154 – Sesmarias até para filhos ainda não nascidos

Em artigo anterior o Trem de História trouxe a informação de que alguns dos beneficiários das primeiras sesmarias concedidas na região foram parentes dos membros da tropa comandada por Pedro Afonso Galvão de São Martinho. E citou o exemplo de dois sobrinhos de Tiradentes e suas respectivas esposas, beneficiados com quatro sesmarias em 1813. Duas delas na divisa do Curato do Feijão Cru com o distrito de Bom Jesus do Rio Pardo (atual Argirita).

Hoje a viagem parte de um estudo iniciado após a leitura em Francisco de Paula Ferreira de Rezende[1] e Celso Falabella de Figueiredo Castro[2] que registram o fato de que uma das famílias povoadoras do Feijão Cru teria obtido “sesmarias até para filhos ainda não nascidos”.

Buscando compreender o assunto, foram consultadas inúmeras obras, encontrando informação semelhante em Lígia Osorio Silva[3], quando a autora afirma que: até o século XVIII […] houve casos de várias sesmarias concedidas a um mesmo indivíduo, e casos de indivíduos que as requeriam em nome “das mulheres, dos filhos e filhas, de crianças que estavam no berço e das que ainda estavam por nascer”.

Na verdade, a autora se referia a texto de Nadir Domingues Mendonça[4] que replicou informação de Alcides Lima[5] em História Popular do Rio Grande do Sul, que falava a respeito do ocorrido em outros pontos do Brasil.

Restava, então, saber se Rezende e Falabella também replicaram outros autores ou se, de fato, isto aconteceu em nossa região. Concluiu-se daí que a busca precisava continuar.

E para sustentar teoricamente a pesquisa, era necessário ler um pouco mais a respeito da legislação sobre concessão de sesmarias, iniciando-se pelos Anais do VIII Simpósio Nacional de Professores de História, de 1976, complementados por artigos de NOZOE (2006)[6] e mais recentemente revisado com a leitura de ALVEAL (2015)[7].

Numa segunda etapa a busca consistiu em selecionar, na Revista do Arquivo Público Mineiro de 1988, os sesmeiros que obtiveram Carta de Sesmaria no Termo de Barbacena, indicando local próximo ao Sertão do Feijão Cru.

Mas o exaustivo levantamento realizado no arquivo mineiro apenas ampliou de 6.642 para 7.985 as sesmarias com que até então trabalhavam os historiadores, nada acrescentando no sentido de esclarecer a tal concessão a filhos não nascidos.

No caso de Leopoldina sabe-se que, embora iniciada no final da década de 1990, esta listagem continua em atualização constante, seja pela descoberta de nomes não identificados anteriormente entre os povoadores ou, por ser encontrada uma referência topográfica antes não observada.

Com o seguir dos estudos, outras fontes de informação a respeito da ocupação do território onde se formou o arraial do Feijão Cru passaram a ser utilizadas e permanecem no horizonte da pesquisa como, por exemplo, os registros de terras de 1856, inventários, testamentos e processos de divisão de propriedades. Só que, para compreendê-los, é necessário agregar outra fonte que veio comprovar a necessidade de um trabalho multidisciplinar quando se pretende escrever história. Além do conhecimento das já mencionadas mudanças de legislação, é preciso conhecer e compreender as unidades de medida e os instrumentos utilizados nas demarcações ao longo do tempo, o que será assunto do próximo Trem de História.

Quanto à resposta definitiva sobre a existência, em Leopoldina, de sesmaria concedida à pessoa ainda não nascida, continua, por enquanto, um tema em aberto.

Nos próximos textos desta série, serão trazidas informações sobre as antigas propriedades formadas no território que em 1854 constituiu a Villa Leopoldina. Antes, porém, será necessário abordar as unidades de medida e instrumentos de demarcação da época.

O Trem de História faz uma parada para carregar a bagagem da próxima viagem. Até lá!

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 407 no jornal Leopoldinense de 1 de julho de 2020


Fontes consultadas:

[1] REZENDE, Francisco de Paula Ferreira de. Minhas Recordações. Belo Horizonte: Itatiaia, 1988. p. 347.

[2] CASTRO, Celso Falabella de Figueiredo. Os Sertões de Leste: achegas para a história da zona da mata. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1987. p.66

[3] SILVA, Lígia Osorio. Terras Devolutas e Latifúndio: Efeitos da Lei de 1850. Campinas, SP: UNICAMP,1996. p. 45.

[4] MENDONÇA, Nadir Domingues Mendonça. A propriedade rural. In: Anais do VIII Simpósio Nacional de Professores de História, São Paulo, 1976, p. 852.

[5] LIMA, Alcides. História popular do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Barcelos, Bertaso & Cia, 1935.

