Antonio casou segunda vez com Maria Amália de Souza Neiva, filha de Altino José de Souza Neiva e Gertrudes Maria da Conceição. Filhos do primeiro casamento: Manoel Francisco Barbosa Neto cc Matilde Virginia do Rosario; 6.2 – Rita Romualda da Silva cc Antonio Carlos Neto; 6.3 – Francisco Barbosa Neto; José Amaro Neto cc Maria Vidal Ferreira; Antonio José Neto cc Rita Francisca da Conceição; Maria Prudenciana de Jesus cc Carlos José Neto; e, Custódio Ferreira Neto cc Maria Ângela de Jesus. Filhos do segundo casamento: Maria Amélia de Souza Neto cc Alfredo de Souza Neiva; Francisca Amelia Neto cc José Nepomuceno Ferreira; Albino José de Souza Neiva; Gertrudes Maria da Conceição cc Augusto José de Souza Neiva; Laurinda Maria da Conceição cc Sebastião Carlos Neto; José Neiva; Cecilia Neiva; Sebastião; Pedro; Adelaide; e, Ana.
7 – Matilde, a última filha de Francisco da Silva Barbosa e Ana Josefa da Silva, faleceu antes de seu pai.
Uma questão interessante a respeito do grupo em análise adveio do sobrenome dos filhos do casal Francisco e Ana Josefa. Em Leopoldina, é bastante difícil separar as pessoas que usam Neto por sobrenome das que utilizam como partícula para se referir a um avô. Como foi dito, Ana Josefa era filha de José Gonçalves Neto e seus filhos, assim como os descendentes do pioneiro João Gonçalves Neto, adotaram Neto por sobrenome. Houve casamentos entre descendentes de Francisco e Ana Josefa com descendentes dos Ferreira Brito que, por serem homônimos de um avô, usavam Ferreira Neto como sobrenome.
Eventualmente se comenta que existe diferença entre Neto e Netto. No entanto, esta diferença não os distingue pelo simples fato de que até 1911, quando a língua portuguesa teve seu primeiro Vocabulário Ortográfico, usava-se indistintamente letra simples ou dobrada. E considerando o pequeno estoque de nomes próprios aprovados pela igreja, pode-se imaginar a quantidade de Anas ou Annas, Josefas ou Josephas e, Netos ou Nettos em famílias que aqui viveram na mesma época.
Por hoje o Trem de História fica por aqui. Na próxima viagem um novo pioneiro ocupará este espaço. Até lá.
Luja Machado e Nilza Cantoni - Membros da ALLA
Publicado na edição 437 no jornal Leopoldinense, 26 setembro de 2022
Fontes Consultadas:
Arquivo Distrital do Aveiro, Portugal, lv bat 1768-1783
Arquivo Público Mineiro - Mapas da População do Curato de São José do Paraíba – 1831 e do Feijão Cru, 1835
Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Aiuruoca, lv cas 1787-1814 fls 41verso
Igreja N. S. da Piedade, Barbacena, MG, lv cas 1808 -1838 fls 43.
Inventário de Francisco da Silva Barbosa.
Registro de Terras de Leopoldina
Denominada inicialmente Fazenda Boa Vista, a pesquisa sobre esta propriedade apresentou dificuldades a partir do próprio nome. Enquanto nos registros de terras de 1856 constam três propriedades com o mesmo nome no território da então Vila Leopoldina, nos processos de divisão de propriedades e partilha de bens inventariados, entre 1847 e 1901 foram encontradas treze fazendas Boa Vista, muitas delas sem localização precisa.
Para distingui-las foi fundamental o conjunto de dados coletados pelos autores desta coluna ao longo das pesquisas sobre a história de Leopoldina. Pois conforme ensina a antropologia, a família ou parentesco constituem o elemento fundador da vida social. E só conhecendo minimamente os grupos sociais que habitam uma localidade é possível compreender suas escolhas e decisões. Foi importante, também, lembrar Ruth Cardoso ao discutir armadilhas da pesquisa em antropologia, quando destacou que coletar material não é apenas acumular informações, mas oportunidade para reformular hipóteses de pesquisa. Isto aconteceu, diversas vezes, na pesquisa sobre a ocupação territorial do Feijão Cru e, especialmente, com a Fazenda Boa Vista dos Barbosas.
