O uso político da Conjuração Mineira

“Um dos ideais apresentados n’O Arauto de Minas era que os inconfidentes tinham lutado com afinco pela independência do Brasil, e mesmo tendo falhado, o germe de suas aspirações à liberdade tinha permanecido latente entre seus contemporâneos.”

Declaração de Augusto Henrique Assis Resende no artigo publicado na Revista Expedições: Teoria da História & Historiografia V. 4, N.2, Agosto-Dezembro de 2013.

Resumo: Esta pesquisa propõe analisar a maneira como políticos conservadores e republicanos do último quartel do século XIX utilizaram a imagem dos conjurados mineiros para legitimar seus ideais. Monarquistas e republicanos buscariam em um passado pouco conhecido de fato, a Conjuração Mineira, um alento e uma inspiração, respectivamente a seus projetos. Do lado monarquista, um jornal de São João del-Rei – O Arauto de Minas – ligado ao partido Conservador assume a tarefa de difundir entre seus leitores e correligionários a ideia da conectividade entre o elemento simbólico da Inconfidência Mineira e o Império Brasileiro. Tal associação era baseada nos difundidos pressupostos dos conjurados: independência e liberdade; e que foram concretizados em 1822. Relativo à República, A Patria Mineira, jornal da mesma cidade defende a suposta orientação republicana dos inconfidentes. Daí surge a vindoura associação entre os inconfidentes e o novo regime, que surgiria em 1889 e que faria destes um de seus mais importantes sustentáculos. Há ainda a utilização de um terceiro jornal desta cidade mineira, O Tribunal, que é utilizado para um contraponto das ideias apresentadas nos dois primeiros.

Leia aqui a íntegra do artigo.

Memória da Imprensa: década de 1940

“…seleção de notícias da década de 1940, publicadas em jornais e revistas disponíveis no acervo digitalizado do Arquivo Público do Estado de São Paulo”

Leia mais: :: ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO :: Memória da Imprensa.

O Leopoldinense: o mais antigo periódico de Leopoldina

No dia 1 de janeiro de 1879 saiu a primeira edição do mais antigo jornal de Leopoldina. Infelizmente não foram preservadas as primeiras edições deste periódico, cuja data de lançamento só foi descoberta através do editorial de aniversário que se vê abaixo.

O Leopoldinense, o mais antigo jornal de Leopoldina.
O Leopoldinense, o mais antigo jornal de Leopoldina.
Editorial de aniversário  do jornal O Leopoldinense
Editorial de aniversário do jornal O Leopoldinense

 Através de pesquisa nas hemerotecas da Biblioteca Nacional e do Arquivo Público Mineiro, foi possível reconstituir parte da história de O Leopoldinense, pioneiro da imprensa periódica em Leopoldina. Embora outros tenham surgido a partir de 1881, cabe a O Leopoldinense o destaque de ter sido o único a se manter em circulação por 20 anos daquela primeira fase.

Representações e combates discursivos: práticas da imprensa nas décadas finais do século XIX

Artigo de Bárbara Figueiredo Souto e Roger Aníbal Lambert da Silva publicado na revista História em Reflexão, volume 6, nr. 11, 2012

RESUMO: O jornal é uma valiosa fonte para os estudiosos de fins do século XIX, porém a sua utilização na produção do conhecimento histórico requer inúmeros cuidados metodológicos. Nosso objetivo neste artigo é discutir certas práticas da imprensa na construção de suas representações e seus discursos, ou seja, as estratégias das quais os jornais se utilizavam para legitimarem suas posições diante da opinião pública. Desse modo, almejamos instigar questões e compartilhar alguns procedimentos metodológicos que adquirimos através de leituras teórico-metodológicas e de nossa experiência de pesquisa. Para tanto, elegemos como foco de análise representações acerca das mulheres e alguns combates discursivos sobre o tema da “rebeldia dos escravos”, objetos de atenção constantes por parte da imprensa nas décadas finais do século XIX.

Leia o texto na íntegra.

