173 – Fazendas Santa Cruz e Natividade

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A viagem de hoje do Trem de História tem como destino uma fazenda formada em 265 alqueires registrados[1] por José Tomaz de Aquino Cabral, seu filho Carlos Augusto de Aquino Cabral e seu genro Sebastião Gomes Teixeira Jalles. E cujos confrontantes eram João Gualberto Ferreira Brito (fazenda Fortaleza), Antonio Rodrigues Gomes (Águas Vertentes), José Ferreira Brito (Dois Irmãos), Francisco da Silva Barbosa (Boa Vista dos Barbosas) e Mariana Teresa Pereira Duarte (Recreio).

Segundo declaração[2] de Antonio Carlos da Silva Teles Faião, uma de suas propriedades foi comprada de José Tomaz de Aquino Cabral, num total de 140 alqueires, área esta não incluída nos 265 alqueires do registro acima mencionado.

Comparando-se os registros de 1856 com as divisões de propriedades nas décadas seguintes, observa-se que os Aquino Cabral teriam adquirido, inicialmente, terras que se estendiam da margem direita do rio Pomba até o córrego Santa Cruz e que a venda para Teles Faião teria sido da parte norte da propriedade.

Conforme mencionado no texto anterior, a propriedade adquirida dos Aquino Cabral por Teles Faião teve como primeiro nome Barra das Laranjeiras. Mas em 1876, quando Carlos Augusto de Aquino Cabral, marido de Vicencia Antonia filha de Teles Faião, requereu a divisão amigável[3] da Barra das Laranjeiras ela já era denominada Fazenda Natividade.

Registre-se que este processo de divisão esclareceu mais alguns pontos sobre os domínios dos Aquino Cabral e Teles Faião uma vez que a planta[4] da fazenda, desenhada pelo agrimensor Manoel Maximiano de Souza Muniz estabeleceu a localização da propriedade, suas confrontações e a área encontrada que foi de 80 alqueires e meia quarta.

Considerando que naquele momento não havia divisas entre as fazendas Santa Cruz e Natividade, entende-se que a diferença de 60 alqueires corresponde à área entre elas que teria sido vendida a diversos compradores, cujos títulos não foram citados no processo.

Vale lembrar que foram convocados para o julgamento desse processo: João José Dutra, seu irmão José Tomaz e seu cunhado José Joaquim Pires filho (sucessores da fazenda Recreio); Antonio José de Oliveira (sogro de herdeira da Águas Vertentes); Antonio Garcia de Novaes (sucessor da fazenda Saudades); Antonio Manoel de Barros Alvim (sucessor da Santana dos Miranda); e, José Pereira de Melo que parece ter sido o comprador de parte das terras da Barra das Laranjeiras.

O distrito de Campo Limpo, hoje Ribeiro Junqueira, foi criado dois anos depois da abertura do processo. E em 1882 o que restava da fazenda Natividade foi incorporado à área do novo distrito.

Em março de 1891, quando foi criado o distrito de paz[5] denominado Vista Alegre, no município de Leopoldina, a propriedade de Carlos Augusto de Aquino Cabral constou do Decreto como vizinha da unidade administrativa que, ao que se sabe, não teria sido instalada. De todo modo, a informação corrobora a citação do proprietário como um dos proprietários de quinhão da fazenda Santana dos Miranda que foi submetida a um processo de Retombo[6] em 1890.

Ainda quanto à fazenda Santa Cruz, registre-se que após o falecimento do condômino José Tomaz de Aquino Cabral, antes de fevereiro de 1878, seu filho Carlos Augusto vendeu 27 alqueires de sua legítima para Sérgio José Pinheiro. Este comprador pediu a demarcação da propriedade, em março de 1880 e o processo[7] envolveu, além do requerente, cinco condôminos que haviam adquirido partes da fazenda.

Importante observar que, à exceção do comprador Sérgio Pinheiro, de quem não se tinha notícia em Leopoldina até então, os demais envolvidos confirmam a opinião de um sociólogo que se manifestou sobre as práticas sociais no Brasil de meados dos oitocentos, contestando impressão de viajante estrangeiro do início daquele século.

