186 – Ignacio de Castro Buena Flor

Passado o centenário de sua morte, ocorrido no ano da pandemia, hoje o Trem de História resgata o nome e a obra do artista de origem portuguesa, Inacio de Castro Buena Flor, que ainda jovem veio para Leopoldina, aqui se casou e viveu até sua morte. Um grande artista como se verá adiante.

Inácio de Castro Buena Flor nasceu a 17 de novembro de 1847 no Lamego, Beira Alta, Portugal. Era filho de João de Castro Buena Saabedra e Maria de Jesus Castro Saabedra.

Entre 1870 e 1880 ele aparecia como escultor em Leopoldina. Já em 1886 era citado como entalhador e escultor, na cidade. Em 28 de janeiro de 1888 estava construindo dois altares para a Igreja de Santana, em Pirapetinga, MG.

Em Leopoldina participou da Sociedade de Beneficência Portuguesa, fundada em 1888, tendo sido eleito seu 2º Secretário a 19 de abril de 1891.

Em 1900 Buena Flor residia Rua Tiradentes nº 112. A 12 de março de 1904, casou-se com Narcisa Florinda Garcia, nascida por volta de 1852 em Horta, Portugal, filha de Caetano Garcia Neves e Francisca Luiza Pereira. Narcisa também usou o nome Narcisa de Matos.

A Gazeta de Leopoldina de 14 de abril de 1910, anunciava que no “próximo sábado”  seria realizado o casamento de Joaquim da Silva Barbeiro com Hermengarda do Amaral, neta de Ignacio Buena Flor. Porém, tanto o testamento quanto o inventário de Buena Flor não se referem a filhos seus. E o apurado até aqui dá conta de que Hemengarda do Amaral foi batizada em 09 de novembro de 1887 e seria filha de Guilhermina Florinda e José Lopes do Amaral. Ela se casou com Joaquim da Silva Barbeiro, filho de outro do mesmo nome e de Margarida Augusta da Costa,  a 16 de abril de 1910. Joaquim nasceu a 06 de agosto de 1887 em Leopoldina e o casal teve dois filhos: Joaquim e Odaleia.

Buena Flor embarcou, a 04 de junho de 1912, para Bremen, Alemanha. Faleceu a 08 de julho de 1920 em Leopoldina, vítima de uma enterite.

OS BENS

No testamento feito a de 30 de junho de 1920, em Leopoldina, o artista declarou ter bens em Portugal, herança dos pais no Carleto em São Martinho de Mouros, os quais deixou para a Santa Casa de Caridade de Lamego, Com a observação de que não poderia despejar o caseiro que lá residia, Alexandre Pereira e sua mulher. Deixou para a Casa de Caridade de Leopoldina os bens de raiz que possuía em Leopoldina e em Vista Alegre, com a cláusula de inalienabilidade, em uso fruto de sua mulher Narcisa enquanto viva for. E deixou os “mais bens constantes de trastes e pequenas dívidas ativas” para sua mulher Narcisa.

No seu processo de inventário constam como herdeiros a viúva e a Casa de Caridade Leopoldinense. Na descrição dos bens foram citados: um sobrado com loja à rua Barão de Cotegipe nº 36, divisa com José Martiniano Barros Lintz, Ignacio de Lacerda Werneck e fundos com antigo caminho que segue para a Matriz, atual Rua Coronel Marco Aurélio; um prédio com armação de negócio na rua Barão de Cotegipe nº 32, divisa com Ignacio de Lacerda Werneck e Luiz Eugenio Botelho e fundos com o antigo caminho para a Matriz; um prédio na Rua Tiradentes nº 45, divisa com Dr. Custodio de Almeida Lustosa e o beco do antigo chafariz, com o prédio e terreno de Pedro Gadas e com Eliza Levasseur; um prédio à rua Tiradentes nos 31 a 37, divisas com Antonio Jorge da Cruz e com Dr. Custodio de Almeida Lustosa, pelos fundos com o córrego das Tabocas; prédio em Vista Alegre, divisas com a Rua do Conselho, com a Rua da Ponte, e com o prédio de Sebastião Pereira e fundos para o Rio Pomba.

Segundo o jornal carioca Correio da Manhã, de 20 de março de 1921,  reunião do Supremo Conselho da Casa de Caridade Leopoldinense fora realizada na véspera para deliberar sobre as providências que deveriam ser tomadas em relação ao legado deixado em testamento por Ignacio de Castro Buena Flor para a instituição. Na oportunidade foram concedidos amplos poderes para a diretoria agir como melhor se apresentasse.