Café, Ferrovia e Recreio pós-municipalização

Leia um o artigo produzido pelos historiadores Cynthia Cristina de Mello Carvalho e Leonardo Ribeiro da Silva, em que apresentam uma breve narrativa sobre o começo da cidade de ‘Recreio’. Trata-se de um relato sobre os nativos existentes na Zona da Mata mineira e de sua colonização no século XVIII, que foi propiciada pela construção do Caminho Novo. Após a apresentação é abordada a chegada da estrada de ferro e a formação urbana do então Arraial Novo que em momentos tardios irá ser nomeado distrito e mais tarde será conhecido como ‘Recreio’. Com a análise do jornal O Verbo, são identificados os percalços que a administração municipal teve em seu momento inicial do então município.

Angaturama, Recreio, Minas Gerais

Complementando nosso comentário de 21 de abril, este último território desmembrado de Conceição da Boa Vista recebeu oficialmente o nome de São Joaquim em 1890. Segundo alguns registros, seria o santo invocado por capela existente na Fazenda Monte Alegre. Com este nome encontramos uma propriedade dos descendentes de Manoel Ferreira Brito que divisava com Francisco José de Freitas Lima, João Baptista de Paula Almeida e Pedro Teixeira de Carvalho.

O distrito recebeu o nome atual em 1943, na esteira de várias modificações de topônimos que excluíam referências ao calendário cristão. Segundo Ribeiro Costa emToponímia de Minas Gerais, trata-se da junção anga + catú + rama, significando alma bondosa na língua tupi. Entretanto, um dinossauro que viveu na Chapada do Araripe, no Ceará, recebeu este nome e podemos encontrar referências ao distrito de Angaturama como sendo nome de um grande animal que vivia na região. A nós não nos parece, entretanto, adequada esta interpretação.

Sua história confunde-se com a de Itapiruçu, sendo possível que os dois locais formassem um “subdistrito” de Conceição da Boa Vista desde o início da ocupação. Quando aquele distrito foi criado, em 1883, incorporou parte do território de Conceição da Boa Vista, incluindo algumas fazendas que viriam, mais tarde, a pertencerem ao distrito de São Joaquim.

Por ocasião da criação do distrito, as divisas de São Joaquim foram marcadas pelas propriedades das famílias de Benjamin Monteiro de Barros, Domingos Custódio Neto, Felicíssimo Vital de Moraes, Francisco das Chagas Ferreira, José Gomes dos Santos e Manoel José Ferreira. O primeiro destes fazendeiros havia comprado, em 1884, uma propriedade na “localidade do Tapirussu”. Quando desmembrado o território para formar São Joaquim, a fazenda de Benjamin Monteiro de Barros passou a pertencer a este último distrito.

Em futuros comentários pretendemos abordar outras propriedades compreendidas entre as divisas citadas. Por hoje queremos apenas registrarque a arrecadação tributária de 1858 nos faz crer que Angaturama nasceu como centro de convergência das fazendas dos filhos de Manoel Ferreira Brito. Sabemos que a Francisco e Ignacio couberam terras na área de Recreio. Mas os outros filhos podem ter vivido em São Joaquim, que Domingos e Manoel aparecem em livros do Cartório de Conceição da Boa Vista como vizinhos de moradores de . Além disso, descendentes de outros irmãos ali se encontravam nos primeiros anos do século XX.

Pelos registros sabemos que a região próxima à divisa com Itapiruçu pertencia a José Gomes dos Santos que ali formou, antes de 1858, a Fazenda São Luiz. Também informamos que Felicíssimo Vital de Mores fundou a Fazenda Bom Retiro nas proximidades do córrego Água Comprida, onde seus descendentes viviam quando da criação de São Joaquim. Resta-nos pesquisar os nomes de outras fazendas constantes da documentação em análise.

Outra fazenda de Angaturama chamava-se Córrego do Ouro, e fazia divisa, em 1885, com a Estação São Joaquim. Segundo registros de compra e venda de bens de raiz, nesta época o local pertencia ao distrito de “Tapirussu” e a Córrego do Ouro pertencia a várias pessoas, entre as quais são citados Felipe Ignacio de Santiago, João Francisco de Azevedo Júnior e João Augusto do Carmo.