[6] NOZOE, Nelson. Sesmarias e Apossamento de Terras no Brasil Colônia. Economia, Brasília, v. 7, n. 3, p. 587-605, set-dez 2006

[7] ALVEAL, Carmen Margarida Oliveira. Transformações na legislação sesmarial, processo de demarcação e manutenção de privilégios nas terras das capitanias do norte do Estado do Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 28, nº 56, p. 247-263, julho-dezembro 2015.

153 – Caminhos percorridos pelo homem livre

Conforme prometido no Trem de História anterior, os caminhos percorridos pelo homem livre formam a “bagagem” para a viagem de hoje.

Quando se fala em antigos caminhos é comum se pensar em rios como estradas. Mas é preciso observar que nem sempre estes cursos d’água se prestavam a isto, simplesmente porque muitas das vezes não eram navegáveis.

Na verdade, os caminhantes seguiam os rios, nos dois sentidos, muito mais como forma segura de orientação para avançar pelas matas, já que as águas correntes não retornam ao ponto de onde vieram e porque lhes dava a certeza da direção a seguir no retorno.

Agora, mergulhem num tempo em que a mão humana contava com poucos equipamentos que lhe facilitassem a jornada. Esqueçam o GPS – Global Position System, e se imaginem no meio de uma floresta. Imaginem quantas vezes estas pessoas terão seguido um curso d’água que seria afluente do que acabaram de deixar para trás? Esta era a realidade.

E saiba que estas observações se referem aos primeiros entrantes e não às famílias que viriam mais tarde se estabelecer na Mata Mineira. É lícito supor que os primeiros homens livres que exploraram a região chegaram a pé, por picadas muitas vezes abertas pelos nativos, porque não existiam estradas carroçáveis.

Conforme lembrou Sérgio Buarque de Holanda[1], mesmo para transporte de cargas os cavalos foram “de escasso préstimo, preferindo-se os carros de bois sempre que houvesse estrada capaz”. Embora o autor se referisse aos sertões de São Paulo no século XVIII, a situação na capitania mineira nos primeiros anos do século seguinte não era diferente. Somente quanto da mudança da “família estendida”[2] para o novo endereço, quando já havia caminho que o permitisse, eram utilizados carros de bois para o transporte da carga. E mesmo aí, as pessoas continuavam viajando a pé.

É ainda de Sérgio Buarque a indicação de que, em alguns casos, eram contratados indígenas, mamelucos ou escravos de carga. O que não justifica as histórias contadas de que os fazendeiros possuíam numerosa escravaria, contada às centenas.

Até porque pelo que foi apurado nas contagens populacionais de 1831, 1834 e 1843 do Feijão Cru, a média de escravos por unidade era de 4,45 nos dois primeiros censos e, no terceiro, por terem aumentado as famílias sem escravos, a média diminuiu para 2,91 escravos por fogo[3].

Numa visita à cidade de Descoberto (MG), na década de 1990, foi entrevistado um antigo morador, descendente de militar da tropa que encontrou o então denominado “Descoberto do Rio Novo”. Declarou ele que a tropa saiu do Rio Pomba na Cachoeira Alta, entrando por um riacho que nasce na Serra do Descoberto. Do sopé da Serra eles teriam seguido o córrego Pouso Alegre, afluente do Ribeirão do Descoberto que deságua no Rio Novo. Seu antepassado teria sido designado para ficar de guarda no Arraial do Descoberto.

No Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo[4] de 2014, o pesquisador Geraldo Barroso apresentou uma comunicação sobre rotas a leste do Caminho Novo. Segundo ele, “os tropeiros do lado oriental do Caminho Novo enfrentavam dificuldades em suas viagens e tiveram que abrir novos caminhos que ficaram conhecidos por Caminhos de Dentro”. Um deles, que passa por Cipotânea, segue em direção a Mercês, depois vai aos municípios de Rio Pomba e Rio Novo de onde busca a cidade de Mar de Espanha.

Tropeiros do Caminho de Dentro

O pesquisador apresentou fotos de tropeiros do início do século XX que continuavam a fazer o mesmo trajeto, ressaltando que, apesar de mais tortuoso, desviava da trilha montanhosa e passava por várias localidades onde eles vendiam, compravam e trocavam produtos, reabasteciam e evitavam a exaustão de seus animais.

Os dois relatos indicam percurso que coincide, em parte, com o trajeto da primeira diligência chefiada por Galvão de São Martinho. A diferença básica é que depois de Roça Grande a diligência caminhou e tomou a direção do Terra Corrida, descendo pelo Ribeirão Aventureiro e atingindo o Paraíba do Sul.

Por hoje o Trem de História fica por aqui. Mas a viagem com Pioneiros de Leopoldina continuará na próxima edição do Jornal. Até lá!