A 28 de outubro de 1939 a Casa de Caridade pediu autorização judicial para vender os imóveis de Vista Alegre e da Rua Tiradentes.

O ARTISTA

Escultor, pintor e artista extremamente considerado em Leopoldina, Buena Flor foi o autor de monumentais altares das igrejas da cidade e da região.

Sobre um destes trabalhos, o da Igreja do Rosário, assim se refere Barroso Júnior em “Leopoldina e seus Primórdios”: “Buena Flor, que deixou em tantas obras o testemunho de sua arte, fez também o altar-mor, púlpitos e florões ornamentais desse gracioso templo”.

E é do mesmo Barroso Júnior o comentário a seguir, sobre outro trabalho do escultor:

“Pelo morro acima, quase em socalcos, sobe o Colégio Imaculada, com sua capela limpinha, a guardar com carinho o altar-mor da antiga matriz, primoroso trabalho de talha de Inácio Buena Flor e dádiva do coronel José Joaquim Monteiro de Castro e seu filho Gervásio A. Monteiro de Castro, que depois foi comendador”.

Capela da sede anterior do Colégio Imaculada Conceição – Acervo Emília Rodrigues de Almeida

Infelizmente parte dessa obra, cantada e decantada por todos os que a conheceram, foi dilapidada pelos responsáveis por sua conservação. Consta, inclusive, que as peças da capela do antigo prédio do Colégio Imaculada Conceição foram vendidas a colecionadores. Uma obra que, considerando a data de morte do artista, provavelmente tenha sido sua última de grande porte.

Sobre a demolição da Capela, vale lembrar que o artista plástico Luiz Raphael Domingues Rosa, que a duras penas manteve o Espaço dos Anjos na cidade, contava que, ao tomar conhecimento de que a capela do colégio estava sendo derrubada, dirigiu-se ao local na tentativa de evitar um desastre maior. Mas apesar de seus protestos, nada mais podia ser feito. A destruição já estava consumada. Rafael conseguiu apenas recolher partes de alguns entalhes, conservando-as em exposição no Espaço dos Anjos.

E talvez este mesmo caminho tenham tomado outras peças, porque também não se conhece o destino do altar da Igreja do Rosário.

Como exemplo do impacto de sua obra, é de se citar o Almanaque de Leopoldina de 1886 em que se lê:

“[…] a Matriz […] possue um altar-mór, que é um primor de talha do artista Ignacio Buena Flôr… ricamente dourado às expensas de Manoel Antonio de Almeida. […] igreja do Rosario… Buena Flôr é o artista que talha seus altares e elegantes pulpitos: ficará um brinco.”

Vale registrar que isto deve ter ocorrido antes de 1873, quando faleceu o citado Manoel Antonio.

Luja Machado e Nilza Cantoni - Membros da ALLA 
Publicado na edição 438 no jornal Leopoldinense, 1 novembro de 2022

Fontes consultadas:

Almanaque de Leopoldina. Leopoldina: s.n., 1886. p. 86 e 89. 
Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 3 cas fls 210 termo 10 
BARROSO JÚNIOR. Leopoldina: os seus primórdios. Rio Branco: Gráfica Império, 1943. p.20 e 22 
Cartório de Registro Civil de Leopoldina, MG, lv 3 cas fls 159 
Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, lv 2 fls 98 nr 100 
Correio da Manhã. Rio de Janeiro: 20 mar 1921 ed 853 fls 2 
Correio Portuguez. Rio de Janeiro: 29 abr 1891 ed 381 pag 1.
Gazeta de Leopoldina. Leopoldina: 18 ago 1926, 17 fev 1974 
Gazeta Nacional. Rio de Janeiro: 28 jan 1888 ed 24 pag 2 
GUIMARÃES, Joaquim Custódio. História da Medicina em Leopoldina. Leopoldina: s.n., 1987. p. 09. 
Inventário de Ignacio de Castro Buena Flor processo 38402003 
LAEMMERT, Eduardo e Henrique. Almanak Laemmert. Rio de Janeiro: 1880, pag 455 e 1883, pag 154 
O Leopoldinense. 1 maio 1881 ed 31 pag 3.  
O Mediador. Leopoldina: 25 julho 1896 ed 37 p. 2 
O Paiz. Rio de Janeiro: 5 jun 1912 ed 10104 pag 3. 
Testamento de Ignacio de Castro Buena Flor processo 38403903

Descendentes de José Gomes Pardal Júnior

Atualização da genealogia da família Pardal, publicada pela primeira vez em abril de 2009.

Primeira geração
  1. José Gomes Pardal Júnior

José casou com Mariana Tereza de Jesus.

