186 – Ignacio de Castro Buena Flor

Passado o centenário de sua morte, ocorrido no ano da pandemia, hoje o Trem de História resgata o nome e a obra do artista de origem portuguesa, Inacio de Castro Buena Flor, que ainda jovem veio para Leopoldina, aqui se casou e viveu até sua morte. Um grande artista como se verá adiante.

Inácio de Castro Buena Flor nasceu a 17 de novembro de 1847 no Lamego, Beira Alta, Portugal. Era filho de João de Castro Buena Saabedra e Maria de Jesus Castro Saabedra.

Entre 1870 e 1880 ele aparecia como escultor em Leopoldina. Já em 1886 era citado como entalhador e escultor, na cidade. Em 28 de janeiro de 1888 estava construindo dois altares para a Igreja de Santana, em Pirapetinga, MG.

Em Leopoldina participou da Sociedade de Beneficência Portuguesa, fundada em 1888, tendo sido eleito seu 2º Secretário a 19 de abril de 1891.

Em 1900 Buena Flor residia Rua Tiradentes nº 112. A 12 de março de 1904, casou-se com Narcisa Florinda Garcia, nascida por volta de 1852 em Horta, Portugal, filha de Caetano Garcia Neves e Francisca Luiza Pereira. Narcisa também usou o nome Narcisa de Matos.

A Gazeta de Leopoldina de 14 de abril de 1910, anunciava que no “próximo sábado”  seria realizado o casamento de Joaquim da Silva Barbeiro com Hermengarda do Amaral, neta de Ignacio Buena Flor. Porém, tanto o testamento quanto o inventário de Buena Flor não se referem a filhos seus. E o apurado até aqui dá conta de que Hemengarda do Amaral foi batizada em 09 de novembro de 1887 e seria filha de Guilhermina Florinda e José Lopes do Amaral. Ela se casou com Joaquim da Silva Barbeiro, filho de outro do mesmo nome e de Margarida Augusta da Costa,  a 16 de abril de 1910. Joaquim nasceu a 06 de agosto de 1887 em Leopoldina e o casal teve dois filhos: Joaquim e Odaleia.

Buena Flor embarcou, a 04 de junho de 1912, para Bremen, Alemanha. Faleceu a 08 de julho de 1920 em Leopoldina, vítima de uma enterite.

OS BENS

No testamento feito a de 30 de junho de 1920, em Leopoldina, o artista declarou ter bens em Portugal, herança dos pais no Carleto em São Martinho de Mouros, os quais deixou para a Santa Casa de Caridade de Lamego, Com a observação de que não poderia despejar o caseiro que lá residia, Alexandre Pereira e sua mulher. Deixou para a Casa de Caridade de Leopoldina os bens de raiz que possuía em Leopoldina e em Vista Alegre, com a cláusula de inalienabilidade, em uso fruto de sua mulher Narcisa enquanto viva for. E deixou os “mais bens constantes de trastes e pequenas dívidas ativas” para sua mulher Narcisa.

No seu processo de inventário constam como herdeiros a viúva e a Casa de Caridade Leopoldinense. Na descrição dos bens foram citados: um sobrado com loja à rua Barão de Cotegipe nº 36, divisa com José Martiniano Barros Lintz, Ignacio de Lacerda Werneck e fundos com antigo caminho que segue para a Matriz, atual Rua Coronel Marco Aurélio; um prédio com armação de negócio na rua Barão de Cotegipe nº 32, divisa com Ignacio de Lacerda Werneck e Luiz Eugenio Botelho e fundos com o antigo caminho para a Matriz; um prédio na Rua Tiradentes nº 45, divisa com Dr. Custodio de Almeida Lustosa e o beco do antigo chafariz, com o prédio e terreno de Pedro Gadas e com Eliza Levasseur; um prédio à rua Tiradentes nos 31 a 37, divisas com Antonio Jorge da Cruz e com Dr. Custodio de Almeida Lustosa, pelos fundos com o córrego das Tabocas; prédio em Vista Alegre, divisas com a Rua do Conselho, com a Rua da Ponte, e com o prédio de Sebastião Pereira e fundos para o Rio Pomba.

Segundo o jornal carioca Correio da Manhã, de 20 de março de 1921,  reunião do Supremo Conselho da Casa de Caridade Leopoldinense fora realizada na véspera para deliberar sobre as providências que deveriam ser tomadas em relação ao legado deixado em testamento por Ignacio de Castro Buena Flor para a instituição. Na oportunidade foram concedidos amplos poderes para a diretoria agir como melhor se apresentasse.

A 28 de outubro de 1939 a Casa de Caridade pediu autorização judicial para vender os imóveis de Vista Alegre e da Rua Tiradentes.

O ARTISTA

Escultor, pintor e artista extremamente considerado em Leopoldina, Buena Flor foi o autor de monumentais altares das igrejas da cidade e da região.

Sobre um destes trabalhos, o da Igreja do Rosário, assim se refere Barroso Júnior em “Leopoldina e seus Primórdios”: “Buena Flor, que deixou em tantas obras o testemunho de sua arte, fez também o altar-mor, púlpitos e florões ornamentais desse gracioso templo”.

E é do mesmo Barroso Júnior o comentário a seguir, sobre outro trabalho do escultor:

“Pelo morro acima, quase em socalcos, sobe o Colégio Imaculada, com sua capela limpinha, a guardar com carinho o altar-mor da antiga matriz, primoroso trabalho de talha de Inácio Buena Flor e dádiva do coronel José Joaquim Monteiro de Castro e seu filho Gervásio A. Monteiro de Castro, que depois foi comendador”.

Capela da sede anterior do Colégio Imaculada Conceição – Acervo Emília Rodrigues de Almeida

Infelizmente parte dessa obra, cantada e decantada por todos os que a conheceram, foi dilapidada pelos responsáveis por sua conservação. Consta, inclusive, que as peças da capela do antigo prédio do Colégio Imaculada Conceição foram vendidas a colecionadores. Uma obra que, considerando a data de morte do artista, provavelmente tenha sido sua última de grande porte.

Sobre a demolição da Capela, vale lembrar que o artista plástico Luiz Raphael Domingues Rosa, que a duras penas manteve o Espaço dos Anjos na cidade, contava que, ao tomar conhecimento de que a capela do colégio estava sendo derrubada, dirigiu-se ao local na tentativa de evitar um desastre maior. Mas apesar de seus protestos, nada mais podia ser feito. A destruição já estava consumada. Rafael conseguiu apenas recolher partes de alguns entalhes, conservando-as em exposição no Espaço dos Anjos.

E talvez este mesmo caminho tenham tomado outras peças, porque também não se conhece o destino do altar da Igreja do Rosário.

Como exemplo do impacto de sua obra, é de se citar o Almanaque de Leopoldina de 1886 em que se lê:

“[…] a Matriz […] possue um altar-mór, que é um primor de talha do artista Ignacio Buena Flôr… ricamente dourado às expensas de Manoel Antonio de Almeida. […] igreja do Rosario… Buena Flôr é o artista que talha seus altares e elegantes pulpitos: ficará um brinco.”