Ao prestar informações sobre sua propriedade, Francisco da Silva Barbosa declarou que vinte e cinco anos antes (por volta de 1831) havia comprado 250 alqueires de terras, sem indicar o vendedor. Mencionou confrontações com José Thomaz de Aguiar Cabral (fazenda Santa Cruz), Marianna Teresa Pereira Duarte (faz. Recreio), Processo José Corrêa de Lacerda (faz. Tabuleiro), Manoel Jose de Novaes (faz. Saudades, depois Campo Limpo), Manoel Ferreira Brito (faz. São Manoel da Bocaina) e João Baptista de Paula Almeida (faz. Monte Alegre). Outros proprietários citaram divisas com a faz. Boa Vista, com Antonio Carlos da Silva Teles Faião (faz. da Barra das Laranjeiras), além de Joaquim José da Costa Cruz e Joaquim Dias Neto com propriedades à margem do Rio Pomba.
Francisco da Silva Barbosa faleceu no dia 20.09.1860 e seu inventário, em conjunto com o processo de partilha e posteriores tombamentos em 1884 e 1885 trouxeram esclarecimentos importantes. A constituição do grupo familiar foi possível pela análise comparativa do inventário e da partilha de bens, já que alguns membros não foram identificados num ou noutro documento, por terem falecido ou por terem transferido sua legítima para terceiros. Como já mencionado nesta série, a instituição do dote permanecia até o final do século XIX e, muitas vezes, só depois do inventário dos pais é que os bens prometidos aos filhos eram oficialmente transferidos para eles. Por isto, nem sempre todos os filhos vivos eram mencionados no formal de partilha.
No caso da Fazenda Boa Vista, o processo de divisão judicial da propriedade foi requerido por João Gualberto Damasceno Ferreira em duas etapas, sendo a primeira em 06.10.1884 e a segunda, em 06.08.1885, indicou que após a morte de Francisco da Silva Barbosa a propriedade pertencia a oito condôminos:
1) Antonio Francisco Barbosa Neto, filho de Francisco da Silva Barbosa;
2) Domiciano Rodrigues Leite, neto, filho de Ana Francisca;
3) Elias Carlos da Paixão, marido da neta Carolina, filha de Ana Francisca;
4) Francisco da Costa Muniz, marido da neta Vicencia, filha de Ana Francisca;
5) Joaquim Luiz de Santana ou Medeiros, genro, marido de Maria do Rosário Neto;
6) José Francisco Neto, filho;
7) Rita Francisca da Silva, filha; e,
8) Severino José de Santana, genro, marido de Joaquina Francisca de Jesus.
Nos vinte anos seguintes à morte do formador da fazenda, ocorreram muitas subdivisões e vendas. Ao final do processo de medição, em 1885, foram encontrados 72 condôminos e entre eles estão alguns imigrantes que a memória popular informa terem vivido na “Colônia da Serra dos Netos”. Na conferência das operações de compra e venda, o total de condôminos foi ampliado para 81 por dois motivos principais: herança ou compra e venda.
Após a morte do pioneiro, em 1860, a propriedade passou a ser conhecida como fazenda “dos Barbosa” e as escrituras de compra e venda demonstram que nela foram formadas diversas “situações” que, em linguagem atual, significa vários pequenos sítios numa fazenda indivisa.
No alvorecer do século XX a região da Fazenda Boa Vista passou a ser conhecida por Serra dos Netos, numa referência ao sobrenome da família da esposa de Francisco da Silva Barbosa, de descendentes dele ou do formador da fazenda Residência, também de sobrenome Gonçalves Neto.
O requerente da divisão judicial, João Gualberto Damasceno Ferreira, era filho do pioneiro João Gualberto Ferreira Brito de quem herdou a fazenda Fortaleza também próxima da Boa Vista e que foi ampliando seus domínios através de compras diretas ou de Arrematação em Praça dos bens de seus vizinhos, em especial de terras das fazendas Desengano e Boa Vista.