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 406 no jornal Leopoldinense de 16 de junho de 2020

Fontes consultadas:

[1] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos do Sertão. In: Revista de História, São Paulo, v. 28 n. 57, pp-59-111, 1964. p.73

[2] O significado mais usual para ‘família estendida’ é grupo composto por pais, filhos, irmãos e outros parentes próximos.

[3] Fogo era o nome dado a cada unidade habitacional que podia ser composta de uma ou mais moradias.

[4] BARROSO, Geraldo. Caminhos de Dentro. In V Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo, Juiz de Fora, junho 2014.

152 – As diligências de São Martinho

Quando o militar Pedro Afonso Galvão de São Martinho atendeu à ordem do Governador da Capitania para assumir como chefe a diligência de 1784, é certo que ele estruturou a empreitada valendo-se do conhecimento de outros militares que lhe antecederam na região. Como, por exemplo, Manoel Rodrigues da Costa, um dos primeiros a serem convocados por Cunha Menezes, que já conhecia uma boa parte dos então temíveis Sertões do Leste. Como, também, Tiradentes, que há muito se achava na ocupação de ronda do mato. E, certamente, com a experiência de muitos outros membros da sua diligência.

Pelas cartas trocadas entre os militares e o governador, é possível verificar que no dia 12 de maio de 1784, o grupo estava em São Manoel do Pomba, povoado que se iniciou oficialmente com a missa celebrada pelo Padre Manoel de Jesus Maria em dezembro de 1767. E num tempo relativamente curto, no dia 22 do mesmo mês, conforme registrou em carta Galvão de São Martinho, a diligência já estava nas margens do Rio Paraíba do Sul.

Segundo Falabella[1], nesta primeira entrada o grupo chefiado por São Martinho, após deixar para trás o povoado de São Manoel do Pomba, “marchou para Roça Grande, atravessando o rio Pardo, Serra Feia, Terra Corrida, despontando à margem do Paraíba”.

Registre-se que a mais antiga referência ao topônimo Terra Corrida é do período das diligências ordenadas por Cunha Menezes. O Porto do Cunha, nomeado em homenagem a este governador da Capitania, foi criado entre 22 de maio e 5 de junho de 1784 como se depreende das cartas de Galvão de São Martinho para Cunha Menezes. Já os topônimos Roça Grande e Serra Feia só aparecem a partir das Cartas de Sesmarias concedidas na década de 1810.

Oficialmente as duas diligências, de 1784 e 1786, tinham como objetivo estancar o desvio do ouro pelas então ‘zonas proibidas’, denominação que remete ao fato de que não era permitido ao homem livre se estabelecer nesta região da zona da mata. Embora se saiba, conforme afirma Clélio Erthal [2], que

“depois que São Martinho abriu o caminho da Mata nos sertões de leste, o tráfico ilegal por ali se intensificou bastante, dele participando ostensivamente até militares e civis ligados ao governo de Minas. O cabo José de Deus Lopes e o anspeçada Bernardo dos Reis, das Guardas do Cunha e do Louriçal, por exemplo, mantiveram com os invasores estreitas relações”

Mas é certo que antes da segunda diligência, Cunha Menezes escreveu uma carta na qual procurou divulgar a informação de que permitiria o estabelecimento de quarenta pessoas e duzentos escravos na região trilhada pela tropa, que se estendia desde a cidade de Rio Pomba até o Porto do Cunha.

Paisagem do Porto Velho do Cunha

Se dúvidas existem ainda hoje quanto a serem ou não oficiais essas ocupações, o fato é que na última década do século XVIII foram concedidas algumas sesmarias no início do percurso da diligência e, em 1810, tais concessões já chegavam às margens do Rio Novo. E é certo, também, que alguns dos beneficiários eram parentes dos membros da tropa comandada por Galvão de São Martinho. Entre eles, dois sobrinhos de Tiradentes e suas respectivas esposas, beneficiados com quatro sesmarias em 1813. Duas delas em território que mais tarde marcaria a divisa do Curato do Feijão Cru com o distrito de Bom Jesus do Rio Pardo (atual Argirita).

As diligências de 1784 e 1786 contribuíram para a fixação de pontos de passagem que mais tarde serviriam para indicar a localização de terras requeridas em sesmaria. Interessante observar que, através de informações de viajantes estrangeiros que estiveram no Brasil no início do século XIX, especialmente de Eschwege[3] e Langsdorf[4], foi possível identificar e/ou confirmar alguns pontos do trajeto destas diligências. Porque estes viajantes que estiveram nas Minas colheram informações e passaram pelos mesmos trechos que os militares haviam fiscalizado.

O assunto não esgotou, mas o Trem de História precisa fazer uma parada. Fica a promessa de que na próxima viagem falará sobre os caminhos do homem livre na Mata Mineira. Até lá.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 405 no jornal Leopoldinense de 30 de maio de 2020

Fontes consultadas:

[1] Castro, Celso Falabella de Figueiredo. Os sertões do leste: achegas para a história da Zona da Mata. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1987.