Vale registrar que isto deve ter ocorrido antes de 1873, quando faleceu o citado Manoel Antonio.

Luja Machado e Nilza Cantoni - Membros da ALLA 
Publicado na edição 438 no jornal Leopoldinense, 1 novembro de 2022

Fontes consultadas:

Almanaque de Leopoldina. Leopoldina: s.n., 1886. p. 86 e 89. 
Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 3 cas fls 210 termo 10 
BARROSO JÚNIOR. Leopoldina: os seus primórdios. Rio Branco: Gráfica Império, 1943. p.20 e 22 
Cartório de Registro Civil de Leopoldina, MG, lv 3 cas fls 159 
Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, lv 2 fls 98 nr 100 
Correio da Manhã. Rio de Janeiro: 20 mar 1921 ed 853 fls 2 
Correio Portuguez. Rio de Janeiro: 29 abr 1891 ed 381 pag 1.
Gazeta de Leopoldina. Leopoldina: 18 ago 1926, 17 fev 1974 
Gazeta Nacional. Rio de Janeiro: 28 jan 1888 ed 24 pag 2 
GUIMARÃES, Joaquim Custódio. História da Medicina em Leopoldina. Leopoldina: s.n., 1987. p. 09. 
Inventário de Ignacio de Castro Buena Flor processo 38402003 
LAEMMERT, Eduardo e Henrique. Almanak Laemmert. Rio de Janeiro: 1880, pag 455 e 1883, pag 154 
O Leopoldinense. 1 maio 1881 ed 31 pag 3.  
O Mediador. Leopoldina: 25 julho 1896 ed 37 p. 2 
O Paiz. Rio de Janeiro: 5 jun 1912 ed 10104 pag 3. 
Testamento de Ignacio de Castro Buena Flor processo 38403903

157 – A Barca do Miranda e o distrito Vista Alegre

É difícil escrever sobre Vista Alegre sem que venha à lembrança a música de Serginho do Rock[1] com seu inspirado refrão: “se você está triste? Vista… Alegre!…” E, sem lembrar a ponte de metal, de onde o cantor sugere que se aprecie o visual.

Estação da Estrada de Ferro Leopoldina

Sacudindo estas lembranças e a saudade da Estação de onde partia a verdadeira Maria Fumaça, que pelo vale do Ribeirão Jacareacanga chegava ao centro de Leopoldina, o Trem de História segue tratando da Fazenda Santana dos Miranda, da Barca do Miranda e de Vista Alegre.

É sabido que Artur Vieira[2] se baseou em livros dos cartórios de notas de Cataguases, o que lhe confere um valor especial por ter utilizado fontes pouco consultadas e conhecidas. E foi em livros também pouco conhecidos, da Câmara de Leopoldina, que informações complementares surgiram. Num deles, dos primeiros anos após a emancipação do Feijão Cru, há referência a uma autorização para construção de barca para transposição do Rio Pomba. A Lei nº 734, de 24.05.1855, oficializou a decisão da Câmara da Villa Leopoldina de autorizar a construção de barca e a cobrança de taxas de acordo com a Lei nº 140. Até aqui, não se encontrou informação sobre o barqueiro nem tampouco sobre o local de aportamento de tal barca.

Ao consultar livros de controle fiscal do armazém da Estrada de Ferro Leopoldina em Campo Limpo (Ribeiro Junqueira), observa-se que no ano de 1880 aquele entreposto recebia produtos vindos de fazendas localizadas no outro lado do Rio Pomba, no então distrito de Laranjal, município de Cataguases. Pesquisando os livros do Registro de Porto Novo do Cunha, para o período 1841-1859, constata-se, ainda, que desde então mercadorias atravessavam o Rio Pomba para serem embarcadas em tropas na margem direita que as levariam até o Porto das Barcas, no Rio Paraíba do Sul, no atual município de Aperibé, RJ.

Sabendo-se, através dos nomes dos fazendeiros, que a produção de Leopoldina e arredores era embarcada[3] no Porto das Barcas até 1870, restava identificar o ponto em que as tropas coletavam estas mercadorias, antes da construção da ferrovia.

A continuação das pesquisas, por referências esparsas, indica como o local possível desta coleta o porto da Barca do Miranda.

O distrito de Vista Alegre

Quanto à criação do distrito de Vista Alegre, no município de Cataguases, Arthur Vieira informa que o distrito policial é de outubro de 1883. Mas Ribeiro Costa[4] deu uma interpretação diferente ao levantar a hipótese de que o distrito não teria sido instalado após a Lei nº 3171 em virtude de sua elevação a distrito policial e de paz ter sido determinada pelo Decreto nº 150 de 21 de julho de 1890.

Segundo Waldemar Barbosa[5], o Decreto nº 406 de 06 de março de 1891 criou o distrito de paz na povoação de Vista Alegre, no município de Leopoldina, localidade por ele não identificada. Já Ribeiro Costa se refere ao mesmo Decreto nº 406 para informar que o distrito no município de Leopoldina não teria sido instalado. Mas é curioso observar que a estação ferroviária de Vista Alegre, no município de Leopoldina, na margem direita do Rio Pomba, é de 1877. O distrito criado no município de Cataguases, na margem esquerda do mesmo rio, é de 1890. E o Decreto nº 406, que trata da criação de um distrito de mesmo nome no município de Leopoldina, é de 1891.

Ficou, então, a dúvida sobre a criação e eventual existência de um distrito de paz no município de Leopoldina com o nome de Vista Alegre. A busca da resposta para esta questão passou por consulta não só à legislação como também a processos judiciais, já que era também antiga a dúvida a respeito da existência de um Engenho Central Aracaty na margem direita o Rio Pomba.

Oras, sabendo-se que o nome remete ao povoado de Aracati, município de Cataguases, natural era entender que tal Engenho tenha funcionado na margem esquerda.

Mas através da análise das divisões e sucessões em propriedades rurais localizadas entre a foz do Rio Pardo no Pomba e a estação de Vista Alegre, foi encontrada resposta para a primeira questão. Sim, o Engenho Central Aracaty foi criado no município de Leopoldina em 1879 e o nome remetia ao município cearense, Aracaty, onde nasceu um dos sócios fundadores do engenho, Teófilo Domingos Alves Ribeiro, casado com Rita, irmã do sócio Custódio Martins da Costa Cruz.

Registre-se que na margem direita do Rio Pomba, na área denominada Circuito, a família de Joaquim José da Costa Cruz se instalara na década de 1850, em terras adquiridas dos herdeiros da fazenda Benevolência e outros confrontantes. Em 1880, promoveram a divisão e demarcação dos então denominados sítios Porangaba e Aracaty, e neste último funcionou o mencionado Engenho Central, contando até mesmo com um pequeno trecho de trilhos para levar a produção até a Estação de Vista Alegre.

