134 – O Ribeirão Jacareacanga

Em oportunidade anterior, quando se tratou do Ribeirão do Feijão Cru, foi dito que ali não se ocupava tempo e paciência de eventual leitor por ser um grande curso d’água ou, um curso de águas límpidas. Ocupava-se porque ele emprestou o seu nome ao povoado que deu origem à cidade e porque a sua bacia hidrográfica estava integralmente dentro dos limites do município de Leopoldina. Porque o Feijão Cru é da cidade e a sua vida se confunde com a vida dos que aqui vivem.

Recorde-se que o povoado surgiu nas imediações da Igreja do Rosário e cresceu pela margem direita do Feijão Cru, expandindo-se pelas encostas dos Pirineus, Tabocas e pelo vale por onde passam as ruas Cotegipe e Presidente Carlos Luz que margeavam antigo córrego, escoadouro das águas nascidas em mina existente na Praça General Osório que desaguavam no Feijão Cru, nas proximidades do Colégio Estadual Botelho Reis (Ginásio). Com o tempo o casario subiu o morro da Catedral, aproveitou o estreito que formou a Rua do Buraco (das Flores) e foi juntar-se ao Bairro da Grama, que também está na mesma margem direita do Feijão Cru. Muito depois é que os habitantes saltaram o Ribeirão e povoaram a Fábrica, a Praça da Bandeira e subiram o Alto da Ventania.

Mas hoje o que se pretende é falar das águas que vertem ou, correm para o outro lado do morro dos Pirineus, da elevação que forma o bairro da Meia Laranja e do lado norte da Volta da Cobra, onde nasce, do lado sul, o Feijão Cru. São águas que formam outros córregos e outro importante ribeirão por onde escoam as águas de chuva que caem no atual centro da cidade.

O que se quer contar é um pouco da história do Ribeirão Jacareacanga, irmão do Feijão Cru, porque nascem na mesma serra da subida da Volta da Cobra. Um à direita e o outro à esquerda da estrada que segue para o Arraial dos Montes / São Lourenço e Abaíba. O Jacareacanga, na região da Serra dos Netos, nasce no alto do morro e por entre pedras e árvores desce a encosta por um dos vales e vai recolhendo as águas de pequenas nascentes. Quando chega à parte plana, em terras que formavam a antiga fazenda Fortaleza, antes de cruzar a BR-116 recebe pela margem direita o Córrego Fortaleza. Logo depois, na outra margem da rodovia, pelo lado esquerdo recebe a contribuição do Córrego Três Cruzes, que lhe traz as águas das encostas da região do Brasília Country Club. Segue seu curso e, na Fazenda Estrela, recebe o córrego Bela Vista e o Pau Cascado, afluentes da margem esquerda.

O Córrego Bela Vista é o que recolhe as águas do bairro de mesmo nome e as que descem pelos fundos da Rodoviária, do CEFET e pelo lado norte da Meia Laranja. E mais ou menos paralelo à Avenida dos Expedicionários, marca a divisa entre os bairros Bela Vista e São Cristóvão.

É bom que se observe que entre estes dois bairros passa o Córrego Bela Vista, diferentemente do que afirmam algumas pessoas que consideram ser ali o Jacareacanga.

Voltando ao curso do Ribeirão, depois que passa pela Fazenda Estrela ele segue mais ou menos o leito do ramal da antiga linha férrea.

No jornal O Leopoldinense, edição 65, 08.09.1885, p. 3, nota intitulada “Serviço de Immigração” informa que “até 2ª ou 3ª o fiscal adquirirá, por conta do Estado, o Sítio Jacareacanga, onde vai ser montada uma hospedaria com capacidade para receber 1200 imigrantes.” Na folha 20 S2 E3 da cartografia da Comissão Geographica e Geologica de Minas Gerais de 1926, consta que no terço final do Ribeirão localizava-se a Fazenda Jacareacanga.

Registre-se que em 1896 a hospedaria de Leopoldina, na estação de Vista Alegre, posteriormente denominada Hospedaria Jacareacanga, estava em construção, segundo a mensagem do presidente do estado Chrispim Jacques Bias Fortes, de 15.07.1896. p. 31.

