Sesquicentenário de Nascimento

No dia 1 de dezembro de 1867 nasceu em Leopoldina mais uma descendente do “comendador” Manoel Antonio de Almeida: Marieta Rodrigues de Almeida, filha de Francisco Martins de Almeida e Rita Garcia da Natividade.

Mais tarde seus pais transferiram residência para o distrito de Aracati, em Cataguases, onde Francisco Martins faleceu em dezembro de 1915. Em 1873 ele havia adquirido um pequeno lote da Fazenda Monte Redondo que, segundo a pesquisadora Joana Capela, localizava-se em Santana de Cataguases.

Além de Marieta, Francisco e Rita Garcia foram pais de outros treze filhos, todos com grande descendência. Alguns destes filhos também fixaram residência na margem esquerda do Rio Pomba, seja em Aracati ou em Vista Alegre, ambos distritos de Cataguases.

Os avós paternos de Marieta foram Maria Constança de Jesus e Antonio de Almeida Ramos, filho de Manoel Antonio de Almeida e Rita Esméria de Jesus. Os avós maternos foram José Joaquim Pereira Garcia e Mariana Esméria da Natividade, ambos provenientes de famílias da Serra da Ibitipoca.

Marieta casou-se com Honório Rodrigues de Lacerda, filho de Generosa Teodora de Jesus e de Ezaú Antonio de Lacerda, neto paterno de José Ferreira Brito e Mariana Paz de Lacerda. O casal teve, pelo menos, outros dez filhos,  alguns deles nascidos e batizados em Leopoldina.

 

Efemérides Leopoldinenses: Setembro

Memorial diário da história de Leopoldina, com acontecimentos do mês de setembro.

4 de setembro

1898

Fundada a Lyra Leopoldinense. Seu primeiro presidente foi José Marciliano Vieira Nepomuceno, natural de Conceição da Boa Vista e Fiscal da Câmara Municipal de Leopoldina desde 1881.


6 de setembro

1882

O normalista Angelo de Souza Nogueira, professor provisório em Leopoldina, é nomeado professor efetivo de instrução primária, conforme noticia o jornal Liberal Mineiro, desta data, página 2.


7 de setembro

1838

A Contagem Populacional do Feijão Cru, realizada em 1835, é encaminhada para a Presidência da Província, conforme documento do Arquivo Público Mineiro, caixa 03 doc 06.

Encaminhamento do Mapa de Habitantes do Feijão Cru


8 de setembro

1895

Aquisição de terreno para estabelecer a Hospedaria de Jacareacanga.


10 de setembro

1851

Transfere a sede da Vila de São João Nepomuceno para então criada Villa do Mar de Hespanha. Desta forma, todos os distritos que estavam subordinados a São João Nepomuceno, incluindo o Feijão Cru, passam para a dependência administrativa de Mar de Espanha.

Carta de Lei nr 514 , Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro


12 de setembro

1882

Professora pública Clara Sophia Adolphina Gaëde de Carvalho é transferida de Cataguases para Leopoldina.

Relatório de Antonio Gonçalves Chaves para a Assembleia Provincial de Minas em 2 de agosto de 1883, pag.24


13 de setembro

1881

O então distrito da Piedade, hoje Piacatuba, cede mais uma parte de seu território para Cataguases

Lei 2764, Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro


15 de setembro

1879

Nasce em Leopoldina, Dilermando Martins da Costa Cruz, patrono da cadeira nº 15 da ALLA

Fonte: Gazeta de Leopoldina, 16 de setembro de 1899, edição 23, pag 2


16 de setembro

1894

É lançado o jornal A Voz de Tebas, cujo editor era F. S. Teixeira.

Fonte: A Voz de Tebas, 16 de setembro de 1896, pag 2.


17 de setembro

1876

Bento Xavier doa terrenos de sua Fazenda Campo Limpo para a formação do povoado, hoje distrito de Ribeiro Junqueira.

Fonte: Escritura de Doação, Arquivo Particular.

Efemérides Leopoldinenses: Outubro

O mês de outubro na história de Leopoldina.

1 de outubro

1874

Resultado do Recenseamento de 1872.

5 de outubro

1893

Publicados os Estatutos da Sociedade Anônima Arcádia Leopoldinense, destinada à instrução da mocidade.

8 de outubro

1873

A Assembleia Legislativa Provincial de Minas decreta que o Curato do Rio Pardo torna-se Freguesia. A Lei Mineira n. 2027, de 1 de dezembro do mesmo ano, em seu artigo 3º confirma a decisão.

Lei Mineira nº 2027, Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro.

Na mesma data a Assembleia autoriza a presidência da província a contribuir com a construção de uma estrada de rodagem entre a estação ferroviária de Santa Izabel (hoje Abaíba) e Dores do Pomba (hoje Itapiruçu).

1874

Inauguração das primeiras estações da Estrada de Ferro Leopoldina: Porto Novo (Além Paraíba), Pântano (depois Antônio Carlos, atual Fernando Lobo) e Volta Grande. A estação de São José, localizada entre a Porto Novo e a Pântano, só foi construída mais tarde, com o objetivo de desafogar a estação Porto Novo que era o ponto de ligação da Estrada de Ferro Pedro II com a Leopoldina.

Fonte: Jornal do Commercio, 10 de outubro de 1874, edição 281, pag. 3

9 de outubro

1831

Encaminhada para o governo provincial a primeira contagem populacional com moradores do Feijão Cru.

1895

José Feijó Monteiro de Rezende vende prédio do Bairro da Grama para a Casa de Caridade.

10 de outubro

1851

Criação de novos distritos que em 1854 viriam a compor o território da Vila Leopoldina.

1871

Companhia Estrada de Ferro Leopoldina, obtém concessão para a construção de uma linha de bitola de um metro, ligando Porto Novo do Cunha a Leopoldina. Posteriormente houve mudança na concessão e a Estrada de Ferro Leopoldina passou a ligar Porto Novo ao Meia Pataca, com o ramal Vista Alegre dando acesso à sede do município de Leopoldina.

Lei Mineira nº 1826, Coleção de Leis Mineiras, Arquivo Público Mineiro

1895

Primeira Sede do Colégio Imaculada Conceição.

12 de outubro

1894

Morre o Padre Muniz, sacerdote que dedicou seus últimos anos de vida aos paroquianos da Piedade, hoje Piacatuba.

13 de outubro

1817

Concedida a Fernando Affonso Correia de Lacerda, uma sesmaria com limite no Córrego do Feijão Cru, Distrito de Santo Antônio do Porto do Ubá, Termo de Barbacena.