Naquele período não foram poucas as referências ao distrito de Vista Alegre, inicialmente entendidas como sendo no município de Cataguases. Até que, em outros processos judiciais de Leopoldina foram encontradas algumas citações como, por exemplo, “sorte de terras em capoeira e matta virgem situadas em Vista Alegre desta Freguesia e comarca”, aqui transcrita como encontrada nos originais. Na década de 1880 Cataguases já havia se emancipado e não mais pertencia à Freguesia nem à Comarca de Leopoldina. Como se justificaria, então, a expressão “Vista Alegre desta Freguesia e comarca” utilizada por escrivães e oficiais de justiça até, pelo menos, 1893?

Como pode deduzir o leitor, a pesquisa continuará. Mas por hoje o Trem de História termina aqui. Na próxima edição ele trará outros Pioneiros de Leopoldina. Aguardem!

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado na edição 410 no jornal Leopoldinense de 1 de setembro de 2020

Fontes consultadas:
[1] Antônio Sérgio Lima Freire (Serginho do Rock) nasceu no dia 26.10.1940, na chácara dos avós paternos, em Leopoldina-MG. Filho de Antônio Bastos Freire (Tonico Bastos) e de Marília de Lima Freire (Sinhazinha). Hoje Serginho do Rock é patrono da cadeira nº 9 da Academia Leopoldinense de Letras e Artes – ALLA.
[2] SILVA, Arthur Vieira de Resende O Município de Cataguazes. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, v. 13, 641-1028, ano 1908. p. 905
[3] Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Registro do Porto Novo do Cunha 1841-1842 e 1859; Registro da Barra do Pomba, 1860; Fundo Presidência da Província do Rio de Janeiro, Notação 439, 1864; Registro do Campo Limpo, 1880.
[4] COSTA, Joaquim Ribeiro. Toponímia de Minas Gerais. Belo Horizonte, Itatiaia, 1993. p.424
[5] BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia,1995.

156 – Fazenda Santana do Rio Pomba e a família Miranda

 

O Trem de História começa, agora, uma longa viagem para transportar informações sobre as mais antigas fazendas de Leopoldina. E escolheu como primeira uma propriedade pouco comentada na história tradicional, a fazenda Santana do Rio Pomba, também conhecida como fazenda Santana dos Miranda.

A história desta fazenda está intimamente ligada à do atual distrito de Vista Alegre, como se verá adiante. Ela estava localizada nas duas margens do Rio Pomba, com a sede no local onde mais tarde foi construída a estação ferroviária de Vista Alegre, na freguesia da Leopoldina.

Teria sido formada por Genoveva Maria de Jesus e seu primeiro marido, Francisco Manoel de Assis. Isto, antes de 1835, uma vez que nesse ano Genoveva já residia[1] no Feijão Cru com o seu segundo marido, José Fermino da Fraga e os filhos do primeiro casamento.

Em “O município de Cataguases”, Arthur Vieira[2] declara que o primeiro nome do distrito de Vista Alegre “foi o de Barca do Miranda porque Manoel da Silva Miranda aí fazia o serviço de transporte numa barca, lugar em que mais tarde se construiu a ponte que ligou o arraial à estação”.

Esta informação foi republicada por outros autores, incluindo Waldemar Barbosa de quem é o registro de que “a estação de Vista Alegre foi inaugurada em julho de 1877 e, como é natural, a denominação dela se estendeu ao arraial”.

É do mesmo Arthur Vieira a referência de que o patrimônio do padroeiro de Vista Alegre foi doado por “Antonio Manoel e sua mulher D. Jeronyma Maria do Sacramento e, Manoel da Silva Miranda e sua mulher, por pedido especial de sua fallecida mãe e sogra D. Jeronyma Maria de Jesus, por escriptura de 13 de agosto de 1876, especialmente para erigir uma capella, sob a invocação de S. Francisco de Paula”.

Conclusão esta que, segundo o processo de divisão[3] da Fazenda Santana dos Miranda merece um esclarecimento porque a oficialização da doação de 24.200 m2 (meio alqueire) para constituição do Patrimônio de São Francisco de Paula foi de fato feita por Genoveva Maria de Jesus, embora o registro tenha sido efetivado por seus filhos Antonio Manoel e Manoel da Silva Miranda, após a morte da mãe.

Vale ressaltar que, após a doação, a família Miranda ainda permaneceu proprietária de 363.000 m2 (aproximados 7,5 alqueires) na margem esquerda do Pomba e de uma propriedade maior, na margem direita, em território do município de Leopoldina, contando com 713.900 m2 (aproximados 15 alqueires).

A família Miranda

Embora o estudo sobre esta família ainda mereça ser aprofundado, pela importância que teve na formação do distrito de Vista Alegre e no escoamento da produção de vasta região dos municípios de Cataguases e Leopoldina, registra-se aqui o que foi possível apurar até o momento.

Genoveva Maria de Jesus e seu primeiro marido, Francisco Manoel de Assis, foram pais de: Manoel da Silva Miranda c.c. Maria Antonia ou, Maria Angélica de Jesus; Antonio Manoel de Barros Alvim Filho c.c. Jeronyma Maria do Sacramento; Francisco Manoel de Assis c.c. Teodora ou Teodosia Maria de Jesus; Joaquina Francisca de Jesus c.c. Joaquim Firmino de Almeida; e, Cândida Maria de Jesus de quem não se tem outras informações.

Em 1843 Genoveva já estava viúva do segundo marido, cuidando da fazenda e provavelmente do meio de transporte para atravessar o Rio Pomba.

Este transporte parece ter ficado sob a responsabilidade de seu filho mais velho, Manoel da Silva Miranda, que exercia também a profissão de ferreiro, e do genro Joaquim Firmino de Almeida, que era carpinteiro, profissão complementar à do cunhado Manoel no trato da embarcação e das tropas.

Outro filho, Francisco Manoel, era lavrador e se transferiu para o sul do Espírito Santo na década de 1870, sendo substituído pelo irmão Antonio Manoel no trabalho com a terra da família. Manoel da Silva Miranda continuou morando na sede da Fazenda Santana dos Miranda.

Pelo que se depreende da partilha dos bens de Genoveva[4], inventariados em 1876, Joaquina e seu marido Joaquim Firmino de Almeida ficaram com a propriedade na margem esquerda do Pomba, município de Cataguases.

O estudo desta família trouxe um exemplo do que prega a História Cultural no sentido de não vitimizar os oprimidos, mas valorizar a resistência. Segundo consta nos Censos[5] populacionais de 1835 e 1843, esta era uma família de pretos, característica sempre vinculada aos oprimidos e espoliados. A trajetória destes Miranda demonstra que, debalde as condições sociais da época, eles alteraram a identidade herdada de um sistema cruel, construindo nova imagem de si mesmos e transitando para outro lugar na hierarquia social.

