O quê representa o dia 27 de abril de 1854 para Leopoldina?

Quando aceitei abrir o Ciclo de Palestras da ALLA eu não sabia que tema escolher. Resolvi conversar com algumas pessoas e descobri que é comum acreditarem que Leopoldina nasceu no dia 27 de abril de 1854. Como assim? Está lá, no caput da Lei nº 666: Lei elevando à categoria de Freguesia e de Vila o Distrito de São Sebastião do Feijão Cru com a denominação de Vila Leopoldina.

Pronto! Aí estava a questão: o quê representa o dia 27 de abril de 1854 na história de Leopoldina?

Voltando no tempo, temos que o marco de fundação de um povoado era representado pelo momento em que a Igreja atendia ao requerimento de um grupo de moradores que desejasse erigir uma Capela, facilitando o cumprimento de suas obrigações religiosas sem ter que se deslocar por distâncias muito grandes. Considerando que não foi encontrado o documento desta natureza sobre o Curato do Feijão Cru, foi necessário elaborar um documento de pesquisa para preencher as lacunas. Para tanto, realizei um percurso controlado sobre o acervo documental existente, tarefa que só foi possível a partir de um estudo prosopográfico, vale dizer, a escrita da história de uma localidade a partir de esboços biográficos de seus antigos moradores.

Deste estudo resultou a apresentação abaixo, na qual procuro demonstrar que até 2 de novembro de 1831 não havia sido criado o Curato do Feijão Cru que vai aparecer somente na Lei número 202, de 1 de abril de 1841, da primeira emancipação administrativa de São João Nepomuceno, revogada dez anos depois.

Contudo, em 1838 fora encaminhada ao governo provincial uma relação de moradores de São Sebastião do Feijão Cru, acompanhada de uma declaração do Juiz de Paz Manoel Ferreira Brito assinada em 30 de setembro de 1835. Portanto, podemos considerar o ano de 1835 como o de “nascimento” do Curato de São Sebastião do Feijão Cru.

A conclusão é de que em 1835 havia moradores no lugar denominado Feijão Cru, os quais ali já estavam em 1831, como demonstra o censo de São José do Paraíba. Sendo assim, no dia 27 de abril nós comemoramos a Emancipação Administrativa e a adoção do nome da segunda filha de D. Pedro II em 1854. Mas não podemos considerá-lo como data de nascimento.

Há 100 anos

Em março de 1914 nasceram em Leopoldina:

Dia 1

Josefa, filha de Antonio Mauricio da Silva e de Emilia dos Reis Coutinho

Dia 2

Belmira,filha de Manoel Augusto Pires e de Aurora Izabel da Silva

Jovelina, filha de Galdino Rodrigues Gomes e de Silvina Apolinária de Souza Lima

Dia 3

Regina Ana Ceoldo, filha de Rodolfo Domenico Ceoldo e de Tereza Righetto

Dia 5

Helena Maria Farinazzo, filha de Giovanni Farinazzo e de Teresa Pedroni

Margarida, filha de Artur Guimarães Leão e de Iramira Furtado

Dia 11

Abigail Ziller, filha de Giovanni Trentino Ziller e de Luigia Gazzoni

Dia 18

Maria José Lomba, filha de João Francisco Lomba e de Elisa Lorenzetto

Dia 19

Cecilia, filha de José Dias Badaró e de Maria Cândida Badaró

Dia 22

Manoel, filho de Raimundo de Vargas Ferreira Brito e de Horácia Machado da Silva

Dia 28

Sebastião, filho de Alfredo Carlos de Souza e de Maria Ferreira de Lacerda

Dia 30

Norival, filho de Antonio Germano Rodrigues e de Maria Dietz Tavares

Centenário de Nascimento

Nasceram no município de Leopoldina, em janeiro de 1913:

Dia 4 – MARIA JOSÉ, filha do italiano Paolo Samori e de Carolina Honória de Jesus

Dia 7 – ABÍLIO, filho de Antonio Borges Barcelos e Ana Soares

Dia 8 – LATIFE, filho de Jorge Elmaes e Rosaria Maiello e RAFAEL, filho de Domenico Zamboni e Assunta Campana

Dia 12 – OLINDA, filha de Guilherme Pereira de Castro e Maria de Vargas Ferreira Brito e ANA, filha de Pietro Sangirolami e Paschoa Bonini

