117 – João Funchal Garcia, o irmão jornalista.

Conforme ficou dito na quinzena passada, o Trem de História de hoje se ocupará com a vida e obra do filho caçula de Alfredo Garcia Ribeiro e Mariana dos Prazeres Funchal, o oitavo deles, João Funchal Garcia, nascido[1] no dia 11 de agosto de 1895 em Leopoldina.

E começa informando que em 1920 ele trabalhava[2] no Posto de Profilaxia de Além Paraíba, onde era colega de seu conterrâneo e amigo Luiz Rousseau Botelho, a quem conhecera na infância na rua Tiradentes.

João se casou com Zilca Macedo com quem teve, pelo menos, os filhos Carlos Alberto e Maria José, esta nascida[3] aos 14 de maio de 1925 em Leopoldina.

Iniciou sua carreira jornalística em 1927 quando escreveu para o jornal da terra natal a matéria intitulada[4] “A “Santa” existe?”, falando da aparição na Serra dos Andrés. O artigo descreve uma excursão que fez à localidade situada em território da atual cidade de Recreio (MG), bem ao estilo de um repórter em busca da notícia.

Naquele ano, João havia sido nomeado escrevente do Cartório do 3º Ofício de Palmyra, atual Santos Dumont (MG), onde também foi secretário[5] do jornal A Notícia. No ano seguinte, foi nomeado[6] Ajudante de Procurador da República na mesma cidade.

Em 1930, já no Rio de Janeiro, era[7] repórter de polícia do jornal A Pátria e em 1939 trabalhava como jornalista[8] no Diário Carioca onde conheceu Alberto Romero, que sobre ele escreveu[9]:

“No Rio pouca gente sabe hoje que o repórter Funchal Garcia optou pela rendosa profissão de mendigo para contar tudo mais tarde numa série de reportagens no DC. Funchal me disse que viveu não sei quantos meses do produto das esmolas. O salário do jornal era entregue à mulher dele, que ignorava a natureza da sua missão jornalística. O mais impressionante é que o velho Funchal chegou a tomar tanto gosto pela mendicância (ele próprio me confessou) que até pensou em abandonar o jornalismo, e certamente não faria mau negócio.”

Anos depois um jornal carioca[10] registrava que João Funchal Garcia era um dos jornalistas que assinaram telegrama ao presidente Eurico Gaspar Dutra em apoio ao ato que extinguiu o jogo no Brasil. Vale lembrar que a proibição dos chamados jogos de azar, considerados uma prática degradante para a sociedade, ocorreu com a publicação do Decreto nº 9215, de 30.04.46, do presidente Dutra.

Em 1947[11], o então funcionário João Funchal Garcia foi transferido da Agência Nacional para o Departamento de Segurança. Mas o jornalista continuava ativo e mesmo residindo no Rio de Janeiro, em 1949 enviou matéria[12] especial pelo Dia do Aviador para jornal de Santos Dumont, com o título “Santos-Dumont e o dever patriótico de Palmira”.

Em 1958 recebeu[13] Medalha Comemorativa do II Congresso de Polícia pela cobertura jornalística do evento. Aposentou-se[14] em agosto de 1960 mas continuou sendo procurado pelos colegas do meio e em 1965 foi chamado a opinar sobre o livro[15] ‘O Assunto é Jornal’, publicando uma crítica no mesmo Diário Carioca onde trabalhou.

O jornalista João Funchal Garcia faleceu no Rio de Janeiro, no dia 25 de maio de 1967.

Por hoje a história fica por aqui. No próximo Jornal o Trem de História trará a carga relativa à vida e obra do pintor e escritor (Manoel) Funchal Garcia. Aguardem!


Fontes consultadas:

1 – Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 06 bat fls 18 termo 586.

2 – BOTELHO, Luiz Rousseau, Dos 8 aos 80. Vega: Belo Horizonte, 1979 p. 293.

3 – Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 22 bat fls 9 termo 109.

4 – Gazeta de Leopoldina. 19 fev 1927 ed 224 p. 4 coluna 3.

5 – Jornal de Queluz. Conselheiro Lafaiete, MG, 24 nov 1928 ed 141 p. 1 coluna 5

6 – Correio da Manhã. Rio de Janeiro, RJ, 8 out. 1929 ed 10667 p. 7 coluna 9.

7 – Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, RJ, 24 e 25 julho 1949 ed 172 2ª seção p. 2 coluna 4

8 – Diário Carioca. Rio de Janeiro, RJ, 1 dez 1939 ed 3522 p. 11.

9 – idem, 2 ago 1965 ed 11460 p. 8.

10 – A Manhã. Rio de Janeiro, RJ, 01 maio 1946, ed 1449, p. 2 coluna 8

11 – A Noite. Rio de Janeiro, RJ, 05 ago 47, ed 12635, p. 4, coluna 3

12 – O Sol. Santos Dumont, MG, 23 out 49, ed 1125, p. 3

13 – Diário Carioca. Rio de Janeiro, RJ, 27 maio 1958 ed 9161 p. 10 coluna 7.

14 – idem, 11 ago 1960 ed 9853 p. 6 coluna 5.