Aproximando-se de sua foz, o Ribeirão Jacareacanga recebe o Córrego Santana e a seguir mais dois afluentes, os córregos do Bagre e o São Luiz, todos pela margem esquerda.

Logo depois, deságua no Rio Pomba, bem perto da estação donde partia o TREM que ligava a Estrada de Ferro da Leopoldina ao centro da cidade que lhe emprestou o nome. Um TREM de verdade que fez história transportando imigrantes e riquezas da região. Um TREM que ficou na história e, inspirou este TREM DE HISTÓRIA que hoje conta as muitas histórias que ocuparam e ainda ocuparão este espaço do Jornal. Histórias que não acabam, porque a vida e a viagem deste imaginário TREM continuam na próxima edição. Até lá.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 387 no jornal Leopoldinense de 1 de setembro de 2019

119 – A produção literária de Manoel Funchal Garcia.

Chega a vez do Trem de História descarregar o material sobre a obra literária de Funchal Garcia. É hora de se conhecer o trabalho desse grande artista leopoldinense, que em 1979, poucos meses após sua morte, recebeu homenagem de sua cidade natal nomeando[1] a avenida do bairro São Cristóvão que segue paralela ao córrego Jacareacanga, criando assim um monumento à memória desse nosso artista.

Funchal Garcia, com se pode observar pelos artigos anteriores, atuou em várias áreas. Os que viveram em Leopoldina nas décadas de 1940 e 1950 certamente se lembram da inesquecível dupla carnavalesca formada pelos saudosos Funchal Garcia e Dr. Irineu Lisboa. Dois artistas do melhor teatro.

Por outro lado, quem hoje anda pela Praça Félix Martins conhece o mural do conjunto da concha acústica, que retrata a lenda do Feijão Cru e provavelmente sabe que foi pintado por ocasião do centenário da cidade, conforme registra Barroso Júnior[2]. Talvez saiba também que, conforme as palavras de Mário de Freitas[3], aquela obra é de autoria do “laureado pintor Funchal Garcia”.

É sabido que diversos trabalhos seus a lápis, a bico de pena, a óleo, aquarela ou pastel, receberam elogios e alguns deles, prêmios. A tela “Pontão da Bandeira”, por exemplo, em 1939 foi escolhida[4] para exposição na Galeria de Ciências e Artes da Feira Mundial de Nova York e na Exposição Internacional de São Francisco, na Califórnia.

O que poucos sabem é que o pintor também escreveu comédias e novelas e como jornalista se destacou publicando matérias em diversos jornais e revistas de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, marcando importante presença nessa área, conforme consta na introdução do seu livro “Cachimbo e Cachaça…”[5]

Em 1937 Funchal Garcia publicou o seu primeiro livro: Memórias de Ivan Trigal, uma autobiografia que mereceu a seguinte nota[6] do Diário da Noite:

“Além de folhetos e artigos de imprensa, Funchal Garcia não tinha publicado ainda um volume. Com o “Memórias de Ivan Trigal”, oferece-nos muito mais do que um livro de reminiscências. Figuras simbólicas personificando virtudes ou defeitos ombreiam com as pessoas reais que vivem dentro do livro como no próprio mundo, falando uma linguagem simples, às vezes crua no seu naturalismo, escondendo crimes e perversidades, cultivando pequenas manias, irradiando simpatia ou pureza. Avulta, entre eles, a extraordinária sensibilidade de Ivan Trigal, em que o autor fixou os traços mais característicos da própria personalidade e os impactos culminantes de uma fase de sua vida.”

Do Litoral ao Sertão é seu segundo livro[7], no qual relata suas viagens pelo interior do país, em especial, a sua estada em Canudos, onde obteve o depoimento de testemunhas remanescentes da tragédia conhecida como Campanha ou, Guerra de Canudos.

Depois escreveu Retalhos da Minha Vida[8], em que retorna ao assunto do seu primeiro livro e a passagens de sua vida. Dois anos depois lançou Cachimbo e Cachaça, Verdade e Fumaça[9] de cuja introdução se conclui que ele deixou inéditos “livretes e livros”.

O Trem de História de hoje fica por aqui. Mas resta um vagão de Funchal Garcia que virá com um pouco mais sobre o que se publicou a respeito deste importante personagem leopoldinense. Até lá.


