106 – Paulino Augusto Rodrigues: O início

Esta nova viagem do Trem de História será capitaneada por Paulino Augusto Rodrigues, personagem representativo de uma família que chegou ao Feijão Cru em sua primeira década de existência como povoado.

Seus pais, Mariana Custódia de Moraes e João Rodrigues da Silva, viviam na Fazenda dos Purys, formada por seu avô paterno, Manoel Rodrigues da Silva, nas imediações da Fazenda da Onça, que pertenceu a Bernardino José Machado, bisavô paterno de Paulino.

Para melhor compreensão de como tudo se passou, antes de chegar ao ano de 1870 em que Paulino nasceu, é importante recolher a bagagem relativa a alguns fatos e passageiros que lhe antecederam.

No ano de 1831, quando começava a se formar o povoado do Feijão Cru, a Vila de Barbacena abrangia diversos outros distritos também em formação, alguns deles criados em território que antes pertencia a Santa Rita de Ibitipoca. Num daqueles distritos, então identificado apenas como Santo Antônio, morava a família de Bernardino José Machado e Maria Rosa de Almeida (algumas vezes referida como Maria Ribeiro), ambos naturais de Santa Rita de Ibitipoca. Ele, filho(1) de Antonio José Machado e Izabel Corrêa de Moraes. Ela, filha(2) de Francisco Gonçalves Pereira e Ana Teodora de Almeida.

Sabe-se, hoje, que o distrito de Santo Antônio é a origem do atual município de Juiz de Fora e que a família de Bernardino Machado vivia em território entre os atuais distritos de Rosário de Minas e Paula Lima; que ele era identificado como lavrador e proprietário de 13 escravos e que morava com a esposa, 13 filhos e o genro Manoel Rodrigues da Silva.

Pouco tempo depois, Bernardino José Machado transferiu-se para o Feijão Cru, para onde vieram também parentes seus e de sua mulher. Aqui formou a Fazenda da Onça e seu genro Manoel Rodrigues da Silva, a Fazenda Purys(3).

Segundo o Registro de Terras, as duas propriedades ficavam entre a Fazenda do Feijão Cru Pequeno, de Manoel Antônio de Almeida; a Fazenda Paraíso, então pertencente a Antônio José Monteiro de Barros; a Fazenda Floresta, de Joaquim Antonio de Almeida Gama; e, a Fazenda do Desengano, de Maria do Carmo Monteiro de Barros.

Por hoje acrescenta-se apenas que a Leopoldina que viu nascer Paulino Augusto Rodrigues estava envolvida em mudanças econômico-sociais que seriam determinantes na trajetória deste personagem.

Seis anos antes dele nascer, o município contava(4) com 25.009 habitantes sendo que 2.120 deles habilitados a votar. Em 1862, o município era composto pela sede municipal e pelos distritos da Piedade (Piacatuba), Rio Pardo (Argirita), N.S. das Dores do Monte Alegre (Taruaçu), Madre de Deus do Angu (Angustura), São José do Parahyba e Porto Novo do Cunha (Além Paraíba), Conceição da Boa Vista, Conceição do Parahyba e Santana do Pirapetinga (Pirapetinga), Santa Cruz e Dores do Rio Pomba (Itapiruçu), Santa Rita do Meia Pataca (Cataguases), Santo Antônio do Muriaé (Miraí), São Francisco de Assis da Capivara (Palma) e Nossa Senhora da Conceição do Laranjal (Laranjal). Na sede havia duas escolas públicas equivalentes ao atual Ensino Fundamental I, uma para cada sexo, e doze estabelecimentos comerciais. O café se tornou a principal atividade econômica na década de 1860.

Em função do desenvolvimento do município, foi criado um comando(5) da Guarda Nacional, em Leopoldina e a segurança pública era exercida por um Destacamento Policial(6) que, em 1873, contava com 1 oficial, 1 adjunto e 10 soldados. No Censo de 1872, na Paróquia de São Sebastião da Leopoldina, ou seja, na sede do município, foram computados 7.899 moradores(7).

