119 – A produção literária de Manoel Funchal Garcia.

Chega a vez do Trem de História descarregar o material sobre a obra literária de Funchal Garcia. É hora de se conhecer o trabalho desse grande artista leopoldinense, que em 1979, poucos meses após sua morte, recebeu homenagem de sua cidade natal nomeando[1] a avenida do bairro São Cristóvão que segue paralela ao córrego Jacareacanga, criando assim um monumento à memória desse nosso artista.

Funchal Garcia, com se pode observar pelos artigos anteriores, atuou em várias áreas. Os que viveram em Leopoldina nas décadas de 1940 e 1950 certamente se lembram da inesquecível dupla carnavalesca formada pelos saudosos Funchal Garcia e Dr. Irineu Lisboa. Dois artistas do melhor teatro.

Por outro lado, quem hoje anda pela Praça Félix Martins conhece o mural do conjunto da concha acústica, que retrata a lenda do Feijão Cru e provavelmente sabe que foi pintado por ocasião do centenário da cidade, conforme registra Barroso Júnior[2]. Talvez saiba também que, conforme as palavras de Mário de Freitas[3], aquela obra é de autoria do “laureado pintor Funchal Garcia”.

É sabido que diversos trabalhos seus a lápis, a bico de pena, a óleo, aquarela ou pastel, receberam elogios e alguns deles, prêmios. A tela “Pontão da Bandeira”, por exemplo, em 1939 foi escolhida[4] para exposição na Galeria de Ciências e Artes da Feira Mundial de Nova York e na Exposição Internacional de São Francisco, na Califórnia.

O que poucos sabem é que o pintor também escreveu comédias e novelas e como jornalista se destacou publicando matérias em diversos jornais e revistas de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, marcando importante presença nessa área, conforme consta na introdução do seu livro “Cachimbo e Cachaça…”[5]

Em 1937 Funchal Garcia publicou o seu primeiro livro: Memórias de Ivan Trigal, uma autobiografia que mereceu a seguinte nota[6] do Diário da Noite:

“Além de folhetos e artigos de imprensa, Funchal Garcia não tinha publicado ainda um volume. Com o “Memórias de Ivan Trigal”, oferece-nos muito mais do que um livro de reminiscências. Figuras simbólicas personificando virtudes ou defeitos ombreiam com as pessoas reais que vivem dentro do livro como no próprio mundo, falando uma linguagem simples, às vezes crua no seu naturalismo, escondendo crimes e perversidades, cultivando pequenas manias, irradiando simpatia ou pureza. Avulta, entre eles, a extraordinária sensibilidade de Ivan Trigal, em que o autor fixou os traços mais característicos da própria personalidade e os impactos culminantes de uma fase de sua vida.”

Do Litoral ao Sertão é seu segundo livro[7], no qual relata suas viagens pelo interior do país, em especial, a sua estada em Canudos, onde obteve o depoimento de testemunhas remanescentes da tragédia conhecida como Campanha ou, Guerra de Canudos.

Depois escreveu Retalhos da Minha Vida[8], em que retorna ao assunto do seu primeiro livro e a passagens de sua vida. Dois anos depois lançou Cachimbo e Cachaça, Verdade e Fumaça[9] de cuja introdução se conclui que ele deixou inéditos “livretes e livros”.

O Trem de História de hoje fica por aqui. Mas resta um vagão de Funchal Garcia que virá com um pouco mais sobre o que se publicou a respeito deste importante personagem leopoldinense. Até lá.


Fontes consultadas:

[1]- Lei Municipal nº 1.393, de 16.11.79.

[2] BARROSO JÚNIOR. Leopoldina e Seus Primórdios. Rio Branco-MG: Gráfica Império, 1943. rodapé da p.14

[3] FREITAS, Mário de. Leopoldina do Meu Tempo. Belo Horizonte, 1985. p.199.

[4] Diário de Notícias. Rio de Janeiro: 1 nov 1939, ed 5220, p. 3, primeira seção, coluna 5.

[5] FUNCHAL GARCIA, Manoel. Cachimbo e Cachaça, Verdade e Fumaça. Rio de Janeiro, GB: autor, 1971.

[6] Diário da Noite. Rio de Janeiro: 31 ago 1937 ed 3022 p. 2 col.7

[7] FUNCHAL GARCIA, Manoel. Do Litoral ao Sertão. Rio de Janeiro: Bibliex, 1965.

[8] FUNCHAL GARCIA, Manoel. Retalhos da Minha Vida. Belo Horizonte, MG: autor, 1969.