Uma das “situações” adquiridas por João Gualberto Damasceno Ferreira pertencia a João José Rodrigues das Virgens que chegou ao Feijão Cru por volta de 1864 e provavelmente foi um dos primeiros adquirentes de pedaços da Fazenda Boa Vista que teriam sido vendidos depois da morte de Francisco da Silva Barbosa. O comprador instalou a sede de sua propriedade no então sítio das Virgens, referência ao nome de devoção usado como sobrenome pelo antigo proprietário, falecido em 1881. Esta é, pois, a origem do topônimo Serra das Virgens para o qual a imaginação popular inventou mais uma das lendas mirabolantes que povoam a história pátria.
João José Rodrigues das Virgens, casado com Francisca Maria de Paula, teve três filhos:
1) Ezequiel, nascido em 1867;
2) Custódia Maria de Jesus, casada aos 07.01.1893 com Joaquim Honório de Almeida, filho de Francisco Honório de Oliveira e Maria Izabel de São José; e,
3) Vitalina Maria das Virgens, nascida a 08.07.1880, casou-se no dia 14.10.1906 com José Galdino Eugenio, natural de Cataguases.
Aqui o Trem de História faz uma parada. No próximo Jornal a viagem segue com a família do pioneiro Francisco da Silva Barbosa. Até lá.
Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado na edição 436 no jornal Leopoldinense, setembro de 2022
Fontes Consultadas:
Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 01 bat fls 198 termo 954; lv 02 bat fls 29 termo 264; lv 2 cas fls 79 termo 3 e lv 3 cas fls 346 termo 77.
Divisão judicial da fazenda dos Barbosa, parte 1, Processo 38404284, 1884 COARPE/TJMG
Inventário de Francisco da Silva Barbosa, processo 38403431 COARPE - TJMG
Partilha amigável do espólio requerida por Ana Josefa da Silva, processo 38402712 COARPE/TJMG
CARDOSO, Ruth C. L. (org.) Aventuras de Antropólogos em campo ou como escapar das armadilhas do método. In: A aventura antropológica. Teoria e pesquisa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. p.101
Hoje o Trem de História aborda as famílias de Manoel Ferreira Brito e Antônio Luiz de Moraes, que viveram na fazenda São Manoel da Bocaina. Manoel era filho de José Ferreira Brito e Maria João Rodrigues. Casou-se[i] na matriz de Bom Jardim de Minas no primeiro dia de junho de 1813 com Maria Josefa da Silva, filha de José Gonçalves Neto e Ana Custódia da Cunha.
Maria Josefa era irmã de Ana Josefa, mulher de Francisco da Silva Barbosa, formador da fazenda Boa Vista dos Barbosa que será abordada nessa série. E, também, irmã de Brígida Joaquina Custódia da Silva, mulher de José Ferreira Brito Júnior, formador[ii] da fazenda Dois Irmãos e irmão de Manoel Ferreira Brito.
Nascido por volta de 1792, Manoel chegou[iii] ao Feijão Cru antes de 1831 e faleceu dia 9 de junho de 1856[iv] e sua esposa passou a administrar[v] a fazenda.
Manoel Ferreira Brito foi o primeiro Juiz de Paz do Feijão Cru, tendo assinado um dos mapas do conjunto denominado Mapa da População do Feijão Cru em 1835.