14 de outubro

1817

Concedida a Jeronimo Pinheiro de Lacerda, uma sesmaria também com limite no Córrego do Feijão Cru, Distrito de Santo Antônio do Porto de Ubá, Termo de Barbacena.

16 de outubro

1861

Leopoldina é elevada a Categoria de Cidade pela Lei Mineira nº 1166.

17 de outubro

1895

Acervo da Câmara Municipal de Leopoldina: patrimônio cultural desaparecido.

18 de outubro

1883

Criação do distrito do Tapirussu que havia sido criado como distrito policial um ano antes.

1883

Criadas duas cadeiras de instrução primária em Thebas, sendo uma para o sexo feminino e outra para o masculino

Lei Mineira nº 3127, Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro

19 de outubro

1866

A Secretaria da Presidência de Minas Gerais oficiou ao Ministério da Guerra, pedindo informações sobre a morte, na Guerra do Paraguai, do voluntário Candido Silva Brandão que ocupava o ofício de 2º tabelião em Leopoldina.

Diário de Minas, 9 de janeiro de 1867, edição 160, pag 1

20 de outubro

1882

Criada outra escola de instrução primária para o sexo masculino

Lei Mineira nº 2902, Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro

23 de outubro

1882

Cedido território do então distrito da Piedade, hoje Piacatuba, para ampliar o território de Cataguases.

Lei Mineira nº 3049, Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro

25 de outubro

1881

O então “districto dos Thebas, município de Leopoldina”, é elevado à categoria de Freguesia.

Lei Mineira nº 2848, Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro

28 de outubro

1878

O empresário Custódio José Martins da Costa Cruz obtém concessão de privilégio para construção, uso e gozo de uma estrada de ferro entre Recreio e São Francisco do Glória.

Lei Mineira nº 2452, Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro

29 de outubro

1874

Fuga de criminosos na Cadeia de Leopoldina, envolvendo o assassino de João José de Souza Lima, crime ocorrido em maio de 1874 na Freguesia do Espírito Santo do Empoçado, atual Cataguarino, distrito de Cataguases.

Efemérides Leopoldinenses: Novembro

Memorial diário da história de Leopoldina, com acontecimentos do mês de novembro.

1 de novembro

1860

O ocaso da carreira política de Antonio José Monteiro de Barros.

Campanha política.

1899

A música em Leopoldina: Lyceu Musical Santa Cecília. Veja.


5 de novembro

1866

Assembleia Legislativa Provincial aprova a reforma das Posturas Municipais de Leopoldina que foram adotadas por Cataguases quando de sua emancipação.

Lei que aprova as posturas da Câmara Municipal de Leopoldina

Cataguases pede para adotar as Posturas de Leopoldina

Autorização para Cataguases adotar as Posturas de Leopoldina


6 de novembro

1869

A povoação do “Empossado” (mais tarde Empoçado), na época pertencente ao termo da Leopoldina, torna-se Distrito de Paz. Trata-se do atual distrito de Cataguarino, pertencente a Cataguases.


7 de novembro

1855

Criação do cargo de Juiz Municipal e de Órfãos em Leopoldina.


12 de novembro

1878

Criado o distrito de Campo Limpo, atual Ribeiro Junqueira.

Criação do distrito de Campo Limpo


18 de novembro

1857

Segundo o Decreto nº 2031 de 18 de novembro de 1857, o carcereiro de Leopoldina receberia sessenta mil réis anuais. Dentro da estrutura administrativa da época, a remuneração era um atrativo do cargo.


19 de novembro

1875

A Lei nº 2161 autoriza a Companhia Estrada de Ferro Leopoldina a estender-se até Santa Rita do Meia Pataca. Até então a concessão era para o trajeto Porto Novo a Leopoldina.


21 de novembro

1890

A Lei nº 241 cria os distritos de Santa Izabel, atual Abaíba e São Joaquim, atual Angaturama.

24 de novembro

1813

Concedidas duas sesmarias a Antônia Rodrigues Chaves e seu marido Domingos Gonçalves de Carvalho, irmão de Felisberto da Silva Gonçalves mencionado abaixo, dia 29 de novembro. Localização indicada na época da concessão: Mata geral do Sertão do Pomba, no Córrego da Fortaleza, Termo de Barbacena, onde se acha abrindo a estrada para o Porto de São Fidélis. Segundo estudos realizados nos livros paroquiais, as sesmarias de Antônia e Domingos ficavam localizadas em território que viria a constituir São João Nepomuceno, provavelmente no atual distrito de Taruaçu.

Fonte: Códice SC 352 fls 76v e fls 73v respectivamente, Arquivo Público Mineiro.


25 de novembro

1875

O distrito do Meia Pataca emancipa-se de Leopoldina com o nome de Cataguases. Em consequência, Leopoldina perde também os distritos do Empoçado e Conceição do Laranjal, além de parte do território do distrito da Piedade.

Fonte: Lei 2180, Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro.


26 de novembro

1813

Concedida a Anna Bernarda da Silveira, uma sesmaria com limite no Córrego da Fortaleza, Mata Geral do Sertão do Pomba, Termo de Barbacena. Este córrego corresponde ao que mais tarde era conhecido como São Bento. Segundo registros do primeiro livro do Cartório de Notas de Bom Jesus do Rio Pardo, esta sesmaria ficava a sudoeste da sede do município de Leopoldina, na divisa com o atual município de Argirita. Esta informação é confirmada no Registro de Terras de 1856.

Fonte: Códice SC 352 fls 81, Arquivo Público Mineiro.

1835

O Juiz de Paz Manoel Ferreira Brito conclui o levantamento populacional do Curato de São Sebastião do Tesouro do Feijão Cru. Foram computados 135 fogos com 1.274 habitantes.


29 de novembro

1813

Concedida a Felisberto da Silva Gonçalves, marido de Anna Bernarda da Silveira citada no dia 26 de novembro acima, uma sesmaria também com limite no Córrego da Fortaleza, Sertão do Pomba, Termo de Barbacena.

Carta de Sesmaria de Felisberto da Silva Gonçalves


30 de novembro

1880

A povoação de Thebas é elevada à categoria de Distrito de Paz e continua fazendo parte da Freguesia da Piedade.

14 de julho de 1832: São José do Paraíba

Há 181 anos o Curato de São José do Parahyba (Além Paraíba) era elevado à condição de Paróquia por Decreto Imperial, tendo por filiais os Curatos de Nossa Senhora das Mercês do Kagado (Mar de Espanha) e Santa Rita do Meia Pataca (Cataguases).

