Os Cafelistas de Leopoldina

De forma geral é costume dizer que a ocupação do solo de Leopoldina se deu pelos plantadores de café. Discordo bastante desta posição.

Segundo o Registro de Terras de 1856, dos 95 proprietários apenas um, Bernardo José Gonçalves Montes, declarou dedicar-se ao plantio de café. Outros 58 declaram atividade como lavoura em geral e 12 plantavam especialmente milho. Os demais 27 não declararam a quais atividades se dedicavam. Dentre estes já identificamos 13 proprietários de pequenas chácaras, localizadas na área urbana. É possível que alguns dos demais 14 fossem também chacareiros, mas pode ser que entre eles houvesse quem se dedicasse ao plantio do café, embora em propriedades de extensão diminuta.

Nos livros de arrecadação fiscal do período subseqüente, o café começa a ser mencionado ainda de forma esporádica. Segundo o Almanaque Administrativo de Minas Gerais para o ano de 1864, 60 fazendeiros de Angustura dedicavam-se ao cultivo do café. Infelizmente não houve remessa do mapa relativo à cidade de Leopoldina como um todo e, por conta disso, não sabemos quantos fazendeiros haviam se tornado agricultores.

É no período seguinte, 1865 a 1874, que o cultivo de café desponta como a principal atividade agrícola na região de Leopoldina. De acordo com os livros de arrecadação fiscal encontrados, comparados com o publicado no almanaque Administrativo de Minas Gerais para o ano de 1875, eram os seguintes os plantadores de café em Leopoldina e Piacatuba:

