Capítulo da História de Argirita publicado em 2003. Antes da organização do distrito, o povoado tinha sua representação no padre que dava assistência aos moradores e no Juiz de Paz, eleito em assembléia da unidade administrativa a que pertencesse o território. Dos padres trataremos em outro capítulo. Para identificar os primeiros Juizes de Paz seria necessário encontrar o livro do cartório notarial de Rio Pomba, sede administrativa da época. Infelizmente, segundo informações que nos foram passadas pela Prefeitura de Rio Pomba, um incêndio destruiu o acervo relativo ao período que nos interessa. O primeiro livro cartorial do Distrito do Espírito Santo abrange os anos de 1839 a 1845. Encontra-se no Arquivo da Prefeitura Municipal de Mar de Espanha, muito danificado, com pouquíssimas páginas em condições de serem lidas. Outra fonte, o primeiro livro cartorial do Distrito do Rio Pardo, iniciado a 19.02.1841, pertencente ao acervo do Arquivo da Prefeitura de Leopoldina, em fase de restauração. Em nenhum dos dois livros foram registradas informações sobre os Juizes de Paz em exercício até 1851. Entre abril de 1841 e julho de 1851, estando o Rio Pardo subordinado a São João Nepomuceno, no Arquivo da Prefeitura Municipal daquela cidade deveriam ser encontradas as Atas de Assembléias Eleitorais. Surpreendentemente porém, nada foi localizado até o momento que dissesse respeito a eleições deste distrito. Desta forma, a informação mais antiga que conseguimos apurar, através de documento encontrado no Arquivo Público Mineiro, é a que trata da Qualificação de Eleitores do Rio Pardo em fevereiro de 1851. Pela ata ficamos sabendo que o Juiz de Paz era Antônio Bernardes de Carvalho e que os eleitores escolheram para a formação da mesa os senhores João Evangelista Coimbra, Custódio Dias Moreira e Antônio Júlio da Paixão. Morador do 3º quarteirão, Antônio Bernardes de Carvalho nasceu por volta de 1800, era lavrador, e em 1853 estava casado com Maria Bárbara Nunes, mãe de Felisberto Rodrigues Pereira Brandão. De um relacionamento anterior com Ana Maria da Assunção, Antônio Bernardes tivera os filhos Carlos José Jacinto de Carvalho, Antônio Alves de Oliveira Carvalho e Maria Antônia de Jesus, esposa de Felisberto Rodrigues Pereira Brandão. João Evangelista Coimbra era solteiro em 1851, carpinteiro de profissão, nascido por volta de 1818, residente no 4º quarteirão de Rio Pardo. Segundo escritura de compra e venda de bens de raiz encontrada no Livro 3 do Cartório de Notas de Argirita 1862-1867, era filho de Joaquim Manoel de Coimbra e Teodora Messias Candida de Assis, provavelmente os primeiros moradores do território onde mais tarde foi criado o distrito de Tebas. Segundo algumas fontes documentais, o pai de João Evangelista seria o Manoel Joaquim de Tebas que deu origem ao nome do distrito. . Custódio Dias Moreira nasceu em 1798, era lavrador, residente no 6º quarteirão, casado. Assim como a família Coimbra, os Dias Moreira foram numerosos na região. Antônio Júlio da Paixão foi negociante, nasceu por volta de 1815 e em 1851 residia no 1º quarteirão, casado. É um dos nomes mais freqüentes entre os chamados “homens bons” que dominaram a política do Rio Pardo segundo nos mostram os documentos. É sugestivo observar que os três mais votados para compor a mesa eram residentes em quarteirões diferentes. Considerando que João Evangelista Coimbra obteve 56 votos e o seu quarteirão contava com 28 eleitores, que Custódio Dias Moreira teve o mesmo número de votos e residia num quarteirão com 31 eleitores, e que Antônio Júlio da Paixão ficou com 40 votos sendo de um quarteirão com 14 eleitores, julgamos válido supor que os três tinham influência política também fora dos limites de sua própria jurisdição. Lembremo-nos que a expressão “curral eleitoral”, de sentido tão pejorativo hoje em dia, teve origem na liderança exercida por moradores sobre seus vizinhos de quarteirão. Já em 1853, segundo nos informa Celso Falabella, Inácio Nunes de Moraes foi um dos eleitos para o cargo de Juiz de Paz do Rio Pardo. No período que vai de julho de 1851 a abril de 1854, o distrito esteve subordinado