Fontes consultadas:

[1]- Lei Municipal nº 1.393, de 16.11.79.

[2] BARROSO JÚNIOR. Leopoldina e Seus Primórdios. Rio Branco-MG: Gráfica Império, 1943. rodapé da p.14

[3] FREITAS, Mário de. Leopoldina do Meu Tempo. Belo Horizonte, 1985. p.199.

[4] Diário de Notícias. Rio de Janeiro: 1 nov 1939, ed 5220, p. 3, primeira seção, coluna 5.

[5] FUNCHAL GARCIA, Manoel. Cachimbo e Cachaça, Verdade e Fumaça. Rio de Janeiro, GB: autor, 1971.

[6] Diário da Noite. Rio de Janeiro: 31 ago 1937 ed 3022 p. 2 col.7

[7] FUNCHAL GARCIA, Manoel. Do Litoral ao Sertão. Rio de Janeiro: Bibliex, 1965.

[8] FUNCHAL GARCIA, Manoel. Retalhos da Minha Vida. Belo Horizonte, MG: autor, 1969.

[9] FUNCHAL GARCIA, Manoel. Cachimbo e Cachaça, Verdade e Fumaça. Rio de Janeiro, GB: autor, 1971.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 372 no jornal Leopoldinense de 16 de janeiro de 2019

Hospedaria de Jacareacanga, Leopoldina

Conforme se verifica no recorte acima, em setembro de 1895 teria sido adquirido o Sítio Jacareacanga, com o nome incorretamente grafado na nota. O objetivo era nele instalar a Hospedaria de Imigrantes de Leopoldina que, segundo outras fontes, funcionou por um curto período de tempo.

Efemérides Leopoldinenses: Setembro

Memorial diário da história de Leopoldina, com acontecimentos do mês de setembro.

4 de setembro

1898

Fundada a Lyra Leopoldinense. Seu primeiro presidente foi José Marciliano Vieira Nepomuceno, natural de Conceição da Boa Vista e Fiscal da Câmara Municipal de Leopoldina desde 1881.


6 de setembro

1882

O normalista Angelo de Souza Nogueira, professor provisório em Leopoldina, é nomeado professor efetivo de instrução primária, conforme noticia o jornal Liberal Mineiro, desta data, página 2.


7 de setembro

1838

A Contagem Populacional do Feijão Cru, realizada em 1835, é encaminhada para a Presidência da Província, conforme documento do Arquivo Público Mineiro, caixa 03 doc 06.

Encaminhamento do Mapa de Habitantes do Feijão Cru


8 de setembro

1895

Aquisição de terreno para estabelecer a Hospedaria de Jacareacanga.


10 de setembro

1851

Transfere a sede da Vila de São João Nepomuceno para então criada Villa do Mar de Hespanha. Desta forma, todos os distritos que estavam subordinados a São João Nepomuceno, incluindo o Feijão Cru, passam para a dependência administrativa de Mar de Espanha.

Carta de Lei nr 514 , Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro


12 de setembro

1882

Professora pública Clara Sophia Adolphina Gaëde de Carvalho é transferida de Cataguases para Leopoldina.

Relatório de Antonio Gonçalves Chaves para a Assembleia Provincial de Minas em 2 de agosto de 1883, pag.24


13 de setembro

1881

O então distrito da Piedade, hoje Piacatuba, cede mais uma parte de seu território para Cataguases

Lei 2764, Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro


15 de setembro

1879

Nasce em Leopoldina, Dilermando Martins da Costa Cruz, patrono da cadeira nº 15 da ALLA

Fonte: Gazeta de Leopoldina, 16 de setembro de 1899, edição 23, pag 2


16 de setembro

1894

É lançado o jornal A Voz de Tebas, cujo editor era F. S. Teixeira.

Fonte: A Voz de Tebas, 16 de setembro de 1896, pag 2.


17 de setembro

1876

Bento Xavier doa terrenos de sua Fazenda Campo Limpo para a formação do povoado, hoje distrito de Ribeiro Junqueira.

Fonte: Escritura de Doação, Arquivo Particular.

Efemérides Leopoldinenses: Dezembro

Alguns acontecimentos de meses de Dezembro em Leopoldina.