Dia 15 – Honorina, filha de Lauro Teixeira Lopes Guimarães e Marieta

Dia 17 – OTONIEL, filho de Virgilino Garcia de Matos e Geralcina de Oliveira Barbosa

Dia 18 – ANGELINA, filha de Giovanni Trentino Ziller e Luigia Gazzoni

Dia 20 – SEBASTIÃO, filho de Giuseppe Fofano e Maria Rosa Marcatto

Dia 21 – NORIVAL, filho de Egidio Gomes Moreira e Maria Antonia de Mesquita

Dia 23 – LUIZ GERALDO, filho de Eugenio Codo e Alexandrina Maragna e OLÍVIO, filho de Giuseppe Meneghetti e Amalia Fofano

Dia 31 – PEDRO, filho de Luiz do Amaral Lisboa e Maria da Conceição Garcia.

5 de outubro de 1903

Morre em Recreio, Ignacio Ferreira Brito.

Filho de Manoel Ferreira Brito e Maria Josefa da Silva, com seu irmão Francisco Ferreira Neto foi fundador do distrito de Recreio.

Foi proprietário da Fazenda do Recreio, contígua à Fazenda das Laranjeiras, da qual foram desmembrados também os terrenos cedidos à Estrada de Ferro Leopoldina para passagem dos trilhos e construção da Estação.

Em janeiro de 1864 tomou posse como Juiz de Paz de Conceição da Boa Vista. Em abril de 1869, comprou uma casa de morada no largo da Matriz daquele distrito. Nesta casa foram realizados atos eleitorais na década de 1880.

Em 1870 foi qualificado como cidadão elegível do Colégio Eleitoral de Leopoldina. Quatro anos depois foi nomeado Subdelegado em Conceição da Boa Vista.

Em 1885 promoveu o aforamento das terras que foram ocupadas pelos primeiros moradores do então Arraial Novo, mais tarde o distrito de Recreio.

Casou-se com Mariana Ozória de Almeida, filha de Joaquim Cezário de Almeida e Luciana Esméria de Almeida. Foram seus filhos Altiva, Ana, Honória, José Augusto, Marcos, Maria Venância, Tereza Flauzina, Constança Egídia e Querino Ferreira Brito.

Em outros setembros, aconteceu em Recreio

1 set 1888 – casamento de José Celestino Ferreira Neto, filho de Francisco Ferreira Brito e Messias Rodrigues Gomes, com Virgínia Ferreira Neto, filha de Antonio Ferreira Neto e Maria Teodora Neto

2 set 1878 – nasce Francisco Rodrigues Gomes, filho de João Rodrigues Gomes e Messias Ferreira Damasceno

4 set 1897 – casamento de Frankelino Baptista de Almeida, filho de João Batista de Almeida e Augusta Maria da Conceição, com Alcina Ferreira de Almeida, filha de Antonio Bernardo de Almeida e Maria Venância de Almeida

5 set 1892 – casamento de Emílio Augusto Pereira Pinto, filho de Francisco de Paula Pereira Pinto e Carolina Rosa de São José, com Hermínia Cândida Ramos, filha de Antonio José Alves Ramos e Amélia Carolina Pereira Pinto

5 set 1908 – casamento de Francisco D’ Almeida, filho de Lino José de Almeida e Antonia Carolina Pereira Pinto, com Francina Figueiredo Damasceno, filha de Antonio Sabino Damasceno Ferreira e Purcina Padilha Figueiredo

6 set 1853 – nasce Rita Firmina Machado de Almeida, filha de Joaquim Antonio Machado e Rita Balbina de Almeida

11 set 1880 – casamento de Sebastião Batista de Paula, filho de Francisco Batista de Paula e Messias Maria de Jesus, com Maria Amélia Simplício da Cunha, filha de Simplicio Rodrigues da Cunha e Floriana Carolina de São José

11 set 1903 – nasce Antonio de Almeida Ramos, filho de Honório Augusto Almeida Ramos e Ana Galvão

13 set 1927 – nasce Jorge Andrade Neto, filho de Manoel Andrade Neto e Laudelina Pereira

14 set 1861 – nasce Balbina Martinha de Jesus, filha de José Maria Neto e Ana Martinha de Jesus

17 set 1881 – casamento de Moisés Antonio de Menezes, filho de Antonio José de Menezes e Joaquina Margarida, com Rita Firmina de Gouvêa, filha de Antonio Justiniano de Gouvêa e Rita Inácia de Moraes

