Antigas Escolas do distrito de Ribeiro Junqueira

O epíteto de Atenas da Zona da Mata tem sido objeto de comentários frequentes de leitores deste blog. Depois da republicação de postagem com este título em novembro de 2015, chegaram pedidos para identificarmos as escolas que existiram no município de Leopoldina no século XIX, justificando o epíteto. Um destes pedidos se refere ao então distrito de Campo Limpo, hoje Ribeiro Junqueira.

Hoje serão aqui republicadas algumas notas veiculadas na imprensa periódica da época. Partimos do anúncio publicado em maio de 1882, no jornal Liberal Mineiro, edição 52 de 24 de maio, página 3, a respeito da inscrição e processo de habilitação de professores públicos que seria realizada entre junho e julho daquele ano.  Para o município de Leopoldina havia vagas na sede e nos distritos de Madre de Deus do Angu, Conceição da Boa Vista, Rio Pardo, Tebas, Volta Grande e Campo Limpo.

Importante esclarecer que o distrito de Campo Limpo já contava com uma sala de Aulas Públicas, a cargo do professor Antônio Alves Cordeiro, conforme se vê abaixo:

De um outro professor público temos a seguinte notícia:

 

Notícia publicada na Gazeta de Leste, edição 16, de 17 de janeiro de 1891

Observa-se que este professor Generoso Antonio Tavares tinha sido professor na sede do município e se transferiu para o distrito, reiniciando suas atividades em 7 de janeiro de 1891. Talvez não tenha permanecido como único professor da localidade, já que quatro anos depois havia mais um professor na folha de pagamentos da Câmara Municipal de Leopoldina, conforme se vê na próxima notícia.

Parece que o professor Alberto Jackson contava com a colaboração de Dona Zulmira Jackson, talvez sua esposa, uma vez que a divulgação dos exames realizados no final daquele ano indicam o nome dela como encarregada da escola, notícia a seguir:

Neste blog podem ser encontradas outras postagens sob a tag Escolas, nas categorias História de Leopoldina e Educação.

Professor Olímpio Clementino de Paula Corrêa

No dia 5 de dezembro de 1882 o Professor Olímpio Clementino de Paula Corrêa foi designado para a 3ª cadeira de instrução primária de 2º grau na cidade de Leopoldina, como professor de Português, Francês e Geografia, conforme consta do Relatório de Antonio Gonçalves Chaves para a Assembleia Provincial de Minas em 2 de agosto de 1883, AD 46 e 47. Mas ele já atuava como professor em Leopoldina, conforme se verá a seguir.

Este foi o único antigo professor de Leopoldina que pudemos acompanhar por mais tempo através das notícias publicadas em jornais, conforme nossa postagem de 1 de julho de 2013, disponível aqui.

Atenas da Zona da Mata

Desde a segunda metade do século XIX, em Leopoldina funcionavam muitas escolas reconhecidas pelo bom nível da educação ali obtida. Mas foi no início do século XX que surgiu o epíteto de Atenas da Zona da Mata.
A mais antiga referência que encontrei a respeito foi de Roberto Capri, no livro Minas Gerais e seus Municípios, editado em 1916 pela Casa Pocai Weiss & Cia. Na página 242 o autor declara:
“Leopoldina se pode considerar a Athenas da Zona da Matta. A instrucção publica, principal propulsor da civilisação d`um povo é aqui largamente administrada, como attestam os seus estabelecimentos de ensino e a grande frequencia dos seus alumnos”.
Em 1950, José Ribeiro Leitão, ex-pároco em Leopoldina, jurista e ex-juiz federal, escreveu o soneto “Leopoldina” com os seguintes últimos versos:
“Tão rica no saber que a ilumina,
Atenas, não da Grécia mas da Mata
Nome que Aquino deu a Leopoldina.”
O último verso levou muitas pessoas a acreditarem que Aquino foi quem deu o epíteto a Leopoldina. Dom Francisco de Aquino Corrêa, Arcebispo de Cuiabá, homem de notável cultura aos 32 anos assumiu o governo da então Província de Mato Grosso, a qual governou de 1918 a 1922. Em 1927, após visitar Dom Aristides de Araújo Porto, então vigário da Paróquia de São Sebastião de Leopoldina e mais tarde Bispo de Montes Claros, Dom Aquino escreveu um soneto com o título “Leopoldina” que termina assim:
“E assim, coroando com os florões do estudo,
O teu nome que vale um nobre escudo,
És a Atenas da Mata, ó Leopoldina.”
Teria Dom Aquino lido Roberto Capri? Ou teria ouvido o epíteto em conversa com Dom Aristides?
Esta é uma republicação de postagem escrita em 2009.