a Mar de Espanha e as Atas Eleitorais deveriam estar nos livros daquele município. A exemplo do ocorrido em São João Nepomuceno, também ali não logramos êxito nas buscas. Sabe-se que naquela época eram 2 os eleitos para o cargo. No mesmo período em que Celso Falabella cita Inácio Nunes de Moraes, sabemos que Antônio Júlio da Paixão exercia o mesmo cargo. Desconhecemos o número de votos de cada um e, conseqüentemente, qual deles era o 1º e o 2º. É a partir de 1854 que se torna mais fácil acompanhar a história do Rio Pardo porque, subordinado a Leopoldina, teve a maioria de seus registros preservados pelo Arquivo da Prefeitura daquela cidade. Ainda assim encontraremos um intervalo sem documentos, já que em 1868 a cidade de Mar de Espanha requisitou e conseguiu administrar Rio Pardo por algum tempo. Resumindo o que pudemos apurar temos então os seguintes detentores do cargo de Juiz de Paz do Distrito de Bom Jesus do Rio Pardo, de acordo com o ano em que foram empossados: 1851
1853
1857
1859
1860
1861
1862
1863
1865
1866
1867
1877
1881
1883
1888
1891
1892
1894
Muitos deles serão citados em outros capítulos por sua participação em outras atividades ou por fazerem parte de famílias melhor estudadas. Faz-se necessário acrescentar, ainda, as seguintes autoridades:
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Tebas nos Recontos de um Recanto
Hoje o tema da coluna é o distrito de Tebas cujo nome, para nós, ainda não está devidamente explicado quanto a sua origem. Vamos falar sobre a terra de uma água especial que, no dizer da jornalista Silvia Fonseca,[i]“quem bebe da água tebana sempre volta à fonte.” ![]() Começamos pelo Relatório da Presidência da Província de Minas Gerais de 1894 que nos informa ter a febre amarela atingido a nossa região de forma alarmante.[ii] Uma epidemia que causou, inclusive, um lapso nas anotações de óbitos da cidade entre agosto de 1894 e janeiro de 1898, embora exista um livro iniciado a 01.01.1896,[iii] onde foram anotados “a posteriori” sepultamentos ocorridos entre agosto/94 e dezembro/1895. Foi esta epidemia de febre amarela que motivou a mudança temporária da administração municipal para o distrito de Tebas o que, no mínimo, é muito curioso quando se sabe que o distrito de (Piedade) Piacatuba é bem mais antigo. Mas, como surgiu o nome e o lugar chamado Tebas? Se consultarmos o dicionário veremos que Tebas pode referir-se à cidade grega, a uma pessoa forte e desembaraçada ou, ao nosso distrito.[iv] Autores existem que registram a origem do topônimo na língua tupi, com o sentido de desembaraçado, forte, graúdo[v]. Outros dizem que distrito herdou o nome de um ribeirão local, sem informar de onde surgiu o nome do tal ribeirão.. Hoje sabemos, no entanto, que existiu por ali um Manoel Joaquim Thebas que, entre outros, foi vizinho da fazenda Feijão Cru, que pertencia a Manoel Antonio de Almeida. E como esta informação sobre este Manoel J. Thebas é de 1856 e a paróquia data de 1881, acreditamos ser possível que o patrimônio tenha sido doado por este senhor e dele surgiu o nome do distrito. Quanto ao povoado, tudo leva a crer ser ele bem antigo. Francisco de Paula Ferreira Rezende[vi] a ele se refere quando afirma que por ocasião de sua vinda para Leopoldina, pelos idos de 1860 ainda encontrou remanescentes dos Puris na estrada de Tebas para Rio Pardo. É certo que a povoação foi elevada a distrito pela lei provincial nº 2675, de 30.11.1880. A confirmação eclesiástica veio com a lei nº 2848 de 25.10.1881 que elevou o distrito a Freguesia. E a lei nº 3113, de 1882, registra o nome do distrito como Santo Antônio de Tebas. Vale lembrar que a lei que criou o distrito autorizou a câmara municipal de Leopoldina a estabelecer a divisas. Para este fim a câmara nomeou comissão de vereadores que estudaram o assunto e apresentaram parecer conclusivo. E, segundo consta, o parecer desta comissão foi aprovado em plenário com a ressalva apenas de que o nome do lugar passou a ser Santo Antonio dos Thebas, ao invés de Santo Antonio do Monte Alegre como anteriormente era conhecido. O distrito de Tebas foi constituído por terras antes pertencentes a Leopoldina (sede), Piedade (Piacatuba) e Rio Pardo (atual Argirita). Assim, pela lei nº 2938, de 23.09.1882, algumas fazendas da Piedade foram transferidas para Thebas. Em 06.10.1883 foi a vez de Rio Pardo perder algumas propriedades que passaram para o novo distrito. E em 18 do mesmo mês, através da lei nº 3171, a fazenda de João Pereira Valverde foi transferida de Thebas para a freguesia de Piedade.