  • Américo Antonio de Castro Lacerda
  • Anselmo Alves Ferreira
  • Antonio Augusto de Almeida
  • Antonio Bernardino Machado
  • Antonio de Almeida Ramos
  • Antonio de Deus Barros
  • Antonio de Souza Almada
  • Antonio de Souza Almada Júnior
  • Antonio Ferreira Neto
  • Antonio Francisco Barbosa Neto
  • Antonio Joaquim Teixeira
  • Antonio José de Almeida Ramos
  • Antonio Lopes Ferreira
  • Antonio Mauricio Barbosa
  • Antonio Pereira da Silva
  • Antonio Pereira de Medeiros
  • Antonio Pereira Valverde
  • Antonio Prudente de Almeida
  • Antonio Rodrigues Gomes
  • Antonio Rodrigues Montes
  • Antonio Romualdo de Oliveira
  • Belisário Alves Ferreira
  • Bernardo Rodrigues Gomes
  • Bernardo Rodrigues Montes
  • Camilo Alves Ferreira
  • Carlos Augusto de Aquino Cabral
  • Carlos de Assis Pereira
  • Cassiano José do Carmo
  • Claudino Vieira da Silva
  • Cláudio José de Miranda
  • David Alves Ferreira
  • Domingos Ferreira Neto
  • Domingos Henriques de Gusmão
  • Domingos José da Silva
  • Domingos Marques de Oliveira
  • Evencio Fabricio da Fonseca
  • Ezaú Antonio Corrêa de Lacerda
  • Francisco Alves de Lacerda
  • Francisco Antonio de Brito
  • Francisco Antonio de Brito Júnior
  • Francisco Bernardino Machado
  • Francisco da Costa e Souza
  • Francisco de Paula Machado
  • Francisco de Paula Monteiro da Silva
  • Francisco Dias Ferraz
  • Francisco Esmério de Paiva Campos
  • Francisco Ferreira Brito
  • Francisco Gonçalves Neto
  • Francisco Henriques Pereira
  • Francisco Joaquim de Almeida e Gama
  • Francisco José Barbosa de Miranda
  • Francisco José de Freitas Lima
  • Francisco Mendes do Vale
  • Francisco Rodrigues de Almeida
  • Francisco Soares Valente Vieira
  • Jerônimo José de Mesquita
  • João Antonio da Costa Coimbra
  • João Antonio da Silva
  • João Antonio de Araújo Porto
  • João Basilio de Almeida
  • João Batista da Silva
  • João Batista de Almeida
  • João Batista Martins Guerra
  • João Damasceno Ferreira Brito
  • João Dutra Nicácio
  • João Evangelista Coimbra
  • João Francisco Coelho
  • João Gonçalves Nto
  • João Gualberto Ferreira Brito
  • João Pereira Valverde
  • João Rodrigues Ferreira Brito
  • João Vidal Leite Ribeiro
  • João Vieira da Silva
  • Joaquim Antonio de Almeida Gama
  • Joaquim Antonio de Almeida Ramos
  • Joaquim da Silva Tavares
  • Joaquim de Souza Werneck
  • Joaquim Francisco de Assis
  • Joaquim Honório de Campos
  • Joaquim Inacio de Oliveira
  • Joaquim José da Costa Cruz
  • Joaquim Machado Neto
  • Joaquim Pinheiro de Faria
  • José Alves Ferreira
  • José Antonio de Moraes
  • José Bernardino Machado
  • José Dias Moreira
  • José Evangelista do Carmo
  • José Fajardo de Melo
  • José Francisco de Paiva Campos
  • José Furtado de Mendonça
  • José Henriques da Mata
  • José Joaquim Pereira
  • José Maria da Penha
  • José Maria Gonçalves Coelho
  • José Martins Pacheco
  • José Ovídio Gomes de Aguiar
  • José Teixeira Lopes Guimarães
  • José Tomaz de Aquino Cabral
  • José Tomaz Dutra
  • Josué de Vargas Corrêa
  • Justino Marques de Oliveira
  • Justino Marques de Oliveira
  • Leopoldo de Vargas Corrêa
  • Manoel Antonio de Almeida
  • Manoel Benedito de Freitas
  • Manoel da Silva Miranda
  • Manoel Dias Ferraz
  • Manoel Ferreira Ribeiro
  • Manoel Francisco Coelho
  • Manoel Jacinto de Oliveira
  • Manoel Joaquim Pereira
  • Manoel José de Novaes
  • Manoel José Ferraz
  • Manoel José Monteiro da Silva
  • Manoel Rodrigues da Silva
  • Manoel Rodrigues do Nascimento
  • Maria do Carmo Monteiro da Silva
  • Maria Luiza de Miranda
  • Mariana de Jesus
  • Maxima Ferreira Braga
  • Miguel de Faria Coutinho
  • Narciso Marques Braz
  • Nicolau Alves Ferreira
  • Pedro Antonio Furtado de Mendonça
  • Pedro Baldoíno da Silva
  • Pedro Moreira de Souza
  • Processo José Corrêa de Lacerda
  • Rafael Teixeira de Souza
  • Romão Pinheiro Corrêa de Lacerda
  • Silvano José da Cruz Nogueira
  • Venâncio José de Almeida Costa
  • Vicente Ferreira Monteiro de Barros
  • Vicente Rodrigues Gama
  • Vital Inacio de Moraes
  • Vital Rodrigues de Oliveira
  • Wenceslau Rodrigues Martins Pacheco

De Minas para o Espírito Santo

Desde nosso primeiro contato, em dezembro de 2001, um tema é freqüente nas conversas que tenho mantido com Zélia Cassa: o motivo que trouxe os Alves Araújo, Ribeiro Soares e demais parentes para os sertões do rio Pardo.

Sempre concluímos que serão necessários mais alguns anos de pesquisa para encontrarmos a resposta. Por essa razão, a Zélia pediu-me para abordar a proto-história da região, pois os motivos de seus parentes podem ter sido os mesmos que levaram outros homens livres a habitar aquela região.

Falar dos primórdios implica, necessariamente, voltar ao século anterior ao do início do seu povoamento. De modo geral, os leitores menos avisados remetem a história de toda a Minas Gerais para o século do ouro, esquecendo-se que o metal deixou de apresentar-se, em grande escala, poucos anos depois de iniciada a “corrida do ouro”. Uma autora que bem sintetizou a realidade mineira do século XVIII foi a Professora Laura de Mello e Souza, em “Opulência e Miséria das Minas Gerais”, 1981, pela Editora Brasiliense. Diz a autora, nas páginas 47 e 48:

“As Minas do século XVIII foram uma capitania pobre. Constituíram exceção alguns senhores opulentos de lavras…

…a maioria das grandes fortunas devia sua opulência mais ao comércio do que à atividade mineradora.

