Há 132 anos o jornal O Leopoldinense publicava anúncio de um internato para meninas no então distrito de Rio Pardo:
Outras escolas funcionaram no antigo distrito de Leopoldina, incluindo-se as Aulas Públicas que estiveram a cargo do professor José Maria Tesson, nomeado interinamente para o cargo em abril de 1895:
Ao final daquele ano o professor Tesson continuava à frente da escola, conforme indica a Ata dos Exames publicada n’O Leopoldinense de 22 de dezembro:
Neste resgate das informações existentes sobre a educação em Leopoldina, não foi possível elaborar uma relação exaustiva dos professores que atuaram no município. Para suprir parcialmente esta falha, criamos a tag professor ou professora + nome para todos aqueles que localizamos. Desta forma será mais fácil referenciá-los e localizá-los nas diferentes postagens.
Na maioria das vezes não foram encontrados esclarecimentos, como ocorreu com a notícia abaixo.
No mesmo mês e ano foi publicado no jornal O Mediador:
Desta forma ficou definida a localização da Escola no distrito de Rio Pardo, atual município de Leopoldina.
Os sobrenomes Barbaglio, Minicucci, Pierotti, Prosperi e Vitoi são de imigrantes procedentes da Toscana que viveram no município de Leopoldina.
Da Sardegna temos Agus, Cadeddu, Cappai, Cucco, Duana, Fanni, Fois, Gessa, Lai, Mona, Picci, Porcu, Locci, Vargiolo e Zotti que foram encontrados em várias partes do território de Leopoldina.
Dois aspectos nos levam a reunir estas famílias. O primeiro é que parte delas se radicou no território de um distrito que hoje é o município de Argirita. O outro motivo é que os casamentos entre descendentes nos apontaram pelo menos um caso de vínculo nascido ainda na Italia, quando migrantes sardos se instalaram na Toscana e só mais tarde passaram ao Brasil.
O recenseamento realizado no Brasil em 1872, por ordem de Dom Pedro II, encontrou 3.184.099 habitantes na província de Minas Gerais.
O levantamento foi realizado de acordo com o Lei nr 1829, de 9 de setembro de 1870, que estabeleceu, em seu Art. 1º:
“De dez em dez annos proceder-se-ha ao recenseamento da população do Imperio”.
Em Minas Gerais, conforme se observa no recorte abaixo, a contagem só foi iniciada em 1 de agosto de 1873.
Em Leopoldina, a organização dos serviços esteve a cargo do Vigário José Francisco dos Santos Durães e de Francisco José de Freitas Lima que, conforme se verifica na nota abaixo, substituíram os primeiros nomeados por não residirem na Paróquia.
No Relatório apresentado pelo vice-presidente da província à Assembleia Legislativa em 1874, foram informados os seguintes dados de Leopoldina:
Nos quadros acima estão incluídos todos os distritos que então pertenciam a Leopoldina, quais sejam: Madre de Deus do Angu (hoje pertencente a Além Paraíba); Meia Pataca (hoje o município de Cataguases); Laranjal (hoje município); Pirapetinga (hoje município); Conceição da Boa Vista (atualmente distrito de Recreio); e, Bom Jesus do Rio Pardo (atual município de Argirita).
Na Paróquia de São Sebastião da Leopoldina o resultado foi o seguinte:
LIVRES
BRANCOS
%
CABOCLOS
%
OUTROS
%
4.835
2.747
56,8
68
1,4
2.020
41,8
O quadro caboclos refere-se a índios, independente de serem filhos de índios com brancos ou só de índios.
LIVRES
BRASILEIROS
%
ESTRANGEIROS
%
4.835
4.636
95,8
199
4,2
Entre os estrangeiros, destacamos:
8 alemães, sendo 2 homens casados, 3 homens solteiros, 1 mulher casada, 1 mulher solteira e 1 mulher viúva;
6 espanhóis, sendo 1 homem casado, 4 homens solteiros e 1 homem viúvo;
Os demais 159 estrangeiros são de outras nacionalidades, especialmente portugueses.
LIVRES
HOMENS
%
MULHERES
%
4.835
2.587
53,5
2.248
46,5
ANALFABETOS
HOMENS
%
MULHERES
%
3.386
1.724
50,9
1.662
49,1
ESTUDANTES
HOMENS
%
MULHERES
%
160
97
60,6
63
39,4
Entre a população livre, foram encontrados:
5 homens e 3 mulheres cegas, 2 homens e 1 mulher surdos-mudos, 15 homens e 9 mulheres aleijados, 2 homens e 1 mulher demente e 1 homem alienado, o que representa 0,8% do total de pessoas livres.
ESCRAVOS
BRASILEIROS
ESTRANGEIROS
HOMENS
MULHERES
3.100
2.864
236
1.649
1.451
Todos os escravos se declararam analfabetos. E entre eles foram encontrados:
2 homens e 1 mulher cega, e 1 mulher surda-muda, 7 homens e 3 mulheres aleijados, 2 homens dementes e 1 homem alienado, representando 0,5% do total de escravos.
À exceção dos estrangeiros de origem germânica, todos os demais se declararam católicos.
Foram encontradas 481 casas, sendo 477 habitadas e 4 desabitadas.
CENSO REALIZADO EM 31.12.1890
Distribuição Populacional:
HABITANTES
ESTRANGEIROS
Homens
Mulheres
BRASIL
14.333.915
231.731
119.581
MINAS GERAIS
3.184.099
31.135
15.652
LOCAL
HABITANTES
ESTRANGEIROS
ANALFABETOS
H
M
T
São Sebastião de Leopoldina
13.942
285
146
431
11.356
Nossa Senhora da Piedade
4.344
4
3
7
3.385
Santo Antônio de Tebas
2.226
61
42
103
1.824
N.S.Conceição da Boa Vista
10.178
223
53
276
8.580
Bom Jesus do Rio Pardo
4.841
45
28
73
4.157
TOTAL DE LEOPOLDINA
35.531
618
272
890
29.302
ANALFABETISMO
SABEM LER E ESCREVER
BRASILEIROS
ESTRANGEIROS
HOMENS
MULHERES
TOTAL
HOMENS
MULHERES
TOTAL
BRASIL
1.237.494
684.482
1.921.976
148.360
50.223
198.583
MINAS
220.975
100.428
321.403
8.619
1.382
10.001
S.SEBASTIÃO
1.485
835
2.320
223
43
266
N.S.PIEDADE
610
336
946
* 12
* 1
* 13
S.A.TEBAS
244
153
397
5
0
5
BOA VISTA
1.070
417
1.487
103
8
111
RIO PARDO
430
200
630
50
4
54
Total Município
3.839
1.941
5.780
393
56
449
* Há um erro flagrante, pois a população estrangeira no distrito era de 4 homens e 3 mulheres, conforme quadro anterior.