Em 1851 a situação se inverteu em relação a Mercês do Kagado e pela emancipação de Mar de Espanha ficou-lhe subordinada. Pouco tempo depois, aos 27 de abril de 1854, foi incorporado à Vila Leopoldina pela Lei número 666, aí ficando por dez anos até que a Lei número 1235, de 27 de agosto de 1864, determinou nova transferência para Mar de Espanha.

Sua emancipação ocorreu em 30 de novembro de 1880, através da Lei número 2678.

Grupo Escolar Coronel Vieira: Um século de história

O “Grupo Escolar de Cataguazes”, criado pelo Decreto Estadual 3.723, de 08 de outubro de 1912, foi inaugurado em 24 de fevereiro de 1913, pelo Agente Executivo e Presidente da Câmara Municipal, Cel. João Duarte Ferreira, e pelo Deputado Federal Astolfo Dutra, sendo Governador do Estado o Dr. Júlio Bueno Brandão.

Grupo Escolar de CataguazesFoto de Gines Gea Ribera, sem data, acervo do Arquivo Público Mineiro

Para compreender a sua importância para Cataguases, valemo-nos do Relatório do Inspetor Técnico da 16ª Circunscrição Literária, Major Estevam de Oliveira, apresentado ao Secretário de Interior, em 31 de janeiro 1907, que informava estar a administração municipal empenhada na fundação de um grupo escolar e revelava as precárias condições do ensino primário das escolas estaduais da cidade, ministrado em salas inadequadas, classes multisseriadas, ou seja, salas com até quatro séries, além de mobiliário, métodos e materiais didáticos impróprios. Com professores bem avaliados, eram assim instaladas:

1-   Escola Feminina, que funcionava na própria casa da professora, normalista Etelvina Soares de Azevedo;

2-   Primeira Cadeira Feminina, sob a regência da normalista Maria de Assis Coelho, que funcionava na sala de um prédio público;

3-   Escola Mista, que funcionava em sala alugada e paga pela própria professora, normalista Honorina Ventania, a ela pertencendo o mobiliário utilizado;

4-   Escola Masculina, que também funcionava em sala alugada e mantida pela professora, normalista Cecília Coelho;

5-   Segunda Cadeira Masculina, que funcionava na sala de um prédio público, regida pelo professor Clodoveu Henrique de Oliveira.

O estado mineiro já experimentava os primeiros efeitos da “Reforma João Pinheiro”, aprovada pela Lei 439, de 28 de setembro de 1906, no governo de João Pinheiro da Silva, que visava a reorganização dos ensinos primário, normal e superior em Minas Gerais, seguindo uma tendência nacional. Os grupos escolares se constituíam em um dos destaques desta reforma, que modernizou o sistema educacional mineiro ao concentrar os alunos num mesmo prédio escolar, distribuídos em salas específicas para cada série. Dentre as alterações promovidas pela mencionada reforma, vale destacar o ensino primário gratuito e obrigatório, a reestruturação dos programas de ensino e a inspeção centralizada.

Para alguns estudiosos, a criação dos grupos escolares constituiu a expressão da política educacional republicana, cultuando os símbolos, valores e a pedagogia moral e cívica deste regime político.

Entretanto, somente quatro anos após a sua aprovação, esta reforma chegou a Cataguases. Em 1910, o Cel. João Duarte Ferreira iniciou os entendimentos com o governo estadual visando à criação do grupo e a escolha do local para a sua construção. Autorizado pela Câmara, contraiu um empréstimo junto ao Estado para a realização de várias obras, inclusive a construção do grupo, como previa a Lei Municipal 233, de 24 de julho de 1911:

Art.5º- Fica o Agente Executivo Municipal igualmente autorizado:

c) a construir um edifício para o grupo escolar n’esta cidade em terrenos da Câmara Municipal, nos fundos das casas pertencentes a D. Amália Camacho, D. Honorina Ventania e irmãos, ficando desde já decretada a despropriação das benfeitorias que aquelas proprietárias tem no referido local, na área necessária para construcção do edifício e suas dependencias, de acôrdo com a respectiva planta que fica expressamente aprovada.

De imediato, tiveram início as obras de aterro e desaterro e, em 7 de setembro do mesmo ano, numa concorrida solenidade presidida pelo Cel. João Duarte, tendo como orador oficial o Dr. Astolfo Dutra, foi lançada a pedra fundamental com uma urna contendo jornais, moedas e outros objetos para guardar a memória da época, além da ata assinada pelas autoridades. Das mãos de José Pereira Louro, o mestre de obras encarregado da construção do prédio, o Agente Executivo recebeu a colher de pedreiro com a argamassa para lacrar a referida urna.

Em carta aberta ao Agente Executivo, o professor Eurico Ferreira da Cunha Rabelo, futuro Diretor do grupo, reivindicava uma alteração na planta oficial do prédio, fornecida pelo Estado, para incluir a construção de um andar superior para o salão nobre, destinado às solenidades cívicas escolares, não tendo sido atendido.

A obra despertava a curiosidade e os comentários populares: alguns a elogiavam, outros criticavam o local escolhido e havia, ainda, os que diziam que aqueles alicerces não aguentariam o peso de uma “lágrima de mosquito”.

A conclusão da obra se deu em novembro de 1912, sendo o grupo o primeiro prédio da Avenida João Duarte, conforme noticiou o jornal Cataguases, em sua edição de 15 de novembro do mencionado ano.

No início de fevereiro de 1913, quando já haviam 697 alunos matriculados, foi realizada uma exposição com os uniformes a serem adotados na escola, inovação que provocou algumas reações contrárias, mesmo com a campanha empreendida pelo Diretor Eurico Rabello para doá-los aos alunos pobres.

Numa pomposa solenidade de inauguração, a Banda “Sete de Setembro”, que precedera o cortejo de autoridades e populares da Câmara até o grupo, abriu a cerimônia mediante a apresentação da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, executando ainda os Hinos Nacional, da Proclamação da República e de Cataguases. Saudando as autoridades e professores falaram, pelo grupo, os alunos Camilo Nogueira da Gama e Maria Mercês de Souza Lima; pelo Colégio Nossa Senhora do Carmo, Maria da Conceição Macedo, e pelo Colégio Granbery, Custódio da Silva.

Os festejos foram filmados por João Stamato, técnico da Companhia Internacional Cinematográfica do Rio de Janeiro, que produziu a fita “Cataguazes”, contratado pelo italiano Paschoal Ciodaro, aqui residente, então arrendatário do Cinema Recreio, pertencente ao Cel. João Duarte. O filme mostrava também a ginástica sueca pelos alunos do grupo, vistas das ruas, praças e prédios da cidade, além de uma viagem à Usina Maurício e foi exibido com enorme sucesso no mês seguinte.