[…] O comércio de muares e cavalares, que articulava os núcleos mineradores com os campos distantes do sul da Colônia…também deu origem a fortunas consideráveis, o tropeiro tornando-se, assim, um elemento de destaque no cenário social e econômico das Minas. Não era, pois, o dono da botica ou do pequeno armazém que conseguia uma vida farta e desprovida de preocupações em torno da sobrevivência, mas os grandes atravessadores de gêneros, ou, como são mais comumente chamados em nossos dias, os intermediários”.

A origem do topônimo Feijão Cru é creditada a tropeiros que estariam às margens de um córrego, sem, contudo, se fixarem datas ou mais algum detalhe que permitisse apurar melhor o fato. Pela análise de dados posteriores, acreditamos que tais tropeiros, eternizados pela lenda, estariam classificados em uma categoria um tanto distinta daqueles abonados intermediários de gêneros. É ainda a Professora Laura de Mello e Souza que nos apresenta uma descrição que muito se aproxima do que temos apurado em nossas pesquisas. Diz ela na página 54, da obra citada:

“…quando muito pouco restava do ouro aluvional…entrou em cena a pequena empresa, a faiscagem que se arrastou por mais de um século, a figura do mineiro pobre sendo parte integrante da paisagem de Minas”.

Este morador das Minas constituiu, em grande parte, o efetivo das tropas que desbravaram as então “áreas proibidas”. Quando o Governador Luiz da Cunha Menezes – “o fanfarrão minésio” das “Cartas Chilenas” – expediu os bandos exploratórios para os Sertões do Leste, abriu oportunidade de trabalho para muitos homens nas tropas que acompanharam Pedro Afonso Galvão de São Martinho em suas duas investidas por aquela área, até então de acesso proibido.

Por ocasião da segunda diligência, São Martinho escreve carta ao Governador, em que fica claro ter havido um plano de ocupação daqueles sertões. É Celso Fallabela quem nos traz o conteúdo parcial da carta, em “Os Sertões do Leste – Achegas para a história da Zona da Mata”, página 28, da segunda edição particular do autor, 2001:

“…no primeiro ano de ocupação apenas quarenta pessoas haveriam de acomodar-se nas novas terras, afora duzentos escravos. As terras seriam divididas entre aqueles que quisessem explorá-las”.

Acrescente-se, ainda, que no decorrer da ocupação e com vistas a melhor proteção contra invasores, o Governo mineiro instituiu ainda um incentivo para os moradores do Centro de Minas, que se fixassem nos extremos de seu território: seriam dispensados de tributação por um período de até 10 anos.

Este conjunto de fatores foi o móvel para as inúmeras Cartas de Sesmarias, expedidas nos últimos anos do século XVIII e primeiros dos oitocentos. Temos tido oportunidade de analisar a trajetória de alguns daqueles beneficiados, concluindo que, não raras vezes, o sesmeiro jamais ocupou as terras recebidas. Pelo contrário, muitos dividiram suas posses e as revenderam para outros moradores, seus vizinhos, até então radicados nas Comarcas de Rio das Mortes e de Vila Rica.

A queda do poder econômico nas Minas, que já havia se acentuado desde meados do século anterior, levou a população a viver de forma quase inconcebível. Em “Os Sertões do Leste – Áreas Proibidas”, obra de Paulo Mercadante pela Zahar Editores, de 1973, encontramos, na página 24, um depoimento relativo ao estado de uma granja que fora de média importância, revisitada nos primeiros vinte anos do século XIX:

“A casa era uma barraca miserável, com muros de taipa de barro, sem vidraça, roída pelo tempo e mal defendida contra as chuvas. O chão era a terra úmida e negra, sem ladrilhos nem sobrado, saturada de imundícies e endurecida pelo perpassar dos moradores, homens e cevados, que viviam numa promiscuidade repugnante. Por camas, enxergas duras para os amos, um couro ou uma esteira sobre o chão para os servos. A ninhada das crianças alegrava-se seminua, esfarrapada e descalça, as mulheres enfezadas e pobremente vestidas, e o chefe da casa, indolentemente embrulhado na capa, com os socos nos pés, vigiava o trabalho dos negros, lavando o cascalhinho com a sempre mantida esperança da descoberta de um depósito abundante de ouro”.