20 set 1902 – casamento de Francisco D’ Almeida, filho de Lino José de Almeida e Antonia Carolina Pereira Pinto, com Luiza Eugênia Botelho, filha de Eugênio Botelho Falcão e Maria Amélia Botelho

20 set 1904 – nasce Paulino de Andrade Neto, filho de Paulino de Andrade Neto e Júlia Tereza Ferreira Neto

21 set 1857 – nasce Mariana Antonia de Almeida, filha de Severino José Machado e Maria Antonia de Jesus

26 set 1879 – nasce João Clemente de Sá (neto), filho de João Clemente de Sá Filho e Mariana Vasquez de Miranda

27 set 1880 – nasce João, filho de José Joaquim de Bittencourt e Castro e Tereza Carolina Duarte e Castro

1º de Setembro de 1835

Nasceu FRANCISCO, filho de Manoel Ferreira Brito e Maria Josefa da Silva.O menino que mais tarde adotaria o nome de Francisco Ferreira Neto, foi um dos principais artífices da constituição do distrito de Recreio, na penúltima década daquele século.

Foi proprietário da Fazenda Laranjeiras, em sociedade com seu irmão Ignacio Ferreira Brito, além de um sítio desmembrado da Fazenda Serrote, outro sítio que antes fizera parte da Fazenda Boa Vista e de uma parte da Fazenda Bocaina da qual foi herdeiro. Era conhecido como Coronel Chiquinho Ferreira

Em 1851 foi um dos eleitores da Assembléia na qual foram iniciados os procedimentos para a emancipação do Feijão Cru três anos mais tarde. Em 1875 foi eleito Juiz de Paz de Conceição da Boa Vista. No ano seguinte, foi qualificado com um dos moradores elegíveis do mesmo distrito.

Em 1884 tornou-se Membro da Comissão Permanente do Club da Lavoura de Conceição da Boa Vista, sociedade de fins econômicos então criada, e em 1899 foi eleito Presidente do Conselho Distrital de Recreio.

Foi casado com Messias Rodrigues Gomes, filha de Antonio Rodrigues Gomes Filho e Rita Esméria de Almeida, com quem teve os filhos Manoel Ferreira Brito (neto), Eleotéria, Francisco Honório, José Celestino e Antonio Pedro Ferreira Neto.

Faleceu em 1899, tendo sido sepultado no Cemitério de Recreio no dia 25 de setembro.

Leopoldinenses nascidos em junho de 1912

NASCIMENTO
PAI
MÃE
Maria José Corrêa
1 Junho
Sebastião de Vargas Corrêa
Maria José Ferreira de Almeida
Miguel Iennaco
4 Junho
Lorenzo Iennaco
Emma Sparanno
Amelia
8 Junho
João Ventura Gonçalves Neto
Alcina Paula Moraes
Regina Maria
8 Junho
Ramiro Zenobi
Maria de Jesus Pereira Barbosa
Mario
9 Junho
Manoel Gonçalves Ferreira
Eliza de Andrade Neto
Maria José
11 Junho
Custódio de Almeida Lustosa
Maria das Dores de Freitas
Antonieta
12 Junho
Francisco Freire de Carvalho
Rita Tereza de Oliveira
Antonio
13 Junho
Pedro José de Moraes
Joana Maria de Jesus
Eponina Ferreira Brito
15 Junho
Gastão Ferreira Brito
Ana Leodina Gonçalves Neto
João
22 Junho
Belizário José Barbosa
Zeneida Keb Kab
Carmelina Sangalli
24 Junho
Angelo Giulio Sangalli
Carolina Sangirolami
Laura
27 Junho
Francisco Elizio Bento da Rocha
Laura Ferreira de Andrade
Alzira Maragna
28 Junho
Higino Maragna
Olga Coelho dos Santos
José Pedro
28 Junho
Romão Cardoso
Maria Ferreti

Estrada de Recreio para Conceição da Boa Vista

Confirmando nossas suspeitas sobre a dificuldade de acesso a Conceição da Boa Vista, encontramos em livro de Atas da Câmara Municipal de Leopoldina, relativo ao ano de 1880, alguns registros sobre a necessidade de construir uma ponte na estrada que ligava a Estação do Recreio ao arraial de Conceição da Boa Vista. Foi nomeada uma comissão, composta pelo vereador Moraes e por Francisco Ferreira (Brito) Neto, para orçar as obras que deveriam ser realizadas nas imediações do Sítio Novato. Algumas Atas mencionam a “dificuldade do trânsito público” entre as duas localidades.