[2] ERTHAL, Clélio. Cantagalo: da miragem do ouro ao esplendor do café. Niterói; do autor, 2008, p.46.

[3]ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Jornal do Brasil. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2012

[4] SILVA, Danuzio Gil Bernardino da (org). Os Diários de Langsdorff - 3 volumes. Rio de Janeiro: Fiocruz. 2012

151 – As decisões do governo Cunha Menezes

Seguindo viagem com os pioneiros, o Trem de História hoje passeia um pouco pelo acontecido antes da ocupação oficial, pelo homem livre, da região que abrange o território que constitui o município de Leopoldina. Um tempo em que todo o leste da província das Minas era extensa “zona proibida”, a mata fechada à ocupação para evitar desvios do ouro.

Ressalte-se de início, que muitos autores se debruçaram sobre o assunto, permitindo que se tornassem mais ou menos conhecidas as estratégias utilizadas no processo de abertura de novas fronteiras agrícolas na Mata Mineira.

Mas no caso particular de Leopoldina, é imperativo conhecer as decisões administrativas do governo da Capitania na segunda metade do século XVIII para compreender o ocorrido. Afinal de contas, foi nesta época que a região hoje conhecida como zona da mata sul foi oficialmente aberta ao povoamento, impulsionada principalmente por decisões do governador Cunha Menezes.

Segundo Xavier da Veiga[1], Luís da Cunha Menezes foi o 9º governador efetivo da Capitania de Minas Gerais e em seu governo “fez toda a sorte de alicantinas[2] e desmandos”. E o mesmo autor ainda registra que foi da época de seu governo o recebimento de dois alvarás bastante incisivos. Um datado de 10.01.1785, ordenando ao Governador de Minas Gerais “atacar contrabandistas em Macacu” (RJ). E o outro, de 26.01.1785, dando ordem “para abolir pela brandura ou por violência” as fábricas, manufaturas etc nesta Capitania.[3] O que dá mostra do nível dos problemas que teve que enfrentar.

Mas, conforme declarou Celso Falabella[4], por mais arbitrário e confuso que tenha sido Luís da Cunha Menezes, que governou a Capitania entre 1783 e 1788, foram dele as ordens para a realização de duas importantes diligências que, de fato, abriram os sertões do leste ao homem livre.

Por outro lado, é necessário fazer um esforço de abstração para abandonar a realidade atual e mergulhar num tempo em que a mão humana contava com poucos equipamentos que lhe facilitassem a jornada por estas terras só conhecidas pelos nativos. Num tempo em que não era fácil sair de um lugar conhecido, com alguma estrutura disponível, e embrenhar-se literalmente na mata em busca de um futuro incerto, como fizeram as pessoas que primeiro entraram na região do Feijão Cru. Pessoas que sonharam com melhores condições de sobrevivência e, movidos pela confiança na própria capacidade de progredir e estimulados por narrativas que sempre chegaram aos mais longínquos rincões, jogaram seus pertences nas costas, em carroças ou carro de bois e saíram caminhando em busca de um hipotético pote de ouro que estaria além do arco-íris. Trilhando por onde os caminhos eram raros; rios navegáveis, poucos; e, informações seguras, quase nenhuma. De real e concreto, restava-lhes apenas a alternativa de seguir a “picada” aberta por tropeiros ou as inúmeras trilhas que os indígenas sempre abriram nas florestas.

E sobre estas trilhas, aqui vale uma observação. A história tradicional costumava incensar alguns personagens, dando-lhes a autoria deste ou daquele caminho. Atualmente, isto já não se faz. Graças a pesquisas cuidadosas, hoje se sabe que vias como o nosso muito conhecido Caminho Novo foram formadas ao longo de centenas de anos em que os naturais da terra, coletores por natureza, se movimentavam em busca da safra disponível nas diferentes épocas do ano. Assim também ocorreu com as vértebras ou, vicinais do Caminho Novo que se ramificaram pela zona da mata. E não só em Minas, como se constata em Sérgio Buarque de Holanda ao declarar[5] que “mesmo antes da colonização europeia, algumas trilhas de índios [não eram] mais do que picadas incultas e intratáveis”.

A história dos Pioneiros de Leopoldina continua, mas por hoje o Trem de História fica por aqui. Na próxima edição virão as diligências de Pedro Afonso Galvão de São Martinho e seu grupo. Aguardem!

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 404 no jornal Leopoldinense de 15 de maio de 2020

Fontes consultadas:

[1] VEIGA, José Pedro Xavier da. Efemérides Mineiras 1664-1897. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998. p.885.

[2] Antigo termo jurídico, alicantina significa ardil, trapaça.