Algumas pessoas poderão surpreender-se com tal descrição, por terem se acostumado a ler/ouvir apenas a versão dourada ou cor-de-rosa da história de Minas Gerais. Em nossas pesquisas, de há muito concluímos que a vida na Província era extremamente difícil, facilitando para aquelas famílias a decisão de enfrentar a mata com todos os seus perigos. Aparentemente qualquer coisa seria melhor do que deixar-se levar pela degeneração que atingia fazendas e fazendeiros, faiscadores ou comerciantes. Jovens solteiros empregavam-se, com alguma freqüência, em tropas que demandavam o interior das Gerais, no comércio de gêneros de subsistência. Chefes de família também o faziam, muitas vezes, por verem na tropa o único trabalho que garantiria o sustento de sua prole miúda. E quando um parente distante os vinha visitar, propagando maravilhas das terras que estavam à venda nas “áreas proibidas”, muitos fazendeiros incorporavam-se em alguma tropa que fosse trilhar aquelas paragens. Durante alguns meses vasculhavam o território, analisavam as condições e realizavam a compra. Voltavam, então, ao seu lugar de origem, vendiam os bens impossíveis de serem transportados e empreendiam nova jornada acompanhados da família, escravaria e alguns pertences. Tivemos oportunidade de ler um relato sobre umas dessas jornadas que, infelizmente, não trazia indicação que nos permitisse saber quem foi seu autor e para qual região da mata levou a família. A exemplo de muitos outros registrados em livros de história, aquele grupo se deslocava durante 6 horas por dia, em média, quando então procurava local adequado para “assentar pouso”. Inexistindo algum povoado nas proximidades, os homens montavam frágeis barracas que lhes serviriam de abrigo, por uma noite apenas, e as mulheres cuidavam da alimentação de todos. Dia seguinte recomeçavam a jornada, sempre um pouco antes do nascer do Sol. Algumas vezes desviavam-se do roteiro que nos pareceria mais curto, para encontrarem abrigo em casa de algum parente que tivesse migrado anteriormente. Temos visto casos em que, nestas paradas, acertaram casamento de algum filho com alguém da casa que os hospedava.

Parece-nos que foi essa a trajetória de um dos povoadores de Leopoldina. Até onde nos foi possível apurar, em 1826 ou 27 o “Comendador” Manoel Antônio de Almeida acompanhou uma tropa através da hoje conhecida Zona da Mata Mineira. E, nas margens do Feijão Cru, adquiriu as terras onde formou a Fazenda do Feijão Cru Pequeno.

Em setembro de 1828 Manoel Antônio de Almeida levou a família para a nova morada. Parece-nos que, em viagem, teria passado pelo atual município de Astolfo Dutra onde ficou um de seus filhos. Também consta sua assinatura, como testemunha, na Escritura de doação do patrimônio de Santa Rita do Meia Pataca, em maio de 1828, significando, pois, que ele ali estivera no período em que acompanhou a tropa ou que estava organizando a moradia para ir buscar a família. O fato é que, conforme registram alguns historiadores antigos, a vinda dos Almeidas, dos Britos e dos Netos para o Feijão Cru desencadeou uma grande movimentação de parentes, até então radicados na Serra da Ibitipoca. Entre o momento da aquisição das terras e o Primeiro Registro de Terras Públicas – 1856, inúmeras foram as divisões de propriedades realizadas por aqueles primeiros moradores.

O primeiro documento a se referir aos habitantes do Feijão Cru é o Mapa de Habitantes de 1831. Nessa época os Alves de Araújo e os Ribeiro Soares ainda não são identificados por ali. Acreditamos mesmo que os patriarcas destes ramos ainda residiam com suas famílias na região de Ibitipoca, conforme demonstramos para a Zélia, através do Mapa de Habitantes da então Capela da Senhora das Dores do Quilombo, Termo da Vila de Barbacena. Da mesma forma não os pudemos encontrar nos Mapas de Habitantes de 1838 e de 1843, que se referem ao atual território dos municípios de Além Paraíba, Argirita, Cataguases, Guarará, Leopoldina, Mar de Espanha e Santo Antônio do Aventureiro, bem como uma parte de São João Nepomuceno. Ainda estamos analisando as famílias que residiam no distrito da Santíssima Trindade do Descoberto, em 1839, pendente ainda de confirmação de alguns sobrenomes.