Em viagens pela província mineira, o francês Auguste de Saint-Hilaire havia descrito seus habitantes de forma não muito generosa. Gilberto Freyre a ele se referiu para afirmar que, em meados do século XIX, as Minas não eram mais terra de gente aventureira, mas de uma estável sociedade agrária. E declarou[8] que “A província quase toda passara […] a pacatamente agrícola. Suas condições morais que, ao tempo da febre do ouro haviam sido péssimas, melhoraram com essa nova situação ao mesmo tempo econômica e social.”

Assim o demonstra a composição do condomínio da Fazenda Santa Cruz quarenta anos depois da propriedade ter sido fundada. Um dos quinhões havia sido adquirido por Antonio Ferreira Neto e seu pai João Gonçalves Neto, da fazenda Residência não muito longe dali; outro pertencia a João José Dutra nascido na vizinha fazenda Recreio. Sebastião Gomes Teixeira Jalles, além de sócio da propriedade era também casado com uma filha do sócio falecido. E Josué de Vargas Corrêa já ali vivia há muitos anos, pois sua primeira esposa era sucessora da vizinha fazenda Águas Vertentes. Além deles, os confrontantes da propriedade também reafirmam as palavras de Gilberto Freyre no sentido de que as cidades mineiras não eram mais pouso de aventureiros, mas residência de famílias de agricultores em estabilidade social.

Em 1885 a fazenda Santa Cruz voltou a ser demarcada[9], a requerimento do condômino Sebastião Gomes Teixeira Jalles. Agora com uma área de 189 alqueires, entre seus proprietários já não estava João Gonçalves Neto, mas seu filho Joaquim Eleotério. João José Dutra também não era mais proprietário.

Sebastião Jalles era um português estabelecido com casa comercial no Rio de Janeiro, tinha negócios em São Fidélis (RJ) na época em que se casou com a filha de José Thomaz de Aquino Cabral. Mais tarde levou a família para a então capital do país, onde faleceu em 1895. Sua esposa também faleceu no Rio de Janeiro em 1911. E o que restava da antiga fazenda Santa Cruz foi dividido em diversas pequenas propriedades que continuaram dedicadas à agricultura por muito tempo.

Aqui o Trem de História faz mais uma parada. Retornará na próxima edição, com algumas informações sobre a fazenda Recreio, cujo nome não tem vínculo direto com o município vizinho.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 425 no jornal Leopoldinense, outubro de 2021


Fontes consultadas: 
[1] Registro de Terras de Leopoldina (Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114), nº 3. 
[2] Registro de Terras de Leopoldina (Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114), nº 8. 
[3] Divisão da fazenda Natividade. Processo 38404852 – COARPE – TJMG. 
[4] Idem, img 10 
[5] Leis Mineiras, Decreto nº 406. 
[6] Divisão e demarcação de terras da fazenda Santana dos Miranda. Processo 38402032 COARPE/TJMG. img 269 
[7] Divisão da fazenda Santa Cruz. Processo 38403537 COARPE – TJMG. 
[8] FREYRE, Gilberto. Vida social no Brasil nos meados do século XIX. 4.ed. São Paulo: Global, 2008. p.57 
[9] Divisão judicial da fazenda Santa Cruz. Processo 38405655 COARPE – TJMG. img 2-3

117 – João Funchal Garcia, o irmão jornalista.

Conforme ficou dito na quinzena passada, o Trem de História de hoje se ocupará com a vida e obra do filho caçula de Alfredo Garcia Ribeiro e Mariana dos Prazeres Funchal, o oitavo deles, João Funchal Garcia, nascido[1] no dia 11 de agosto de 1895 em Leopoldina.

E começa informando que em 1920 ele trabalhava[2] no Posto de Profilaxia de Além Paraíba, onde era colega de seu conterrâneo e amigo Luiz Rousseau Botelho, a quem conhecera na infância na rua Tiradentes.

João se casou com Zilca Macedo com quem teve, pelo menos, os filhos Carlos Alberto e Maria José, esta nascida[3] aos 14 de maio de 1925 em Leopoldina.

Iniciou sua carreira jornalística em 1927 quando escreveu para o jornal da terra natal a matéria intitulada[4] “A “Santa” existe?”, falando da aparição na Serra dos Andrés. O artigo descreve uma excursão que fez à localidade situada em território da atual cidade de Recreio (MG), bem ao estilo de um repórter em busca da notícia.