Não se sabe se este foi o motivo para que o Juiz de Paz de Conceição da Boa Vista oficiasse à Presidência da Província sobre a impossibilidade de realizar as eleições daquele ano, que os livros encontravam-se com o Padre Manoel Luiz Corrêa, talvez o responsável pela Igreja no Arraial Novo do Recreio. De todo modo, em maio de 1881 o vereador Astolpho Pio reclamava uma decisão da Câmara sobre consertos na “estrada de Conceição da Boa Vista para Santa Cruz, no pontilhão de Marcelino Rodrigues de Carvalho”, trecho que tinha sido por ele visitado em companhia de José Maria de Gouvêa. Curiosidade: José Maria de Gouvêa era cidadão português, provavelmente irmão ou filho do alinhador Manoel Maria de Gouvêa.

Angaturama, Recreio, Minas Gerais

Complementando nosso comentário de 21 de abril, este último território desmembrado de Conceição da Boa Vista recebeu oficialmente o nome de São Joaquim em 1890. Segundo alguns registros, seria o santo invocado por capela existente na Fazenda Monte Alegre. Com este nome encontramos uma propriedade dos descendentes de Manoel Ferreira Brito que divisava com Francisco José de Freitas Lima, João Baptista de Paula Almeida e Pedro Teixeira de Carvalho.

O distrito recebeu o nome atual em 1943, na esteira de várias modificações de topônimos que excluíam referências ao calendário cristão. Segundo Ribeiro Costa emToponímia de Minas Gerais, trata-se da junção anga + catú + rama, significando alma bondosa na língua tupi. Entretanto, um dinossauro que viveu na Chapada do Araripe, no Ceará, recebeu este nome e podemos encontrar referências ao distrito de Angaturama como sendo nome de um grande animal que vivia na região. A nós não nos parece, entretanto, adequada esta interpretação.

Sua história confunde-se com a de Itapiruçu, sendo possível que os dois locais formassem um “subdistrito” de Conceição da Boa Vista desde o início da ocupação. Quando aquele distrito foi criado, em 1883, incorporou parte do território de Conceição da Boa Vista, incluindo algumas fazendas que viriam, mais tarde, a pertencerem ao distrito de São Joaquim.

Por ocasião da criação do distrito, as divisas de São Joaquim foram marcadas pelas propriedades das famílias de Benjamin Monteiro de Barros, Domingos Custódio Neto, Felicíssimo Vital de Moraes, Francisco das Chagas Ferreira, José Gomes dos Santos e Manoel José Ferreira. O primeiro destes fazendeiros havia comprado, em 1884, uma propriedade na “localidade do Tapirussu”. Quando desmembrado o território para formar São Joaquim, a fazenda de Benjamin Monteiro de Barros passou a pertencer a este último distrito.

Em futuros comentários pretendemos abordar outras propriedades compreendidas entre as divisas citadas. Por hoje queremos apenas registrarque a arrecadação tributária de 1858 nos faz crer que Angaturama nasceu como centro de convergência das fazendas dos filhos de Manoel Ferreira Brito. Sabemos que a Francisco e Ignacio couberam terras na área de Recreio. Mas os outros filhos podem ter vivido em São Joaquim, que Domingos e Manoel aparecem em livros do Cartório de Conceição da Boa Vista como vizinhos de moradores de . Além disso, descendentes de outros irmãos ali se encontravam nos primeiros anos do século XX.

Pelos registros sabemos que a região próxima à divisa com Itapiruçu pertencia a José Gomes dos Santos que ali formou, antes de 1858, a Fazenda São Luiz. Também informamos que Felicíssimo Vital de Mores fundou a Fazenda Bom Retiro nas proximidades do córrego Água Comprida, onde seus descendentes viviam quando da criação de São Joaquim. Resta-nos pesquisar os nomes de outras fazendas constantes da documentação em análise.

Outra fazenda de Angaturama chamava-se Córrego do Ouro, e fazia divisa, em 1885, com a Estação São Joaquim. Segundo registros de compra e venda de bens de raiz, nesta época o local pertencia ao distrito de “Tapirussu” e a Córrego do Ouro pertencia a várias pessoas, entre as quais são citados Felipe Ignacio de Santiago, João Francisco de Azevedo Júnior e João Augusto do Carmo.