Filhos deste casamento:

+         2   M       i.          Manoel Gomes Pardal

+         3   M      ii.          André Gomes Pardal nasceu cerca de 1855 em Trás os Montes, Portugal,1 e faleceu a 12 Mar 1930 em Porciúncula, RJ.2

Segunda geração (Filhos)
  1. Manoel Gomes Pardal (José Gomes Júnior 1)

Manoel casou com Maria Ilidia de Rezende, filha de José de Rezende Barbosa e Mariana Rita de Jesus.

Filhos deste casamento:

+         4   F        i.          Maria Eliza Gomes nasceu cerca de 1893 em Leopoldina, MG.3

5   M      ii.          Avelino Pardal nasceu a 23 Out 1899 em Leopoldina, MG.4

6   F      iii.          Roza Pardal nasceu a 5 Set 1902 em Leopoldina, MG,5 e faleceu a 6 Dez 1902 em Leopoldina, MG.6

7   F      iv.          Izabel Pardal nasceu a 23 Fev 1906 em Leopoldina, MG.7

8   F       v.          Mariana Pardal nasceu a 5 Ago 1908 em Leopoldina, MG.8

9   M    vi.          Francisco Xavier nasceu a 13 Dez 1910 em Leopoldina, MG,9 e faleceu a 9 Dez 1911 em Leopoldina, MG.10

10   F     vii.          Almerinda Pardal nasceu a 31 Dez 1910 em Leopoldina, MG,11 e faleceu a 3 Ago 1913 em Leopoldina, MG.12

11   F    viii.          Ignacia Pardal

  1. André Gomes Pardal (José Gomes Júnior 1) nasceu cerca de 1855 em Trás os Montes, Portugal,1e faleceu a 12 Mar 1930 em Porciúncula, RJ.2

André casou com Perpétua Maria Pardal, filha de José Gomes da Cruz e Helena Maria. Perpétua nasceu cerca de 1851 em Trás os Montes, Portugal,1 e faleceu em 1929.1

Filhos deste casamento:

12   F        i.          Maria Gomes Pardal nasceu antes de 1892 em Trás os Montes, Portugal.1

+       13   M      ii.          Manoel Gomes Pardal sobrinho nasceu em Porciúncula, RJ,1 e faleceu em Mimoso do Sul, ES.1

14   F      iii.          Perpétua Gomes Pardal

15   M    iv.          Afonso Gomes Pardal nasceu em 1894 em Porciúncula, RJ.1

Terceira geração (Netos)
  1. Maria Eliza Gomes (Manoel Gomes 2, José Gomes Júnior 1) nasceu cerca de 1893 em Leopoldina, MG.3

Maria casou com Frederico Cintra Rodrigues da Costa, filho de Alexandre Herculano Rodrigues da Costa e Francisca Cintra da Costa,  a 7 Jun 1910 em Leopoldina, MG.3 Frederico nasceu cerca de 1889 em Leopoldina, MG.3

Filho/a deste casamento:

16   M       i.          Ubirajara nasceu a 8 Jun 1915 em Leopoldina, MG.13

  1. Manoel Gomes Pardal sobrinho (André Gomes 2, José Gomes Júnior 1) nasceu em Porciúncula, RJ,1e faleceu em Mimoso do Sul, ES.1

Manoel casou com Maria Joana da Silva, filha de Valdevino Cezario da Silva e Raymunda Joana. Maria nasceu a 28 Out 1893.14

Filho/a deste casamento:

17   F        i.          Nair Pardal

 

Citações de fontes
  1. Informações prestadas por Colaboradores, José Luiz Pardal
  2. Informações prestadas por Colaboradores, Luís Salvador Poldi Guimarães.
  3. Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 5 cas fls 91 termo 38.
  4. Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 08 bat fls 46v termo 41.
  5. Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 09 bat fls 93 termo 354.
  6. Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, lv 1 1896-1903 fls 39 reg 11652.
  7. Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 11 bat fls 30 termo 109.
  8. Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 12 bat fls 16 termo 245.
  9. Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 13 bat fls 23 termo 27.
  10. Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, lv 2 fls 37 plano 3 sep 786.
  11. Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 13 bat fls 90v termo 11.
  12. Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, lv 2 fls 53 sep 497.
  13. Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 15 bat fls 90v termo 358.
  14. Informações prestadas por Colaboradores, Daniela Pardal

114 – A formação da família Funchal Garcia

O Trem de História segue por sua linha principal cujo objetivo é trazer para os dias de atuais os personagens leopoldinenses que contribuíram para o desenvolvimento da cidade.