Naquele ano, João havia sido nomeado escrevente do Cartório do 3º Ofício de Palmyra, atual Santos Dumont (MG), onde também foi secretário[5] do jornal A Notícia. No ano seguinte, foi nomeado[6] Ajudante de Procurador da República na mesma cidade.

Em 1930, já no Rio de Janeiro, era[7] repórter de polícia do jornal A Pátria e em 1939 trabalhava como jornalista[8] no Diário Carioca onde conheceu Alberto Romero, que sobre ele escreveu[9]:

“No Rio pouca gente sabe hoje que o repórter Funchal Garcia optou pela rendosa profissão de mendigo para contar tudo mais tarde numa série de reportagens no DC. Funchal me disse que viveu não sei quantos meses do produto das esmolas. O salário do jornal era entregue à mulher dele, que ignorava a natureza da sua missão jornalística. O mais impressionante é que o velho Funchal chegou a tomar tanto gosto pela mendicância (ele próprio me confessou) que até pensou em abandonar o jornalismo, e certamente não faria mau negócio.”

Anos depois um jornal carioca[10] registrava que João Funchal Garcia era um dos jornalistas que assinaram telegrama ao presidente Eurico Gaspar Dutra em apoio ao ato que extinguiu o jogo no Brasil. Vale lembrar que a proibição dos chamados jogos de azar, considerados uma prática degradante para a sociedade, ocorreu com a publicação do Decreto nº 9215, de 30.04.46, do presidente Dutra.

Em 1947[11], o então funcionário João Funchal Garcia foi transferido da Agência Nacional para o Departamento de Segurança. Mas o jornalista continuava ativo e mesmo residindo no Rio de Janeiro, em 1949 enviou matéria[12] especial pelo Dia do Aviador para jornal de Santos Dumont, com o título “Santos-Dumont e o dever patriótico de Palmira”.

Em 1958 recebeu[13] Medalha Comemorativa do II Congresso de Polícia pela cobertura jornalística do evento. Aposentou-se[14] em agosto de 1960 mas continuou sendo procurado pelos colegas do meio e em 1965 foi chamado a opinar sobre o livro[15] ‘O Assunto é Jornal’, publicando uma crítica no mesmo Diário Carioca onde trabalhou.

O jornalista João Funchal Garcia faleceu no Rio de Janeiro, no dia 25 de maio de 1967.

Por hoje a história fica por aqui. No próximo Jornal o Trem de História trará a carga relativa à vida e obra do pintor e escritor (Manoel) Funchal Garcia. Aguardem!


Fontes consultadas:

1 – Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 06 bat fls 18 termo 586.

2 – BOTELHO, Luiz Rousseau, Dos 8 aos 80. Vega: Belo Horizonte, 1979 p. 293.

3 – Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 22 bat fls 9 termo 109.

4 – Gazeta de Leopoldina. 19 fev 1927 ed 224 p. 4 coluna 3.

5 – Jornal de Queluz. Conselheiro Lafaiete, MG, 24 nov 1928 ed 141 p. 1 coluna 5

6 – Correio da Manhã. Rio de Janeiro, RJ, 8 out. 1929 ed 10667 p. 7 coluna 9.

7 – Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, RJ, 24 e 25 julho 1949 ed 172 2ª seção p. 2 coluna 4

8 – Diário Carioca. Rio de Janeiro, RJ, 1 dez 1939 ed 3522 p. 11.

9 – idem, 2 ago 1965 ed 11460 p. 8.

10 – A Manhã. Rio de Janeiro, RJ, 01 maio 1946, ed 1449, p. 2 coluna 8

11 – A Noite. Rio de Janeiro, RJ, 05 ago 47, ed 12635, p. 4, coluna 3

12 – O Sol. Santos Dumont, MG, 23 out 49, ed 1125, p. 3

13 – Diário Carioca. Rio de Janeiro, RJ, 27 maio 1958 ed 9161 p. 10 coluna 7.

14 – idem, 11 ago 1960 ed 9853 p. 6 coluna 5.