Uma pausa se faz necessária. Na próxima edição ainda virá um pouco mais sobre esta fazenda e o distrito de Vista Alegre. Aguardem!

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 409 no jornal Leopoldinense de 1 de agosto de 2020


Fontes consultadas:

[1] Arquivo Público Mineiro 1835 CX 03 DOC 06, Mapa da População do Feijão Cru, família 95

[2] SILVA, Arthur Vieira de Resende O Município de Cataguazes. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, v. 13, 641-1028, ano 1908. p. 905

[3] Arquivo Permanente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Divisão da Fazenda Santana dos Miranda. Processo COARPE/TJMG 38402032.

[4] Primeira Secretaria do Fórum de Leopoldina. Partilha Amigável dos bens de Genoveva Maria de Jesus. Processo 38404723.

[5] Arquivo Público Mineiro. Mapa da População do Feijão Cru 1835 CX 03 DOC 06, Termo da Vila da Pomba e 1843 CX 03 DOC 04, Termo da Vila de São João Nepomuceno.

135 – Hospedaria Jacareacanga

O Trem de História já citou uma hospedaria que permanece meio encoberta pela poeira do descaso. É a Hospedaria Jacareacanga, que parece ter funcionado às margens do ribeirão que lhe empresta o nome, nas proximidades da estação ferroviária de Vista Alegre.

Para ela foram encaminhados imigrantes que se destinavam a Leopoldina.  Mas antes de tratar da Hospedaria Jacareacanga, dois pontos importantes a respeito da imigração para Minas Gerais merecem ser lembrados.

O primeiro deles é o fato de que, segundo o Decreto nº 644, de 09 de setembro de 1893, o governo mineiro teria firmado convênio com o estado do Espírito Santo para que os imigrantes que chegassem naquele período, com viagem subvencionada por Minas Gerais, fossem recebidos na hospedaria da capital daquele estado.

O segundo ponto que merece registro se refere ao fato pouco conhecido de que alguns dos imigrantes que se instalaram em Leopoldina não vieram diretamente do país de origem. Um bom número esteve em outros núcleos de colonização, da mesma forma que colonos ‘leopoldinenses’ foram tentar a vida noutras localidades, num deslocamento que terminou por provocar, inclusive, a separação e o distanciamento de ramos familiares. O que não desautoriza a afirmação de que a regra geral era passarem por uma hospedaria e de lá saírem contratados por fazendeiros ou, estimulados por alguma razão especial, partirem para um endereço certo.

Sobre a Jacareacanga, especificamente, pouco se sabe e raros são os documentos preservados referentes a ela, acessíveis ao público. Dentre estes poucos está a mensagem de Bias Fortes, de julho de 1896, declarando que:

“Inutil seria todo nosso esforço em bem do desenvolvimento da corrente immigratoria, si o recebimento de immigrantes no Estado não fosse feito com todo o cuidado e com a maior somma de conforto para elles. Convicto disso, o governo tem procurado fazer cercar de todo o agasalho e conforto o immigrante recem-chegado. Para esse fim, mandou executar diversas obras na hospedaria de Juiz de Fora, de modo a dotar este edificio de todos os melhoramentos indispensaveis á commodidade do immigrante e ao serviço de hyginene da hospedaria. Providenciou tambem para que sejam estabelecidas diversas hospedarias nos centros das mais importantes zonas agricolas, o que facilitará a localisação e a distribuição dos immigrantes.”

Nesta mesma mensagem o Presidente do Estado informa que estava em construção uma hospedaria na nova capital, Belo Horizonte e tinham sido iniciados os trabalhos para instalação de duas outras: uma em Leopoldina, na Estação de Vista Alegre, e outra na Estrada Sapucahy, em Soledade, hoje município de Pouso Alegre (MG).

Vale lembrar que o Decreto nº 406, de 1891, criou

um distrito de paz na povoação denominada – Vista Alegre – município de Leopoldina, cujas divisas serão: pela ponte do Rio Pomba, em Vista Alegre, descendo rio abaixo até a fazenda de Carlos Augusto de Aquino Cabral (divisa com Campo Limpo); daí subindo o ribeirão do Recreio até a fazenda do mesmo nome, pertencente à d. Maria Antonina Dutra, passando pela fazenda de José Dutra da Silveira, voltando depois, em linha reta, apanhando as fazendas dos Srs. Custódio Ferreira de Lacerda, herdeiros de Antônio Ferreira Netto, João Rodrigues Martins, João Evangelista de Castro Gama, capitão Francisco de Paula e Silva Santa Maria, Dr. Custódio José da Costa Cruz, fazenda do Aracati Velho; voltando, passará, em linha reta, pela fazenda dos Brittos, chegando ao Rio Pomba, apanhando a fazenda do capitão Caetano José de Almeida Gama, desce rio abaixo até a ponte da Vista Alegre, de onde partiu o primeiro ponto.”

É fato documentado que em meados da década de 1890 o engenheiro Eugenio Jordan constou como contratante de imigrantes na hospedaria de Juiz de Fora, informando como destino a localidade de Vista Alegre, no município de Leopoldina, que tanto pode ser o distrito criado pelo decreto nº 406 quanto referir-se à estação ferroviária de Vista Alegre.

Sobre a hospedaria sabe-se, também, que em 1898 foi feito um aporte financeiro pela presidência do Estado para conclusão do processo de extinção da Jacareacanga e que, no ano seguinte, foram extintas as hospedarias de Soledade e de Leopoldina.

Os estudos até o momento desenvolvidos levam a pensar na hipótese de que a hospedaria de Leopoldina já existisse desde a época da construção da Estrada de Ferro, na década de 1870. Isto porque, através da Lei nº 32, de 18 de julho de 1892, foi permitido às Câmaras Municipais cuidarem da introdução de trabalhadores, inclusive imigrantes. E por esta época, funcionava a Colônia Santo Antonio, instalada pela Câmara Municipal na fazenda da Onça, de sua propriedade.

Assim, reunindo diversas informações e comparando-as com depoimentos de descendentes de imigrantes, observa-se que pode ter existido um prédio, à margem do ramal que ligava a estação de Vista Alegre à do centro da cidade de Leopoldina, destinado a acolher inicialmente os trabalhadores da ferrovia.

Descendente de imigrante alemão informou que seus antepassados trabalhavam na construção da Estrada de Ferro Pedro II e se transferiram para Leopoldina, para trabalharem nas obras do ramal de Vista Alegre. Acrescentou que a família residiu inicialmente nas proximidades da Estação de Vista Alegre até que a Câmara de Leopoldina promoveu a venda de lotes na fazenda da Onça.

Outra indicação para confirmar a existência da hospedaria Jacareacanga vem de entrevista com descendente de imigrante italiano que trabalhou na fazenda Paraíso. Neste caso, a informação é de que ficaram numa hospedaria perto da Estação de Vista Alegre, até chegar a bagagem e então serem transferidos para a fazenda de destino.