A partir de hoje, numa sequência de vagões, pretende trazer a vida e obra de um renomado pintor e professor leopoldinense. Do autor do mural do conjunto da concha acústica da Praça Félix Martins que retrata a lenda do Feijão Cru. Do conterrâneo que empresta seu nome a uma avenida do bairro São Cristóvão. E, do também jornalista e escritor, patrono da cadeira nº 12 da Academia Leopoldinense de Letras e Artes – ALLA, (Manoel) Funchal Garcia, nascido[1] a 03.02.1889 em Leopoldina e falecido no Rio de Janeiro (RJ) em 1979.

E começa trazendo um pouco sobre a sua família, iniciada em 31 de janeiro de 1880, em Leopoldina, com o casamento[2] dos portugueses Alfredo Garcia Ribeiro e Mariana dos Prazeres Funchal.

Alfredo, filho de Francisco Garcia Monteiro e Ana Ribeiro Borges, segundo descendentes, procedia de Midões, em Portugal. Importante registrar que esta informação sobre o local de origem de Alfredo não foi, ainda, devidamente documentada. Sabe-se que Midões é designação geográfica que remete o pesquisador a três diferentes locais: o primeiro deles, pertencente à freguesia de Sazes do Lorvão, Concelho de Coimbra; o segundo, à freguesia de Tábua, também no Concelho de Coimbra; e, o terceiro, a uma freguesia do Concelho de Barcelos, extinta em 2013. Daí não se saber o exato local do nascimento de Alfredo.

Alfredo Garcia Ribeiro faleceu por volta de 1900, possivelmente em Leopoldina. Foi sócio[3] da empresa Araújo & Ribeiro até janeiro de 1882 quando desfez a sociedade e assumiu todo o negócio. Segundo notícia de jornal da época, a empresa funcionava na Rua do Rosário nº 49. Ao que tudo indica, o mesmo endereço[4] da Casa de Pensão que em 1896 funcionava na já então nomeada Rua Tiradentes nº 30. Endereço de moradia da família e onde funcionava a padaria[5] de Alfredo, que após sua morte ficou sob administração da esposa e, mais tarde, do filho mais velho.

Mariana, filha de José Antonio Funchal e Francisca Inácia Mendes, tem como origem provável a cidade de Funchal, capital da Região Autônoma da Madeira, uma das ilhas atlânticas de Portugal.

Sobre Mariana, conta-se que no dia 11 de outubro de 1933 ela foi atropelada[6], na rua Tiradentes, pelo automóvel dirigido por José Vilela. Segundo algumas fontes, a partir daí passou por sucessivos problemas de saúde até 1939 quando, bastante doente, os filhos a levaram para o Rio de Janeiro, onde faleceu[7] no dia 30 de novembro daquele ano.

Registre-se, por fim que, segundo Luiz Rousseau Botelho[8], Dona Mariana participava do mais antigo Centro Espírita de Leopoldina[9].

A carga de hoje termina aqui. Mas no próximo Jornal tem mais Funchal Garcia. Aguardem.


Fontes consultadas:

1 – Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 3 bt fls 80 termo s.nº

2 – Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 1 cas fls 31 termo 79.

3 – O Leopoldinense. Leopoldina, MG,. 22 jan. 1882, ed. 7, p. 3.

4 – O Mediador. Leopoldina, MG,. 28 jan. 1896, ed. 21, p. 3

5 – idem, 1 nov. 1896, ed 50, p. 1

6 – Gazeta de Leopoldina. Leopoldina, MG, 14 out 1933 ed 143 p. 2 coluna 2.

7 – Diário Carioca. Rio de Janeiro, RJ, 1 dez 1939 ed 3522 p. 11.

8 – BOTELHO, Luiz Rousseau. Dos 8 aos 80. Belo Horizonte: Vega, 1979. p. 44.

9 – Almanack do Arrebol. Leopoldina-MG, 1984-1985, ano 2, nº 6, p. 6.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 366 no jornal Leopoldinense de 30 de outubro de 2018

 

61 – As dificuldades de muitos na chegada ao Brasil

O Trem de História anterior terminou falando dos confusos cruzamentos das linhas férreas em um pátio de manobras. E comparou estes cruzamentos com os das linhas genealógicas. Hoje, ele vai percorrer uma outra confusão, muito comum entre brasileiros descendentes de portugueses, qual seja a de imaginar que seus antepassados chegaram ao Brasil com capital para iniciar um negócio.

E para melhor compreensão das condições da passagem dos açorianos, começamos por citar alguns aspectos que evidenciam as dificuldades pelas quais passaram os portugueses que vieram para o Brasil depois da nossa Independência. Um assunto que tem sido objeto de muitos estudos aqui e em Portugal.