15 – idem, 2 ago 1965 ed 11460 p. 8.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 369 no jornal Leopoldinense de 16 de dezembro de 2018

Sesquicentenário de Nascimento de Sergio Dutra

Sergio Teixeira Dutra, filho de José Tomaz Dutra e Maria do Carmo Teixeira Marinho, nasceu em Leopoldina no dia 9 de setembro de 1867. Neto paterno de Antonio José Dutra e Mariana Teresa Duarte, por esta era bisneto de Antonio Pereira da Cunha e Teresa Maria Duarte.

Mariana Teresa, também citada como Mariana Luiza Pereira Duarte, sobreviveu ao marido Antonio e foi responsável pela direção da então denominada Fazenda Recreio, que muitos julgam ser a origem do atual município. Entretanto, pelo que pudemos apurar nos Registros de Terras de 1856, a fazenda formada por Mariana e Antonio localizava-se em território que hoje pertence ao distrito de Ribeiro Junqueira. Era uma das grandes propriedades da época, com mais de quatrocentos alqueires mineiros.

A avó materna de Sérgio foi Maria Teresa Duarte, provavelmente irmã de Mariana Teresa Duarte acima citada. O avô materno foi João Teixeira Marinho que residia em território que mais tarde veio a formar o distrito de Providência.

Sergio é citado em fontes orais como tendo sido administrador das terras herdadas de seus pais. Foi casado duas vezes. A primeira com Georgina Teixeira Cortes com quem teve nove filhos nascidos entre 1896 e 1920, alguns batizados em Leopoldina e outros em Angustura. Casou-se pela segunda vez com Dulce de Castro Montes, filha de Maria das Dores de Castro e Lino Rodrigues Montes, professor e “desenhista de retratos” como se identificava, na época, o artista que pintava rostos e paisagens. Lino era neto paterno de Bernardo José Gonçalves Montes, provavelmente o mais antigo ocupante de terras do Feijão Cru, já que recebeu do sogro as duas sesmarias que ele, Antonio Francisco Teixeira Coelho, ganhara em 1818.

Dulce, nascida em 1898, casara-se aos 17 anos com Manoel Mendes de Oliveira, filho de Francisco Mendes de Oliveira e Ana Antonia Celestina de Jesus com quem teve, pelo menos, a filha Maria José de Oliveira Vale. Do casamento de Sérgio com Dulce foram gerados seis filhos. Portanto, além de administrar grande extensão de terras, Sérgio Teixeira Dutra formou também uma grande família com 15 filhos.

Sesquicentenário de nascimento: abril

Há 150 anos nasceram em Leopoldina:

3 abr 1866

Baldoino filho de Vicente Rodrigues Ferreira e de Luciana Francelina da Anunciação

4 abr 1866

Silvano José da Cruz Nogueira filho de Antonio José da Cruz Nogueira e de Ana Maria da Conceição

6 abr 1866

Antonio Marcelino de Brito filho de Joaquim Antonio de Brito e de Mariana Cândida de Jesus

Em Piacatuba, Leopoldina, MG, no dia 7 abr 1866

Lindolfo filho de Manoel Antonio da Rocha e de Mariana Esméria de São José

11 abr 1866

Virgolino filho de Justino Corrêa de Lacerda e de Mariana Balbina de Lacerda

12 abr 1866

Antonio filho de José Tomaz Dutra e de Maria do Carmo Teixeira Marinho

17 abr 1866

Virgilina filha de Francisco José Pires e de Ana Margarida de Jesus

25 abr 1866

Ambrosina filha de Leopoldo de Vargas Corrêa e de Carolina Leopoldina do Sacramento

Em Piacatuba, Leopoldina, MG, no dia 27 abr 1866

Antonio Batista Ladeira filha de Antonio Carlos Ladeira e de Flavia Honória da Assunção