[vii] Mas vamos retroagir um pouco e começar nossa busca pela venda de seis alqueires da fazenda Monte Alegre, em julho de 1841. As terras vendidas localizavam-se na “cabeceira” ou nascente do córrego hoje chamado Tebas e a sede da fazenda era residência de Elias da Silva Espíndola. Os compradores dessas terras foram Honório Alves Ferreira e João Vieira Machado de Freitas. Por esta fazenda passava uma estrada que, vindo de Bom Jesus do Rio Pardo (Argirita), atingiria as terras de Antônio José Monteiro de Barros (fazenda Paraíso).[viii] Sete meses depois o mesmo Elias da Silva Espíndola vende outros oito alqueires da mesma fazenda para José Miguel Dias da Silva e registra que estas terras limitam-se com as vendidas anteriormente e estão localizadas na serra entre o Rio Pardo e o Rio Pirapetinga.[ix] Sabe-se que um dos vizinhos da fazenda Monte Alegre era o capitão Felisberto da Silva Gonçalves, um dos primeiros sesmeiros do lugar que, juntamente com sua esposa, Ana Bernarda da Silveira, recebeu duas sesmarias entre os córregos Glória e Fortaleza (nomes que desapareceram da toponímia local). Podemos acrescentar, ainda, que estas duas sesmarias limitavam-se com as terras recebidas, também em novembro de 1813,[x] por seu irmão e cunhada, Domingos Gonçalves de Carvalho e Antonia Rodrigues Chaves. E, segundo consta, uma das fazendas de Felisberto ficava no Monte Redondo, no caminho de Tebas para Argirita. Entre os vizinhos de Felisberto surge, ainda, o nome de Joaquim Manoel Coimbra, algumas vezes citado como Manoel Joaquim Coimbra, provavelmente ancestral do vereador Antonio da Costa Coimbra que fez parte da comissão que estudou os limites do distrito de Tebas. As terras deste Manoel Coimbra, por sua vez, limitavam-se com o já mencionado Felisberto da Silva Gonçalves, com os Valverdes e com Elias da Silva Espíndola. Em função dessas informações, passamos a suspeitar que a tal fazenda “Campo Alegre” seja a mencionada por Manoel Antônio de Almeida, em 1856, como propriedade dos “herdeiros de Manoel Joaquim Thebas”,[xi] possivelmente um homem destemido e que recebeu dos puris o nome de “teba”. Vale registrar que pela análise do movimento de compra e venda de bens de raiz no então distrito de Bom Jesus do Rio Pardo, atual Argirita, observa-se que a fazenda Campo Alegre foi citada como local em que o Escrivão realizou diversos registros entre 1841 e 1853. Para encerrarmos por hoje, registramos que entre 1862 e 1864, os eleitores do distrito de Tebas pertenciam às famílias Almeida, Braga, Carvalho, Coimbra, Cunha, Dias, Dornelas da Costa, Freitas, Gonçalves, Lemos, Moraes, Pereira, Policiano, Reis, Ribeiro, Santos e, Silva.[xii] E dentre os italianos que viveram em Leopoldina um bom número deles residiu temporária ou definitivamente em Tebas, dos quais destacamos os sobrenomes Albertoni, Angeli, Bedin, Ceoldo, Gruppi, Marsola, Meneghetti, Stefani e Zotti. Até a próxima edição, com novos recontos. __________ Fontes utilizadas: [i] Jornal O Globo, 16.02.1989. [ii] Mensagem do Presidente da Província de 1895, p. 10 [iii] Arquivo da Prefeitura Municipal de Leopoldina, livros do Cemitério Público. [iv] Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. [v] Toponímia de Minas Gerais, Joaquim Ribeiro Costa. [vi] Minhas Recordações, p. 386. [vii] Artigo da Gazeta de Leopoldina, de 1922, assinado por J. Botelho Reis. [viii] Livro 1 de Compra e Venda de Bens de Raiz de Bom Jesus do Rio Pardo, fls. 8 v. [ix] Livro 1 de Compra e Venda de Bens de Raiz de Bom Jesus do Rio Pardo, fls. 11. [x] Cartas de Sesmarias emitidas pelo Presidente da Província. [xi] Registro de Terras de Leopoldina, TP 114, número 18. [xii] Alistamento Eleitoral de Bom Jesus do Rio Pardo, 4º quarteirão. |