15 – idem, 2 ago 1965 ed 11460 p. 8.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 369 no jornal Leopoldinense de 16 de dezembro de 2018

VII Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo

SÉTIMO ENCONTRO DO CAMINHO NOVO / 17 E 18 DE JUNHO DE 2016
SANTOS DUMONT – MINAS GERAIS

VII Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo

17 de junho de 2016 – sexta-feira
Local: Auditório da Fundação Educacional São José (antiga Escola Normal), Avenida Getúlio Vargas, 547, Centro

08:00h – Inscrições gratuitas feitas na hora – vagas limitadas ao espaço físico do auditório – público alvo: pesquisadores e professores

08:30h – Abertura – organizadores – Apresentação dos participantes – Professores Luiz Mauro Andrade da Fonseca e Francisco Rodrigues de Oliveira (Centro de Memória Belisário Pena e Associação dos Amigos do Arquivo Público Altair Savassi – Barbacena)

09:00h – “Educação Patrimonial em Santos Dumont” – Professores Bruno Campos Guilarducci, Ana Maria Marques Dias e Marisa Fontes (Prefeitura Municipal de Santos Dumont)

09:30h – “Homens ‘civilizados’, homens de negócios: São João Del Rei e as elites oitocentistas (1822-1842) ” – Prof. Leonardo Bassoli Ângelo (Programa de Pós-Graduação em História – Universidade Federal de Juiz de Fora)

10:00h – intervalo – café

10:30h – “Abandono e esquecimento: o patrimônio histórico nos caminhos antigos na Baixada Fluminense” – Prof. Paulo Clarindo (Coordenador do Grupo Amigos do Patrimônio Cultural – Nova Iguaçu – RJ).

11:00h – “A história social através do método de pesquisa genealógica: a genealogia corrigindo lapsos da história. ” – Prof.ª Nilza Cantoni (Leopoldina)

11:30h – “Santeiro, além da matéria” – Escultor Luciomar Sebastião de Jesus (Congonhas)

12:00h – Almoço

14:00h – “Vias de Minas: Caminho Novo e Ferrovias” – Prof.ª Helena Guimarães Campos (Belo Horizonte)

14:30h – “O traçado da E. F. Dom Pedro II e suas coincidências com o Caminho Novo”. – Prof. Antonio Pastori (Rio de Janeiro).

15:00h – “Instituto Federal e a Preservação da Educação Ferroviária” – Prof. André Diniz de Oliveira (Diretor do IFET – Santos Dumont).

15:30h – “Os Caminhos de Ernst Hasenclever em Minas Gerais” – Edson Brandão (Secretário de Cultura de Barbacena). Lançamento de livro.

16:00h – intervalo – café

16:30h – Mesa-redonda “Arquivos Públicos Regionais” – Barbacena (Prof.ª Edna Resende), São João del Rei (Prof. Jairo Machado) e Juiz de Fora (Prof. Antônio Henrique Duarte Lacerda).

17:30h – “Santos Dumont nos mapas antigos” – Prof. Antônio Gilberto da Costa (Belo Horizonte – UFMG)

18:00h – – “Atuação do Ministério Público de Minas Gerais na defesa do patrimônio cultural da Estrada Real – Caminho Novo” – Dr. Marcos Paulo de Souza Miranda (Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Minas Gerais).

Durante todo o dia, exposição e venda de livros relacionados pela Livraria Quarup, de Juiz de Fora, de livros usados, a cargo de Cláudio Luiz da Silva. Livros sobre o Caminho Novo e cidades mineiras. Lançamentos.

Após o final das comunicações, jantar de confraternização (por adesão) entre os participantes do evento, com música de fundo (roda de choro).

18 de junho de 2016 – sábado

09:00h – Turismo cultural pela cidade de Santos Dumont, compreendendo Museu Casa Natal de Santos Dumont, primeiras fábricas de laticínios, Estrada União e Indústria, e Fazenda da Mantiqueira.

SUGESTÃO DE HOSPEDAGEM EM SANTOS DUMONT

POUSADA VILLA DUMONT – Rua João Pessoa, 58, Centro, telefax: (32) 3251-3059
HOTEL ITAIPU – Rua 13 de maio, 357, Centro, telefone: (32) 3251-3013
HOTEL E LEITERIA SÃO LUIZ – BR 040, km 742 – tel: (32)3251-3153

O Caminho Novo em Santos Dumont


 

A partir de um conjunto de slides, Luiz Mauro Andrade da Fonseca apresentou diversos mapas que nos ajudaram a localizar a região objeto de seus estudos. Iniciou mostrando o percurso do Caminho Velho, passando pelo Sul de Minas, indo para São João del Rei e seguindo para Ouro Preto. Em seguida reiterou, conforme dissera Francisco Eduardo de Andrade, que foram diversos os ‘abridores’ do Caminho Novo, os quais se utilizaram de picadas abertas pelos índios e remodelaram o percurso do Rio de Janeiro a Ouro Preto, ‘encurtando consideravelmente a viagem’. Para percorrer o Caminho Velho, de Parati a Ouro Preto, eram necessários entre 75 e 90 dias.