Os esforços para localizar este filme, dividido em três partes de 400m cada uma, foram infrutíferos até agora.

Na inauguração, o grupo já havia recebido as carteiras, fornecidas pelo Estado, e parte do mobiliário que fora fabricado aqui mesmo, em Cataguases, pela firma “Lopes, Irmão & Guedes”. Contava ainda com a sua Caixa Escolar organizada, cujo objetivo era angariar recursos para atender aos alunos pobres.

Em 21 de abril de 1913, como instrumento de educação moral e cívica, foi fundada a “República Escolar Tiradentes”, presidida por um aluno-cidadão que escolhia seus ministros, cujas pastas tinham atribuições que iam dos cuidados com o prédio ao arquivamento de documentos. A República era composta de dez salas-estado, cada uma com seu respectivo presidente, empossados no mesmo dia. O primeiro presidente desta instituição foi o aluno Camilo Nogueira da Gama que, anos depois, exerceria os mandatos de vereador, deputado federal e senador. – Teria sido influência da atividade escolar?

Os primeiros exames para aprovação de alunos foram realizados em novembro de 1913, aplicados pelo Inspetor Escolar, Dr. Joaquim Figueira da Costa Cruz, pelo Diretor Eurico Rabelo e pelas Professoras Etelvina Soares Azevedo, Doraliza de Salles Ferreira, Ana Ferreira dos Santos, Eponina Dutra e Nair Pinto.

As dez salas, todas mistas, em funcionamento no ano de 1916, com turnos de manhã e de tarde, ainda sob a direção do professor Eurico Rabelo, estavam a cargo das professoras Ana Ferreira dos Santos, Cecília Juliana Coelho, Doraliza de Salles Ferreira, Emília Pio, Eponina Dutra, Flávia Fernandes, Honorina Ventania, Judith Azevedo, Maria de Medeiros Castanheira e Rosa Tavares Baião. Os outros dois funcionários eram o porteiro, José Antônio Theodoro, conhecido como “Zé do Grupo”, e a servente Luiza do Valle Salles.

O grupo recebeu a nova denominação de “Coronel Vieira” por ocasião da visita a Cataguases do então Presidente do Estado, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, que aqui assinou o Decreto 8.890, de 23 de novembro de 1928, homenageando o Coronel José Vieira de Resende e Silva, um dos fundadores do município.

Hoje, funcionando no mesmo prédio, em dois turnos, sob a denominação de “Escola Estadual Coronel Vieira”, o grupo conta com 630 alunos distribuídos nas 25 turmas do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, duas turmas do Projeto Escola de Tempo Integral e duas turmas de Educação Inclusiva. Tem como Diretora Gleidis Peixoto Furtado, Vice Diretora, Maria do Carmo Silveira de Paula, e Secretária, Elizabete Ramalho Procópio. A supervisão está a cargo de Rosa Maria Chedid Ventura e Andrea Coelho de Rezende. A escola conta ainda com uma equipe de 50 funcionários, aproximadamente, entre professores e servidores administrativos.

Para conhecimento e orgulho das futuras gerações, a rica história do grupo merece o esforço de seus dirigentes e servidores, alunos e ex-alunos, no sentido de resgatar documentos, tais como livros de atas, provas, fotografias, livros e objetos didáticos que registram este século de funcionamento.

Cataguases, fevereiro de 2013.

Maria Joana Neto Capella – Pesquisadora

Dilson Martins de Freitas – Colaborador


Fontes consultadas:

1- Araujo, José Carlos Souza: Os grupos escolares em Minas Gerais: a Reforma João Pinheiro (1906)

2- Cataguases, Órgão Oficial do município de Cataguases, 1907 a 1913.

3- Legislação Mineira, Assembéia Legislativa de Minas Gerais

4- Brasil, Hélio: O Solar da Fazenda Rochedo e Cataguases (pesquisas e notas de José Rezende Reis)

5- Capri, Roberto: Minas Gerais e seus municípios, 1916

6- Livro de Atas da Caixa Escolar, 1913 a 1943, Escola Estadual Cel. Vieira.

7- Livro de atas de exames do Grupo Escolar, 1913 a 1928, Escola Estadual Cel. Vieira.

Os Caminhos do Povoamento e a Origem da Vila Leopoldina

Aspecto ainda não estudado da história de Leopoldina, os Caminhos do Povoamento da zona da mata mineira estão sendo pesquisados em parceria por Nilza Cantoni e Joana Capella e deste trabalho foi extraído o material utilizado em palestra realizada no Cefet, campus Leopoldina, na abertura do II Festival de Arte e Cultura, neste ano de 2012.

O convite para encontrar-me com os profissionais da Educação que atuam em Leopoldina foi um grande presente. Ao longo do tempo eu venho colhendo dados e buscando interpretá-los à luz do conhecimento produzido pelos especialistas de diversas áreas, tendo chegado a algumas conclusões que gostaria de dividir com vocês. Hoje falarei sobre um estudo inédito que acredito ser importante para ampliar o conhecimento sobre a então Vila Leopoldina.

Localização de Leopoldina pelo Google Earth
Localização de Leopoldina pelo Google Earth

Neste recorte, destaquei os pontos importantes para o assunto de hoje: a localização de Ouro Preto, Mariana, Barbacena, Cataguases, Leopoldina, Cantagalo, Campos dos Goitacazes e Rio de Janeiro.

Agora viajaremos para 1847.

Cartografia de 1847
Cartografia de 1847

Esta cartografia[1] foi produzida por João José da Silva Teodoro e concluída em 1847. O original encontra-se na Biblioteca Nacional. Fazendo um recorte no mapa, verifica-se que a cartografia detalha os termos do Pomba, Presídio de São João Batista (atual Visconde do Rio Branco) e São João Nepomuceno:

Os Termos do Pomba em 1847
Os Termos do Pomba em 1847

No território do Termo de São João Nepomuceno, o distrito do Feijão Cru em destaque.
No território do Termo de São João Nepomuceno, o distrito do Feijão Cru em destaque.

No território do Termo de São João Nepomuceno encontra-se em destaque o distrito do Feijão Cru.

Procurando saber quem foram as pessoas que se estabeleceram no Feijão Cru[2], verifiquei que, à exceção de uma das primeiras famílias que aqui se fixaram, todas as que consegui identificar procediam de região agrícola. Donde se derruba um dos mais arraigados mitos da história de Leopoldina, ou seja, de que os povoadores eram deserdados do ouro.

Voltemos ao mapa completo de João José da Silva Teodoro.