Para a década de 50 dos oitocentos, quando a oralidade familiar informa que já viviam no território do Feijão Cru, estamos comparando os Registros de Terras da Zona da Mata com os da Serra da Ibitipoca, sem ter ainda encontrado alguns deles. Apesar dos livros paroquiais de grande parte da região já terem sido por nós pesquisados, pretendemos fazer uma nova consulta aos que se encontram na Igreja Matriz de Mar de Espanha. Sem determinar o período em que migraram para a região, seria irresponsabilidade nossa manifestar opinião sobre o motivo que os trouxe. Em nossos estudos, temos por hábito analisar a história antiga de Leopoldina dividindo-a em três etapas. Do início do povoamento a 1850, temos a chegada do homem livre e a organização social baseada na empresa familiar, com desmatamento e agricultura diversificada para subsistência. A partir daí e até 1880, observamos o crescimento acelerado da mão-de-obra escrava, na maioria dos casos, em fazendas dedicadas ao plantio do café. No período seguinte, limitando-se à virada para o século XX, a monocultura do café vai sendo paulatinamente substituída por outras atividades produtivas, no mais das vezes, em função do melhor conhecimento demonstrado pelo imigrante no trato com a terra, já que aqueles últimos anos do século XIX veriam aumentar enormemente a população de origem européia na região.

Dessa forma, acreditamos que os ancestrais de nossa amiga Zélia tenham migrado para o Rio Pardo no segundo período, aquele em que a economia do lugar estava em franco crescimento. Não tendo encontrado ali o pouso ideal, continuaram a marcha em busca de lugar mais adequado, encontrando, no sul do Espírito Santo, a conjugação de fatores que os atraiu e os fixou.

Zélia está preparando um livro contando a saga de sua família. Estamos colaborando com dados históricos e genealógicos sobre os que viveram em nosso território. São dois grupos interligados que viveram no Rio Pardo:

1 – João Alves de Araújo casado com Inácia Cândida de Jesus, pais de:

Joaquim Marques de Araújo

Cândido Alves de Araújo

João Alves de Araújo Júnior

João Batista Alves de Araújo nascido por volta de 1852 em Argirita, MG

2 – Antonia Maria de Jesus viúva de José Ribeiro Soares, filhos:

José Ribeiro Soares, filho

Manoel Ribeiro Soares

Vicente Ribeiro Soares

Tebas nos Recontos de um Recanto

Hoje o tema da coluna é o distrito de Tebas cujo nome, para nós, ainda não está devidamente explicado quanto a sua origem. Vamos falar sobre a terra de uma água especial que, no dizer da jornalista Silvia Fonseca,[i]“quem bebe da água tebana sempre volta à fonte.”

Tebas, distrito de Leopoldina, MG - +/- 1894
Tebas, distrito de Leopoldina, MG – +/- 1894

Começamos pelo Relatório da Presidência da Província de Minas Gerais de 1894 que nos informa ter a febre amarela atingido a nossa região de forma alarmante.[ii] Uma epidemia que causou, inclusive, um lapso nas anotações de óbitos da cidade entre agosto de 1894 e janeiro de 1898, embora exista um livro iniciado a 01.01.1896,[iii] onde foram anotados “a posteriori” sepultamentos ocorridos entre agosto/94 e dezembro/1895.

Foi esta epidemia de febre amarela que motivou a mudança temporária da administração municipal para o distrito de Tebas o que, no mínimo, é muito curioso quando se sabe que o distrito de (Piedade) Piacatuba é bem mais antigo.

Mas, como surgiu o nome e o lugar chamado Tebas?

Se consultarmos o dicionário veremos que Tebas pode referir-se à cidade grega, a uma pessoa forte e desembaraçada ou, ao nosso distrito.[iv] Autores existem que registram a origem do topônimo na língua tupi, com o sentido de desembaraçado, forte, graúdo[v]. Outros dizem que distrito herdou o nome de um ribeirão local, sem informar de onde surgiu o nome do tal ribeirão..