Esta situação se confirma com a leitura da carta de Costa Manso & Cia, do Rio de Janeiro, datada de 28 de agosto de 1889 e enviada para a fazenda Paraíso, na qual se informa que o emissário Frederico Dausckivardt contratara diversos colonos no Porto do Rio.

Pelo que se depreende desse documento, pertencente à coleção de documentos da fazenda Paraíso, os imigrantes haviam seguido viagem com destino à Estação de Vista Alegre e a bagagem não tinha seguido junto porque “o vapor chegou às 3 horas” e não foi possível contratar “a catraia para fazer seguir para o trapiche da Gamboa, onde será despachada amanhã”.

Aqui é preciso fazer mais uma pausa. O Trem de História retorna na próxima edição para falar de imigrantes que estiveram na Jacareacanga. Até lá.


Fontes de referência:

Mensagens dos presidentes do Estado de 1888 e 1899; Mensagem do Presidente Chrispim Jacques Bias Fortes, 15.07.1896, p. 31; Livros da Hospedaria Horta Barbosa (Arquivo Público Mineiro), SA-910 p.7 e seguintes; Documento da Coleção Kenneth Light, disponível no Arquivo Histórico do Museu Imperial, Petrópolis, RJ. Tombo 1954/97.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 388 no jornal Leopoldinense de 16 de setembro de 2019

101 – Pelos 164 anos de emancipação de Leopoldina: as Exportações da Produção do Feijão Cru

Logomarca Trem de História

 

O Trem de História mostra hoje um pouco dos diferentes meios e modos de escoamento da produção desde os primórdios do Feijão Cru e da Vila de Leopoldina, passando pelos primeiros tempos da cidade e os dias atuais.

Quando se pensa em contar a história da exportação de produtos de Leopoldina vem logo a imagem dos vagões de trens abarrotados de café, caminhões pipas transportando leite ou, carrocerias lotadas de cereais e engradados com aves vivas. Se história de um tempo mais recente, com negócios geridos por exportadores versados nos ensinamentos do conterrâneo José Augusto de Castro(1), certamente se imaginarão carretas refrigeradas e caminhões baú.

 Mas houve um tempo no qual a produção partia do Feijão Cru por caminhos bem diferentes. Se a carga era de animais vivos, boiadas principalmente eram tocadas a pé pelas estradas por treinados boiadeiros. Se cargas da lavoura ou dos engenhos, eram geralmente levadas por tropas de muares e carros de bois para o Registro do Porto Novo do Cunha, na atual Além Paraíba ou, para o Registro do Porto da Barra do Pomba, localizado na foz do rio deste nome no Paraíba do Sul, em território hoje pertencente à cidade de Aperibé (RJ). Isto, muito antes da presidência da república ser ocupada por Washington Luís (1926 a 1930), deposto pelo Estado Novo, ter tido como lema de governo o seu célebre “Governar é abrir estradas”.

Porto das Barcas, Aperibé, RJ: neste local funcionava o porto da foz do Rio Pomba no Rio Paraíba do Sul, por onde se escoava a produção do Feijão Cru até 1870.

Entre 1841 e 1880, tais partidas de mercadorias, conforme documentos do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro(2) relativos à exportação de produtos da região de Leopoldina para a Corte, seguiam estes caminhos. Principalmente as mais antigas, de 1841 e 1842, que passaram pelo Registro de Porto Novo do Cunha, em cujo termo de abertura consta a declaração de que o livro serviria ao registro das guias de remessa dos gêneros sujeitos a imposto.

Vale lembrar que de tais guias constam itens como: açúcar, azeite, café, cavalo, feijão, galinha, polvilho, queijo, toucinho e varas de pano (provavelmente tecido grosseiro de algodão). Mas já para o ano de 1859 só foram encontrados mapas da arrecadação de imposto sobre o café exportado através daquele Porto para a Província do Rio de Janeiro, não sendo possível identificar os exportadores e nem mesmo assegurar quais deles eram da então Villa Leopoldina.

A partir de 1860, num livro do Registro do Porto da Barra do Pomba, de Aperibé (RJ), os registros passam a ser mais precisos e já se consegue identificar a propriedade exportadora e o café como principal produto comercializado.

Da Villa Leopoldina, excluídos seus então distritos Angu, Capivara e Laranjal, naquele ano de 1860 os seguintes produtores exportaram café para o porto de São Fidelis-RJ(3), de onde seria revendido para a Corte e outras províncias: Agostinho Luiz de Menezes; Antonio Bittencourt de Castro; Antonio José Rodrigues; Bento Pereira da Cruz; Caetano Pedro de Matos; Carlos Augusto Cabral; Cesário José dos Reis; Diogo Gonçalves de Medeiros; Felicíssimo Vital de Moraes; Francisco Antonio de Lima; Francisco Pereira da Ponte; Jacinto Monteiro de Barros; João Paulo Coutinho; Joaquim Corrêa; Joaquim José da Costa Cruz; Joaquim Machado Neto; Joaquim Manuel; José Ignacio Couto; José Joaquim Ferreira Monteiro de Barros; José Rodrigues Gomes; José Tavares de Oliveira; José Teixeira Lopes Guimarães; Luiz Manoel de Castro e Silva; Maria Antonia; Maria do Carmo Monteiro de Barros; Mariano Pacheco Couto; Thomaz Furtado Branquinho; e, Vicente Ferreira Monteiro de Barros.

Em 14.10.1864, o capitão Alfredo de Barros e Vasconcellos, Diretor de Obras Públicas da Província de Minas Gerais, e Antonio Rodrigues da Costa, Engenheiro Chefe, cumprindo as ordens de 11 de abril e 6 de maio daquele ano, encaminham à Corte planta e orçamento para o reparo e melhoramento indispensável da estrada que do ponto fronteiro à villa de S. Fidelis segue à Província de Minas Geraes pela margem esquerda dos rios Parahiba e Pomba, passando pela freguesia de Santo Antonio de Padua do mesmo município de S. Fidelis.

Interessante observar que, no mesmo documento, o Capitão Alfredo pondera ser uma obra que excede à verba decretada e informa que na margem fronteira corre paralelamente (até a foz do Pomba) uma outra estrada por planicie soalheira, e que além de dous ramaes que lança para as freguesias de São Sebastião do Alto e Santa Rita do Rio Negro de Cantagallo, por onde desce muito café desta provincia, vai directamente pela margem direita do Parahiba entroncar na estrada de ferro de D. Pedro 2º no Porto Novo do Cunha. Estrada que receberá melhoramentos já orçados a 20 de março de 1862 e que necessariamente teem de ser feitos, podendo ella dispensar a outra.