Bacia do Paraíba do Sul na Zona da Mata Mineira

Rio Paraíba do Sul na zona da mata mineira, recebendo o Pomba e seus dois principais afluentes: o Novo e o Xopotó

Paraíba do Sul, Pomba, Novo e Xopotó, além do Caminho Novo à esquerda e das localidades de Ouro Preto, Presídio, Campos dos Goitacazes e Cantagalo

Além dos rios Paraíba do Sul, Pomba, Novo e Xopotó, e do Caminho Novo à esquerda, acima destacamos as localidades de Ouro Preto, Presídio, Campos dos Goitacazes e Cantagalo.

Caminho do Cantagalo

Acrescentado o provável percurso do Caminho do Cantagalo [na cor vinho] mencionado em diversas Cartas de Sesmaria[3] e aberto pelas tropas de Pedro Afonso Galvão de São Martinho nas investidas de 1784[4] e 1786[5]. Pelo que nos foi dado apurar, o Caminho do Cantagalo foi o trajeto utilizado pela maioria dos povoadores do Feijão Cru e serviu de base para uma estrada de rodagem de São João del Rei a Cantagalo[6].

Estrada Presídio-Campos
Em verde a estrada Presídio-Campos

Prosseguindo, temos agora a Estrada Presídio – Campos dos Goitacazes[7], aberta por volta de 1812[8]. O trajeto desta estrada foi definido a partir de anotações colhidas em correspondência de Guido Marliére, referências em Cartas de Sesmarias[9], em Spix & Martius[10] e em Burmeister[11].

Segundo Helena Guimarães Campos[12],

O estudo dos caminhos é determinante para a compreensão dos processos históricos, pois eles estão associados à exploração, ocupação e povoamento dos territórios [...] A existência, a inexistência ou as condições dos caminhos traçam os rumos dos limites e das possibilidades da história dos povos, que tem ou não seus territórios articulados com outros.

Abordando as pesquisas realizadas sobre o Caminho Novo, o professor Ângelo Alves Carrara[13] informou que os Diários de Viagem dos Soldados Dragões demonstram que havia um caminho “vertebrador” e uma boa quantidade de variantes, sendo de notar que os soldados eventualmente faziam o percurso de ida por um trecho e na volta utilizavam outra variante, dando notícia precisa da distância entre cada parada que faziam.

Embora não tenhamos “diários de viagem” sobre os nossos caminhos, as referências encontradas na cartografia que pesquisamos indicam que o Caminho do Cantagalo e a Estrada Presídio-Campos dos Goitacazes também não eram uma via de percurso único. No caso do acesso a Cantagalo, temos referências sobre alternativas existentes em 1858, quando a viajante Ida Pffeifer o atingiu na altura da Aldeia da Pedra, hoje Itaocara[14].

Trilhando e abrindo novos caminhos, os povoadores do Feijão Cru foram ampliando sua área de influência, conforme podemos verificar no mapa seguinte.

Leopoldina segundo Tschudi e Halfeld

Aí está um trecho de cartografia produzida pelos engenheiros Halfeld e Tschudi[15] e publicada em 1855, no qual destaquei o território que formou a Vila Leopoldina em 1854.

Pensar os nossos antigos caminhos é fundamental para compreendermos a nossa história. Por esta razão eu convido a todos para refletirem sobre a ocupação das áreas cortadas pelo Caminho do Cantagalo e pela Estrada Presídio-Campos dos Goitacazes. De onde vieram as pessoas que implantaram em nossa terra a lógica colonial? Quais eram as suas práticas culturais? Como se alimentavam? Como supriam as necessidades básicas de suas famílias? Por onde escoavam a produção? De que forma produziam riqueza?

Voltando o olhar para estes aspectos, as informações acumuladas nos fizeram chegar à imagem seguinte, montada a partir de topografia disponível no Arquivo Público Mineiro[16].

Vila Leopoldina em 1854

Segundo Bloch[17], “textos ou documentos […] não falam senão quando sabemos interrogá-los”. Para Le Goff[18] a “memória, na qual cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro”. Nosso trabalho tem tido como objetivo resgatar textos e documentos sobre a história de Leopoldina, analisando-os e divulgando-os para que todos tenham acesso.

a) Nilza Cantoni

NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] TEODORO, João José da Silva. Carta Topographica dos Termos do Presidio, Pomba e S. João Nepomuceno. 1847. Disponível na Biblioteca Nacional, Seção de Mapas, 2617.

[2] CANTONI, Nilza. Povoadores do Feijão Cru. In: História Social através da Genealogia. Comunicação apresentada no 2º Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo. São João del Rei: 21 agosto 2011.

[3] Carta de sesmaria consultada no Arquivo Histórico Municipal Professor Altair Savassi, de Barbacena: MACHADO, José Joaquim Machado, Fundo PJ, Grupo 1SVC, Série AC. Caixa 42, Ordem 12.

Sesmarias consultadas no Arquivo Público Mineiro: Códice SC 275 [BRANDÃO, Manoel Carvalho / p. 164]; Códice SC. 352 [CARVALHO, Domingos Gonçalves de/ p. 73 v; MATTOS, Marcelino Pereira de/ p. 74 v; NICACIO, Antonio Dutra/ p. 78 v]; Códice SC. 377 [ANNA Margarida/p. 119; AZEVEDO, Manoel Ferreira de/p. 95; BAPTISTA, Joanna/p. 123; BARROS, Francisco Xavier de/p. 5; CARNEIRO, João Nepumuceno – sac/p. 136; CASTRO, Antonio José de/p. 93; CASTRO, Clara Maria de Sá e/p. 106; CASTRO, Jacintho Manoel de/p. 126; CASTRO, Maria do Carmo de/p. 121; CONCEIÇÃO, Maria Joanna da/p. 97; CONSTANCIA, Francisca/p. 107; CORREA, Je. Joaquim – sgt mor/p. 48; FERREIRA, José Lopes/p. 149; FIGUEIREDO, Luiza Alexandrina da Mota e/p. 80; GAMA, Francisco Xavier Monteiro da/p. 125; GAMA, Maria Balbina Monteiro da/p. 108; JOZÉ, Maria/p. 103; MARGARIDA, Eufrásia/p. 96; MATTOS, Matheus Herculano Monteiro da Cunha e/p. 124; MONTEIRO, Francisca de Assis/p. 129; MONTEIRO, José Maria/p. 105; MONTEIRO, Lucas Antonio/p. 92; MONTEIRO, Miguel Antonio/p. 102; MOTTA, José Luiz da/p. 81; OLIVEIRA, João José/p. 138; PAULA, Barbara Marcelina de/p. 47; PIMENTEL, Alexandre Pereira/p. 43; PIMENTEL, João Pereira alf./p. 42; SÁ, Ana Maria de/p. 120; SILVA, Francisco Antunes da/p. 140; SILVA, Joaquim José da (tem.)/p. 137; SOARES, João Teixeira/p. 139; SOUZA, Fernando José de Almeida e/p. 41].