1 de dezembro

1873

  • Lei Mineira nº 2027 eleva o distrito de Nossa Senhora da Piedade (atual Piacatuba) à categoria de Paróquia.
  • Lei Mineira nº 2029 cria escola de instrução primária para o sexo masculino no distrito da Piedade
  • Lei Mineira nº2031 eleva à categoria de Paróquia o distrito então pertencente a Leopoldina com o nome de Espírito Santo do Empossado. Atualmente é o distrito de Cataguarino, município de Cataguases.

1889

Num marco de granito exposto na entrada principal da Casa de Caridade encontra-se a inscrição “SPB – 01.12.1889”. Trata-se de data da fundação da Sociedade Portuguesa de Beneficência, em Leopoldina, instituição da qual a Casa de Caridade Leopoldinense passou a ser sucessora, a partir de 25.03.1917, quando a S. P. B. foi liquidada. Veja.

1894

Funciona uma hospedaria de imigrantes, no sítio Jacareacanga.

Fonte: VEIGA, José Pedro Xavier da. Efemérides Mineiras: 1664-1897. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998. 2 volumes, pag 525


5 de dezembro

1882

Professor Olímpio Clementino de Paula Corrêa é designado para a 3ª cadeira de instrução primária de 2º grau na cidade de Leopoldina, como professor de Português, Francês e Geografia.

Fonte: Relatório de Antonio Gonçalves Chaves para a Assembleia Provincial de Minas em 2 de agosto de 1883, AD 46 e 47


7 de dezembro

1888

Autorizada a criação de uma Hospedaria de Imigrantes em Leopoldina.

Fonte: Relatório do 1º vice-presidência da Província, o Sr. Barão de Camargos, em 7 de dezembro de 1888.


10 de dezembro

1874

Inauguração da Estação de Providência da Estrada de Ferro Leopoldina

Fonte: VEIGA, José Pedro Xavier da. Efemérides Mineiras: 1664-1897. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998. 2 volumes, pag 1042

1882

Anunciada a próxima abertura das atividades de filial do Colégio Venerando.


11 de dezembro

1898

Circula a primeira edição do jornal O Arame, propriedade de Ovídio Rocha.


15 de dezembro

1843

É encaminhada ao Governo Provincial a segunda Lista Nominal dos Habitantes do Distrito de São Sebastião do Feijão Cru em 1843.


17 de dezembro

1882

Numa prática da época, o resultado dos exames do Colégio Nossa Senhora do Amparo e no Externato Santo Antônio foi publicado em jornal.


18 de dezembro

1880

Autoriza a professora de instrução primária do sexo feminino Joana Carolina Pinto Coelho, a afastar-se em licença de saúde.

Lei Mineira nº 2740, Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro.


19 de dezembro

1865

O distrito de Santo Antônio do Muriaé (atual Miraí) é transferido de Leopoldina para Muriaé.

 


20 de dezembro

1882

Morre Joaquim Antônio Almeida Gama, proprietário da Fazenda Floresta.


22 de dezembro

1863

O Arraial de Conceição do Paraíba, no município de Leopoldina, é elevando a Distrito. Atualmente é distrito do município de Pirapetinga.

Lei Mineira nº 1172, Coleção de Leis Mineiras do Arquivo Público Mineiro.

 


23 de dezembro

1892

Surge a ideia de construir um fórum.

Não se sabe como o assunto progrediu. O que se apurou, através de notícia  do jornal Novo Movimento, de 9 de outubro de 1910, é que naqueles dias havia sido lançada a pedra fundamental para a construção dos prédios da Cadeia e do Fórum, na Praça Félix Martins. Já a edição da Gazeta de Leopoldina de 1 de janeiro de 1911 informa que estavam sendo feitas as fundações dos dois edifícios.


27 de dezembro

1898

Suspenso o funcionamento de escola em Campo Limpo.


31 de dezembro

1849

Curato do Feijão Cru pertence ao Bispado do Rio de Janeiro. No civil, pertence à província de Minas Gerais, ao Termo de São João Nepomuceno.

 

 

A transferência para Mariana ocorreu em julho de 1897, conforme Ata de Instalação da nova Comarca Eclesiástica, no livro de batismos 1897-1898, páginas 49 verso e 50.