O casal Manoel-Maria Josefa teve, pelo menos, treze filhos:
1 – Ana Maria de Brito cc Luiz Ignacio de Moraes que pode ter sido irmão de Antonio Luiz de Moraes, condômino da São Manoel da Bocaina que será citado no parágrafo seguinte. Luiz Ignacio foi um dos doadores para a construção da Capela de Nossa Senhora da Soledade, em Leopoldina;
2 – João Damasceno Ferreira cc Rita Joaquina de Jesus, condôminos da fazenda Santa Clara, em Recreio;
3 – José Rodrigues Carneiro Ferreira cc Mariana Esméria de Sene, filha do capitão João Gualberto Ferreira Brito. O casal residiu em Itapiruçu;
4 – Domingos Ferreira Neto cc Rita Firmina de Sene, também filha de João Gualberto Ferreira Brito. Este casal adquiriu partes dos herdeiros da fazenda Fortaleza e formou a fazenda Córrego do Feijão;
5 – Joaquim Ferreira;
6 – Manoel Custódio Ferreira;
7 – Mariana Flausina da Silva cc Ezaú Ferreira Brito, filho de José Ferreira Brito Júnior e Brígida Joaquina Custódia da Silva. Este casal foi condômino da fazenda Santa Clara, em Recreio;
8 – Maria Venância de Gouvêa cc Francisco Ferreira Brito, também filho de José Ferreira Brito Júnior e Brígida Joaquina Custódia da Silva. Este casal foi proprietário de quinhão nas fazendas Sossego, Córrego São Lourenço e Ladeira, todas no arraial de São Lourenço;
9 – Emerenciana, falecida na infância;
10 – Ignacio Ferreira Brito cc Mariana Ozoria de Almeida, filha de Joaquim Cesário de Almeida e Luciana Esméria formadores da fazenda Tesouro. Com autorização do Banco do Brasil, de quem era devedor, Ignacio aforou parte de sua fazenda Laranjeiras para a formação do arraial de Recreio;
11 – Maximiana Custódia da Silva cc Julião Antonio de Moraes, filho de Antonio Luiz de Moraes e Rita de Cássia de Almeida, viveram na fazenda São Manoel da Bocaina;
12 – Francisco Ferreira Neto cc Messias Rodrigues Gomes, filha de Antonio Rodrigues Gomes e Rita Esméria de Almeida, formadores da fazenda Cachoeira do Bagre. Requereu a divisão da fazenda São Manoel da Bocaina, era condômino da fazenda Santa Clara, foi juiz de paz em Conceição da Boa Vista, membro do Club da Lavoura de Conceição da Boa Vista, vereador de Leopoldina, presidente do Conselho Distrital de Recreio, primeiro diretor do Banco de Leopoldina; e,
13 – Antonio Ferreira.
Sobre o pioneiro Antônio Luiz de Moraes pouco ainda se sabe. Provavelmente trata-se do filho de Luiz Francisco de Oliveira e Luiza Ignacia da Conceição batizado aos 25 de agosto de 1802 em Conceição de Ibitipoca. Seria irmão de Luiz Ignacio de Moraes, casado com Ana Maria de Brito, filha mais velha de Manoel Ferreira Brito acima citado. Antônio Luiz morava na fazenda São Manoel da Bocaina quando faleceu, em 1865. E na partilha de seus bens[vi] foi citada a fazenda, embora não se saiba, até o momento, quando e quanto da propriedade original ele adquiriu.
Antonio Luiz era casado com Rita de Cassia de Almeida, nome frequente na família Almeida Ramos procedente da mesma região de onde vieram os Ferreira Brito. O casal teve 11 filhos:
1 – Carlos José de Moraes cc Luiza Ignacia de Jesus filha de Joaquim Ignacio de Moraes e Maria Angela de Jesus. Joaquim Ignacio era filho de Luiz Gonçalves de Moraes e Luiza Ignacia da Conceição que podem ter sido avós paternos de Carlos;
2 – Carlota Balbina de Almeida cc Manoel Inacio de Moraes, irmão de Luiza Ignacia de Jesus;
3 – José Amancio de Moraes cc Ana Umbelina de Almeida que pode ser filha de Francisco de Sales Montes;
4 – Maria Antonia de Jesus cc Severino José Machado, filho de Bernardino José Machado e Maria Rosa de Almeida;
5 – Julião Antonio de Moraes cc Maximiana Custódia da Silva filha de Manoel Ferreira Brito e Maria Josefa da Silva;
6 – José Antonio de Moraes cc Sebastiana Apolinária da Silva filha de Francisco José de Freitas Lima da fazenda Água Limpa e segunda vez com Luiza Marcelina de Freitas Lima ainda não identificada;
7 – Rita Balbina de São José cc Joaquim Antonio Machado. Em 1890 a Fazenda São Manoel da Bocaina era propriedade de Joaquim Antônio por cabeça do casal, já que sua esposa Rita Balbina a herdara na partilha amigável dos bens de seu pai, realizada[vii] em 1866. Joaquim Antonio morreu em Vista Alegre em 1914;
8 – João, que pode ter falecido na infância;
9 – Delfina Ignacia de Moraes cc Ignacio Rodrigues Gomes filho de Antonio Rodrigues Gomes e Rita Esméria de Almeida, formadores da fazenda Cachoeira do Bagre;
10 – Antonio Augusto de Moraes cc Maria Januaria do Espírito Santo, filha de João Gomes de Souza Santos e Maria Venancia da Conceição;
11 – Leopoldino José de Moraes que se casou a primeira vez com Mariana Jesuina da Conceição, filha de Laureano José de Carvalho e Ana Marta de São Joaquim, casal que foi proprietário e/ou residiu nas fazendas Bom Retiro do pai de Ana Marta e, Degredo, ambas em Angaturama. Ana Marta era filha do Felicíssimo Vital de Moraes. Leopoldino casou-se uma segunda vez com Umbelina Candida Rodrigues de quem não se conhece ainda a família.