NÃO SABEM LER E ESCREVER
BRASILEIROS E ESTRANGEIROS
POPULAÇÃO
HOMENS
MULHERES
TOTAL
TOTAL
% ANALFABETOS
BRASIL
5.852.078
6.361.278
12.213.356
14.333.915
85,2
MINAS
1.397.867
1.454.828
2.852.695
3.184.099
89,6
S.SEBASTIÃO
5.779
5.577
11.356
13.942
81,5
N.S.PIEDADE
1.718
1.667
3.385
4.344
77,9
S.A.TEBAS
912
912
1.824
2.226
81,9
BOA VISTA
4.408
4.172
8.580
10.178
84,3
RIO PARDO
2.135
2.022
4.157
4.841
85,8
Total Município
14.952
14.350
29.302
35.531
82,5
ANALFABETISMO ENTRE OS ESTRANGEIROS
LOCAL
POPULAÇÃO
ALFABETIZADOS
ANALFABETOS
H
M
T
H
M
T
H
M
T
%
S.Sebastião
285
146
431
223
43
266
62
103
165
38,2
N. S.Piedade *
4
3
7
12
1
13
8
2
10
142,8
S. A.Tebas
61
42
103
5
0
5
56
42
98
95,1
N.S.C.Boa Vista
223
53
276
103
8
111
120
45
165
59,8
B.J.Rio Pardo
45
28
73
50
4
54
5
24
29
39,7
LEOPOLDINA
618
272
890
225
216
441
49,5
* Conforme dito acima, há um erro flagrante no mapa do IBGE quanto ao número de estrangeiros alfabetizados.
Desde nosso primeiro contato, em dezembro de 2001, um tema é freqüente nas conversas que tenho mantido com Zélia Cassa: o motivo que trouxe os Alves Araújo, Ribeiro Soares e demais parentes para os sertões do rio Pardo.
Sempre concluímos que serão necessários mais alguns anos de pesquisa para encontrarmos a resposta. Por essa razão, a Zélia pediu-me para abordar a proto-história da região, pois os motivos de seus parentes podem ter sido os mesmos que levaram outros homens livres a habitar aquela região.
Falar dos primórdios implica, necessariamente, voltar ao século anterior ao do início do seu povoamento. De modo geral, os leitores menos avisados remetem a história de toda a Minas Gerais para o século do ouro, esquecendo-se que o metal deixou de apresentar-se, em grande escala, poucos anos depois de iniciada a “corrida do ouro”. Uma autora que bem sintetizou a realidade mineira do século XVIII foi a Professora Laura de Mello e Souza, em “Opulência e Miséria das Minas Gerais”, 1981, pela Editora Brasiliense. Diz a autora, nas páginas 47 e 48:
“As Minas do século XVIII foram uma capitania pobre. Constituíram exceção alguns senhores opulentos de lavras…
…a maioria das grandes fortunas devia sua opulência mais ao comércio do que à atividade mineradora.
[…] O comércio de muares e cavalares, que articulava os núcleos mineradores com os campos distantes do sul da Colônia…também deu origem a fortunas consideráveis, o tropeiro tornando-se, assim, um elemento de destaque no cenário social e econômico das Minas. Não era, pois, o dono da botica ou do pequeno armazém que conseguia uma vida farta e desprovida de preocupações em torno da sobrevivência, mas os grandes atravessadores de gêneros, ou, como são mais comumente chamados em nossos dias, os intermediários”.
A origem do topônimo Feijão Cru é creditada a tropeiros que estariam às margens de um córrego, sem, contudo, se fixarem datas ou mais algum detalhe que permitisse apurar melhor o fato. Pela análise de dados posteriores, acreditamos que tais tropeiros, eternizados pela lenda, estariam classificados em uma categoria um tanto distinta daqueles abonados intermediários de gêneros. É ainda a Professora Laura de Mello e Souza que nos apresenta uma descrição que muito se aproxima do que temos apurado em nossas pesquisas. Diz ela na página 54, da obra citada:
“…quando muito pouco restava do ouro aluvional…entrou em cena a pequena empresa, a faiscagem que se arrastou por mais de um século, a figura do mineiro pobre sendo parte integrante da paisagem de Minas”.
Este morador das Minas constituiu, em grande parte, o efetivo das tropas que desbravaram as então “áreas proibidas”. Quando o Governador Luiz da Cunha Menezes – “o fanfarrão minésio” das “Cartas Chilenas” – expediu os bandos exploratórios para os Sertões do Leste, abriu oportunidade de trabalho para muitos homens nas tropas que acompanharam Pedro Afonso Galvão de São Martinho em suas duas investidas por aquela área, até então de acesso proibido.
Por ocasião da segunda diligência, São Martinho escreve carta ao Governador, em que fica claro ter havido um plano de ocupação daqueles sertões. É Celso Fallabela quem nos traz o conteúdo parcial da carta, em “Os Sertões do Leste – Achegas para a história da Zona da Mata”, página 28, da segunda edição particular do autor, 2001:
“…no primeiro ano de ocupação apenas quarenta pessoas haveriam de acomodar-se nas novas terras, afora duzentos escravos. As terras seriam divididas entre aqueles que quisessem explorá-las”.
Acrescente-se, ainda, que no decorrer da ocupação e com vistas a melhor proteção contra invasores, o Governo mineiro instituiu ainda um incentivo para os moradores do Centro de Minas, que se fixassem nos extremos de seu território: seriam dispensados de tributação por um período de até 10 anos.
Este conjunto de fatores foi o móvel para as inúmeras Cartas de Sesmarias, expedidas nos últimos anos do século XVIII e primeiros dos oitocentos. Temos tido oportunidade de analisar a trajetória de alguns daqueles beneficiados, concluindo que, não raras vezes, o sesmeiro jamais ocupou as terras recebidas. Pelo contrário, muitos dividiram suas posses e as revenderam para outros moradores, seus vizinhos, até então radicados nas Comarcas de Rio das Mortes e de Vila Rica.