[4] CARTAS do sargento-mor Pedro Afonso Galvão de São Martinho para Luiz da Cunha Meneses, de São Manuel do Pomba, 12 de maio e 7 de agosto de 1784; da Margem do Paraíba, 22 de maio e 10 de junho de 1784; do Porto Novo do Cunha,  5 e 18 de junho de 1784; do Sertão do Rio Novo, 24 de junho de 1784. Disponíveis no Arquivo Público Mineiro, Coleção Casa dos Contos, caixa 13, item 10266; caixa 3, itens 10060, 10061, 10071, 10072.

[5] CASTRO, Celso Falabella de Figueiredo. Os Sertões de Leste: achegas para a história da zona da mata. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1987.

[6] PLANTA da Estrada de Automóvel São João del Rei a Canta Galo, 1928. Disponível no Arquivo Público Mineiro, Fundo Secretaria de Agricultura, SA – 263(10) e MAPA de saída dos gêneros alimentícios de Cantagalo para Baependi, Sabará, Tamanduá, Barbacena, Pitangui, São João, Jacuí, Vila Rica, Caeté, Vila do Príncipe e Campanha, 30 de setembro de 1819, Coleção Casa de Contos, caixa 37, item 30094.

[7] PINTO, A. P. Mapa Topográfico do Povoamento da Ex-Vila do Presídio. 1854. Disponível no Arquivo Público Mineiro, Fundo Presidência da Província, PP 012.

[8] Em correspondência. ao Presidente do Conselho da Província, datada de 07.01.1826, Revista APM, vol. XI, pag 123, Guido Tomaz Marlière declara, sobre a Estrada de Minas aos Campos de Goytacazes: “Esta utilissima Estrada desde que se abrio em 1812, pela authoridade do Exmo. Governador e Capitão General Conde de Palma, não vio o menor concerto […] desde a Serra da Onça, no Prezidio de S. João Baptista, até o Registro da Pomba nossa fronteira em hua extenção de 33 leguas.” Afirma ainda que a estrada era utilizada pelos tropeiros para aprovisionar colonos dosTermos de Mariana, Barbacena e Caeté.

[9] Sesmarias consultadas: Códice 352 [ARAUJO, Manoel (Marçal) José de/p. 39; CABRAL. Francisco de Assis Ferreira/p. 60; CANDIDO, Antonio Gomes/p. 62; CANDIDO, Francisco de Paulo/p. 61; COSTA, Antonio Pereira da/p. 43 v; COSTA, Salvador Pereira da/p. 44 v; FRANCISCO, Antonio/p. 63; GODOY, Anna Joaquina de/p. 41 v; JARDIM, Manoel Roiz – sac./p. 39 v; MACHADO, Antonio da Cruz/p. 55; MELLO, Manoel Ignacio de/p. 33 v; MONTEIRO, Francisco de Assis Lopes/p. 34 v; MONTEIRO, João Procópio Lopes/p. 36; PICADO, José Marinho Lopes/p. 57 v; PINTO, Luiz Maria da Silva/p. 38; RIBEIRO, Diogenia Pereira (Izabel Dioguina Ribeiro Pereira de Vasconcelos)/p. 46; RIBEIRO, Joaquim José Lopes Mendes – padre/p. 35; ROCHA, Candido Joaquim da – sac./p. 32 v; SACRAMENTO, Joanna Umbelina Clara do/p. 37; UMBELINA, Anna Roza/p. 62 v; VASCONCELLOS, Fernando Pereira de/p. 49; VASCONCELLOS, Joanna Jacintha Pereira Ribeiro de Vasconcellos/p. 42 v; VELASCO, Francisco José Pereira de/p. 56]; Códice SC 363 [ARAUJO, Lucas José de/p. 114; COSTA, Joaquim Marques da/p. 137 v; FONSECA, Manoel Escorcia da/p. 9 v; GOMES, Antonio José/p. 15; MOREIRA, Antonio Marques/p. 178; MOREIRA, Francisco Antunes/p. 76 v; PIRES, Joaquim Correa/p. 73; VASCONCELLOS, Antonio Francisco/p. 8]; Códice SC 377 [ALMEIDA, Manoel Carlos de/p.202; COURA, Manoel Barbosa/p.85; FERREIRA, Joaquim de Freitas/p.165 ]. Disponíveis no Arquivo Público Mineiro.

[10] SPIX, Johann Baptista von e MARTIUS, Carl Friedrich von . Viagem pelo Brasil: 1817-1826. São Paulo: Melhoramentos, 1976

[11] BURMEISTER, Herman. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980

[12] CAMPOS, Helena Guimarães. Caminhos da História: Estradas Reais e Ferrovias. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012. p. 15

[13] CARRARA, Ângelo Alves. O Caminho Novo em 3D. Comunicação apresentada no 3º Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo. Conselheiro Lafaiete: 30 jun 2012

[14] LAMEGO, Alberto Ribeiro. O Homem e a Serra. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. p. 223

[15] HALFELD, Henrique Guilherme Fernando e TSCHUDI, Johann Jakob von. A Província Brasileira de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998

[16] Cartas Topográficas das cidades de Cataguases, Além Paraíba e Ubá, produzidas pela Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais, publicadas pela Seção Cartográfica da Companhia Melhoramentos, de São Paulo, em 1926 e 1927, folhas 18, 19, 20, 22 e 23.

[17] BLOCH, Marc. Apologia da História ou O Ofício de Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 79-80, 102-104

[18] LE GOFF, Jacques. História e Memória. 5. ed. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2003. p. 471Os Caminhos do Povoamento e a Origem da Vila Leopoldina

Cataguases: uma cidade na Fazenda Cachoeira

135 anos depois, alguns aspectos significativos*

* Joana Capella, pesquisadora
Colaboração: Dilson Martins de Freitas
Artigo publicado no Jornal Cataguases, setembro de 2012.

Criado pela Lei n. 2.180, de 25 de novembro de 1875, desmembrado de Leopoldina, o município de Cataguases comemora, neste ano, os 135 anos de sua instalação oficial, ocorrida em 07 de setembro de 1877.

A área onde se acha situado o centro antigo de Cataguases era parte da fazenda do Sargento de Ordenanças Henrique José de Azevedo, doada por Termo de Doação lavrado em 26 de maio de 1828.  Este documento contém a primeira referência, até agora conhecida, às terras de Azevedo no arraial de Santa Rita do Porto dos Diamantes. A origem da propriedade destas terras é ainda desconhecida. Podem ter sido adquiridas por apossamento, concessão de sesmaria ou mesmo através de compra, como foi o caso das terras que ele possuiu na fazenda Monte Redondo, nas proximidades do atual município de Santana de Cataguases, adquiridas de Joaquim Dias Moreira, antes de 1855.