Dilermando Cruz funda um colégio

Conforme já foi mencionado algumas vezes neste blog, a cidade de Leopoldina teria recebido o epíteto de Atenas da Zona da Mata em função da grande quantidade de escolas em funcionamento. Para lembrar esta característica, temos publicado as notícias dos jornais da época, sempre mantendo a data como indicador da efeméride.

Aqui temos a informação de que há 115 anos,  em janeiro de 1899, o poeta Dilermando Cruz fundou um externato.

1898: Escola de Campo Limpo

Segundo a notícia abaixo, em 27 de dezembro de 1898 foi assinado um decreto suspendendo o funcionamento da escola do sexo feminino do distrito de Campo Limpo, atual Ribeiro Junqueira. O jornal que publicou a notícia ficou de apurar o fato mas não voltou ao assunto.

Entretanto, informações orais sobre a professora Castorina de Rezende Montes  dão conta de que ela passou a morar no distrito ao se casar com Caetano Alves de Novaes, fato ocorrido aos 4 de janeiro de 1890. Segundo familiares, logo depois começou a dar aulas e continuou sendo professora em Campo Limpo até por volta de 1910.

Primeira Sede do Colégio Imaculada Conceição

Segundo a notícia abaixo, um filho do casal de pioneiros João Gonçalves Neto e Mariana Flauzina de Almeida iria construir casas no alto da rua Lucas Augusto.

Provavelmente um destes imóveis terá sido o abaixo, que mais tarde pertenceu ao Colégio Imaculada Conceição.

Escolas em Argirita

Há 132 anos o jornal O Leopoldinense publicava anúncio de um internato para meninas no então distrito de Rio Pardo:

Outras escolas funcionaram no antigo distrito de Leopoldina, incluindo-se as Aulas Públicas que estiveram a cargo do professor José Maria Tesson, nomeado interinamente para o cargo em abril de 1895:

Ao final daquele ano o professor Tesson continuava à frente da escola, conforme indica a Ata dos Exames publicada n’O Leopoldinense de 22 de dezembro:

Escola Pública Feminina

Há 118 anos era inaugurada outra escola pública feminina em Leopoldina. Segundo notícia d’O Leopoldinense, no dia 14 de agosto de 1895 a professora Maria Brígida de Medeiros abriu uma escola de instrução primária do sexo feminino.

Em dezembro do mesmo ano foram publicados os resultados dos exames realizados pelas alunas da professora Maria Brígida e de sua mãe, Maria Bárbara, que na nota aparece com o nome de Maria Barbosa de Medeiros.

A professora acima referida como Maria Brígida de Jesus era filha de Joaquim Furtado de Medeiros e de Maria Bárbara da Conceição, tendo nascido aos 18 de outubro de 1874 em Tabuleiro do Pomba, MG.

Aos 6 de janeiro de 1896[1] foi nomeada professora de Leopoldina após concluir os estudos na Escola Normal de Ouro Preto. Em 1914[2] substituiu Augusto dos Anjos na direção do Grupo Escolar e dois anos depois transferiu-se para Cataguases. Faleceu no Rio de Janeiro em 1946.