Em artigo para o Museu das Migrações e das Comunidades de Fafe, Portugal, por exemplo, Miguel Monteiro(1) declarou que iniciou o estudo sobre o assunto “com a ideia de confirmar a hipótese de que a Migração interna correspondia às classes sociais desfavorecidas e Emigração para o Brasil a indivíduos provenientes da classe média e alta, particularmente até aos finais do século XIX.”

Entretanto, no decorrer do trabalho, Monteiro constatou que a maioria dos que atravessaram o atlântico entre 1834 e 1926 fugia deste estereótipo. O autor demonstrou que veio um grande número de crianças do sexo masculino entre 13 e 15 anos de idade, que chegavam ao Rio de Janeiro com uma carta de recomendação para algum patrício com quem geralmente se empregavam.

As histórias de muitos deles são bons exemplos de como viviam. Um destes jovens declarou que, ao despedir-se do primeiro emprego em dezembro de 1830, recebeu(2) “do resto dos meus salários 6$419 reis. Era esta toda a minha fortuna no fim de 3 anos e 4 meses de sofrimento e provações no Rio de Janeiro!

Para aqueles que acreditam na imensa capacidade de enriquecimento dos portugueses em terras brasileiras, o autor transcreve um trecho do diário de um deles(3):

“Tempo de Caixeiro: dizendo que foram 14 anos de pobreza e provação tendo ele seguido o sistema de gastar só metade do que ganhava e apesar de todas as suas economias, da grande sujeição em que vivia e das apoquentações por que passou, só tinha podido juntar uma pequena quantia.”

Parece ter sido esta a sina de Antonio V e Luiz II, os dois jovens da família Botelho Falcão que deixaram a ilha açoriana de São Miguel em torno de 1850.

Conforme já ressaltamos, não é possível fazer muitas afirmações sobre a trajetória deles por falta de fontes confiáveis. Um dos primeiros obstáculos que encontramos foi a afirmação de Luiz Eugênio Botelho de que seu pai, aqui denominado Luiz Botelho Falcão IV, teria nascido no dia 10.08.1851, em Leopoldina. Este nascimento não foi encontrado, nem tampouco o casamento dos pais de Luiz Eugênio.

Apesar da possibilidade de Luiz Eugênio ter calculado a idade do pai com base em informações orais, aqui o nome do açoriano fica mantido como Luiz Botelho Falcão II e o nome do avô de Luiz Eugênio como Luiz Botelho Falcão III,

Quanto ao vínculo do avô de Luiz Eugênio com a família de Manoel Botelho Falcão IV, cuja genealogia foi descrita no início deste ensaio, um indicativo foi a repetição do apadrinhamento nos casamentos dos filhos de Manoel IV, hábito comum nas ilhas atlânticas portuguesas naquela época.

Ainda que não tenha sido possível levantar muitas informações sobre a situação econômico-social da família Botelho Falcão em Leopoldina, os casamentos com pessoas de famílias há muito estabelecidas no município parecem indicar um percurso de ascensão social. Embora em 1856 não tenha sido encontrada propriedade em nome de Luiz Botelho Falcão III, em 1859 ele sofreu uma ação contestatória por ter informado um tamanho maior para a chácara que vendera a Lauriano João Celestino Ferreira e em 1896 a família era proprietária de uma edificação urbana recebida por herança de Luiz Botelho Falcão III.

O foco da pesquisa segue, a partir de agora, os caminhos dos filhos de Luiz Botelho Falcão III e Ana Cecília: Luiz Botelho Falcão IV e Eugênio Botelho Falcão.

Mas por hoje o Trem de história fica por aqui. No próximo mês voltaremos a falar da família Botelho Falcão.


Fontes Consultadas:

1 – MONTEIRO, Miguel. Emigração para o Brasil (1834-1926): os números e a autobiografia – sair, viver e regressar na primeira pessoa. Disponível em <http://zip.net/bbtpVB&gt; Acesso 23 jan. 2012 p.1

2 – Idem, p. 11

3 – Idem, p. 9

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado no jornal Leopoldinense de 16  de outubro de 2016

60 – Dos Açores para Leopoldina – II

O Trem de História segue viagem e encontra Luiz Botelho Falcão II, nascido(1) em 10.05.1816, filho de Hierônimo Botelho Falcão e Ana de Jesus, que pode ser o pai do Luiz Botelho Falcão III que viveu em Leopoldina e foi casado com Ana Cecília.

Antes, porém, convém que se faça o registro de que há grande dificuldade para se abordar a família de Luiz Botelho Falcão III, dentre outros motivos, por não se ter indicadores seguros sobre a data provável em que ele teria passado ao Brasil.