[9] FUNCHAL GARCIA, Manoel. Cachimbo e Cachaça, Verdade e Fumaça. Rio de Janeiro, GB: autor, 1971.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 372 no jornal Leopoldinense de 16 de janeiro de 2019

Efemérides Leopoldinenses: Março

Memorial diário da história de Leopoldina, com acontecimentos do mês de março.

1 de março

1891

Começam a funcionar em Leopoldina o Colégio Werneck e o Banco de Leopoldina.


9 de março

1990

Morre em Leopoldina a professora Judith Lintz Guedes Machado[1], patrona da cadeira nº 4 da Academia Leopoldinense de Letras e Artes.


12 de março

1891

Baldoíno Teixeira Lopes Guimarães presta exame de habilitação para atuar como advogado.


13 de março

1897

Nasce em Leopoldina, Ormeo Junqueira Botelho[2], patrono da cadeira nº 22 da Academia Leopoldinense de Letras e Artes.


15 de março

1891

Antigos fotógrafos em Leopoldina: F. S. Teixeira, Manoel Machado de Azevedo Dias, Cesar Rolly, Hamilton Vascencelos e Jarbas Pereira da Silva.


18 de março

1941

Morre em Leopoldina o médico e político Custódio Monteiro Ribeiro Junqueira[3], patrono da cadeira nº 16 da Academia Leopoldinense de Letras e Artes.


23 de março

1843

O Feijão Cru aparece pela primeira vez num Relatório da Presidência da Província, relativo ao ano de 1842, como freguesia composta dos distritos do Feijão Cru e do Angu, pertencendo ao município de São João Nepomuceno, contando com 562 casas e 220 eleitores[4].


25 de março

1855

Leopoldina conta com 3 igrejas e 1 capela.

1894

Nasce em Pedralva, MG, Irineu Lisboa[5] patrono da cadeira nº 1 da Academia Leopoldinense de Letras e Artes.

1899

Dilermando Cruz publica o poema Ser Noivo, dedicado ao amigo e colega de trabalho Ricardo José de Oliveira Martins.


27 de março

1841

O curato de Madre de Deus do Angu é elevado à categoria de Distrito de Paz.

A lei que criou o Distrito do Angu é a mais antiga referência ao Distrito do Feijão Cru em documentos oficiais, já que não foi encontrado o documento que o criou. Como se pode ver na imagem abaixo, em seu Artigo 5 determina que o Ribeirão do Rio Pardo marque a divisa entre os distritos do Feijão Cru e do Senhor Bom Jesus (atual Argirita).

Esta lei marca as divisas entre os distritos do Rio Pardo e do Feijão Cru.

1872

Decreto Imperial concede ao engenheiro Antonio Paulo de Mello Barreto autorização para organizar uma companhia que se incumba de construir uma estrada de ferro econômica, entre a Estação do Porto Novo do Cunha e Santa Rita da Meia Pataca[6]


28 de março

1818

Maria Umbelina de Santa Brígida e Antônio Francisco Teixeira Coelho recebem duas sesmarias no Sertão do Rio Paraíba do Sul[7]. No testamento de Antônio Francisco confirma-se que eles haviam tido a filha Maria Antônia de Jesus que se casou em Prados, os 18 de setembro de 1822[8], com Bernardo José Gonçalves Montes, que recebeu as duas sesmarias como dote. No mesmo testamento é informado que as terras foram repassadas para Antônio José Monteiro de Barros. As duas sesmarias estão na origem da Colônia Agrícola da Constança e da Fazenda Paraíso.


[1] Cartório de Registro Civil de Leopoldina, MG, Livro de Óbitos 88-91 fls 206 termo 4407.

[2] Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, lápide no túmulo.

[3] Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, lápide no túmulo.

[4] Exposição feita pelo Exmo. Conselheiro Bernardo Jacintho da Veiga, na qualidade de presidente da província de Minas Gerais, a seu sucessor, o Exmo. Tenente-general Francisco José de Souza Soares de Andréa, no ato da sua posse. Rio de Janeiro: Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve e C.a, 1843, Mapa 9, p. 2

[5] Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, data na lápide no túmulo.

[6] VEIGA, José Pedro Xavier da. Efemérides Mineiras: 1664-1897. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998. v. 1, p. 338

[7] Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, vol. 37, nr. 1, 1988, SC. 377 fls 68 e 70.

[8] SETTE, Bartyra e JUNQUEIRA, Regina Moraes. Projeto Compartilhar(http://www.projetocompartilhar.org/), ensaio Os Rodrigues Dantas. Acesso set.2007.