Chegada a era da Estrada de Ferro, a exportação deixou de ser feita pelo leito dos rios e estradas de acesso a eles e, com isso, os controles ou recebedorias passaram para as estações. A partir daí, no território pertencente a Leopoldina, esse controle passou a ser feito pelas estações inauguradas entre dezembro de 1874 e julho de 1877 – Providência, São Martinho, Santa Isabel (hoje Abaíba), Recreio, Campo Limpo (hoje Ribeiro Junqueira), Vista Alegre e Leopoldina. Na Estação de Campo Limpo, segundo os documentos pesquisados, havia armazém com capacidade para estocar a produção até o momento do embarque. E pelo livro de 1880 dessa estação, o mais antigo existente no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, observa-se que o café permanecia como principal produto de exportação e os produtores eram dos municípios de Leopoldina, São Paulo do Muriaé e Cataguases, não havendo identificação de cada um deles.

Mas exportação através da linha férrea já é uma outra história para uma futura viagem. Por hoje o Trem de História fica por aqui.


Fontes do consulta:

1 – CASTRO, José Augusto de. Exportação – Aspectos Práticos. 4. ed. São Paulo: Aduaneiras, 2001

2 – Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Registro do Porto Novo do Cunha 1841-1842 e 1859; Registro da Barra do Pomba, 1860; Fundo Presidência da Provincia do Rio de Janeiro, Notação 439, 1864;  Registro do Campo Limpo, 1880

3 – São Fidelis (RJ) era a cidade de destino do memorialista Francisco de Paula Ferreira Rezende, autor de Minhas Recordações, quando, em 1861, chegou a Leopoldina.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 354 no jornal Leopoldinense de 27 de abril de 2018

98 – Costa Cruz – Cecília, Francisco e Ana Tereza Martins da Costa Cruz

Este vagão do Trem de História traz algumas informações de mais três filhos de Joaquim José e Ana Joaquina. Lembrando que ainda permanecem, quanto a alguns dos filhos do casal, lacunas que se espera sejam preenchidas com o caminhar das pesquisas. Mas para que não se percam os dados apurados, ficam aqui registrados.

Cecília Martins da Costa Cruz, a sexta filha do casal nasceu em 1859, em Leopoldina[1]. Casou-se com Luiz Bueno e, após enviuvar-se, em segundas núpcias, em 13.01.1883, casou-se com Luiz de França Viana[2], filho de Felicíssimo de Souza Viana e Maria.

Sobre ela pouco se conseguiu reunir além de uma história triste, contada por Mário de Freitas no seu livro “Leopoldina do Meu Tempo”, páginas 41 e 42. Conforme o autor, no segundo casamento Cecília teve uma filha de nome Anita que morava no Rio de Janeiro e teria cometido suicídio, em decorrência de problemas no casamento com um médico da Marinha. Quando a avó, Cecília, foi buscar os netos, filhos de Anita, encontrou os dois deitados ao lado do corpo da mãe e um deles estava morto, provavelmente por falta de alimentação já que o pai estava foragido.

Ana Tereza Martins da Costa Cruz é o nome da sétima filha do casal Joaquim José e Ana Joaquina, indicada por diversos pesquisadores como tendo nascido em Leopoldina na década de 1860. Seu batismo não foi localizado, nem tampouco o casamento com seu primo Joaquim Martins da Costa Cruz. Desta forma, não foi possível identificar qual dos sobrinhos de Joaquim José teria sido, também, seu genro.

Francisco Martins da Costa Cruz, o oitavo filho do casal Joaquim José e Ana Joaquina, nasceu em Leopoldina[3] em 1862. Em julho de 1889 foi nomeado[4] 2º suplente de delegado de sua terra natal. Em 1892 era eleitor em Leopoldina e três anos depois se transferiu para Cataguases[5]. Em Leopoldina do Meu Tempo, página 42, Mário de Freitas a ele se refere como Nhô Chico.

Vale ressaltar que as terras da família Costa Cruz eram às margens do Rio Pomba, próximas de Cataguases, razão pela qual parte da família naturalmente acabou por fixar residência na cidade vizinha. Da mesma forma que os habitantes de Vista Alegre, que estão do outro lado do rio, em função do ramal da estrada de ferro e a menor distância, em boa parte se ligaram a Leopoldina.

Francisco Martins casou-se com Olímpia Figueira com quem teve os filhos:

1 – Joaquim, nascido[6] em Leopoldina em 1884, foi casado com Maria da Glória Martins dos Santos e em segundas núpcias com Zenar Macedo. Joaquim estudou em Ouro Preto[7] e foi promotor público em Cataguases[8].

2 – Placidina nasceu[9] em Leopoldina em 1885 e faleceu[10] em 1970. Segundo Pedro Vidigal, casou-se com Edelberto Figueira nascido em Valença, RJ e falecido em Além Paraíba, MG. Ele era filho de Francisco Bernardo da Figueira e de Brígida Maria. O casal foi pai de Emília Costa Cruz Figueira, nascida[11] em 1909 e que se casou João Moojen de Oliveira. Ele, nascido em 1904 em Leopoldina e falecido em 1985 no Rio de Janeiro, era filho de Luiz Carlos de Oliveira e Julieta Moojen. Segundo Fernando Dias Ávila Pires, no texto Personagens e Pioneiros da Universidade Federal de Viçosa, João Moojen, que não usava o sobrenome de Oliveira e dispensava o título de Professor Doutor, foi figura marcante na zoologia brasileira do século XX. O autor informa, ainda, que o cientista J. M. Oliveira deixou quatro filhos, nascidos em Leopoldina, doze netos e dois bisnetos.

3 – Dalila (n.1892)[12], casou-se com José Ribeiro Viana.

4 – Nadia (n.1895)[13], casou-se com João Batista de Souza Lima.

5 – Francisco (n1901)[14], casou-se com Maria Leitão de Sá.

6 – Angelo (n.1903)[15], casou-se com Maria Helena Ladeira Campos.

Por hoje o Trem de História fica por aqui. No próximo número virão os dois últimos filhos de Joaquim José e Ana Joaquina. Até lá.


Fontes Consultadas:

[1] Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 01 bat fls 44 termo 235.

[2] idem, lv 1 cas fls 79 termo 225.

[3] idem, lv 01 bat fls 92 termo 498

[4] Irradiação (Leopoldina, MG), 24 julho1889, ed 74 p 3.

[5] Alistamento Eleitoral de Leopoldina século XIX, Atas de Eleição.

[6] Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 02 bat fls 115 termo 1088.

[7] O Pharol (Juiz de Fora), 4 jan 1903 ed 465 p 1.

[8] VIDIGAL, Pedro Maciel. Os Antepassados. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1979 e 1980. v 2 tomo 2 1ª parte p 941.

[9] Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 02 bat fls 156v termo 1500.

[10] VIDIGAL, obra citada, v 2 tomo 2 1ª parte p 943

[11] idem, v 2 tomo 2 1ª parte p 943

[12] Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 04 bat fls 79 termo 937.

[13] idem, lv 05 bat fls 79v termo 323.