Sabe-se, apenas, que já vivia em Leopoldina no ano de 1855, porque seu nome aparece ao lado de Ana Cecília, no batismo de uma filha de Sabino Gomes da Silva; que no Registro de Terras de 1856, embora não conste da lista de proprietários, ele é mencionado como vizinho do Patrimônio de São Sebastião do Feijão Cru e que, em 1859, foi citado(2) por ação contestatória que lhe moveu Lauriano João Celestino Ferreira em virtude de problemas na venda de uma chácara.

Quanto à família também existem lacunas. Não foi encontrado seu casamento e a origem de sua esposa não está clara, como se verá adiante. Sobre os filhos do casal, pode-se supor a paternidade de um deles através do alistamento eleitoral e admitir a hipótese de que tenha sido pai de Luiz Botelho Falcão IV, apesar da fragilidade das fontes literárias onde este último é citado.

Diante de tão poucas fontes confiáveis, para contornar os riscos de se publicar inverdades, neste trabalho foram descartadas as informações orais sem respaldo de outra fonte e feita uma criteriosa análise dos textos impressos a que se teve acesso. A partir daí se chegou a Luiz II, que pode ser o mesmo Luiz III, que faleceu(3) em Leopoldina, em 1878.

Parte dessa dificuldade parece poder ser explicada pelos fatos seguintes. O desaparecimento de notícias sobre Eugênio Botelho Falcão a partir de 1901, bem como o falecimento de Luiz Botelho Falcão IV em 1893, criaram o ambiente propício para se tornarem perenes as referências à família encontradas no obituário deste último. Como ele faleceu com pouco mais de 40 anos, com diversos filhos pequenos e o mais velho com cerca de 15 anos de idade, é lícito supor que não havia quem prestasse informações mais consistentes ao médico Ernesto de La Cerda, autor do obituário.

O fato é que as origens de Luiz Botelho Falcão III e de sua esposa foram inúmeras vezes informadas sem base conhecida. Ele foi tido como nascido em Portugal e ela como pertencente à família Ferreira Brito. E em pelo menos uma publicação, que copiou o texto de La Cerda, houve inversão de origem e o marido ficou sendo membro da família Ferreira Brito. Informações estas que não se sustentam quando comparadas com documentos.

Segundo o registro de sepultamento, Ana Cecília Botelho era filha de João Ides de Nazareth que seria natural de Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores e morava na região de Bom Jardim de Minas antes de se transferir para o Feijão Cru. Em Bom Jardim, João Ides se casara com Maria Justina Ferreira, em 1810, filha de Justino José Corrêa de Lacerda e de Ana Justina Ferreira. Esta Maria Justina era neta paterna de Antonio Carlos Corrêa de Lacerda e Ana de Souza da Guarda, e neta materna de Manoel Ferreira Brito e Maria Tereza de Jesus. Vale dizer que a primeira esposa de João Ides de Nazareth era sobrinha-neta de Joaquim Ferreira Brito, genearca de uma das famílias povoadoras de Leopoldina. Portanto, da família Ferreira Brito. Ocorre que João Ides ficou viúvo e se casou pela segunda vez com Maria Emerenciana de Santana, com quem teve, entre outros, a filha Ana Cecília que parece não ter parentesco algum com os Ferreira Brito da primeira esposa do seu pai.

Através do estudo de Carlos Machado(4), especialista nas famílias miquelenses, sabe-se que o filho de Hierônimo Botelho Falcão e Ana de Jesus, de nome Luiz, passou ao Brasil por volta de 1850. Provavelmente junto com um Antonio Botelho Falcão, provavelmente o jovem nascido no dia 20.07.1834(5). Este Antonio era filho de Antonio Botelho Falcão III e de Ana Thomazia de Arruda, neto paterno de Francisco Botelho Falcão II e de Antonia de Jesus Maria.

E para fechar a carga do vagão de hoje resta esclarecer que Luiz II e Antonio nasceram na mesma Freguesia de Santa Cruz, Concelho Lagoa, Ilha de São Miguel, Açores, Portugal. E que Hierônimo, pai de Luiz II, era filho de Manoel Botelho Falcão III e irmão de Francisco Botelho Falcão II, avô paterno do Antonio acima citado.

Confuso?  Fique tranquilo. São os normais “cruzamentos” das linhas genealógicas. Confusos como um pátio de manobras de ferrovia, onde as linhas se cruzam, mas o Trem, inclusive o de História, sempre encontra o caminho a seguir. Na próxima viagem, tem mais.