Há 100 anos

Leopoldinenses nascidos em julho de 1914

Jorge Meneghelli 2-jul filho de Evaristo Meneghelli e de Giuseppina Battisaco
Dalba 5-jul filha de Custódio Teixeira Dutra e de Maria Izabel Rodrigues do Vale
Euclides Meneghetti 5-jul filho de Felice Meneghetti e de Carolina Marinato
José 5-jul filho de Luiz Nóbrega da Costa e de Rita de Almeida Lacerda
Geraldo Tonelli 9-jul filho de Emilio Tonelli e de Elvira Bartoli
Newton 9-jul filho de Marco Aurélio Monteiro de Barros e de Laura Monteiro da Silva
Eurides 10-jul filha de Izolino de Macedo Freire e de Maria Cipriana de Carvalho
Cremilda 13-jul filha de Gastão Ferreira Brito e de Ana Leodina Gonçalves Neto
Ermelinda 15-jul filha de Alfredo Gomes da Silva e de Cecília Pimentel
José 17-jul filho de José Augusto Vargas e de Cecília Ferreira de Almeida
Carmen 20-jul filha de Alipio Ribeiro Filho Macieira e de Adalgisa Minelli
Sebastiana 20-jul filha de José Manoel de Souza e de Cecilia Januária de Alcântara
Maria 22-jul filha de Alfredo Firmino Sante Pengo e de Regina Marinato
Waldemar 22-jul filho de Paulino Ferreira Neto e de Maria Amelia Pires
Amalia Stefani 23-jul filha de Armando Stefani e de Maria Maddalena Meneghetti
Anayr Conti 25-jul filha de Giuseppe Conti e de Aristea Regina Meneghelli

Maria Vale: centenário de nascimento

Nasceu em Leopoldina no dia 21 de dezembro de 1911, filha de João Rodrigues Vale e Odilia Dutra.
Sua mãe era bisneta do povoador João Teixeira Marinho

Autoridades do distrito do Rio Pardo

Capítulo da História de Argirita publicado em 2003.

Antes da organização do distrito, o povoado tinha sua representação no padre que dava assistência aos moradores e no Juiz de Paz, eleito em assembléia da unidade administrativa a que pertencesse o território.

Dos padres trataremos em outro capítulo. Para identificar os primeiros Juizes de Paz seria necessário encontrar o livro do cartório notarial de Rio Pomba, sede administrativa da época. Infelizmente, segundo informações que nos foram passadas pela Prefeitura de Rio Pomba, um incêndio destruiu o acervo relativo ao período que nos interessa.

O primeiro livro cartorial do Distrito do Espírito Santo abrange os anos de 1839 a 1845. Encontra-se no Arquivo da Prefeitura Municipal de Mar de Espanha, muito danificado, com pouquíssimas páginas em condições de serem lidas. Outra fonte, o primeiro livro cartorial do Distrito do Rio Pardo, iniciado a 19.02.1841, pertencente ao acervo do Arquivo da Prefeitura de Leopoldina, em fase de restauração. Em nenhum dos dois livros foram registradas informações sobre os Juizes de Paz em exercício até 1851.

Entre abril de 1841 e julho de 1851, estando o Rio Pardo subordinado a São João Nepomuceno, no Arquivo da Prefeitura Municipal daquela cidade deveriam ser encontradas as Atas de Assembléias Eleitorais. Surpreendentemente porém, nada foi localizado até o momento que dissesse respeito a eleições deste distrito. Desta forma, a informação mais antiga que conseguimos apurar, através de documento encontrado no Arquivo Público Mineiro, é a que trata da Qualificação de Eleitores do Rio Pardo em fevereiro de 1851. Pela ata ficamos sabendo que o Juiz de Paz era Antônio Bernardes de Carvalho e que os eleitores escolheram para a formação da mesa os senhores João Evangelista Coimbra, Custódio Dias Moreira e Antônio Júlio da Paixão.

Morador do 3º quarteirão, Antônio Bernardes de Carvalho nasceu por volta de 1800, era lavrador, e em 1853 estava casado com Maria Bárbara Nunes, mãe de Felisberto Rodrigues Pereira Brandão. De um relacionamento anterior com Ana Maria da Assunção, Antônio Bernardes tivera os filhos Carlos José Jacinto de Carvalho, Antônio Alves de Oliveira Carvalho e Maria Antônia de Jesus, esposa de Felisberto Rodrigues Pereira Brandão.