A queda do poder econômico nas Minas, que já havia se acentuado desde meados do século anterior, levou a população a viver de forma quase inconcebível. Em “Os Sertões do Leste – Áreas Proibidas”, obra de Paulo Mercadante pela Zahar Editores, de 1973, encontramos, na página 24, um depoimento relativo ao estado de uma granja que fora de média importância, revisitada nos primeiros vinte anos do século XIX:
“A casa era uma barraca miserável, com muros de taipa de barro, sem vidraça, roída pelo tempo e mal defendida contra as chuvas. O chão era a terra úmida e negra, sem ladrilhos nem sobrado, saturada de imundícies e endurecida pelo perpassar dos moradores, homens e cevados, que viviam numa promiscuidade repugnante. Por camas, enxergas duras para os amos, um couro ou uma esteira sobre o chão para os servos. A ninhada das crianças alegrava-se seminua, esfarrapada e descalça, as mulheres enfezadas e pobremente vestidas, e o chefe da casa, indolentemente embrulhado na capa, com os socos nos pés, vigiava o trabalho dos negros, lavando o cascalhinho com a sempre mantida esperança da descoberta de um depósito abundante de ouro”.
Algumas pessoas poderão surpreender-se com tal descrição, por terem se acostumado a ler/ouvir apenas a versão dourada ou cor-de-rosa da história de Minas Gerais. Em nossas pesquisas, de há muito concluímos que a vida na Província era extremamente difícil, facilitando para aquelas famílias a decisão de enfrentar a mata com todos os seus perigos. Aparentemente qualquer coisa seria melhor do que deixar-se levar pela degeneração que atingia fazendas e fazendeiros, faiscadores ou comerciantes. Jovens solteiros empregavam-se, com alguma freqüência, em tropas que demandavam o interior das Gerais, no comércio de gêneros de subsistência. Chefes de família também o faziam, muitas vezes, por verem na tropa o único trabalho que garantiria o sustento de sua prole miúda. E quando um parente distante os vinha visitar, propagando maravilhas das terras que estavam à venda nas “áreas proibidas”, muitos fazendeiros incorporavam-se em alguma tropa que fosse trilhar aquelas paragens. Durante alguns meses vasculhavam o território, analisavam as condições e realizavam a compra. Voltavam, então, ao seu lugar de origem, vendiam os bens impossíveis de serem transportados e empreendiam nova jornada acompanhados da família, escravaria e alguns pertences. Tivemos oportunidade de ler um relato sobre umas dessas jornadas que, infelizmente, não trazia indicação que nos permitisse saber quem foi seu autor e para qual região da mata levou a família. A exemplo de muitos outros registrados em livros de história, aquele grupo se deslocava durante 6 horas por dia, em média, quando então procurava local adequado para “assentar pouso”. Inexistindo algum povoado nas proximidades, os homens montavam frágeis barracas que lhes serviriam de abrigo, por uma noite apenas, e as mulheres cuidavam da alimentação de todos. Dia seguinte recomeçavam a jornada, sempre um pouco antes do nascer do Sol. Algumas vezes desviavam-se do roteiro que nos pareceria mais curto, para encontrarem abrigo em casa de algum parente que tivesse migrado anteriormente. Temos visto casos em que, nestas paradas, acertaram casamento de algum filho com alguém da casa que os hospedava.
Parece-nos que foi essa a trajetória de um dos povoadores de Leopoldina. Até onde nos foi possível apurar, em 1826 ou 27 o “Comendador” Manoel Antônio de Almeida acompanhou uma tropa através da hoje conhecida Zona da Mata Mineira. E, nas margens do Feijão Cru, adquiriu as terras onde formou a Fazenda do Feijão Cru Pequeno.
Em setembro de 1828 Manoel Antônio de Almeida levou a família para a nova morada. Parece-nos que, em viagem, teria passado pelo atual município de Astolfo Dutra onde ficou um de seus filhos. Também consta sua assinatura, como testemunha, na Escritura de doação do patrimônio de Santa Rita do Meia Pataca, em maio de 1828, significando, pois, que ele ali estivera no período em que acompanhou a tropa ou que estava organizando a moradia para ir buscar a família. O fato é que, conforme registram alguns historiadores antigos, a vinda dos Almeidas, dos Britos e dos Netos para o Feijão Cru desencadeou uma grande movimentação de parentes, até então radicados na Serra da Ibitipoca. Entre o momento da aquisição das terras e o Primeiro Registro de Terras Públicas – 1856, inúmeras foram as divisões de propriedades realizadas por aqueles primeiros moradores.
O primeiro documento a se referir aos habitantes do Feijão Cru é o Mapa de Habitantes de 1831. Nessa época os Alves de Araújo e os Ribeiro Soares ainda não são identificados por ali. Acreditamos mesmo que os patriarcas destes ramos ainda residiam com suas famílias na região de Ibitipoca, conforme demonstramos para a Zélia, através do Mapa de Habitantes da então Capela da Senhora das Dores do Quilombo, Termo da Vila de Barbacena. Da mesma forma não os pudemos encontrar nos Mapas de Habitantes de 1838 e de 1843, que se referem ao atual território dos municípios de Além Paraíba, Argirita, Cataguases, Guarará, Leopoldina, Mar de Espanha e Santo Antônio do Aventureiro, bem como uma parte de São João Nepomuceno. Ainda estamos analisando as famílias que residiam no distrito da Santíssima Trindade do Descoberto, em 1839, pendente ainda de confirmação de alguns sobrenomes.
Para a década de 50 dos oitocentos, quando a oralidade familiar informa que já viviam no território do Feijão Cru, estamos comparando os Registros de Terras da Zona da Mata com os da Serra da Ibitipoca, sem ter ainda encontrado alguns deles. Apesar dos livros paroquiais de grande parte da região já terem sido por nós pesquisados, pretendemos fazer uma nova consulta aos que se encontram na Igreja Matriz de Mar de Espanha. Sem determinar o período em que migraram para a região, seria irresponsabilidade nossa manifestar opinião sobre o motivo que os trouxe. Em nossos estudos, temos por hábito analisar a história antiga de Leopoldina dividindo-a em três etapas. Do início do povoamento a 1850, temos a chegada do homem livre e a organização social baseada na empresa familiar, com desmatamento e agricultura diversificada para subsistência. A partir daí e até 1880, observamos o crescimento acelerado da mão-de-obra escrava, na maioria dos casos, em fazendas dedicadas ao plantio do café. No período seguinte, limitando-se à virada para o século XX, a monocultura do café vai sendo paulatinamente substituída por outras atividades produtivas, no mais das vezes, em função do melhor conhecimento demonstrado pelo imigrante no trato com a terra, já que aqueles últimos anos do século XIX veriam aumentar enormemente a população de origem européia na região.