[3] VEIGA, José Pedro Xavier da. Efemérides Mineiras 1664-1897. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998. p.139.

[4] Castro, Celso Falabella de Figueiredo. Os sertões do leste: achegas para a história da Zona da Mata. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1987. p.18-19

[5] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Monções e Capítulos de expansão paulista. 4. ed. São Paulo: Companhia daLuiz da Cunha fala Letras, 2014. p.44

150 – A ocupação do território que constitui o município

Logomarca Trem de História

Há quase três anos os autores do Trem de História publicaram o resultado de um estudo sob o título “200 anos do Registro Civil do Feijão Cru”[1] para marcar o aniversário de batismo do curso d’água que deu nome ao arraial mais tarde emancipado com o nome de Villa Leopoldina. Naquele outubro de 2017, o tema foi a concessão de duas sesmarias em cujas cartas, datadas de 13 e 14 de outubro de 1817, pela primeira vez foi mencionado o nome “Córrego do Feijão Cru”, mais tarde renomeado como Ribeirão do Feijão Cru.

Hoje o Trem de História retoma o assunto para que, nesta edição do jornal Leopoldinense em que se comemoram os 166 anos de emancipação administrativa, possam os autores tratar de um tema que lhes é muito caro: a ocupação do território que constitui o município de Leopoldina, nas terras do antigo Feijão Cru. E com este retorno ao tema, dar início a uma nova série de artigos sobre “Os pioneiros de Leopoldina”.

A pesquisa

Como se sabe, uma pesquisa sempre começa por uma questão que desperta o interesse e a curiosidade do pesquisador. No caso em pauta, melhor expressá-la em três ou quatro perguntas. Por onde chegaram os homens livres que ocuparam as terras indígenas neste sertão? Quando começaram a chegar? Onde se estabeleceram? Do quê se ocupavam?

Foi a partir de uma leitura mais atenta da história tradicional, na década de 1960, que os autores começaram a buscar respostas para estas questões. No início, de forma desorganizada. Mas ao longo do tempo o projeto de pesquisa foi esboçado em bases mais sólidas e as buscas começaram a dar frutos.

Um destes frutos decorreu de leituras despertadas pelo capítulo 4 do livro “Os Sertões do Leste”, de Celso Falabella publicado em 1987.

Tratando da ‘segunda diligência’ empreendida por Pedro Afonso Galvão de São Martinho, o autor cita trecho de uma carta do então Governador da Capitania de Minas, Luiz da Cunha Menezes, que se tornou conhecido pela alcunha de “Fanfarrão Minézio” como a ele se referiu o poeta Tomás Antonio Gonzaga na famosa obra “Cartas Chilenas”.

Vale relembrar que em 1784 e 1786 foram realizadas duas diligências com o objetivo de estancar o desvio do ouro pelas então mencionadas ‘zonas proibidas’, denominação que remete ao fato de que não era permitido ao homem livre se estabelecer nesta região da zona da mata. Ambas comandadas por Galvão de São Martinho e, entre seus membros, figurava o militar Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

As concessões de sesmarias

Antes da segunda diligência, Cunha Menezes escreveu a carta a Galvão de São Martinho na qual procurou divulgar a informação de que permitiria o estabelecimento de quarenta pessoas e duzentos escravos na região trilhada pela tropa, e que se estendia desde a cidade de Rio Pomba até o Porto do Cunha, registro criado em 1784.

Oficializada ou não a disposição escrita pelo Governador, o fato é que na última década do século XVIII foram concedidas algumas sesmarias no início do percurso e em 1810 tais concessões já chegavam às margens do Rio Novo. Alguns dos beneficiários eram parentes dos membros da tropa comandada por Galvão de São Martinho. Entre eles, dois sobrinhos de Tiradentes e suas respectivas esposas foram beneficiados com quatro sesmarias concedidas em novembro de 1813. Duas delas, concedidas a Felisberto da Silva Gonçalves e sua esposa Ana Bernarda da Silveira, estão na origem da Fazenda do Glória em território que mais tarde marcaria a divisa do Curato do Feijão Cru com o distrito de Bom Jesus do Rio Pardo.

Registre-se que o Córrego do Glória, cuja denominação inicial se perdeu na história, margeava o Monte Redondo, conforme referência de 1842 na folha 27 do primeiro livro do Cartório de Notas de Bom Jesus do Rio Pardo.

Mas não só os parentes de Tiradentes se estabeleceram por aqui. Também os de Pedro Afonso Galvão de São Martinho foram beneficiados com sesmarias ao longo do percurso daquelas diligências. Segundo Francisco de Paula Ferreira de Rezende, citado como exagero por Celso Falabella[2], os Monteiro de Barros teriam requerido sesmarias até para uma filha que ainda não nascera[3].