Segundo Silva Pontes, um viajante que por aqui passou em 1833, a fazenda de Azevedo ficava no Caminho do Passa Cinco para o arraial de Meia Pataca. Já Francisco Teixeira de Siqueira, casado com Clara Lina da Encarnação, declarou, em 1855, possuir terras herdadas do sogro Henrique de Azevedo, às margens do ribeirão Meia Pataca, que divisavam com os terrenos de Santa Rita. A identificação da fazenda Cachoeira como propriedade do Sargento Azevedo se confirmou, em definitivo, com as seguintes vendas de terras: em 1865, seu filho, Joaquim José Azevedo, vendeu a Antonio Xavier de Barros terras herdadas de sua mãe, Ana Maria da Encarnação, e, em 1873, outras terras herdadas pelos netos de Azevedo foram vendidas a Francisco Antonio Fernandes, Antonio Jacinto Carreiro e a José Antonio Bastos Guerreiro, além de parte anteriormente vendida ao então finado João Pedro de Souza, o que nos leva a concluir que esta era a Fazenda Cachoeira do Passa Cinco, cujas terras se situavam da barra do ribeirão Passa Cinco até o Meia Pataca, numa área equivalente a pouco mais de meia sesmaria, ou 300 alqueires, aproximadamente.

 

Em 1822, já havia sido criado um aldeamento e, seis anos após, a povoação contava com uma capela já construída, visando, inclusive, a catequização dos índios. Com 30 casas localizadas às margens da estrada Presídio-Campos dos Goitacazes, o arraial foi, dentre  muitos, um dos que se desenvolveu à beira das estradas e caminhos.

Em obediência ao Diretório de 7 de dezembro de 1767, ato do então Governador Luiz Diogo Lobo da Silva, que regulamentava a criação de povoados em terras indígenas, Guido Thomaz Marlière traçou as ruas da nova povoação, tendo ao centro a referida capela.

Hermann Burmeister, um dos viajantes estrangeiros a visitar a região no século XIX, aqui pernoitou em 28 de abril de 1853, tendo registrado que uma igreja em grande estilo já estava em construção e que as casas eram “todas de aspecto agradável e emolduradas por faixa de cal”.

Em 06 de novembro de 1877, a primeira planta da cidade, recém-elaborada, foi apresentada à Câmara Municipal por seu autor, Alberto Belmonte de Aguiar, engenheiro gaúcho que trabalhava na construção da linha férrea Juiz de Fora-Ponte Nova. Alberto e o então vereador Camilo Delfim Silva residiram na fazenda Canadá, em Cataguarino, sendo ambos genros de João José de Souza Lima e Carlota Raquel de Souza Lima, fazendeiros no mesmo distrito. Da referida planta constavam seis ruas e duas praças, quais sejam: Largo da Matriz, Largo do Rosário, Caminho do Passa  Cinco, Caminho da Estação, Rua do Sobe-Desce, Rua do Pomba, Rua do Meio e Rua do Cemitério.

Alterações nos nomes de ruas foram propostas pelos vereadores Camilo Delfim Silva, em 09 de janeiro de 1878, e Agnelo Carlos Quintela, em 20 de outubro de 1885, ambas aprovadas pela Câmara.

Vejamos as denominações originais de alguns logradouros e suas respectivas alterações até os nomes atuais, além de algumas curiosidades:

1- Largo da Matriz, Praça 25 de Junho e Praça Santa Rita

Aqui se localizava a estátua de Guido Thomaz Marlière, obra do escultor Luiz Ferrer, inaugurada em 26 de maio de 1958. Sua construção, por subscrição popular, foi uma iniciativa do político Pedro Dutra Nicácio Neto;

2- Largo do Rosário, Largo do Comércio, Praça do Comércio e Praça Rui Barbosa

Ajardinado em 1893, sediava o imponente prédio da Sociedade Theatro Recreio, cedido ao Cel. João Duarte Ferreira em 1910, em pagamento de hipoteca, e por ele deixado, em testamento, ao Hospital de Cataguases. O Theatro foi demolido, sendo construído, no mesmo local, o Cine Teatro Edgar;

3- Largo da Estação, Praça Governador Valadares

Ali se localizava o Engenho Central de Cataguases, beneficiador de café, arroz e madeira, pertencente ao Cel. João Duarte Ferreira. O prédio, de 1890, ainda existente, sofreu pelo menos duas alterações: uma reforma executada no período de 1908 a 1916 e a construção de um pavimento superior, em 1925. O Largo sediava, também, os armazéns da Federação Cooperativa Agrícola de Cataguases, fundada em 1907, que encampava, dentre outras, as cooperativas de café de Cataguases, Itamarati e São Manoel do Guaiaçu;

4- Caminho do Passa Cinco, Rua José de Alencar e Rua Alferes Henrique José de Azevedo

Era um trecho da estrada que ligava Presídio (hoje Visconde do Rio Branco) a Campos dos Goitacazes. Seguia pela rua Cel. Vieira e descia em direção ao ribeirão Kágado;

5- Caminho da Estação, Rua da Estação e Rua Cel. João Duarte Ferreira

Esta rua, hoje conhecida como Calçadão, homenageia  uma das mais destacadas figuras da nossa história política e econômica. Em 1887, sediava o Hotel Progresso, onde o dentista Roque Cathete atendia em seu“gabinete de arte dentária”;

6- Rua do Sobe-Desce, atual Rua Coronel Vieira

Na esquina com o Largo da Matriz, onde hoje se situa o prédio da Câmara Municipal, foi concedido alvará de posse a Joaquim Tomás de Aquino Cabral, em 19 de maio de 1879, para ali construir o primeiro engenho de café, inaugurado como “Engenho Central Cabral”, em  30 de junho de 1886. Esta rua, que se estendia até o ribeirão Meia Pataca, teve seu calçamento concluído em 1880. Um trecho foi denominado “Ladeira Capitão Carlos”, tendo a sua parte final recebido, posteriormente, a denominação de “Rua Professor Alcântara”, ainda hoje mantida;

7- Rua do Meio, Rua Direita e Rua Rebello Horta

8- Travessa do Rosário, Rua do Rosário e Rua Tenente Fortunato

Em 1881, esta era a nova via que, da Rua da Estação, seguia para o rio Pomba. Na esquina, em frente ao prédio da Maçonaria, Venâncio Vieira Coelho de Araújo fez a doação de um terreno para construção da Igreja do Rosário, cuja obra não foi executada.