A próxima viagem do Trem de História trará outro pioneiro de Leopoldina que, com a sua história, contribuirá para trazer à luz mais um pouco do início da ocupação das terras do Feijão Cru. Aguardem!
Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado na edição 435 no jornal Leopoldinense, agosto de 2022
Fontes consultadas:
[i] Igreja N. S. da Piedade, Barbacena, MG, lv cas 1808-1826 fls 56
[ii] Registro de Terras de Leopoldina (Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114), nº 46
[iii] Arquivo Público Mineiro: CX 07 DOC 07, Termo de Barbacena, Comarca do Rio das Mortes, Mapa da População do Curato de São José do Paraíba - 1831, fam. 86
[iv] Inventário de Manoel Ferreira Brito, processo 38405636 COARPE/TJMG
[v] Livro de Arrecadação de Impostos em Conceição da Boa Vista 1858, fls 11verso
[vi] Partilha Amigável dos bens deixados por Antonio Luiz de Moraes, processo 38401880 COARPE/TJMG
[vii] Partilha Amigável dos bens deixados por Antonio Luiz de Moraes, processo 38401880 COARPE/TJMG
Na parte leste da área então conhecida como Sertões do Feijão Cru, em outubro de 1851 foi criado[1] o distrito de Conceição da Boa Vista e determinado que a linha divisória com o então distrito do Feijão Cru começava defronte à barra do ribeirão São João no rio Pomba, local onde hoje se encontra a ponte da BR 116, a 3,5 km ao sul de Laranjal. Seguia pela serra entre as fazendas de Manoel José de Novaes e da Bocaina. Ou seja, entre a fazenda que mais tarde se chamou Campo Limpo e a propriedade de José Ignacio de Souza (Fazenda Bocaina). Depois, a linha alcançava a divisa entre as propriedades de João Batista de Paula Almeida (fazenda Monte Alegre) e de Manoel Ferreira Brito, na altura do Cemitério. Esta última indicação parece ser de um cemitério que teria existido na fazenda São Manoel da Bocaina.
Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume 7
O próximo ponto destacado na lei de criação do distrito de Conceição da Boa Vista foi a propriedade de Joaquim Cesário de Almeida (fazenda Tesouro do Feijão Cru) que divisava com a “Sesmaria dos Vales”, ou seja, com a propriedade formada pelos irmãos Joaquim, Francisco e Salvador Mendes do Vale. Os marcos posteriores do território de Conceição da Boa Vista foram as fazendas Saudade e Santa Úrsula, que permaneceram no Feijão Cru, e o distrito de Madre de Deus do Angu, atual Angustura, com o qual divisava pela “serra da Pedra Branca até embocar no Paraíba e por este abaixo até a barra do Pirapetinga Grande”. Destaque-se, portanto, que o distrito de Conceição da Boa Vista fazia divisa com Santo Antônio de Pádua, província do Rio de Janeiro.
E aqui se abre parênteses para lembrar que esta divisa é uma das causas de propriedades de Conceição da Boa Vista terem sido registradas, em 1856, em livros da Freguesia de Santo Antônio de Pádua, como foi o caso de Jean Claude Robert[2], em cuja fazenda Lealdade passava um córrego da Serra dos Monos e que divisava com um filho de Felicíssimo Vital de Moraes.
Como se sabe, menos de três anos depois o distrito de Conceição da Boa Vista foi novamente incorporado ao Feijão Cru, então como distrito[3] da Vila Leopoldina. E nas décadas seguintes a área que atualmente marca aquela divisa do município de Leopoldina sofreu novas alterações.