Do que foi até agora possível apurar, as sesmarias concedidas aos Monteiro de Barros, descendentes de Galvão de São Martinho, tiveram suas cartas datadas entre março e maio de 1818.

A última sesmaria concedida em território que comprovadamente fez parte do Distrito do Feijão Cru foi concedida em setembro de 1821.

Efetiva ocupação das terras

Estas terras foram concedidas, mas a ocupação nem sempre ocorreu na mesma data. Foi esta a conclusão a que se chegou na comparação entre as datas das Cartas de Sesmaria, os denominados Mapas de Habitantes e os poucos registros paroquiais das duas primeiras décadas do século XIX que já foram identificados.

De um lado, observou-se que Felisberto da Silva Gonçalves, sobrinho de Tiradentes, juntamente com a esposa, parece ter se estabelecido no Monte Redondo quase dez anos antes de fazer o requerimento que resultou na concessão das duas sesmarias ao casal. No outro extremo, as sesmarias concedidas aos Monteiro de Barros em 1818 não estavam ocupadas até 1831, quando foi feita a contagem dos habitantes do território.

Já as sesmarias doadas aos sogros de Bernardo José Gonçalves Montes em março de 1818 teriam sido ocupadas por ele em 1822.

Fernando e Jerônimo Corrêa de Lacerda receberam sesmarias em 1817 e, ao que parece, não residiram nestas terras. Encarregaram o sobrinho Francisco Pinheiro Corrêa de Lacerda de vendê-las. E consta que ele só se estabeleceu em terras do Feijão Cru em 1828, como agregado na propriedade de seu sogro Joaquim Ferreira Brito, a quem havia vendido parte de uma das ditas sesmarias doadas a seus tios.

Uma correção da história

Neste ponto um registro importante se faz necessário repetir para que se corrija um desvio da história de Leopoldina.

Conforme já foi dito em outros textos desta coluna Trem de História, Francisco Pinheiro Corrêa de Lacerda, inúmeras vezes citado pela história tradicional como fundador de Leopoldina, não o foi. Também não foi o primeiro a chegar às terras do Feijão Cru, como se vê acima. E nem estava mais aqui quando o arraial se tornou o Distrito de São Sebastião do Feijão Cru. Em verdade ele foi, tão somente, o emissário de seus tios, Fernando e Jerônimo Corrêa de Lacerda, na venda das terras que eles ganharam[4] em 1817. E, tão logo concluiu essa venda, seguiu o curso do Rio Pomba e se estabeleceu próximo à foz no Paraíba do Sul, onde veio a falecer[5] antes mesmo do Curato do Feijão Cru ter seus limites territoriais estabelecidos.

Mapa de Habitantes

Após identificar o período em que foram concedidas sesmarias do Termo de Barbacena que viriam a formar o território do Arraial do Feijão Cru, o passo seguinte foi analisar os moradores que aqui estavam em 1831, conforme apurado no Mapa de Habitantes daquele ano.

Naquela época, os mapas eram uma espécie de recenseamento que tinha como um dos objetivos a arrecadação de tributos.

Ressalte-se que só eram computados os moradores livres e seus cativos, sem qualquer registro ou notícia dos naturais da terra.

Outro objetivo da contagem populacional era demonstrar ao poder central que a localidade já atingira o número suficiente de habitantes para ser alçada ao patamar de comunidade organizada, ou seja, em condição de se tornar distrito.

O distrito do Feijão Cru

Naquele ano de 1831, o distrito do Feijão Cru ainda não existia e os primeiros moradores daqui passaram a compor o distrito então criado: São José do Paraíba, que deu origem ao atual município de Além Paraíba.

A cronologia documentada diz que em meados da década de 1820, a área onde está o atual município de Leopoldina deixou de fazer parte do Termo de Barbacena.

Em 1829 a capela de São João Nepomuceno, à qual o Feijão Cru pertencia, era filial da Freguesia do Mártir de São Manoel, que se tornou[6] a Vila de São Manuel do Pomba em 1831.

Sinval Santiago[7] registra que o Decreto Imperial de 11 de setembro de 1830, que autorizava as Câmaras Municipais a criar distritos e eleger seus Juízes de Paz, vigorou até 1834 e sob ele o Distrito do Feijão Cru teria sido criado.

Entretanto, a mais antiga referência ao Distrito do Feijão Cru é posterior à Carta de Lei de 12 de agosto de 1834 que transferiu para a presidência da província a prerrogativa da criação de distritos. Mais especificamente, o Distrito do Feijão Cru teria sido criado após 29 de novembro de 1835, quando Manoel Ferreira Brito assinou[8] o “mapa dos indivíduos” moradores no “Novo Curato de São Sebastião do Feijão Cru”.