9- Travessa Conselheiro Saraiva

Ligava a Rua Rebello Horta à Rua Cel. Vieira e era o endereço do ateliê de Gallotti Serra, fotógrafo italiano que era, também, representante da firma Ornestein S.A, de Importação e Exportação de Mantimentos e Molhados.

10- Avenida Cataguases e Avenida Astolfo Dutra

Autorizado pela Lei n.198, de 16 de março de 1906, o Agente Executivo Cel. Joaquim Gomes de Araújo Porto adquiriu terrenos às margens do córrego Lava Pés para ali construir uma rua ou avenida. Neste mesmo ano, foi concluída uma ponte de pedra sobre o córrego, construída por Francisco Drumond. A Lei n.221, de 18 de abril de 1908, com um capítulo dedicado às edificações urbanas, determinava que os pretendentes às posses na nova avenida deviam apresentar o requerimento e a planta da edificação a ser feita, exigência mantida no edital de venda dos lotes, publicado em 05 de setembro de 1912, conforme a Lei n.239, de 09 de julho do mesmo ano. A Avenida Cataguases teve sua denominação alterada para Avenida Astolfo Dutra pela Lei Municipal n.267, de 28 de julho de 1920, numa homenagem a este vulto político, falecido naquele ano.

Nas duas primeiras décadas dos anos 1900, sob a administração da Câmara Municipal, presidida pelo Cel. Joaquim Gomes de Araújo Porto no período de 1901 a 1910, e pelo Cel. João Duarte Ferreira de 1911 a 1923, Cataguases viveu um período de prosperidade. Como exemplo, citamos:

. criação, pelo Cel. João Duarte e outros sócios, da Fábrica de Tecidos, da Cia. Força e Luz, do Ginásio de Cataguases e da Usina de Açúcar;

. construção, por concessão municipal, de 4km de trilhos da Cia. Carrís Urbanos (bondes);

. criação da Biblioteca Municipal, da Imprensa Oficial e do Jornal “CATAGUASES” e a regulamentação do Arquivo Municipal;

. fundação da Federação das Cooperativas de Cataguases, visando apoiar a cafeicultura, que era principal atividade econômica do município na época;

. criação do Ginásio de Cataguases e da Escola Normal;  das Colônias Agrícolas “Santa Maria” e “Major Vieira”;

. construção do Grupo Cel. Vieira e da Ponte Metálica;

. implantação do serviço de telefonia e melhoria nos serviços de água e esgotos;

. instalação de fábricas de ladrilhos, cigarros, fósforos e meias.

A Lei n.221, de 18 de abril de 1908, que “Codifica todas as Leis Municipais”, contendo mais de 70 Capítulos e 650 Artigos, promulgada pela Câmara e publicada pelo seu Presidente em exercício, Coronel Luiz Januário Ribeiro, constitui um verdadeiro retrato do município, rica fonte de estudos para o conhecimento de sua história por abordar aspectos da administração pública, tais como rendas e impostos, obras, delimitação e desenvolvimento do perímetro urbano, prestação de serviços como água, esgotos, limpeza pública, ensino, funcionalismo, estradas e edificações urbanas, dentre outros.

 

Em 1906, o engenheiro George Bourgeois enviou proposta à Câmara para a realização do “Serviço de planta e nivelamento geral da cidade, projeto de arruamento, planta das redes de água e esgotos, projetos de tipos de fachada e modificação do leito do córrego Lava Pés”. A Lei n.198, aprovada em 16 de março de 1906, previa o levantamento de uma planta da cidade, mas não conseguimos informações sobre a sua execução, nem referências à realização do trabalho por parte de Bourgeois. A “Planta da cidade de Cataguazes, 1913 – Projeto de reforma e ampliação da rede de distribuição”, é uma imagem desfocada, o que impediu a identificação de seu autor e a leitura de outras informações nela contidas. Quanto ao mapa do município, o mais antigo que conhecemos é o da Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais, de 1926/1927.

Quanto aos povoadores de Cataguases, que consideramos os moradores da região no período de 1798 até 1831,  hoje objeto de nossa pesquisa, podemos citar as famílias Afonso, Almeida, Arantes, Azevedo, Barros, Borges de Andrade, Cardoso, Barbosa Coura, Dias Lopes, Ferreira Maciel, Fialho Garcia, Ferreira Armond, Freitas Ferreira, Gomes, Medeiros, Marlière, Marques da Costa, Moreira de Souza, Novaes, Pereira de Souza, Pereira Pontes, Pita de Castro, Rodrigues de Aguiar, Rodrigues de Mello, Rodrigues Pires, Santos, Silva Maia, Silva Viana, Souza, Souza Lima e Teixeira de Siqueira, dentre outras.

De algumas destas famílias encontramos descendentes que, ainda hoje, residem em Cataguases e municípios vizinhos.

___________________

Fontes consultadas:

1- Relatório de viagem de Manoel J. P. Silva Pontes, 1833, Revista, Vol. IX , APM,; Registro de Terras de Santa Rita de Meia Pataca; Relatório do Governo da Província de Minas Gerais, 1874; Jornal “O Cataguasense”, Ed. 27, 30.01.1887; Ephemérides Mineiras, 1864-1897, José Pedro Xavier da Veiga; “O Município de Cataguazes”, Arthur Vieira; Fotografia da Ponte– Disponíveis no Arquivo Público Mineiro;

2 – Viagem ao Brasil, Hermann Burmeister, 1853; Folheto “Referências Históricas ao Município de Cataguases”, Museu Municipal Alípio Vaz, Adm. Ângelo Rocha, 71/72; Minas Gerais e seus municípios, Roberto Capri, 1916; Coleção digital do Jornal CATAGUAZES, cedida pelos prof. Angela Faria e Inácio Frade; Jornal “Guido Marlière”, Edição Única, de Pedro Dutra Nicácio, 26.05.1958  – Acervo pessoal

3 – Livros de Notas do período 1865 a 1880 – Arquivos da Câmara de Leopoldina e Cartórios de Notas de Cataguases;

4- Anuário de Minas Gerais, 1907, Disponível na Biblioteca Nacional.

Dona Euzébia e Cataguarino

Dona Euzébia em 1939 conforme Mapa executado em obediência ao Decreto-Lei nº 311 de 2 de março de 1938

O atual município de Dona Euzébia foi formado com uma parte do território de Cataguarino, distrito criado em Leopoldina pela Lei 1623 de 6 de novembro de 1869 e incorporado a Cataguases quando de sua emancipação administrativa em 1875.