Na primeira infância de Paulino, foi criada a Estrada de Ferro Leopoldina que recebeu este nome por ter sua origem na inversão de capitais dos fazendeiros de café do município.

No próximo trecho desta viagem, o Trem de História trará a família materna de Paulino. Até lá!


Fontes de Referência

1- Igreja de Nossa Senhora da Piedade de Barbacena, lv bat 1740-1816, fls 73

2 – Idem, lv bat 1782-1788, fls 267[268] e lv bat 1740-1816, fls 73

3 – Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114, Registro de Terras da Villa Leopoldina.

4 – MARTINS, Antonio de Assis. Almanak Administrativo, Civil e Industrial da Província de Minas Gerais. 1864 p.311-313; 1865 p.78; 1874 p.451

5 – Diário de Minas, 1873, ed 92 p.1

6 – Diário de Minas, 1873, ed 656, p.2

7 – BRAZIL – Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento Geral do Império do Brasil em 1872, p.745

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 358 no jornal Leopoldinense de 1 de julho de 2018

Providência

A criação do distrito de Providência foi regulamentada pelo Decreto número 61, de 9 de maio de 1890. O território que constituiu o distrito foi desmembrado de Conceição da Boa Vista e da sede do município. Naquele momento, incluía o que viria a ser, meses depois, o distrito de Santa Izabel, atual Abaíba.

Distrito de Providência, criado em 1890O nome do distrito é o de uma das fazendas ali formadas na década de 1830, em terras doadas à família Monteiro de Barros.

O quê representa o dia 27 de abril de 1854 para Leopoldina?

Quando aceitei abrir o Ciclo de Palestras da ALLA eu não sabia que tema escolher. Resolvi conversar com algumas pessoas e descobri que é comum acreditarem que Leopoldina nasceu no dia 27 de abril de 1854. Como assim? Está lá, no caput da Lei nº 666: Lei elevando à categoria de Freguesia e de Vila o Distrito de São Sebastião do Feijão Cru com a denominação de Vila Leopoldina.

Pronto! Aí estava a questão: o quê representa o dia 27 de abril de 1854 na história de Leopoldina?

Voltando no tempo, temos que o marco de fundação de um povoado era representado pelo momento em que a Igreja atendia ao requerimento de um grupo de moradores que desejasse erigir uma Capela, facilitando o cumprimento de suas obrigações religiosas sem ter que se deslocar por distâncias muito grandes. Considerando que não foi encontrado o documento desta natureza sobre o Curato do Feijão Cru, foi necessário elaborar um documento de pesquisa para preencher as lacunas. Para tanto, realizei um percurso controlado sobre o acervo documental existente, tarefa que só foi possível a partir de um estudo prosopográfico, vale dizer, a escrita da história de uma localidade a partir de esboços biográficos de seus antigos moradores.

Deste estudo resultou a apresentação abaixo, na qual procuro demonstrar que até 2 de novembro de 1831 não havia sido criado o Curato do Feijão Cru que vai aparecer somente na Lei número 202, de 1 de abril de 1841, da primeira emancipação administrativa de São João Nepomuceno, revogada dez anos depois.

Contudo, em 1838 fora encaminhada ao governo provincial uma relação de moradores de São Sebastião do Feijão Cru, acompanhada de uma declaração do Juiz de Paz Manoel Ferreira Brito assinada em 30 de setembro de 1835. Portanto, podemos considerar o ano de 1835 como o de “nascimento” do Curato de São Sebastião do Feijão Cru.

A conclusão é de que em 1835 havia moradores no lugar denominado Feijão Cru, os quais ali já estavam em 1831, como demonstra o censo de São José do Paraíba. Sendo assim, no dia 27 de abril nós comemoramos a Emancipação Administrativa e a adoção do nome da segunda filha de D. Pedro II em 1854. Mas não podemos considerá-lo como data de nascimento.