No final de 1878 foi criado[4] o distrito de Campo Limpo, atual Ribeiro Junqueira, mantendo a divisa com o distrito de Conceição da Boa Vista cuja área veio a sofrer redução em 1890 com a criação de três novos distritos: Recreio, São Joaquim e Santa Izabel.
O distrito de Recreio, criado[5] em junho daquele ano, teve as divisas determinadas[6] no mês seguinte. Começavam no já então denominado ribeirão de São Manoel da Bocaina onde se localizava a fazenda de mesmo nome que então era propriedade de Joaquim Antônio Machado por cabeça do casal, já que sua esposa Rita Balbina de São José era filha do pioneiro Antonio Luiz de Moraes, cuja partilha amigável dos bens fora realizada[7] em 1866. Seguindo pelo citado ribeirão até sua foz no rio Pomba e daí até a estação de São Joaquim que meses depois se tornaria a sede do distrito de mesmo nome. Os próximos limites do distrito de Recreio eram as propriedades de sucessores nas fazendas São Manoel da Bocaina e Bom Retiro, além da Bom Sucesso, Aurora, Laranjeiras e Serrote. Depois buscava-se o ponto inicial passando pelas fazendas Santa Catarina e Canadá que ficaram para Conceição da Boa Vista, e Passa Tempo que meses depois passou a compor o distrito de Santa Izabel; a fazenda Monte Alegre ficou em Recreio e, seguindo pela serra, iria findar-se nas cabeceiras do ribeirão São Manoel da Bocaina.
O distrito de São Joaquim, atual Angaturama, e o distrito de Santa Izabel, atual Abaíba, foram criados[8] em novembro do mesmo ano.
No estabelecimento das divisas de São Joaquim foram citados sucessores das fazendas Bom Retiro, formada por Felicíssimo Vital de Moraes, e São Manoel da Bocaina, de Manoel Ferreira Brito.
Quanto às divisas de Santa Izabel, importa destacar a parte norte, pelas confrontações com o distrito de Conceição da Boa Vista. No caso, pelas propriedades dos Mendes do Vale, sucessores da fazenda Sesmaria e dos Freitas Lima, sucessores da Água Limpa.
Na próxima viagem virão as famílias dos pioneiros Manoel Ferreira Brito e Antônio Luiz de Moraes. Ambos foram moradores da Fazenda São Manoel da Bocaina e contribuíram para o desenvolvimento da área e pela consolidação do que viria a ser a Vila Leopoldina.
Por hoje o Trem de História fica por aqui!
Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado na edição 434 no jornal Leopoldinense, julho de 2022
Fontes utilizadas:
[1] Lei nº 533 de 10/10/1851
[2] Registro de Terras de Santo Antônio de Pádua, RJ (Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro), livro 80 fls 19 termo 80 D.1236
[3] Lei nº 666 de 27 de abril de 1854
[4] Lei nº 2500 de 12 de novembro de 1878
[5] Decreto nº 123 de 27 de junho de 1890
[6] Decreto nº 157 de 30 de julho de 1890
[7] Partilha Amigável dos bens deixados por Antonio Luiz de Moraes, processo 38401880 COARPE/TJMG
[8] Decreto nº 241 de 21 de novembro de 1890
Os Fontanella passaram ao Brasil na época em que a imigração de italianos já estava em decréscimo. Aportaram no Rio de Janeiro em fevereiro de 1899 e seguiram para a Hospedaria de Juiz de Fora, dali saindo no dia 23 de fevereiro com destino ao distrito de Aba´íba, em Leopoldina. Alguns filhos de Luigi e Verginia se casaram com imigrantes ou filhos deles. Outros se uniram a membros de antigas famílias que viviam no lugar, como Oliveira e Azevedo.
Depois de muitas tentativas infrutíferas, a pesquisa sobre as fazendas Bocaina e São Manoel da Bocaina trouxe à memória um conceito mencionado pelo historiador Carlo Ginzburg [1] ao citar a “fábula ou conto oriental de três irmãos que, interpretando uma série de indícios, conseguem descrever o aspecto de um animal que nunca viram”. O conto é conhecido pelo título “Peregrinação dos três jovens filhos do rei de Serendip” e fez tanto sucesso que o inglês Horace Walpole cunhou o neologismo “serendipity” para designar as descobertas imprevistas.