João Evangelista Coimbra era solteiro em 1851, carpinteiro de profissão, nascido por volta de 1818, residente no 4º quarteirão de Rio Pardo. Segundo escritura de compra e venda de bens de raiz encontrada no Livro 3 do Cartório de Notas de Argirita 1862-1867, era filho de Joaquim Manoel de Coimbra e Teodora Messias Candida de Assis, provavelmente os primeiros moradores do território onde mais tarde foi criado o distrito de Tebas. Segundo algumas fontes documentais, o pai de João Evangelista seria o Manoel Joaquim de Tebas que deu origem ao nome do distrito. .

Custódio Dias Moreira nasceu em 1798, era lavrador, residente no 6º quarteirão, casado. Assim como a família Coimbra, os Dias Moreira foram numerosos na região.

Antônio Júlio da Paixão foi negociante, nasceu por volta de 1815 e em 1851 residia no 1º quarteirão, casado. É um dos nomes mais freqüentes entre os chamados “homens bons” que dominaram a política do Rio Pardo segundo nos mostram os documentos.

É sugestivo observar que os três mais votados para compor a mesa eram residentes em quarteirões diferentes. Considerando que João Evangelista Coimbra obteve 56 votos e o seu quarteirão contava com 28 eleitores, que Custódio Dias Moreira teve o mesmo número de votos e residia num quarteirão com 31 eleitores, e que Antônio Júlio da Paixão ficou com 40 votos sendo de um quarteirão com 14 eleitores, julgamos válido supor que os três tinham influência política também fora dos limites de sua própria jurisdição. Lembremo-nos que a expressão “curral eleitoral”, de sentido tão pejorativo hoje em dia, teve origem na liderança exercida por moradores sobre seus vizinhos de quarteirão.

Já em 1853, segundo nos informa Celso Falabella, Inácio Nunes de Moraes foi um dos eleitos para o cargo de Juiz de Paz do Rio Pardo. No período que vai de julho de 1851 a abril de 1854, o distrito esteve subordinado a Mar de Espanha e as Atas Eleitorais deveriam estar nos livros daquele município. A exemplo do ocorrido em São João Nepomuceno, também ali não logramos êxito nas buscas. Sabe-se que naquela época eram 2 os eleitos para o cargo. No mesmo período em que Celso Falabella cita Inácio Nunes de Moraes, sabemos que Antônio Júlio da Paixão exercia o mesmo cargo. Desconhecemos o número de votos de cada um e, conseqüentemente, qual deles era o 1º e o 2º.

É a partir de 1854 que se torna mais fácil acompanhar a história do Rio Pardo porque, subordinado a Leopoldina, teve a maioria de seus registros preservados pelo Arquivo da Prefeitura daquela cidade. Ainda assim encontraremos um intervalo sem documentos, já que em 1868 a cidade de Mar de Espanha requisitou e conseguiu administrar Rio Pardo por algum tempo.

Resumindo o que pudemos apurar temos então os seguintes detentores do cargo de Juiz de Paz do Distrito de Bom Jesus do Rio Pardo, de acordo com o ano em que foram empossados:

1851

  • Antônio Bernardes de Carvalho

1853

  • Antônio Júlio da Paixão
  • Inácio Nunes de Moraes

1857

  • 1º Gonçalo de Souza Lima
  • 2º Cândido José de Barros
  • 3º Inácio Nunes de Moraes
  • Antônio Júlio da Paixão toma posse em substituição a Gonçalo de Souza Lima

1859

  • José Vieira da Silva, eleito por Dores do Monte Alegre
  • Manoel Dornelas da Costa, eleito por Dores do Monte Alegre

1860

  • José Furtado de Mendonça, eleito por Dores do Monte Alegre

1861

  • Firmino Antônio de Lima

1862

  • 1º Antônio Júlio da Paixão
  • 2º Francisco Antônio da Cunha
  •  3º Cândido José de Barros
  • 4º Joaquim José Coimbra
  • José Joaquim Barbosa, especial de Dores do Monte Alegre.

1863

  • 1º Albino Silvino de Lima e Melo
  • 4º Joaquim Soares Ferreira, eleito por Dores do Monte Alegre

1865

  • 1º Emygdio José de Barros
  • 2º Francisco Antônio da Cunha
  • 3º Antônio Bernardes de Carvalho, eleito por Dores do Monte Alegre.
  • 4º João Antônio Martins
  • 1º Felisberto Rodrigues Pereira Brandão, especial de Dores do Monte Alegre.
  • 2º José Vieira da Silva, especial de Dores do Monte Alegre.