Formação e Evolução Administrativa de Leopoldina

Atualização de estudo publicado em 2014

10 de outubro de 1851: novos distritos

Criação dos distritos de Nossa Senhora da Conceição da Boa Vista e Nossa Senhora da Piedade, em território então pertencente ao Município de Mar de Espanha, conforme Lei Mineira nº 533.

Menos de três anos depois a Lei nº 666, de 27 de abril de 1854, emancipou Leopoldina incorporando-lhe os dois distritos.

Conceição da Boa Vista perdeu partes de seu território ao longo do tempo para a formação dos distritos de São Joaquim (Angaturama), Itapirussu, Pirapetinga, Santa Izabel (Abaíba), Providência e Recreio. Já no século XX, a Lei nº 148, de 17 de dezembro de 1938, emancipou Recreio e lhe incorporou Conceição da Boa Vista.

O distrito de Nossa Senhora da Piedade, atual Piacatuba, perdeu partes de seu território quando da emancipação de Cataguases mas permanece como distrito de Leopoldina.

Cataguases e seus distritos

Cataguases, no século XIX, quando era subordinada a Leopoldina.

Parte do estudo concluído em março de 2013 sobre as alterações de área territorial de Leopoldina, o mapa acima destaca distritos de Cataguases nos anos oitocentos, ao tempo em que eram subordinados a Leopoldina.

Dona Euzébia e Cataguarino

Dona Euzébia em 1939 conforme Mapa executado em obediência ao Decreto-Lei nº 311 de 2 de março de 1938

O atual município de Dona Euzébia foi formado com uma parte do território de Cataguarino, distrito criado em Leopoldina pela Lei 1623 de 6 de novembro de 1869 e incorporado a Cataguases quando de sua emancipação administrativa em 1875.

Cisneiros e Itapiruçu, distritos de Palma

POSTAGEM REPUBLICADA

CISNEIROS – Chamou-se inicialmente Aliança por extensão do nome da fazenda que lhe deu origem, propriedade de Bernardo Tolentino Cisneiros da Costa Reis. O distrito foi criado quando pertencia a Cataguases, em 1890, tendo seu nome alterado em 1892.

ITAPIRUÇU – Criado no município de Leopoldina em 1883 com o nome de Tapiruçu, mesma grafia com que aparece nos registos do Cartório de Notas de Conceição da Boa Vista. Segundo estudos toponímicos publicados na Revista do Arquivo Público Mineiro, seria uma referência ao Tapirussu, animal silvestre que servia de alimentação aos indígenas. Trata-se de mamífero de pêlo avermelhado, pernas finas, sem chifres, lembrando um bovino ou equino no tamanho. Entretanto, Joaquim Ribeiro Costa diz que o nome do distrito tem origem na língua indígena: itá + apira + açu. O significado seria pedra + empinada + grande, ou seja, grande pedra empinada.

Taruaçu

A Lei Mineira número 947 de 8 de junho de 1858 criou, no município de Leopoldina, o distrito de Nossa Senhora das Dores do Monte Alegre, com território desmembrado do então distrito de Rio Pardo, atual município de Argirita.
Já encontramos, em publicações antigas, a informação de que este distrito seria atualmente Tebas. Entretanto, a lei que o criou especifica que suas divisas seriam:
“pelo ribeirão São João até sua embocadura no Rio Novo, e bem assim todas as suas vertentes pelas cabeceiras do ribeirão do Espirito Santo, no lugar denominado Contendas, descendo por aí abiaxo até a fazenda de Dona Eufrazia, e dai pelas cabeceiras do Rio Pardo a encontrar a primeira linha divisória, compreendendo igualmente as fazendas de Jacob Dornellas, Israel e Manoel Gonçalves, e Serra da Prata. “
Desta forma, não há dúvidas de que se trata do atual distrito de Taruaçu, município de São João Nepomuceno.