Seu pai era português e faleceu em Leopoldina aos 20 de janeiro de 1908[3]. Sua mãe, Maria Bárbara, auxiliou a filha nas atividades do Colégio Castanheira, mencionado por Luiz Rousseau Botelho[4].

O nome deste colégio vem de Bento Bernardes Castanheira, natural de Bom Sucesso, Minas Gerais, nascido por volta de 1865[5], filho de José Bernardes de Souza e Delfina Eusébia Castanheira. Residiu em Ubá[6], onde era redator do jornal O Progresso em novembro de 1890. Transferiu-se para Leopoldina e fundou a escola particular que levava seu nome. Casou-se com Maria Brígida aos 28 de novembro de 1896. Em 1906[7] era vice-presidente do Centro Espírita de Leopoldina. Faleceu aos 8 de maio de 1914[8], deixando quatro filhos: Bento, Franca Rosa, Mário e Aurelinda.

Em outro livro de Luiz Rousseau[9] consta que a Chácara dos Castanheira “era um lugar de vista panorâmica maravilhosa” e que o acesso era pela Rua das Tabocas. Esta informação baseou a Lei Municipal 1130, de 12 maio de 1976, que deu o nome da professora Maria Brígida a uma rua no bairro Maria Guimarães França.


[1] Relatórios de Conselheiros e Presidentes da Província de Minas Gerais, 1897.

[2] RODRIGUES, José Luiz Machado e CANTONI, Nilza. Nossas Ruas, Nossa Gente. Rio de Janeiro: particular, 2004. p.145.

[3] Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, lv 2 obitos 3º plano sep 613 fls 21 reg 14.

[4] BOTELHO, Luiz Rousseau. Alto Sereno. Belo Horizonte: Vega, 1975. p.75

[5] Arquivo da Câmara Municipal de Leopoldina, Alistamento Eleitoral de Leopoldina século XIX, 1895..

[6] O Leopoldinense. Leopoldina, MG:, 1879 – ?.  1890, ed. 55, 20 de novembro, pag. 1.

[7] Almanack do Arrebol. Leopoldina: s.n., 1984-1985. Ano 2 nr 6 fls 6.

[8] Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, lv 2 óbitos sep 3º plano nr. 985 fls 59 reg 95.

[9] BOTELHO, Luiz Rosseau. Dos 8 aos 80. Belo Horizonte: Vega, 1979. p.113.

 

 

Escolas Subsidiadas pelo Município

Há 130 anos o professor Antonio Diogo Vieira fez a seguinte petição à Câmara Municipal de Leopoldina:

A nota publicada n’O Leopoldinense parece confirmar a hipótese de que a Câmara Municipal subsidiava o funcionamento das salas de “aulas públicas” com base na quantidade de alunos que as frequentassem.

Escolas particulares de Leopoldina

Apesar de algumas controvérsias quanto à origem do epíteto de Atenas da Zona da Mata[1], não se pode negar que a população leopoldinense esteve frequentemente envolvida em assuntos escolares e não somente em relação ao ensino público. Especialmente na última década do século XIX, não foram raras as notícias sobre instalação de escolas em Leopoldina. Um exemplo encontra-se na edição número 269 do órgão oficial Minas Geraes, de 5 de outubro de 1893, em cujas páginas 5 a 7 foram publicados os Estatutos da Sociedade Anônima Arcádia Leopoldinense, destinada à instrução da mocidade.

 

 

 

Pelo que foi possível apurar, este colégio particular destinava-se ao ensino intermediário – entre a escolarização básica e o ensino superior. Segundo a notícia abaixo, dois anos depois foi organizado, no mesmo edifício, um internato e externato.

Outras notas sobre o Colégio Nossa Senhora do Rosário:

 


[1] Citado em CAPRI, Roberto. Minas Gerais e seus Municípios. São Paulo: Pocai Weiss & Cia, 1916. p. 248