Fontes consultadas:

1 – Biblioteca Pública e Arquivo Regional dos Açores, N.9 L.11 batismos Santa Cruz 1815-1820 fls 14v img 15.

2 – Correio Oficial de Minas (Ouro Preto) 17.11.1859 ed 299 p.4.

3 – A Actualidade (Ouro Preto) 26.12.1878 ed 147 p.3.

4 – CANTO, Ernesto do e MACHADO, Carlos, Livro de Genealogias, ficha 231.

5 – Biblioteca Pública e Arquivo Regional dos Açores, lv 14 bat 1832-1838 Santa Cruz, Lagoa, fls 116v img 117.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado no jornal Leopoldinense de 07 de outubro de 2016

Três Jovens do Concelho de Óbidos

Pesquisando a origem de Antônio de Almeida Ramos, na tentativa de descobrir um pouco sobre sua vida antes de passar ao Brasil, entramos em contacto com o vigário da Freguesia do Espírito Santo do Landal, Freguesia do Espírito Santo, Concelho de Óbidos, Lisboa, Portugal.

Por indicação do Padre, passamos a trocar correspondência com moradora de Caldas da Rainha, autora de um livro sobre a Câmara de Oliveira do Bairro e outro sobre a Freguesia do Espírito Santo do Landal. O que se verá a seguir é um resumo das informações recolhidas até agosto de 2001.

Por volta de 1740 passaram ao Brasil três jovens portugueses, nascidos na Freguesia do Espírito Santo do Landal, então Termo e Concelho de Óbidos, hoje Concelho de Caldas da Rainha. Foram eles:

1 – Antonio de Almeida Ramos, nascido entre 1722 e 1737;

2 – Agostinho de Almeida Ramos, nascido entre 1700 e 1730;

3 – Francisco Farto de Almeida, nascido entre 1715 e 1735.

Os dois últimos eram filhos de Francisco Farto e Maria Almeida, parentes próximos. O pai do primeiro, nosso biografado, era primo e cunhado de Francisco Farto, pois era irmão de Maria Almeida. A mãe de nosso biografado, Teresa Maria, era também parente de Francisco Farto.

A pesquisadora portuguesa escreveu:

A Freguesia do Espírito Santo do Landal é metade, a nascente, da grande freguesia de São Silvestre, a partir de 1147 dividida entre três Hospitalários e Cavaleiros Francos (todos cruzados), que ficaram na metade Poente, a que se chamou “Dos Francos”.

Landal, onde havia um curato, etimologicamente vem de “terra landeira”, ou montado de sobreiros espontâneos (nascidicos), cujo frunto é landa – ou bolota. E só teve a sua independência paroquial em princípios do século XVI. Desanexou-o de São Silvestre dos Francos um Comendador de Malta, residente, de apelido Abreu Peixoto.

Landal foi couto, que começava onde acabavam os coutos de Alcobaça – e ia até ao termo do território de Óbidos.

Desde o início, era cabeça desta Comenda dos Hospitalários de São João Batista de Jerusalém, sediada no Landal de Óbidos, Nossa Senhora de Todo o Mundo, ou do Ar – que é a padroeira da aviação portuguesa (e quiçá mundial), embora ainda não reconhecida como tal.

Por sua vez, esta Comenda era cabeça das Comendas da mesma ordem, situadas em Torres Vedras, Caixaria, Leiria, Torres Novas e Alenquer, cujos Tombos se guardavam no Landal.

Os seus habitantes formavam a 4ª Companhia de capitão e subalternos. Entre eles, destacam-se:

– Almeidas – ainda hoje há muitos. Num tombo dado às terras desta Comenda, em 1742, fala-se do seu vigário, Reverendo Frei Domingos de Almeida. Também o procurador da Comenda se chamava João de Almeida.

– Ramos – No inventário da ermida de Nossa Senhora do Rosário, do lugar dos Ameais, cita-se o seu fundador, Capitão de Malta Pedro Manoel Ramos. Em 1742, o seu administrador deve ser um descendente: João Manoel Ramos.

– Maria Teresa – assim se chamavam a mulher do Capitão Alexandre de Abreu Velho Coutinho e uma sua sobrinha, que faleceu no Landal – isto já em 1750

Tudo acabou em 1834! Depois, a sede da freguesia, o lugar do Landal, foi-se despovoando pouco a pouco – e hoje poucos habitantes tem. Os habitantes da freguesia rondam os 1800 a 2000.