[14] VIDIGAL, obra citada, v 2 tomo 2 1ª parte p 949

[15] Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 10 bat fls 6v termo 59.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 351 no jornal Leopoldinense de 15 de março de 2018

95 – Joaquim José da COSTA CRUZ: Onde tudo começou

O nome de Vista Alegre, além de recordar os versos e música do Serginho do Rock “se você está triste, Vista Alegre!…” remete, também, ao trem de verdade, à Maria Fumaça que trazia e levava o progresso pelos trilhos da inesquecível Estrada de Ferro da Leopoldina. E para aproveitar estas lembranças gostosas, o Trem de História começa hoje uma viagem pela família COSTA CRUZ e o Engenho Central Aracaty que a ela pertenceu, vizinhos da hoje abandonada Estação Ferroviária de Vista Alegre.

Para isto promete trazer, nos próximos vagões, um pouco da genealogia e do passado desta família, seus vínculos com o lugar e com as terras das duas margens do Rio Pomba, nos municípios de Leopoldina e Cataguases. Promete recordar o Engenho Central Aracaty, que parece ter emprestado seu nome ao atual distrito vizinho, Aracati.

O Aracaty foi um dos poucos Engenhos Centrais criados em solo mineiro e fazia parte de política do governo para melhorar a qualidade e alavancar a exportação do açúcar brasileiro, segundo Roberta Meira. Além de trazer informações sobre o empreendimento, a série que ora se inicia promete trazer para os dias de hoje o nome, a obra e a história do leopoldinense Dilermando Martins da Costa Cruz. Um esquecido professor, empresário, promotor de justiça, poeta brilhante, jornalista e escritor. Um dos fundadores da Academia Mineira de Letras e, hoje, patrono da Cadeira nº 15 da ALLA – Academia Leopoldinense de Letras e Artes.

Pois a viagem com a família “COSTA CRUZ” começa com Joaquim José da Costa Cruz, nascido por volta de 1816 e falecido em 24.06.1881, em Leopoldina. A mais antiga referência a ele encontrada em Leopoldina é o batismo de um filho de escravos seus, ocorrido em maio de 1855.

Sabe-se que Joaquim José era casado com Ana Joaquina Martins da Costa, filha de Manoel Martins da Costa Neto e Teresa Maria de Jesus, neta paterna de Manoel Martins da Costa Filho e Maria do Carmo Ferreira Cabral.

Em 1856, Joaquim declarou ser proprietário de aproximadamente 180 alqueires de terras nas vertentes do Rio Pomba, em Leopoldina, tendo como vizinhos: Albina Joaquina de Lacerda (Fazenda Benevolência); João Gualberto Ferreira Brito (Fazenda Fortaleza); e, terras dos Barbosa, possivelmente localizadas mais para os lados da Vargem Linda (Piacatuba).

Joaquim José e Ana Joaquina foram pais de: 1 – Teresa; 2 – Maria do Carmo; 3 – Rita; 4 -Custódio José; 5 – Manoel; 6 – Cecilia; 7 – Ana Tereza; 8 – Francisco; 9 -; 10 – Armando; e, 11 – Antonio Martins da Costa Cruz.

A primeira filha, Teresa Martins da Costa Cruz c/c João Batista Martins Guerra, filho de Quintiliano Martins da Costa e Maria Perpétua Rodrigues Guerra, que chegou a ser nomeado Juiz Municipal em 1873. O casal, Tereza e João teve, pelo menos, os filhos nascidos em Leopoldina: Armando matriculado no Colégio Caraça em 1878; Joaquim Martins Guerra, (n.1867) que se casou com a prima Cornélia Martins da Costa Cruz, filha de Antonio Martins da Costa Cruz e Carlota Rodrigues; Laura, (n.1868); Cecilia, (n.1879); Quintiliano que residia em Leopoldina em 1891; e, Laudelina c.c. Manoel Olimpio da Costa Cruz, filho de tio Antonio e Carlota, tios de Laudelina. Do casal Laudelina e Manoel são os filhos Eduardo e Joaquim. Este último, (n. 1898) em Leopoldina, foi prefeito de Cataguases.

A segunda, Maria do Carmo Martins da Costa Cruz, casou-se com Antonio José de Lima Castello Branco e com ele teve onze filhos, conforme indicado por Pedro Maciel Vidigal e dos quais foram identificados apenas os quatro a seguir, nascidos em Leopoldina: 1 – Aristides, (n.1867), c/c com Alice Spinelli com quem teve o filho Antonio. Numa segunda união, com Judith Cunha, teve os filhos Elisiário e, Judith da Cunha Castelo Branco que se casou com seu primo Luciano Jacques de Moraes; 2 – Alfredo, (n.1869), c/c Elvira Ferreira da Fonseca. Pais de Candida c/c Alfredo João Mayall; Antonio c/c Beatriz Saldanha da Gama Frota; Clotilde c/c Eugênio Pirajá Esquerdo Curty; Enéas c/c Ana da Rocha Ribas; Marcelo c/c Maria de Lourdes de Souza Lima; Sofia c/c Manoel Iberê Esquerdo Curty; Elvira, homônima da mãe, foi uma das esposas de seu primo Luciano Jacques de Moraes acima citado. 3 – Acacio, (n.1873) c/c Clotilde Ferreira da Fonseca Cortes e em segundas núpcias, com Maria Lucila de Almeida Magalhães; e, 4 – Ana, (n.1884) de quem não se tem outras informações.

Aqui é necessário que se faça uma pausa. Na próxima edição a história dos descendentes do Joaquim José da Costa Cruz continuará. Aguardem!


Fontes Consultadas:

Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv orig misto fls 9 e lv 01 bat fls 19 termo 98, fls 194 termo 932, fls 210 termo 1008, fls 233 termo 1116, fls 266 termo 1275; lv 02 bat fls 23 termo 202, fls 166v termo 1572

Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114, Registro de Terras de Leopoldina, nr 24.

Cemitério Público de Leopoldina, MG Livro 1880-1887, folhas 5 sepultura 118.

Colégio do Caraça, Livro de Matrículas, nr. 1164

Gazeta de Leste Leopoldina, MG), 17 jan 1891 ed 16 pag 3.

MEIRA, Roberta Barros. Os louvores ao açúcar nas terras do café: o crescimento da produção açucareira paulista e fluminente entre 1875-1889. Revista Territórios e Fronteiras. Campo Grande-MT, v.2 n.1, p.6-26, Jan/Jun 2009. p.8

VIDIGAL, Pedro Maciel. Os Antepassados. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1979 e 1980,. v 2 tomo 2 1ª parte p 804.

PORTO, Elisa de Moraes Sobrino. Frondosas Árvores Raízes da Mineiridade. Rio de Janeiro: Razão Cultural, 1998. p. 249.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 348 no jornal Leopoldinense de 1 de fevereiro de 2018

49 – Joaquim Antonio de Almeida Gama: o casamento

A viagem continua e o Trem de História fala hoje sobre o casamento de Joaquim Antonio. Antes, porém, quer dar notícia do Registro de Terras(1) de 1856, cujo item 6 se transcreve com a ortografia original.