1866

  • 1º Jacob Dornelas da Costa
  • 3º Manoel Luiz Pereira
  • 4º José Antônio Nunes de Moraes, eleito por Dores do Monte Alegre.

1867

  • Francisco Antônio da Cunha

1877

  • Francisco Rosa Cândido

1881

  • 1º Joaquim Pereira de Sá
  • 4º Antônio Hermogêneo Dutra

1883

  • 1º Valério de Souza Meireles
  • 3º Joaquim Teixeira de Meireles
  • 4º Antonio Cardoso Brochado Júnior

1888

  • Antônio Hermogêneo Dutra

1891

  • José Maria Furtado de Souza

1892

  • José Teixeira Meireles

1894

  • 1º Manoel Marinho da Cunha
  • 2º Jerônimo Fernandes das Chagas

Muitos deles serão citados em outros capítulos por sua participação em outras atividades ou por fazerem parte de famílias melhor estudadas. Faz-se necessário acrescentar, ainda, as seguintes autoridades:

  • Antônio Bernardino Damasceno tomou posse como Fiscal do distrito a 16.02.1883;
  • Antônio Rodrigues de Barros, indicado para Fiscal do distrito a 30.07.1877;
  • Antonio Júlio da Paixão tomou posse como Vereador em Leopoldina a 09.04.1862 e como 3º substituto de Juiz Municipal, também em Leopoldina, em 05.03.1866;
  • João Antonio da Costa Coimbra, Vereador empossado em Leopoldina a 07.01.1881;
  • João Evangelista Coimbra, Vereador suplente empossado em Leopoldina a 09.10.1862;
  • Joaquim Pereira de Sá, Vereador com posse em Leopoldina a 07.01.1887

Posse de autoridades de Bom Jesus do Rio Pardo

Autoridades empossadas pela Câmara Municipal de Leopoldina em Rio Pardo, atual Argirita.

Autoridades do distrito de Rio Pardo

  • Antonio Bernardino Damasceno, Fiscal, 16.02.1883
  • Antonio Cardoso Brochado Júnior, 4º Juiz de Paz, 26.09.1883
  • Antonio Hermogeneo Dutra, 1º Juiz de Paz, 06.02.1888; 4º Juiz de Paz, 25.10.1881
  • Antonio Júlio da Paixão, 1º Juiz de Paz, 16.09.1857; 1º Juiz de Paz, 11.04.1862
  • Cândido José de Barros, 2º Juiz de Paz, 08.01.1857; 3º Juiz de Paz, 16.06.1862
  • Emidio José de Barros, 1º Juiz de Paz, 01.02.1865
  • Firmino Antonio de Lima, 1º Juiz de Paz, 12.02.1861
  • Francisco Antonio da Cunha, 2º Juiz de Paz, 07.07.1862; 2º Juiz de Paz, 09.01.1865; 2º Juiz de Paz, 29.01.1867
  • Gonçalo de Souza Lima1º Juiz de Paz, 08.01.1857
  • Inácio Nunes de Moraes, 3º Juiz de Paz, 08.01.1857
  • Jacob Dornelas da Costa, 1º Juiz de Paz, 25.07.1866
  • Jerônimo Fernandes das Chagas, 1º suplente de Juiz de Paz, 14.06.1894
  • João Antonio Martins, 4º Juiz de Paz, 07.01.1865
  • Joaquim José Coimbra, 4º Juiz de Paz, 27.11.1862
  • Joaquim Pereira de Sá, 1º Juiz de Paz, 24.10.1881
  • Joaquim Teixeira de Meireles, 3º Juiz de Paz, 24.07.1883
  • José Maria Furtado de Souza, 3º suplente de Juiz de Paz, 05.02.1891
  • José Teixeira Meireles, 3º Juiz de Paz, 23.01.1892
  • Manoel Luiz Pereira, 3º Juiz de Paz, 25.07.1866
  • Manoel Marinho da Cunha, 1º suplente de Juiz de Paz, 25.04.1894
  • Valério de Souza Meireles, 1º Juiz de Paz, 07.01.1883

FONTE: Arquivo da Câmara Municipal de Leopoldina, antigos códices 32 e 146