Dessa forma, acreditamos que os ancestrais de nossa amiga Zélia tenham migrado para o Rio Pardo no segundo período, aquele em que a economia do lugar estava em franco crescimento. Não tendo encontrado ali o pouso ideal, continuaram a marcha em busca de lugar mais adequado, encontrando, no sul do Espírito Santo, a conjugação de fatores que os atraiu e os fixou.
Zélia está preparando um livro contando a saga de sua família. Estamos colaborando com dados históricos e genealógicos sobre os que viveram em nosso território. São dois grupos interligados que viveram no Rio Pardo:
1 – João Alves de Araújo casado com Inácia Cândida de Jesus, pais de:
Joaquim Marques de Araújo
Cândido Alves de Araújo
João Alves de Araújo Júnior
João Batista Alves de Araújo nascido por volta de 1852 em Argirita, MG
2 – Antonia Maria de Jesus viúva de José Ribeiro Soares, filhos:
Capítulo da História de Argirita publicado em 2003.
Antes da organização do distrito, o povoado tinha sua representação no padre que dava assistência aos moradores e no Juiz de Paz, eleito em assembléia da unidade administrativa a que pertencesse o território.
Dos padres trataremos em outro capítulo. Para identificar os primeiros Juizes de Paz seria necessário encontrar o livro do cartório notarial de Rio Pomba, sede administrativa da época. Infelizmente, segundo informações que nos foram passadas pela Prefeitura de Rio Pomba, um incêndio destruiu o acervo relativo ao período que nos interessa.
O primeiro livro cartorial do Distrito do Espírito Santo abrange os anos de 1839 a 1845. Encontra-se no Arquivo da Prefeitura Municipal de Mar de Espanha, muito danificado, com pouquíssimas páginas em condições de serem lidas. Outra fonte, o primeiro livro cartorial do Distrito do Rio Pardo, iniciado a 19.02.1841, pertencente ao acervo do Arquivo da Prefeitura de Leopoldina, em fase de restauração. Em nenhum dos dois livros foram registradas informações sobre os Juizes de Paz em exercício até 1851.
Entre abril de 1841 e julho de 1851, estando o Rio Pardo subordinado a São João Nepomuceno, no Arquivo da Prefeitura Municipal daquela cidade deveriam ser encontradas as Atas de Assembléias Eleitorais. Surpreendentemente porém, nada foi localizado até o momento que dissesse respeito a eleições deste distrito. Desta forma, a informação mais antiga que conseguimos apurar, através de documento encontrado no Arquivo Público Mineiro, é a que trata da Qualificação de Eleitores do Rio Pardo em fevereiro de 1851. Pela ata ficamos sabendo que o Juiz de Paz era Antônio Bernardes de Carvalho e que os eleitores escolheram para a formação da mesa os senhores João Evangelista Coimbra, Custódio Dias Moreira e Antônio Júlio da Paixão.
Morador do 3º quarteirão, Antônio Bernardes de Carvalho nasceu por volta de 1800, era lavrador, e em 1853 estava casado com Maria Bárbara Nunes, mãe de Felisberto Rodrigues Pereira Brandão. De um relacionamento anterior com Ana Maria da Assunção, Antônio Bernardes tivera os filhos Carlos José Jacinto de Carvalho, Antônio Alves de Oliveira Carvalho e Maria Antônia de Jesus, esposa de Felisberto Rodrigues Pereira Brandão.
João Evangelista Coimbra era solteiro em 1851, carpinteiro de profissão, nascido por volta de 1818, residente no 4º quarteirão de Rio Pardo. Segundo escritura de compra e venda de bens de raiz encontrada no Livro 3 do Cartório de Notas de Argirita 1862-1867, era filho de Joaquim Manoel de Coimbra e Teodora Messias Candida de Assis, provavelmente os primeiros moradores do território onde mais tarde foi criado o distrito de Tebas. Segundo algumas fontes documentais, o pai de João Evangelista seria o Manoel Joaquim de Tebas que deu origem ao nome do distrito. .
Custódio Dias Moreira nasceu em 1798, era lavrador, residente no 6º quarteirão, casado. Assim como a família Coimbra, os Dias Moreira foram numerosos na região.
Antônio Júlio da Paixão foi negociante, nasceu por volta de 1815 e em 1851 residia no 1º quarteirão, casado. É um dos nomes mais freqüentes entre os chamados “homens bons” que dominaram a política do Rio Pardo segundo nos mostram os documentos.
É sugestivo observar que os três mais votados para compor a mesa eram residentes em quarteirões diferentes. Considerando que João Evangelista Coimbra obteve 56 votos e o seu quarteirão contava com 28 eleitores, que Custódio Dias Moreira teve o mesmo número de votos e residia num quarteirão com 31 eleitores, e que Antônio Júlio da Paixão ficou com 40 votos sendo de um quarteirão com 14 eleitores, julgamos válido supor que os três tinham influência política também fora dos limites de sua própria jurisdição. Lembremo-nos que a expressão “curral eleitoral”, de sentido tão pejorativo hoje em dia, teve origem na liderança exercida por moradores sobre seus vizinhos de quarteirão.
Já em 1853, segundo nos informa Celso Falabella, Inácio Nunes de Moraes foi um dos eleitos para o cargo de Juiz de Paz do Rio Pardo. No período que vai de julho de 1851 a abril de 1854, o distrito esteve subordinado a Mar de Espanha e as Atas Eleitorais deveriam estar nos livros daquele município. A exemplo do ocorrido em São João Nepomuceno, também ali não logramos êxito nas buscas. Sabe-se que naquela época eram 2 os eleitos para o cargo. No mesmo período em que Celso Falabella cita Inácio Nunes de Moraes, sabemos que Antônio Júlio da Paixão exercia o mesmo cargo. Desconhecemos o número de votos de cada um e, conseqüentemente, qual deles era o 1º e o 2º.