O Comércio de Recreio em Publicações Esparsas

Na edição especial da Revista Acaiaca de Leopoldina, de março de 1954, encontram-se anúncios comerciais daquela cidade e de municípios vizinhos. Comemorava-se o 1º Centenário da elevação do Feijão Cru à categoria de Vila e Cidade da Leopoldina. Em estilo simples e direto, encontramos na segunda página da revista dois anúncios de comerciantes de Recreio.

HUMBERTO TOMASCO

Máquinas de beneficiar arroz

Exportação de arroz por atacado

RUA ESTEFÂNIO, 73 – FONE, 23 – RECREIOMINAS

JOSÉ DE CASTRO LACERDA

Atacadista de BebidasDepositário de CimentoCal

– Querozene e SalDistribuidor de Cerveja Brahma

RUA GOVERNADOR VALADARES – RECREIOMINAS

Anúncios pequenos e simples, em quadros de 10,5 cm de largura por 2 cm de altura. A folha seguinte, ao contrário, era ocupada inteiramente pela seguinte mensagem:

INDUSTRIAL ESTEFÂNIO DOS SANTOS LDTA.

FUNDADOR- ESTEFÂNIO DOS SANTOS

JOSÉ DOS SANTOS

JOÃO DOS SANTOS

FRANCISCO DOS SANTOS e

D. INÁCIA ROSSIGNOLI DOS SANTOS

Levam os seus cumprimentos ao progressista povo e administradores de LEOPOLDINA, por motivo das festividades do CENTENÁRIO da cidade.

Fabricação de Manilhas e seus

Pertences

RUA SÃO JOAQUIM, 135

RECREIOMINAS GERAIS

Parece-nos que estes anunciantes seriam os mesmos que apoiavam o periódico de Recreio, onde também foi publicado o texto de Mauro de Almeida Pereira que se encontra na página 42 da edição da Acaiaca a que estamos nos referindo. Trata-se de uma versão extremamente reduzida da história do surgimento da cidade, conforme a tradição oral que circulava naquela época.

Recreio, MG: A Imprensa

Assim com os núcleos urbanos mais próximos, Recreio passou a contar com um órgão de imprensa nos últimos anos do século XIX.  Embora saibamos que muitos daqueles periódicos não sobreviveram ao segundo número, realizamos um levantamento através de indicações contidas em Efemérides Mineiras, de José Pedro Xavier da Veiga, para conhecer os títulos que circularam. Em ordem de data da primeira edição temos o seguinte quadro.

1877-O Operário-(Além Paraíba);

1879-O Leopoldinense-(Leopoldina);

1881-Correio de São José e O Além Paraíba-(Além Paraíba);

1884-A Folha de Minas e Gazeta de Cataguases-(Cataguases);

1885-O Povo*-(Campo Limpo); O Bilontra-(Cataguases); Princípio da Vida-(Leopoldina);

1886-José Bonifácio, O Cataguasense e O Povo*-(Cataguases); O Pássaro-(Leopoldina);

1887-Estrela de Minas e Idéia Nova-(Leopoldina); O Muriaé-(Muriaé);

1888-Irradiação-(Leopoldina); Gazeta Popular-(Miraí); O Alto Muriaé-(Muriaé);

1890-Gazeta do Leste-(Leopoldina); Tapiruçuano-(Palma); A Voz Mineira-(RECREIO);

1892-A Leopoldina-(Leopoldina); O Município-(Miraí); Eco Municipal-(Muriaé); Correio de Palma-(Palma);

1893-O Progresso-(Miraí);

1894-Eco de Cataguases-(Cataguases);

1894-A Falena-(Leopoldina); Gazeta de Palma-(Palma); Voz de Tebas-(Tebas);

1895-Correio da Leopoldina, Gazeta da Leopoldina e Mediador-(Leopoldina);

1897-Cidade da Palma-(Palma); Tiradentes-(Vista Alegre).

* os dois periódicos denominados O Povo são, na verdade, a mesma publicação. Seu fundador, Estevam de Oliveira, transferiu-o para Cataguases após um ano de circulação em Campo Limpo. O jornal combatia a escravidão e a monarquia, constituindo-se em órgão do Partido Republicano.

Não encontramos a data em que começou a circular O VERBO, jornal mais longevo de Recreio. O mais antigo número de que se tem referência é de 1906, conforme se constata no acervo da Hemeroteca Pública de Minas, em Belo Horizonte. E conforme pode ser observado na fotografia abaixo, em 1946 o periódico estava presente nos momentos mais importantes da vida da cidade.