Hoje sabemos, no entanto, que existiu por ali um Manoel Joaquim Thebas que, entre outros, foi vizinho da fazenda Feijão Cru, que pertencia a Manoel Antonio de Almeida. E como esta informação sobre este Manoel J. Thebas é de 1856 e a paróquia data de 1881, acreditamos ser possível que o patrimônio tenha sido doado por este senhor e dele surgiu o nome do distrito.

Quanto ao povoado, tudo leva a crer ser ele bem antigo. Francisco de Paula Ferreira Rezende[vi] a ele se refere quando afirma que por ocasião de sua vinda para Leopoldina, pelos idos de 1860 ainda encontrou remanescentes dos Puris na estrada de Tebas para Rio Pardo.

É certo que a povoação foi elevada a distrito pela lei provincial nº 2675, de 30.11.1880. A confirmação eclesiástica veio com a lei nº 2848 de 25.10.1881 que elevou o distrito a Freguesia. E a lei nº 3113, de 1882, registra o nome do distrito como Santo Antônio de Tebas.

Vale lembrar que a lei que criou o distrito autorizou a câmara municipal de Leopoldina a estabelecer a divisas. Para este fim a câmara nomeou comissão de vereadores que estudaram o assunto e apresentaram parecer conclusivo. E, segundo consta, o parecer desta comissão foi aprovado em plenário com a ressalva apenas de que o nome do lugar passou a ser Santo Antonio dos Thebas, ao invés de Santo Antonio do Monte Alegre como anteriormente era conhecido.

O distrito de Tebas foi constituído por terras antes pertencentes a Leopoldina (sede), Piedade (Piacatuba) e Rio Pardo (atual Argirita). Assim, pela lei nº 2938, de 23.09.1882, algumas fazendas da Piedade foram transferidas para Thebas. Em 06.10.1883 foi a vez de Rio Pardo perder algumas propriedades que passaram para o novo distrito. E em 18 do mesmo mês, através da lei nº 3171, a fazenda de João Pereira Valverde foi transferida de Thebas para a freguesia de Piedade.[vii]

Mas vamos retroagir um pouco e começar nossa busca pela venda de seis alqueires da fazenda Monte Alegre, em julho de 1841.

As terras vendidas localizavam-se na “cabeceira” ou nascente do córrego hoje chamado Tebas e a sede da fazenda era residência de Elias da Silva Espíndola. Os compradores dessas terras foram Honório Alves Ferreira e João Vieira Machado de Freitas. Por esta fazenda passava uma estrada que, vindo de Bom Jesus do Rio Pardo (Argirita), atingiria as terras de Antônio José Monteiro de Barros (fazenda Paraíso).[viii]

Sete meses depois o mesmo Elias da Silva Espíndola vende outros oito alqueires da mesma fazenda para José Miguel Dias da Silva e registra que estas terras limitam-se com as vendidas anteriormente e estão localizadas na serra entre o Rio Pardo e o Rio Pirapetinga.[ix]

Sabe-se que um dos vizinhos da fazenda Monte Alegre era o capitão Felisberto da Silva Gonçalves, um dos primeiros sesmeiros do lugar que, juntamente com sua esposa, Ana Bernarda da Silveira, recebeu duas sesmarias entre os córregos Glória e Fortaleza (nomes que desapareceram da toponímia local). Podemos acrescentar, ainda, que estas duas sesmarias limitavam-se com as terras recebidas, também em novembro de 1813,[x] por seu irmão e cunhada, Domingos Gonçalves de Carvalho e Antonia Rodrigues Chaves. E, segundo consta, uma das fazendas de Felisberto ficava no Monte Redondo, no caminho de Tebas para Argirita.

Entre os vizinhos de Felisberto surge, ainda, o nome de Joaquim Manoel Coimbra, algumas vezes citado como Manoel Joaquim Coimbra, provavelmente ancestral do vereador Antonio da Costa Coimbra que fez parte da comissão que estudou os limites do distrito de Tebas. As terras deste Manoel Coimbra, por sua vez, limitavam-se com o já mencionado Felisberto da Silva Gonçalves, com os Valverdes e com Elias da Silva Espíndola. Em função dessas informações, passamos a suspeitar que a tal fazenda “Campo Alegre” seja a mencionada por Manoel Antônio de Almeida, em 1856, como propriedade dos “herdeiros de Manoel Joaquim Thebas”,[xi] possivelmente um homem destemido e que recebeu dos puris o nome de “teba”.