Em história, serendipidade corresponde ao paradigma indiciário. Ao interpretar indícios, é possível suprir lacunas através de uma interpretação criteriosa, conjectural. O processo “leva do conhecido ao desconhecido” nas palavras de José Carlos Reis[2] interpretando Ginzburg.
O ofício do pesquisador envolve a coleta de indícios que não necessariamente são compreendidos de imediato. Muitas vezes esses fragmentos ficam guardados até servirem a outro projeto, confirmando o paradigma indiciário.
Foi o que aconteceu no estudo comparativo entre o processo de divisão das terras que compuseram a fazenda de São Manoel da Bocaina, de Manoel Ferreira Brito, com as partilhas de bens de sucessores do primeiro proprietário e o inventário do formador da fazenda Bocaina, José Ignacio de Souza.
Inicialmente acreditava-se que teria existido apenas uma fazenda denominada pelo topônimo bocaina. Como se sabe, bocaina é depressão numa serra, servindo de passagem entre duas partes elevadas, ou passagens estreitas entre duas ilhas ou entre uma ilha e o continente. Uma das conhecidas bocainas, nas divisas em São Paulo e Rio de Janeiro, deu nome à Serra da Bocaina mencionada por Saint-Hilaire[3]. É a serra que batizou o município de Bocaina de Minas onde nasceu Manoel Ferreira Brito quando o lugar ainda era um pequeno arraial pertencente a Aiuruoca que, por sua vez, é terra de origem de várias famílias que migraram para Leopoldina. Daí ser lícito imaginar a existência inicial de apenas uma fazenda do nome e que essa tenha sido a de Manoel Ferreira Brito que a formou ao chegar ao Feijão Cru.
Até então tinha-se como certo que os dois nomes, Fazenda de São Manoel da Bocaina e Fazenda Bocaina, se referiam a uma só propriedade. No entanto, a partir dos estudos comparativos acima citados, observou-se que tal interpretação não se sustenta. As primeiras referências a tais propriedades vieram de registros dos confrontantes, no caso da São Manoel da Bocaina e, em transações de compra e venda de bens de raiz constantes dos primeiros livros do Cartório de Notas de Conceição da Boa Vista envolvendo os proprietários das duas Bocainas e as propriedades de Antonio Luiz e de Felicíssimo de Moraes.
Para a fazenda São Manoel da Bocaina partiu-se de referências indiretas que foram confrontadas com outras fontes, como compra e venda de bens de raiz envolvendo descendentes do primeiro proprietário, além dos vínculos que se formaram com descendentes das fazendas confrontantes, testamentos e inventários dos nomes envolvidos. Chamou a atenção o fato de que, diferentemente da maior parte das fazendas formadas no Feijão Cru, as duas propriedades com o nome de Bocaina não foram registradas em 1856, o que não chegou a ser tratado como problema, visto que as propriedades de Antonio Luiz de Moraes e Felicíssimo Vital de Moraes também não o foram.
Conforme o já citado Reis[4], “o trabalho do historiador se aproxima do trabalho do policial e do juiz. A necessidade da prova não é uma ilusão positivista. O processamento da documentação é capaz de distinguir o falso.” E assim trabalhando, os autores desta série chegaram ao que se verá a respeito na próxima edição. Antes, porém é necessário situar a região aqui mencionada.
Trata-se da divisa entre o distrito de Ribeiro Junqueira e o município de Recreio, a partir da margem do Rio Pomba até o local onde a estrada de ferro cruza o ponto hoje denominado Alto da Bocaina como se verifica na Carta Topográfica do Município de Leopoldina produzida em 1981.
Até a próxima edição!
Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado na edição 433 no jornal Leopoldinense, junho de 2022
Fontes consultadas:
[1] GINSBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p.168
[2] REIS, José Carlos. Teoria & História: tempo histórico história do pensamento histórico ocidental e pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: FGV, 2012. p.101
[3] SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a São Paulo. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974
[4] REIS, José Carlos. Obra citada,2012. p.100-101