Esta fotografiaé de 1946, por ocasião de reivindicação d ereajuste salarial dos ferroviários, na frente da Sede do jornal O Verbo.

A Imprensa em Minas Gerais

POSTAGEM REPUBLICADA

Na Revista do Arquivo Público Mineiro, volume 1, páginas 169 a 239, encontra-se um artigo sem indicação de autoria, historiando os primeiros tempos deste meio de comunicação em terras mineiras. Na primeira página o autor informa tratar-se de uma “refusão” de monografia publicada em 1894 e atualizada para aquele número da Revista. A revisão foi concluída em dezembro de 1897.
Através deste artigo ficamos sabendo que o primeiro órgão de imprensa, denominado Abelha do Itaculumy, circulou em Ouro Preto e era impresso na Officina Patricio de Barbosa & Comp. O primeiro número saiu no dia 14 de janeiro de 1824 e, a partir daí, era publicado três vezes por semana.
A segunda localidade a contar com um órgão de imprensa foi São João d’El Rei, onde a 20 de novembro de 1827 apareceu a folha Astro de Minas. Ressalta o autor que, no final da primeira década após o surgimento do Abelha do Itaculumy, apenas dez localidades mineiras haviam criado e desenvolvido o jornalismo. Já no final de 1878 haviam sido fundados 69 órgãos de imprensa no estado, sendo que alguns tiveram vida curta seja por terem encerrado as atividades ou por terem sido substituídos por periódicos com outra denominação.
Em Leopoldina e municípios vizinhos as folhas mais antigas foram:
1 – O Operário, 19 de maio de 1877 em Além Paraíba;
2 – O Leopoldinense, 1879 em Leopoldina;
3 – O Tentamen, 1882 em Mar de Espanha;
4 – A Folha de Minas, 9 de novembro de 1884 em Cataguases;
5 – O Municipio, 1887 em São João Nepomuceno;
6 – O Guarará, 15 de maio de 1892 em Guarará; e,
7 – Correio da Palma, 29 de maio de 1892 em Palma.
Quando fez a revisão de sua monografia, o autor constatou que, entre estes pioneiros locais, apenas os jornais O Leopoldinense (de Leopoldina), O Guarará (de Guarará) e Correio da Palma (de Palma) continuavam circulando. Os demais deixaram de existir, sendo substituídos por outras folhas. Entretanto, haviam sido criados novos órgãos informativos que são apresentadas pela data de lançamento. Para o município de Leopoldina, foram registrados os seguintes:
1 – O Leopoldinense – 1879
2 – O Princípio da Vida – 1885
3 – O Povo – Campo Limpo, 18 de novembro de 1885
4 – O Passaro – 1886
5 – Estrela de Minas – 29 de julho 1887
6 – A Ideia Nova – 1887
7 – Irradiação – 25 de fevereiro de 1888
8 – Gazeta do Leste – 1890
9 – A Voz Mineira – Na Estação do Recreio, 1890
10 – A Leopoldina – 1892
11 – Voz de Thebas – No arraial desse nome, 1894
12 – A Phalena – 1894
13 – Correio da Leopoldina – 1895
14 – Gazeta da Leopoldina – 1895
15 – Mediador – 1895
16 – Tiradentes – No arraial de Vista Alegre, 1897
Na conclusão do trabalho consta que:
Como se vê, dos 123 municípios do Estado de Minas […] 68 têm imprensa periodica, com 119 orgãos […]
Entre esses municipios contão-se treze que tem orgãos de imprensa nas respectivas sedes e também em simples arraiaes ou povoados.[…]
Registramos o facto porque elle revela que até em localidades pequenas ou de categoria administrativa secundaria, já é a imprensa apreciada como elemento de progresso e indiscutivel necessidade social.
Temos, assim, mais uma fonte de informação para o surgimento da imprensa em Recreio no ano de 1890. Acreditamos, entretanto, que o autor do artigo seja o mesmo Xavier da Veiga que organizou o Efemérides Mineiras, obra na qual nos baseamos em postagens anteriores sobre a imprensa em Recreio.