É a partir de 1854 que se torna mais fácil acompanhar a história do Rio Pardo porque, subordinado a Leopoldina, teve a maioria de seus registros preservados pelo Arquivo da Prefeitura daquela cidade. Ainda assim encontraremos um intervalo sem documentos, já que em 1868 a cidade de Mar de Espanha requisitou e conseguiu administrar Rio Pardo por algum tempo.
Resumindo o que pudemos apurar temos então os seguintes detentores do cargo de Juiz de Paz do Distrito de Bom Jesus do Rio Pardo, de acordo com o ano em que foram empossados:
1851
Antônio Bernardes de Carvalho
1853
Antônio Júlio da Paixão
Inácio Nunes de Moraes
1857
1º Gonçalo de Souza Lima
2º Cândido José de Barros
3º Inácio Nunes de Moraes
Antônio Júlio da Paixão toma posse em substituição a Gonçalo de Souza Lima
1859
José Vieira da Silva, eleito por Dores do Monte Alegre
Manoel Dornelas da Costa, eleito por Dores do Monte Alegre
1860
José Furtado de Mendonça, eleito por Dores do Monte Alegre
1861
Firmino Antônio de Lima
1862
1º Antônio Júlio da Paixão
2º Francisco Antônio da Cunha
3º Cândido José de Barros
4º Joaquim José Coimbra
José Joaquim Barbosa, especial de Dores do Monte Alegre.
1863
1º Albino Silvino de Lima e Melo
4º Joaquim Soares Ferreira, eleito por Dores do Monte Alegre
1865
1º Emygdio José de Barros
2º Francisco Antônio da Cunha
3º Antônio Bernardes de Carvalho, eleito por Dores do Monte Alegre.
4º João Antônio Martins
1º Felisberto Rodrigues Pereira Brandão, especial de Dores do Monte Alegre.
2º José Vieira da Silva, especial de Dores do Monte Alegre.
1866
1º Jacob Dornelas da Costa
3º Manoel Luiz Pereira
4º José Antônio Nunes de Moraes, eleito por Dores do Monte Alegre.
1867
Francisco Antônio da Cunha
1877
Francisco Rosa Cândido
1881
1º Joaquim Pereira de Sá
4º Antônio Hermogêneo Dutra
1883
1º Valério de Souza Meireles
3º Joaquim Teixeira de Meireles
4º Antonio Cardoso Brochado Júnior
1888
Antônio Hermogêneo Dutra
1891
José Maria Furtado de Souza
1892
José Teixeira Meireles
1894
1º Manoel Marinho da Cunha
2º Jerônimo Fernandes das Chagas
Muitos deles serão citados em outros capítulos por sua participação em outras atividades ou por fazerem parte de famílias melhor estudadas. Faz-se necessário acrescentar, ainda, as seguintes autoridades:
Antônio Bernardino Damasceno tomou posse como Fiscal do distrito a 16.02.1883;
Antônio Rodrigues de Barros, indicado para Fiscal do distrito a 30.07.1877;
Antonio Júlio da Paixão tomou posse como Vereador em Leopoldina a 09.04.1862 e como 3º substituto de Juiz Municipal, também em Leopoldina, em 05.03.1866;
João Antonio da Costa Coimbra, Vereador empossado em Leopoldina a 07.01.1881;
João Evangelista Coimbra, Vereador suplente empossado em Leopoldina a 09.10.1862;
Joaquim Pereira de Sá, Vereador com posse em Leopoldina a 07.01.1887
Localizar as antigas propriedades de uma região é tarefa um tanto espinhosa. A documentação existente abrange um vasto território e poucas são as referências que nos permitem identificar os acidentes geográficos que serviram de limites para as antigas fazendas.
Exemplo disso foi a pesquisa que realizamos a partir das declarações dos proprietários em 1856 do Distrito de Bom Jesus do Rio Pardo. Utilizando e comparando-as com a cartografia disponível, acrescentando referências de livros cartoriais e Leis de criação de distritos, chega-se ao seguinte esquema.
RIO PARDO – É o mais importante do município de Argirita e seu nome é mencionado desde a primeira metade do século dezenove. Embora alguns de seus tributários tenham sido considerados, em épocas distintas, como tendo o mesmo nome, utilizamos para este trabalho o percurso que serviu de referência na criação do Curato em 1839. Ou seja, nasce ao sul do município e o atravessa no sentido sul/norte indo desaguar no rio Pomba depois de passar pelo distrito de Piacatuba. Pela esquerda eram conhecidos o córrego Tijucal, o ribeirão São Bento do sul, o córrego da Prata, o antigo córrego Boa Vista hoje chamado Azul, o córrego Lustosa e outros já no distrito de Piacatuba. À direita eram mencionados o córrego Santa Maria, e o Monte Redondo cuja foz marca a atual divisa com Piacatuba e Tebas.
Muitos foram os desbravadores dos sertões do rio Pardo que formaram fazendas às suas margens. Alguns serão citados pelo nome da fazenda. Os demais, dos quais não conseguimos descobrir nomes de propriedades, foram os seguintes: Antonio de Souza Lima, Antonio Lopes de Oliveira, Antonio Luiz de Souza Rosa, Damazo Franco de Azevedo, Domingos Ferreira de Souza, Domingos Marcelino da Silva, Eduardo de Souza Lima, Feliciano José Barbosa, Felisberto de Souza Monteiro, Florentino José Martins, Francisco André de Vasconcelos, Francisco José de Brito, Francisco José Furtado, Francisco José Gonçalves da Veiga, Francisco José Teixeira, Francisco Nunes de Moraes, Jeronimo José Nogueira, João Eduardo Rodrigues Vale, João Lopes de Arruda, Joaquim Antonio dos Santos, Joaquim Fortunato Lemos, Joaquim José de Oliveira, José Alves do Vale, José Custódio de Souza, José Fernandes de Souza, José Lopes de Oliveira, José Mariano de Siqueira, José Mendes Ferreira, Luiz Antonio de Souza, Manoel Gomes Pinto Braga, Manoel José Gonçalves, Manoel José Teixeira, Manoel José Teixeira Júnior, Manoel Ribeiro Soares, Margarida Francisca de Souza, Miguel da Costa Ferreira, Pedro Alves do Vale, Pedro da Silva Cintra, Rita Ferreira Leite, Rita Guilhermina do Vale, Rita Guilhermina do Vale, Romualdo Pereira Santiago, Rosa Maria, Serafim Rodrigues Ferreira, Severino José Medina, Tereza Clara de Jesus, Vicente Joaquim de Paula.