Vale registrar que pela análise do movimento de compra e venda de bens de raiz no então distrito de Bom Jesus do Rio Pardo, atual Argirita, observa-se que a fazenda Campo Alegre foi citada como local em que o Escrivão realizou diversos registros entre 1841 e 1853.

Para encerrarmos por hoje, registramos que entre 1862 e 1864, os eleitores do distrito de Tebas pertenciam às famílias Almeida, Braga, Carvalho, Coimbra, Cunha, Dias, Dornelas da Costa, Freitas, Gonçalves, Lemos, Moraes, Pereira, Policiano, Reis, Ribeiro, Santos e, Silva.[xii] E dentre os italianos que viveram em Leopoldina um bom número deles residiu temporária ou definitivamente em Tebas, dos quais destacamos os sobrenomes Albertoni, Angeli, Bedin, Ceoldo, Gruppi, Marsola, Meneghetti, Stefani e Zotti.

Até a próxima edição, com novos recontos.

__________

Fontes utilizadas:

[i] Jornal O Globo, 16.02.1989.

[ii] Mensagem do Presidente da Província de 1895, p. 10

[iii] Arquivo da Prefeitura Municipal de Leopoldina, livros do Cemitério Público.

[iv] Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.

[v] Toponímia de Minas Gerais, Joaquim Ribeiro Costa.

[vi] Minhas Recordações, p. 386.

[vii] Artigo da Gazeta de Leopoldina, de 1922, assinado por J. Botelho Reis.

[viii] Livro 1 de Compra e Venda de Bens de Raiz de Bom Jesus do Rio Pardo, fls. 8 v.

[ix] Livro 1 de Compra e Venda de Bens de Raiz de Bom Jesus do Rio Pardo, fls. 11.

[x] Cartas de Sesmarias emitidas pelo Presidente da Província.

[xi] Registro de Terras de Leopoldina, TP 114, número 18.

[xii] Alistamento Eleitoral de Bom Jesus do Rio Pardo, 4º quarteirão.

Principais moradores da Piedade em 1875

No tempo do Império, de acordo com as Leis que regiam a administração municipal, cada freguesia encaminhava ao governo provincial as listagens de seus moradores, identificando-os de acordo com os padrões de avaliação próprios da época. De modo geral, as informações eram extraídas dos livros de arrecadação fiscal de cada distrito, e reunidas no conjunto da freguesia. No ano de 1875, o distrito da Piedade encaminhou a relação a seguir.

 


Juizes de Paz:

1º  Francisco Esmério de Paiva Campos

2º  Francisco Soares Valente Vieira

3º  José da Costa Matos

4º  José Fajardo de Melo

Senhores de Engenho:

  • Álvaro José Antônio
  • Custódio Dias Moreira

Criador de gado:

  • Wenceslau Martins Pacheco Filho

Carpinteiros:

  • Francisco José Barbosa
  • José Alexandre da Costa

Sapateiro:

  • Manoel Ferreira Marques

Fazendeiros de Café:

  • Anselmo Alves Ferreira
  • Antônio de Souza Almada
  • Antônio de Souza Almada Filho
  • Antônio Lopes Ferreira
  • Antônio Maurício Barbosa
  • Antônio Pereira da Silva
  • Antônio Pereira de Medeiros
  • Antônio Pereira Valverde
  • Antônio Romualdo de Oliveira
  • Belisário Alves Ferreira
  • Camilo Alves Ferreira
  • Cassiano José do Carmo
  • Claudino Vieira da Silva
  • Cláudio José Barbosa de Miranda
  • David Alves Ferreira
  • Domingos Henriques de São Nicácio
  • Francisco da Costa e Souza
  • Francisco Dias Ferraz
  • Francisco Esmério de Paiva Campos
  • Francisco Henriques Pereira
  • Francisco José Barbosa de Miranda
  • Francisco Soares Valente Vieira
  • João Antônio da Costa Coimbra
  • João Antônio da Silva
  • Joao Antônio de Araújo Porto
  • João Batista da Silva
  • João Dutra Nicácio
  • João Francisco Coelho
  • João Pereira Valverde
  • João Vieira da Silva
  • Joaquim da Silva Tavares
  • Joaquim Honório de Campos
  • Joaquim Inácio de Oliveira
  • Joaquim Pinheiro de Faria
  • José Alves Ferreira
  • José Dias Moreira
  • José Evangelista do Carmo
  • José Fajardo de Melo
  • José Francisco de Paiva Campos
  • José Furtado de Mendonça
  • José Henriques da Mata
  • José Maria Gonçalves Coelho
  • José Martins Pacheco
  • Justino Marques de Oliveira
  • Manoel Benedito de Freitas
  • Manoel Dias Ferraz
  • Manoel Ferreira Ribeiro
  • Manoel Francisco Coelho
  • Manoel Jacinto de Oliveira
  • Manoel José Ferraz
  • Manoel Rodrigues do Nascimento
  • Maria Luiza de Miranda
  • Mariana de Jesus
  • Máxima Ferreira Braga
  • Narciso Marques Braz
  • Nicolau Alves Ferreira
  • Pedro Antônio Furtado de Mendonça
  • Rafael Teixeira de Souza
  • Vital Inácio de Moraes
  • Vital Rodrigues de Oliveira
  • Wenceslau Martins Pacheco

Primeiros óbitos em Piacatuba

A lista dos primeiros moradores falecidos e sepultados no cemitério de Piacatuba foi composta a partir de um trabalho realizado entre 1996 e 2001, quando fizemos a higienização, indexação e acondicionamento dos primeiros livros paroquiais de Piacatuba, preparando-os para consulta de forma menos danosa à conservação deste patrimônio do distrito.

Data

Falecido

Parente

20.01.1853 Ana Teodora de Jesus
19.10.1851 Antonio
29.09.1852 Antonio Baptista
28.09.1851 Antonio Nunes de Moraes
26.06.1903 Brasileiro
—.10.1864 Cesaria filha de Joaquina
01.08.1852 Custodio filho de Francisco Antonio da Silva e Mariana Custódia de Jesus
28.02.1852 Domingos filho de Antonio de Sá Rocha e Francisca Rosa de Jesus
02.06.1852 Domingos de Oliveira Curto
03.10.1851 Eugenio
10.03.1862 Eustachio escravo de Joaquim Honorio de Campos
09.11.1851 Francisca Rosa de Jesus mulher de Antonio de Sá Rocha
—.04.1862 Francisco
13.12.1851 Francisco filho de Francisco José de Miranda e Maria Luiza de Oliveira
18.04.1852 Francisco João Luciano de Rezende e Felicidade
2?.12.1851 Francisco filho do Manuel Rodrigues e Anna
17.10.1864 Gabriel filho de Carolina Maria de Jesus
02.01.1852 João filho de Manoel Dias de Meirelles e Florentina Maria de Jesus
03.08.1851 João
08.10.1853 João Francisco Pires
27.09.1851 João Purí
23.05.1852 Joaquim Antonio da Silva
22.12.1851 José filho de Antonio Costa Ferreira e Anna Joaquina
07.07.1852 José Carlos de Oliveira
25.03.1861 José Luis Pereira filho de Francisca de ….
07.10.1851 José Nunes de Moraes
29.04.1863 Josepha escrava de David Alves Ferreira
04.08.1851 Leopoldino
14.05.1862 Lina Emigdia de Assis mulher de Francisco Fernandes Ferraz
11.04.1862 Manoel Benedicto
31.12.1851 Manoel Joaquim Ferreira marido de Mariana
—.07.1851 Maria mulher de Marcelino
02.12.1851 Maria
09.04.1862 Maria mulher de João Pires
17.11.1851 Maria
27.05.1903 Maria mulher de Sebastião Rezende de Mendonça
22.04.1862 Maria de Nazareth filha de Ana Valverde
27.03.1852 Maria Gomes mulher de João Rodrigues
30.05.1852 Matheus filho de João José de Souza e Verdiana de Jesus
28.06.1852 Rita escrava de Ana Teodora do Nascimento
07.03.1854 Rita Maria de Jesus mulher de Manoel Antonio de Oliveira
19.08.1852 Thomaz escravo de Hipolito Pereira da Silva
19.02.1862 Zeferino
26.05.1852 Zeferino José Ribeiro