Por outro lado, o mais antigo documento oficial a citar a denominação Distrito de São Sebastião do Feijão Cru foi assinado[9] por João Ferreira da Silva a 7 de setembro de 1838. Este documento encapava uma lista de habitantes distribuídos em 135 fogos[10], número superior ao mínimo necessário para criação de um distrito.

Reafirma-se, portanto, que o Distrito de São Sebastião do Feijão Cru foi criado entre novembro de 1835 e setembro de 1838.

O distrito fazia divisa com a Aldeia da Pedra (Itaocara) ao norte, distante 10 léguas; ao sul com o Espírito Santo (Guarará), distante 6 léguas; com São José do Paraíba (Além Paraíba) a 4 léguas e com Santa Rita do Meia Pataca (Cataguases) a 3 léguas.

Conclusão

Como se vê, a história de Leopoldina começou a ser desenhada no alvorecer do século XIX. Ao final da década de 1830 foi criado o Distrito de São Sebastião do Feijão Cru que foi emancipado[11] como Vila Leopoldina em abril de 1854.

Naquela primeira metade do século o homem livre chegou, ocupou as margens de córregos, ribeirões e rios, e formou fazendas que no final da década de 1850 entraram num novo patamar: as lavouras de milho foram substituídas pelas de café.

No final dos anos de 1800, ao lado da ocupação territorial, o emprego da mão de obra disponível na época gerou a necessidade de se recorrer à imigração, um dos temas que ocupou muitos vagões e viagens do Trem de História.

E assim, cada nova fonte trazia uma surpresa e despertava novas questões.

Questões como, por exemplo, a descoberta recente de que, entre as bacias do Rio Pardo e do Ribeirão do Feijão Cru, existiu um curso d’água com águas vertentes do Quilombo, denominação assumida por uma propriedade rural assim identificada em 1862. Um tema que, considerando que o termo ‘quilombo’ remete a um local de moradia e esconderijo de pessoas escravizadas que teriam fugido da servidão, pode ser indício de que ali tenha habitado algum grupo de resistência.

Questões que deixam a certeza de que há, ainda, muita história a ser contada. Muitas questões em aberto. E a certeza de que Leopoldina merece ter seu passado conhecido e preservado. Leopoldina merece cultivar a Lenda do Feijão Cru, sabendo que é lenda, mas conhecendo a sua história.

No próximo Jornal o Trem de História seguirá viagem, a partir de agora, percorrendo as sesmarias que se transformaram em propriedades ocupadas pelos pioneiros de Leopoldina. Até lá!

Fontes Consultadas:

[1] CANTONI, Nilza e MACHADO, Luja. 200 Anos do Registro Civil do Feijão Cru. Disponível em <https://www.academia.edu/34989583/200_ANOS_DO_REGISTRO_CIVIL_DO_FEIJ%C3%83O_CRU>

[2] CASTRO, Celso Falabella de Figueiredo. Os Sertões de Leste: Achegas para a história da Zona da Mata. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1987, p.70.

[3] REZENDE, Francisco de Paula. Minhas Recordaões. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1944, p.369.

[4] Arquivo Público Mineiro, Secretaria de Governo da Capitania, seção Colonial. SC-363 fls 190v e 192v.

[5] Arquivo Permanente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais – COARPE – TJMG. Inventario in vitae dos sogros, processo 38404416 fls 4 img 7

[6] Decreto Imperial de 13 de outubro de 1831

[7] SANTIAGO, Sinval. Município de Rio Pomba - Síntese Histórica. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1991. p.480-481

[8] Arquivo Público Mineiro. Mapa da População do Feijão Cru CX 03 DOC 06, Termo da Vila da Pomba fl.1

[9] Arquivo Público Mineiro. Ofício ao Presidente da Província de Minas. CX 03 DOC 06, Termo da Vila da Pomba fl.23

[10] Fogos eram unidades habitacionais que poderiam ser compostas por uma ou mais casas de moradia.

[11] Lei Mineira nº 66 de 27 de abril de 1854.


Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 403 no jornal Leopoldinense de 30 de abril de 2020

Instalação da Vila Leopoldina

RECONTOS DE UM RECANTO

Voltamos às páginas da Gazeta para contar um pouco mais sobre a história de Leopoldina.

E, nesta edição comemorativa, começamos pela transcrição do Auto da Instalação da Vila, do primeiro livro de atas.