Sabemos que alguns destes nomes são de moradores dos atuais distritos de Tebas e Piacatuba e foram aqui relacionados por estarem subordinados ao Distrito de Bom Jesus do Rio Pardo até 1856.
Área central do território de Argirita
RIBEIRÃO SÃO BENTO – Encontramos três cursos d’água de mesmo nome. O primeiro localizado à leste da área urbana de Argirita, dentro de seu território permanece pois que deságua no Monte Redondo. O segundo nasce próximo ao primeiro, na divisa entre Argirita e Tebas, estando integralmente em território daquele distrito. Entre as fazendas encontradas à margem deste segundo ribeirão de São Bento destacam-se a Santiago e a Concórdia, ambas já existentes em 1856. O terceiro ribeirão São Bento nasce na divisa entre Argirita e Maripá e toma o rumo norte para desaguar no Rio Pardo bem próximo da área urbana de Argirita. Para este trabalho é identificado com São Bento do Sul.
RIBEIRÃO SÃO JOÃO – Na Carta de 1981 recebe este nome o ribeirão que nasce na divisa entre o atual Município de Maripá e o distrito de Taruaçu e segue paralelo à Serra da Prata, continuando depois rumo ao norte, passando pelo território de Ituí, atravessando Piacatuba, agora em direção oeste, para deságuar no rio Novo. Na Carta de 1977 este mesmo ribeirão só recebe o nome de São João ao entrar em território de Piacatuba, tendo antes o nome de Jatobá. A Lei 947 de 08.06.1858, que trata da criação do Distrito de Taruaçu, informa que é o Ribeirão São João o marco divisório entre aquele distrito e o de Bom Jesus do Rio Pardo, ficando para o antigo Dores do Monte Alegre todas as suas vertentes.
Nas cabeceiras deste ribeirão Ana Maria de Jesus, viúva de Manoel Alves do Vale e cunhada de Domingos Alves do Vale, conservava para si e seus filhos uma pequena propriedade que em 1863 estava dentro dos limites do Distrito de Dores. Outros antigos proprietários foram Antonio Nunes de Moraes, Antonio Pinto de Faria, Francisco Alves Moreira, Francisco Gomes da Silva, Francisco José Teixeira, Francisco Manoel Pereira, Joana Maria de Jesus, João Rodrigues de Souza, João Soares de Almeida, Joaquim Francisco da Silva, Joaquim Gomes Curcino, Joaquim Gomes da Silva, José Gomes da Silva, José Joaquim Barbosa, José Manoel Pereira, José Nunes de Moraes, José Vieira da Silva, Manoel Gonçalves de Castro, Manoel Ribeiro dos Santos. A maioria incluída entre os moradores do Distrito de Dores do Monte Alegre na época de sua criação.
RIBEIRÃO TAMBOR – Na Carta de 1981 aparece como Córrego deste nome apenas entre a nascente na divisa de Maripá com Taruaçu, seguindo rumo norte e passando dentro da área urbana de Taruaçu, daí em diante recebendo o nome de Córrego Grande com o qual permanece até deságuar no rio Novo, após atravessar o povoado de Ituí. Na Carta de 1977 tem o nome Tambor da nascente até a foz e marca a divisa oeste do distrito de Taruaçu. A Lei 947 de 08.06.1858 nomeia como ribeirão do Tombador este marco divisório de Taruaçu, informando que ao distrito pertencem todas as suas vertentes, da nascente no ribeirão Espírito Santo no lugar chamado Contendas até a foz no rio Novo.
Entre as fazendas nele localizadas, citamos como antiga a propriedade de nome Grota dos Nunes que pertenceu aos Nunes de Moraes. Em suas margens localizavam-se ainda as propriedades de Custódio Gomes da Silva, Florentino José Martins, Joaquim Pereira de Almeida, Luiz Antônio de Oliveira Lopes e Marcelino Nunes Ferreira. Outros prováveis fazendeiros das margens do Tambor foram Manoel Gregório do Nascimento e seu filho Marciano Gregório do Nascimento.
CÓRREGO DA PRATA – Paralelo à Serra de mesmo nome onde nasce, pertence integralmente ao território de Argirita, desaguando no Rio Pardo dentro da área urbana do município. Provavelmente existiu um outro córrego de mesmo nome e que cortava a sesmaria de Antônio José Gonçalves, localizada próximo à atual divisa entre Argirita, Maripá e Senador Côrtes.
CÓRREGO PEDRAS BRANCAS – Nasce na divisa entre Argirita, Taruaçu e Maripá, caminhando rumo sul para desaguar no Córrego das Contendas também pertencente ao município de Maripá. Ali foram proprietários Antônio Lourenço da Trindade e Manoel Inácio da Costa.
CÓRREGO TIJUCAL – Descrevendo curvas diversas ao sul de Argirita, pertence integralmente a este município e tem vertentes próximas ao ribeirão do Angu, na região de Senador Cortes e Santo Antônio do Aventureiro. Às suas margens foram proprietários: Floriano Lopes, Francisco Moreira da Silva, João Lopes dos Santos, Manoel Ignacio de Abreu, Manoel Lopes Laurindo, Antonio Lopes Monteiro, Manoel Francisco Martins e Mateus Antônio de Lima.
CÓRREGO VARGEM GRANDE – Nasce na divisa entre Aventureiro e Argirita e toma o rumo noroeste para desaguar em ribeiros no Monte Redondo, dentro do território de Argirita.
MONTE REDONDO – Acidente geográfico citado pela primeira vez em documento de 1829, ainda conserva o nome. Aparece como referência para o registro das terras de José Lopes Soares e Luiz Antônio da Silveira em 1856. Nomeia também o córrego que recebe as águas do São Bento e do Vargem Grande, indo desaguar no rio Pardo já na divisa entre Piacatuba, Tebas e Argirita.
ANTIGAS FAZENDAS
BOA ESPERANÇA – Grande propriedade que estava dividida entre diversos fazendeiros em 1856, entre eles Antônio da Silva Cunha, João José Barbosa e José Domingos dos Santos, Localizava-se próximo à atual divisa de Ituí e Piacatuba.