Fonseca explicou que a temática do encontro seria analisar o trecho do Caminho Novo de Simão Pereira a Alfredo Vasconcelos, passando pela zona da mata mineira e adentrando a zona das vertentes. Destacou, no mapa, as localidades de Simão Pereira, Matias Barbosa, Juiz de Fora, Ewbanck da Câmara, Santos Dumont, Antônio Carlos, Barbacena e Alfredo Vasconcelos.

Lembrou que o Programa Estrada Real, do Governo de Minas Gerais, tem por objetivo incentivar especialmente a indústria do Turismo, deixando lacunas significativas no que concerne aos estudos históricos e geográficos que permitiriam um conhecimento mais amplo do que seja a Estrada Real.

‘Os índios foram os autores dos caminhos, tanto o Velho como o Novo, aproveitados pelos bandeiristas’ em suas incursões pela terra mineira que inicialmente foram motivadas pelas tentativas de captura dos povos nativos, declarou Fonseca. Numa cartografia de 1777, indicou o Caminho Velho e a seguir dedicou-se ao trecho do Caminho Novo que atravessa o atual município de Santos Dumont, mencionando as consultas realizadas a estudiosos do assunto e suas visitas aos locais, fazendo diversas fotografias.

Segundo o professor Fonseca, a melhor descrição que encontrou daquele percurso foi a de Costa Matoso, autor que menciona o Sítio do Luiz Ferreira, atualmente Ewbanck da Câmara, o Sítio do Pedro Alves, local atualmente conhecido por Francesa, a Rocinha e Sítio de João Gomes, o Sítio de Pinho Velho, Pinho Novo e o Sítio da Mantiqueira. Estas localidades foram indicadas no mapa.

Um dos pontos altos da comunicação de Luiz Mauro da Fonseca foi a apresentação de um Mapa Temático, de 1991, cujo autor nasceu em Santos Dumont. Este trabalho apresenta a região a partir de Chapéu d’Uvas, atualmente unido a Paula Lima, distrito de Juiz de Fora.

Nas diversas fotografias, Fonseca chamou a atenção para a multiplicidade de ‘trilhas’ que certamente pertenceram ao Caminho Novo, desmistificando a impressão de que seria um único percurso e demonstrando que existiam muitas variantes. Ressaltou que é praticamente impossível, atualmente, identificar a rota original, uma vez que alternativas foram sendo abertas no decorrer do tempo. Importante, pois, mostrar a direção pela qual o Caminho seguia. No caso, a direção de Ewbanck da Câmara para Santos Dumont e depois para Barbacena.

Indicar a Estrada de Ferro Central do Brasil foi um facilitador, uma vez que a ferrovia tem um traçado bem próximo ao do Caminho Novo, ladeando-o quase sempre. Foram apresentadas, também, fotografias de antigas fazendas da região citadas pelos viajantes estrangeiros. Algumas estão preservadas, outras nem tanto. Numa das imagens pudemos ver um Marco da Estrada Real e bem ao lado uma das trilhas que compuseram o Caminho Novo.

O professor Luiz Mauro foi muito feliz em sua Comunicação, utilizando recursos didáticos que prenderam a atenção e ajudaram a acompanhar sua fala. Esperemos que ele envie uma cópia dos slides para que possam ser aqui publicados.

Quando chegou à area urbana de Santos Dumont, Fonseca apresentou antigas fotografias da cidade com seus casarões imponentes, alguns tombados pelo Patrimônio Municipal durante sua gestão à frente daquele órgão.

Prosseguindo, outras fotografias do Caminho Novo em direção à Fazenda Mantiqueira, a mais famosa de Santos Dumont. Sempre seguindo pelo caminho dos tropeiros, por onde passaram todos os viajantes estrangeiros que deixaram obras descritivas bastante variadas.

As fotografias da Fazenda Mantiqueira demonstraram o excelente estado de conservação em que se encontra. A propriedade pertenceu a Silvestre Dias de Sá e mais tarde ao inconfidente José Aires Gomes.

Depois da Mantiqueira, sobe-se a serra para chegar à Fazenda do Registro, que se encontra abandonada e precisando de socorro. Deste trecho foi apresentada uma fotografia com partes do calçamento que ali existiu, além de imagens panorâmicas da zona da mata, com muitas araucárias, vistas já a meio caminho para a região denominada ‘Campo’, de onde veio o topônimo Borda do Campo. Também foi possível ver o que resta de chafarizes, incluindo o denominado D. Pedro II. Uma das imagens mais significativas, entretanto, mostra a transição entre a mata e o campo, numa paisagem realmente muito bonita.

Luiz Mauro Andrade da Fonseca, além de médico e professor, faz parte do grupo Pesquisadores Independentes de Barbacena e Santos Dumont de grande atividade desde a década de 1990. É também membro do Centro de Memória Belisário Pena, de Barbacena, uma das entidades promotoras deste primeiro Encontro de Pesquisadores de História e Geografia do Caminho Novo da Estrada Real. É, ainda, autor de uma obra sobre a história de Padre Correia de Almeida, município vizinho a Barbacena.