Conforme se verá a seguir, é relativo ao fazendeiro em estudo e a uma fazenda cujas terras chegavam a uma parte do que é hoje o centro da cidade. Diz o registro:

“Joaquim Antonio de Almeida e Gama he senhor e possuidor da fazenda denominada Floresta, sita nesta Freguesia adequeridas por titulo de compra, levará dusentos e vinte alqueires de planta de milho e divide por um lado com Romão Pinheiro Correia de Lacerda, José Zeferino de Almeida, José Joaquim Cordeiro, D. Maria do Carmo, com os herdeiros do finado Bernardino, com o Dr Antonio José Monteiro de Barros. Villa Leopoldina em trez de Março de mil oitocentos e cincoenta e seis. Joaquim Antonio de Almeida e Gama. O Vigº José Mª Solleiro”

Quanto às núpcias de Joaquim Antonio é de se registrar que não se sabe quando exatamente elas ocorreram porque ainda não foram encontrados os livros paroquiais com os eventos realizados no então Curato do Feijão Cru antes de 1850. Pode-se, entretanto, supor que ele e Maria Josefina Cândida de Jesus tenham se casado logo depois da Contagem Populacional de 1843, já que o filho mais velho do casal nasceu por volta de 1845.

Maria Josefina era filha de José Thomaz de Aquino Cabral e de Rosa Cândida da Gama, cujo sobrenome faz acreditar ser parenta de Joaquim Antonio.

Vale registrar que o casamento de Joaquim Antonio com Maria Josefina aproxima o Trem de História de outro antigo morador de Leopoldina, o senhor José Thomaz de Aquino Cabral que, em 1856, era proprietário da Fazenda Santa Cruz(2) cujas terras, cerca de 265 alqueires, divisavam com João Gualberto Ferreira Brito (Fazenda Fortaleza), Antonio Rodrigues Gomes (Fazenda Águas Vertentes do Córrego do Moinho), José Ferreira Brito (Fazenda Dois Irmãos), Francisco da Silva Barbosa (Fazenda Boa Vista) e Mariana Luiza ou Tereza Pereira Duarte (Fazenda Recreio).

Registre-se, ainda, que o casal José Thomaz e Rosa Cândida teve pelo menos mais um filho, Carlos Augusto de Aquino Cabral, cujas terras recebidas por herança dos seus pais foram transformadas na Fazenda Natividade, localizada na divisa(3) do Distrito de Paz de Vista Alegre(4).

Aqui vale a explicação de que este antigo Distrito de Paz pertencia a Leopoldina, em 1891, e ficava nas proximidades do córrego Jacareacanga, na margem direita do Rio Pomba. O atual distrito de Vista Alegre, pertencente ao município de Cataguases, fica na margem esquerda.

Outra informação que pode ser interessante é a de que, possivelmente, a esposa de Joaquim Antonio era meia-irmã de Antonio e Joaquim Thomaz de Aquino Cabral, cuja mãe é indicada nas fontes como sendo Maria Benedita de Almeida e o pai, José Thomaz de Aquino Cabral. Antonio Thomaz foi alistado(5) no mesmo distrito eleitoral de Carlos Augusto e foi casado com Rosa Vitalina, provavelmente de sobrenome Gama. Teve nove filhos em Leopoldina, entre 1878 e 1893 e uma filha que teria nascido no estado do Espírito Santo. O irmão Joaquim Thomaz de Aquino Cabral casou-se(6) em Leopoldina, no dia 19.02.1881, com Luiza Augusta da Gama, filha de Joaquim Antonio de Almeida Gama e Maria Josefina Cândida de Jesus.

Joaquim Antonio e Maria Josefina tiveram, pelo menos, 13 filhos nascidos em Leopoldina São eles: Teófilo Antonio, Filomena Josefina, João Caetano, Rosa Cândida, Antonio Francisco, Maria, Luiza Augusta, Carlota, Virginia Angélica, José Joaquim, Elisa, Joaquim e Ernestina, que lotarão o próximo vagão do Trem de História. Aguardem!


Notas:

1 – Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114, Registro de Terras de Leopoldina, nr  6

2 – idem, nr 3

3 – Leis Mineiras, Arquivo Público Mineiro, Decreto 406 de 6 de março de 1891

4 – idem, Lei 3171 de 18 de outubro de 1883

5 – Alistamento Eleitoral de Leopoldina século XIX, lv 37 fls 14v nr 21

6 – Secretaria Paroquial da Matriz do Rosário, Leopoldina, MG, lv 2 cas fls 52 termo 143

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado no jornal Leopoldinense de 01 de junho de 2016

Movimento da Estrada de Ferro da Leopoldina

Atendendo consulta de um visitante deste blog, voltamos a mencionar a Estrada de Ferro da Leopoldina para explicar que nosso interesse encontra-se nos 112 km que ligavam a Estação Porto Novo, da Estrada de Ferro Pedro II, à cidade de Cataguases. Neste percurso funcionavam, em 1878, as seguintes estações: Porto Novo, São José, Pântano, Volta Grande, São Luiz, Providência, Santa Isabel, Recreio, Campo Limpo, Vista Alegre, Leopoldina e Cataguases.

Segundo a tabela publicada no Almanak Laemmert, as viagens do trem de carga obedeciam ao seguinte horário:

Chegada

Partida

Porto Novo

2h00

São José

2h06

2h08

Pântano

2h26

2h28

Volta Grande

2h58

3h03

São Luiz

3h23

3h28

Providência

3h40

3h47

Santa Isabel

4h19

4h23

Recreio

4h39

4h43

CampoLimpo

5h09

5h14

Vista Alegre

5h30

5h34

Cataguases

6h10

6h30

Vista Alegre

7h06

7h10

Campo Limpo

7h26

7h30

Recreio

7h56

8h00

Santa Isabel

8h16

8h20

Providência

8h50

8h55

São Luiz

9h07

9h12

Volta Grande

9h33

9h38

Pântano

10h08

10h12

São José

10h30

10h32

Porto Novo

10h40

Na parte da tarde, em alguns dias da semana havia uma segunda viagem.

A estrada era também percorrida pelo trem misto, de carga e passageiros. Além disso, entre as estações de Vista Alegre e Leopoldina circulavam composições saindo de Leopoldina nos horários de 6h30, 7h41, 11h32 e no percurso inverso, ou seja, saindo de Vista Alegre com direção a Leopoldina às 7h15 e às 11h00, tanto para carga como para o trem misto.

Desta forma, o que se pretendia é que a ferrovia atendesse à demanda pelotransporte de passageiros e carga entre as cidades da região e sua conexão com as composições que do Porto Novo seguiam para o Rio de Janeiro ou, a partir de Três Rios, para outras cidades mineiras.