BOA VISTA – Nome citado por Cândida Francelina, Francisco Teixeira Braga, José Alves do Vale, Manoel Rodrigues de Oliveira e Maria Francelina. Trata-se de sesmaria que pertenceu a Domingos Alves do Vale e estava bastante dividida em 1856, sendo território do atual distrito de Taruaçu.
BOM SUCESSO – Outra antiga sesmaria ao sul do antigo Curato de Nossa Senhora das Dores do Monte Alegre, dividida pelo menos entre José Alves de Souza, Manoel Furtado de Mendonça e Miguel de Souza Monteiro.
CABECEIRAS DO PREPETINGA – Duas pequenas propriedades com este nome, localizadas na nascente do rio Pirapetinga, pertenceiam a José Lourenço do Carmo e Maria Antônia de Jesus.
CABECEIRAS DO RIO PARDO – Nome escolhido por Francisco Nunes de Moraes e Tomaz de Aquino Corrêa, proprietários de 17 e 20 alqueires respectivamente, localizados à sudeste do arraial do Bom Jesus do Rio Pardo.
CABECEIRAS DO SÃO BENTO – Sítio às margens do Córrego São Bento, oriundo da sesmaria concedida a Felisberto da Silva Gonçalves em 1813, passou a seu parente Joaquim Gomes da Silva Flores por volta de 1840.
CACHOEIRA DO RIO PARDO – Este era o nome da propriedade de 200 alqueires que pertencia a Gonçalo de Souza Lima até 1857, vizinha ao Tijucal.
CAMPO ALEGRE – Joaquim Manoel de Coimbra declarou em 1856 possuir uma sesmaria com este nome, localizada a leste do povoado do Rio Pardo.
CHÁCARA RIO PARDO – Propriedade de um alqueire que pertenceu a Francisco Lopes Grugel, entre o arraial e a fazenda Salvação.
CHICANA – Nome da propriedade de Joaquim José Barbosa de Miranda em meados do século XIX. Seus vizinhos de leste tiveram suas propriedades transferidas do Rio Pardo para Tebas quando da criação deste distrito.
CONCÓRDIA – Fazenda ainda lembrada no distrito de Tebas, pertenceu a José Cesário de Toledo Lima e Francisco Leocádio de Toledo.
CÓRREGO DOS MACACOS – Propriedade de Joaquim Gomes da Silva, localizada em um pequeno curso d’água que formava a nascente do Córrego São Bento.
FORTALEZA – Nome dado à sesmaria do Alferes Cândido Antônio da Silveira, a leste do Monte Redondo.
FORTALEZA DE SANTANA – Grande propriedade de Firmino Antônio de Lima, sua localização gera controvérsias. Enquanto o registro de 1856 aponta para a região a leste do povoado, outros documentos indicam um córrego com este nome mais ou norte, paralelo ao Rio Pardo, próximo à atual divisa entre Piacatuba, Argirita e Tebas.
MONTE ALEGRE – Duas propriedades com este nome, de Ana Maria de Jesus e José Antonio Teixeira, localizavam-se em região próxima à estrada entre Argirita e Tebas.
MONTE CLARO – Nome da fazenda que Antônio Custódio Nogueira comprou de José Paradelas por volta de 1840, localizava-se próximo ao Monte Redondo.
PINHEIRO – Fazenda localizada dentro do atual distrito de Tebas, pertenceu a Manoel da Silva Ramos, Paulino da Silva Ramos e Valeriano da Silva Ramos.
POUSO ALTO – Propriedade de 70 alqueires que pertenceu a Antônio de Souza Lima, na divisa com as terras de seu pai Gonçalo de Souza Lima, na região do Tijucal.
RECREIO – Fazenda adquirida por José Joaquim Barbosa em 1847, para seu filho Antônio Maurício Barbosa. Pertence a Piacatuba.
RETIRO – Pertenceu a Ana Maria de Assunção e seus filhos Elias e Marciano Antunes Vieira, Felicidade Perpétua de Jesus e Custódia Angélica até a migração da família para o estado do Espírito Santo por volta de 1870. Localizava-se em território vizinho ao hoje distrito de Tebas.
SALVAÇÃO – Pertenceu a Emygdio José de Barros. Localiza-se a sudeste da área urbana de Argirita.
SANTA CLARA – Antônio Vicente Ferreira, Celestino Antônio Ferreira, Joaquim Antônio Dias e Maria Inácia de Oliveira foram proprietários de partes desta fazenda em meados dos oitocentos. Localizava-se nas proximidades do Monte Redondo.
SANTA ISABEL – Fazenda de Albino Silvino de Souza Melo, nas proximidades da divisa com o distrito de Dores do Monte Alegre.
SANTA MARIA – Antonia Maria de Jesus e Domingos Moreira de Souza eram alguns dos proprietários desta fazenda, que divisava ao sul com a Salvação e ao norte com a Fazenda São Bento, de Felisberto da Silva Gonçalves.
SANTA MÔNICA – Localizada na margem do ribeirão Tambor, pertenceu a José Furtado de Mendonça.
SANTA RITA – Propriedade de Rita Maria da Conceição em território hoje pertencente a Piacatuba.
SANTANA DO RIO PARDO – Pertenceu a Jacob Dornelas da Costa e estava localizada em território hoje pertencente a Taruaçu.
SANTO ANTONIO – Ana Maria de Assunção, Francisco Gonçalves Almeida, Jerônimo Gonçalves de Almeida, Joaquim Gonçalves de Almeida, José Gonçalves de Almeida e Manoel Lourenço da Trindade eram proprietários das partes em que foi dividida esta fazenda, nas proximidades do Monte Redondo.
SÃO BENTO – Foi provavelmente a primeira fazenda a ser formada em terras que vieram a constituir o Curato do Senhor Bom Jesus do Rio Pardo. Pertenceu a Felisberto da Silva Gonçalves entre 1813 e 1863, daí em diante passando ao filho Antônio Felisberto. Localizava-se entre o Monte Redondo e o ribeirão São Bento.
SÃO DOMINGOS – Fazenda de Joaquim Pereira Santiago, no atual distrito de Tebas.
SÃO FRANCISCO – Inácio Nunes de Moraes e João Lopes de Faria eram alguns de seus proprietários. Sua localização parece ter sido a mesma das terras que foram doadas aos Paradelas mais de vinte anos antes do território ser desmembrado do Curato do Espírito Santo.