Divisas de Santa Isabel

Na seqüência de nossos estudos sobre os primeiros moradores de Recreio, foi necessário definir quais daqueles pioneiros viviam em território que permaneceu em Conceição da Boa Vista depois das divisões de 1890. O método utilizado foi o da exclusão, ou seja, procuramos identificar os moradores dos novos distritos criados e os excluímos do grupo sobre o qual direcionamos nossas pesquisas.

No caso de Santa Isabel, no decretonº 241 de 21 de novembro de 1890, parágrafo 2º, as divisas informam os nomes dos proprietários cujas terras passariam a pertencer ao novo distrito. Eram eles:

Antonio Augustode Almeida,

Antonio de Almeida Freitas Lima,

Antonio Lourenço Peixoto,

Antonio Rodrigues Montes,

Antonio Theodoro de Almeida Montes,

Domiciano Matheus Monteiro de Castro,

Domingos Marques de Oliveira,

Francisco Alves de Souza Guerra,

Francisco Antonio Reiff,

Francisco Ribeirode Rezende,

Gabriel de Andrade Junqueira,

João Ignacio deMoraes,

José Antonio de Moraes,

JoséBatistaGuimarães,

José Cesario de Castro Monteiro de Barros,

José Coelho de Andrade,

José Coelho dos Santos Monteiro,

José Ferreira Britto,

Marcos Monteiro de Rezende,

Maria da Gloria,

Martiniano Coelho dos Santos Monteiro,

Miguel de Faria Coutinho,

Quirino de Rezende Montes,

Quirino Ribeiro Monteiro de Rezende,

Romualdo José Monteiro de Rezende,

Sebastião Mendes do Valle,

Valeriano Coelho dos Santos Monteiro,

Victorio daCosta.

Baseando-se somente nesta fonte, alguns pesquisadores foram levados a enganos de natureza variada. Em primeiro lugar, o livro de atas do Conselho Distrital de Santa Isabel traz muitos outros nomes de proprietários naquele e em outros distritos. Outro problema refere-se à formação dos nomes que, conforme já informamos em outro post, não era sempre a mesma. De tal sorte que alguns dos nomes acima não correspondem à forma utilizada em outros documentos, gerando não poucas confusões entre homônimos.

Para não nos estendermos em demasia, citamos apenas dois enganos cometidos por alguns intérpretes.

O proprietário citado como Quirino de Rezende Montes era filho de Bernardo José Gonçalves Montes, pioneiro de Leopoldina, formador da Fazenda Sossego, no local hoje conhecido por São Lourenço. Em 1899 Quirino continuava residindo em sua Fazenda Vai e Volta em São Lourenço, terras que foram desmembradas da propriedade de seu pai. Portanto, não há sustentação para a hipótese de Quirino de Rezende Montes ter sido o Barão de Avelar Rezende.

Já o proprietário listado como Quirino Ribeiro Monteiro de Rezende era filho de Antônio José Monteiro de Rezende. Aparece em alguns documentos como Querino Desidério Monteiro de Rezende, nascido por volta de 1863 e que em 1890 era lavrador, residente em Santa Isabel. Ou seja, não há justificativa para a informação de que este personagem era o pai do Barão de Avelar Rezende.

Por oportuno, esclarecemos que o citado Barão era filho de Querino Ribeiro de Avelar Rezende, sendo neto paterno de João Ribeiro de Avelar. Segundo transações imobiliárias registradas no Cartório de Notas de Conceição da Boa Vista, o Barão e seu pai residiram na Fazenda Saudade, em território que permaneceu no distrito de Conceição da Boa Vista depois da divisão territorial. A confirmar esta interpretação, informe-se que as atas do Conselho Distrital de Santa Isabel não incluem o Barão de Avelar Rezende nem seu pai como proprietários de terras em seus quarteirões, nem tampouco eles aparecem entre os eleitores daquele distrito.

Uma hipótese: a Fazenda Saudade estaria localizada em território desmembrado de Conceição da Boa Vista em 1883, para constituir o distrito de Itapiruçu. Este distrito foi criado em território de Conceição da Boa Vista e pertenceu a Leopoldina até 1891, quando foi incorporado ao município de Capivara, hoje Palma. Esta hipótese sustentaria a informação, presente em algumas publicações, de que o Barão foi proprietário em Palma. Permanecemos, porém, em dúvida quanto à localização da Fazenda Saudade. Isto porque, se assim o fosse, transações imobiliárias dos herdeiros não poderiam ter sido registradas em outro distrito depois de 1883.