~ Auto da installação da Villa Leopoldina ~

Aos vinte dias do mez de Janeiro do Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e cincoenta e cinco, trigesimo quarto da Independencia e do Imperio, na sala destinada para as Sessões da Camara Municipal da Villa Leopoldina, creada pela Lei Provincial numero seiscentos e sessenta e seis, de vinte e sete de Abril do anno proximo passado, achando-se o Doutor Domiciano Matheus Monteiro de Castro, vereador, servindo de Presidente da Camara Municipal da Villa do Mar d’Hespanha, comigo Secretario da mesma Camara, e reunidos os vereadores eleitos, o Capitão Manoel José Monteiro de Castro, Doutor José Joaquim Ferreira Monteiro de Barros, Francisco José de Freitas Lima, Major João Vidal Leite Ribeiro , Capitão João Gualberto Ferreira Britto, e José Vieira de Resende e Silva, o mesmo Presidente, em cumprimento do Decreto de treze de Novembro de mil oitocentos e trinta e dous, e da Portaria do Excellentissimo Presidente da Provincia de vinte e cinco de Novembro de mil oitocentos e cincoenta e quatro, deferio-lhes juramento, e deo posse, não tendo comparecido o Vereador eleito Custodio Teixeira Leite, ficando assim installada a referida Villa Leopoldina. Para constar mandou o mesmo Presidente lavrar este Auto, em que se assigna com os mencionados Vereadores empossados. Eu José de Souza Lima, Secretario, o escrevi.

Assinaturas no Auto de Instalação da Vila Leopoldina

Identificação das assinaturas:

Domiciano Matheus Monteiro de Castro (Câmara de Mar de Espanha);

Manoel José Monteiro de Castro;

Joze Joaquim Ferreira Monteiro de Barros;

Francisco José de Freitas Lima;

José Vieira de Resende e Silva; e,

João Gualberto Ferreira Brito

Naquele 20 de janeiro de 1855 começava nossa independência administrativa. Mais de 50 anos depois que os primeiros homens livres escolheram as margens do Feijão Cru para viver.

Vale registrar que se os primeiros aventureiros cruzaram a mata virgem por volta de 1780, foi no alvorecer do século dezenove que a administração pública passou a localizá-los em documentos, concedendo-lhes terras, as sesmarias, nos então chamados “sertões do leste”. E a não mais de quarenta homens teria sido permitida a fixação de residência no caminho trilhado por Pedro Afonso Galvão de São Martinho quando da primeira diligência, em 1784, por estas matas até então proibidas.

Somente a partir das cartas concedidas em 1811 encontramos os “fregueses” do futuro Curato do Feijão Crú. Deste momento em diante é que passamos a observar a presença de famílias que deixaram descendentes dentro dos limites do que veio a constituir, quase vinte anos depois, o distrito do Feijão Cru, da então Vila de São Manoel do Pomba.

Conta-nos Sinval Santiago, em “Município do Pomba – Síntese Histórica”, que os distritos do Feijão Crú e da Santíssima Trindade do Descoberto foram os primeiros criados pela Câmara Municipal do Pomba, com base no Decreto Imperial de 11.09.1830. Infelizmente os incêndios freqüentemente citados nos livros de história também constituem justificativa para o desaparecimento dos documentos que esclareceriam melhor a gênese de Leopoldina.

Sabemos que em 1828 os principais moradores do Feijão Cru foram testemunhas da doação do patrimônio da futura capela de Santa Rita do Meia Pataca, o que nos confirma já existir por aqui algum tipo de organização social para “enviar” representantes para participar de um ato de tal importância.

Isto nos leva a colocar em dúvida o ano de 1831 como sendo o do nascimento do nosso povoado. Ainda mais se considerarmos que encontramos os pioneiros do Feijão Cru em registros paroquiais nos seus povoados de origem, basicamente as capelas da Serra da Ibitipoca, somente até bem antes da data que historiadores antigos consideram como de nossa fundação. E mais dúvidas se podem acrescentar quando encontramos filhos dos primeiros moradores que, ao se casarem, declararam terem nascido no nosso Feijão Cru.

Mas a incúria de alguns detentores de cargos públicos do passado obriga-nos a repetir a palavra “infelizmente”. Porque o descaso deles permitiu que desaparacessem  livros paroquiais que nos contariam a história completa deste recanto da Mata.

Verdade é que, documentado em nosso território desde o início do século dezenove, o homem livre conseguira, finalmente, em 1854, realizar o sonho de organizar-se em uma sociedade. Nascia, então, no território da Vila de São Manoel do Pomba, à qual pertenceu até 10 de setembro de 1851, o Feijão Cru, pela Lei 666 de 27 de abril de 1854.     E a 20 de janeiro de 1855, antes de completados nove meses da promulgação da Lei, o presidente da câmara municipal da Vila de Mar de Espanha deu posse aos nossos primeiros representantes, presididos pelo senhor Manoel José Monteiro de Castro, o mais velho dentre os eleitos para a Câmara de Leopoldina, sendo coadjuvado na administração pelos senhores Francisco José de Freitas Lima, João Gualberto Ferreira Brito, José Joaquim Ferreira Monteiro de Barros e José Vieira de Resende e Silva.

josé luiz machado rodrigues

nilza cantoni