SÃO FRANCISCO DE PAULA – O proprietário José de Souza Amaral declarou, em 1856, que sua fazenda tinha como vizinhos alguns proprietários da região do Tijucal.
SÃO JOAQUIM – Certamente em território hoje de Taruaçu, pertenceu a Antônio Bernardes de Carvalho e a seu enteado Felisberto Pereira Brandão, que além de ser filho de sua segunda esposa foi também casado com uma filha de Antônio Bernardes de nome Maria Antônia de Jesus.
SÃO LUIZ – Fazenda da região próxima a Piacatuba, pertenceu a Tristão Dias do Amaral e hoje é território de Taruaçu.
SAPÉ – Embora atualmente haja outra referência ao nome, trata-se da fazenda de Manoel Francisco de Souza, em território de Taruaçu, próximo da divisa com Piacatuba.
SÍTIO DA CACHOEIRA – Pequena propriedade localizada às margens do ribeirão São Bento, pertenceu a Manoel Pereira da Silva.
TRÊS BARRAS – Pertenceu a Joaquim Pereira Santiago Júnior e estava localizada no território do atual distrito de Ituí.
VARGEM GRANDE – Provavelmente José Antônio de Lima escolheu para sua propriedade o nome do córrego que por ela passava, a leste da área urbana de Argirita.
Para finalizar citamos os proprietários Joaquim Teixeira Meireles e José Policiano da Silva cujas fazendas pertenceram a Argirita até 1883, daí em diante passando ao distrito de Tebas.
Nosso quarto reconto vai um pouco além das fronteiras do município de Leopoldina. Vamos, hoje, às terras da atual cidade de Argirita, o antigo arraial do Bom Jesus do Rio Pardo.
Francisco de Paula Ferreira de Rezende, em “Minhas Recordações” página 371, se refere ao lugar como sendo apenas Rio Pardo, quando narra a vida de Manoel Antônio de Almeida para Leopoldina, em 1829. Diz ele que naquela época “em Rio Pardo já havia, então, um começozinho de povoação”.
Mas, nossa história começa bem antes desta data, com dois filhos do casal Domingos Gonçalves de Carvalho e Maria Vitória de Jesus Xavier que, conforme se observa na literatura existente, pertenciam à família do nosso alferes José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes. E estes filhos são: Felisberto Gonçalves da Silva, ou da Silva Gonçalves e Domingos Gonçalves de Carvalho (filho).
Provavelmente por volta de 1810 os irmãos Felisberto e Domingos, acompanhados das esposas e filhos, ocuparam terras nas vertentes do Rio Pardo. Requereram posse ao governo da província e em novembro de 1813 receberam as respectivas Cartas de Sesmaria, duas para cada casal. Felisberto, em 29.11.1813, obteve Sesmaria cujo limite era o Córrego da Glória, no Sertão do Pomba, Termo de Barbacena, conforme carta arquivada no APM, códice 353, página 76.
Sobre Felisberto sabemos, também que nasceu por volta de 1785 e casou-se em São João del Rei, a 29 de setembro de 1802 com Ana Bernarda da Silveira.
Em Velhos Troncos Mineiros, do Cônego Raimundo Trindade, consta que o casal teve um único filho, Antonio Felisberto da Silva Gonçalves, que nasceu a 2 de janeiro de 1804 em São João del Rei e casou-se com Francisca de Paula de São José, provavelmente filha de seu tio paterno, Domingos Gonçalves de Carvalho e de Antônia Rodrigues. Chaves.
Analisando a trajetória de Felisberto após o casamento temos razões para suspeitar que teve pelo menos mais um filho: Joaquim Gomes da Silva Flores.
Hoje podemos afirmar, com segurança, que sua morte ocorreu depois de janeiro de 1863, uma vez que seu nome aparece nas listas de votantes do Distrito de Bom Jesus do Rio Pardo nesse ano.
Inexplicavelmente o nome de Felisberto da Silva Gonçalves desapareceu da história oficial de Leopoldina e Argirita, embora conste do Mapa de População de 1831 como possuidor de 33 escravos, sendo o terceiro maior proprietário de cativos no então Distrito do Curato do Espírito Santo, Termo de Barbacena.
Em 1840, segundo o primeiro livro de compra e venda de bens de raiz de Bom Jesus do Rio Pardo (Argirita), ele comprou de José da Silva Paradela e sua mulher Ana Marinha de Jesus, 60 alqueires de terras de cultura. Uma propriedade que estava dentro do território atual de Argirita e limitava-se com Joaquim Gonçalves de Almeida e Antonio Henriques de Souza.
Em 1842 vendeu parte de sua fazenda no Córrego da Glória, no lugar denominado Monte Redondo e em 1846 comprou, de Lino da Silva Paradela, terras no Ribeirão de São Bento.
No Registro de Terras de 1856 Felisberto aparece como vizinho da Fazenda do Socorro, de propriedade dos herdeiros de José Joaquim Monteiro de Barros.
A partir do estudo de diversos documentos concluímos que a Fazenda formada a partir das concessões de sesmarias ao casal Felisberto e Ana é a mesma Fazenda Fortaleza que ainda aparece nas cartas atuais do IBGE.
Quanto a Domingos Gonçalves de Carvalho, irmão de Felisberto, pouco sabemos. O Cônego Trindade informa que ele casou-se com Antonia Rodrigues Chaves com quem teve apenas uma filha, de nome Maria, nascida em 1809. Em nossas pesquisas encontramos outros possíveis filhos do casal sem contudo podermos garantir dados sobre a descendência, tendo em vista a precariedade dos assentos paroquiais encontrados. Mas, nos livros pesquisados, encontramos batismos de Francisca, Maria, Rita, Antonio, José e Joaquim entre 1802 e 1820, cujos pais podem ser os casais que estamos abordando.
Resta dizer que o filho de Felisberto – Antonio Felisberto da Silva Gonçalves, teve, pelo menos uma filha que recebeu o nome de Carolina Rosa de São José. E pela localização da residência de seus pais acreditamos que tenha sido batizada na Capela de Nossa Senhora das Dores do Monte Alegre (Taruaçu). Mas, infelizmente ainda não foi possível descobrir onde estariam os registros dos primeiros atos realizados naquela Capela. É certo que Carolina foi casada com Francisco de Paula Pereira Pinto e deixou enorme descendência em Leopoldina e arredores.
Ficamos por aqui. Os Recantos de um Recanto continuarão no próximo número.