Nossa correspondente fez diversos contactos com o Arquivo Nacional na Torre do Tombo, não tendo tido sucesso nas buscas de demais documentos. Fez também um “Aviso aos Moradores”, que foi colocado na Igreja do Espírito Santo, pedindo aos paroquianos que enviassem informações a respeito dos três jovens portugueses e suas famílias. Além disso, ela guarda uma cópia do tombo dado em 1742 a uma parte das terras da Comenda e um manuscrito de seu próprio pai, com dados dos livros antigos, antes de os retirarem em 1834, para a Provedoria de Torres Vedras.

Eis os nomes de Capitães da Ordem de Malta por ela apurados:

– Manoel Ramos – casou, em 1694, com D. Victoria Maria de Seixas;

– Pedro Manoel Ramos – que mandou erigir a ermida dos Ameais;

– Alexandre de Abreu Velho Coutinho – casou, em 1750, com D. Teresa Maria de Seixas Abreu e Oliveira;

– João Rebelo – falecido em 1769;

– Domingos Rodrigues de Oliveira – falecido em 1796;

– Correia Fialho Lobo da Silveira – família conhecida de Alenquer, freguesia próxima;

– Antonio Manoel de Seixas, que foi testemunha no tombo dado a algumas terras da Comenda, em 1742.

Promotores do tombo:

– Juiz, Dr. Félix Francisco da Silva;

– Vigário, Frei Domingos de Almeida;

– Escrivão, José Leonardo de Seixas;

– Delegado da Comenda, João Almeida;

– Porteiro, Antonio dos Reis;

– Testemunhas, Capitão de Malta Antonio Manoel de Seixas e Frei Doutor João de Abreu e Oliveira (que , em 1759, veio a ser Vigário da Igreja Paroquial do Espírito Santo do Landal

Escreve ainda a pesquisadora:

Em 1742 não há Comendador residente no Landal. O Comendador era o Venerando Bailio Frei Fernando Correia de Lacerda, de Leca do Bailio. Não havendo Comendador residente é aqui que aparece, em 1742, o Procurador da Comenda João de Almeida. Era ele que, por natureza do cargo, se ocupava da administração directa e da contabilidade da Comenda da Ordem de Malta na Freguesia do Espírito Santo do Landal. Nada da confusões: o tombo é iniciado por um inventário à Igreja Paroquial e às capelas e, em 1742, não há referência alguma à Irmandade do Santíssimo Sacramento, cuja alusão só encontro em 1759, e sem grande relevo.

Reparo que há muitas repetições de apelidos (Seixas, Ramos, Almeida), sendo bem natural que os que de fora iam, por lá se fixassem durante gerações. Assim, deve ter havido algum Comendador residente, um Frei qualquer coisa Almeida, cujos parentes por lá ficaram e ocuparam vários cargos. E é natural que, mais tarde, um neto ou bisneto do tal Comendador Almeida, tivesse muita honra e prosápia (especialmente sendo um rapagote novo) na sua ascendência e dela falassse por forma que os seus conhecidos lhe chamassem “o Comendador”.

Sobre os motivos da viagem dos três primos ao Brasil, lembro-lhe que no fim do reinado de D. Pedro II se descobriram, no Brasil, ricas minas de oiro e diamantes. Foi no tempo de seu filho, D. João V (1706-1750), que entraram em exploração. Esta foi a época em que embarcaram para o Brasil três moços da freguesia do Espírito Santo do Landal.

Assim, os três, sem mais nem menos?! Não. Eles sabiam ao que iam, o que os esperava. Alguém os chamou ou os mandou ir. Também convém não esquecer que a extinta Ordem do Templo se tornou, por obra de D. Dinis, Ordem de Cristo e teve à frente o Infante D. Henrique (1394-1460). Além disso, certo remanescente da O. do Templo reverteu para os então Hospitalários – O. de Malta. Sabe-se que os Templários há muito conheciam o Brasil – até antes de P. Alvares Cabral (100 anos antes), já os mesmos templários conheciam e praticavam essas rotas, segundo lendas quase históricas.

De uma maneira ou de outra, deve ter havido um Frei da O. de Malta que aliciou os moços para uma aventura que lhes traria fortuna certa. De outra forma, os três moços de famílias mais ou menos abastadas (ligadas à Ordem, que era riquíssima), não iam à tôa por esses mares fora, sem uma certeza a esperá-los do lado de lá. Sim, porque não creio que todos eles tivessem cometido crimes que os obrigassem a fugir.

Demais, D. João V confirmou os poderes e regalias da O. de Malta em 1728. Estava, portanto, tudo organizado para que o futuro dos moços atingisse o nível que atingiu. E sabemos que esses títulos obtidos implicam grandes contrapartidas – esforço, valor e… muito dinheiro.

Outros dados fornecidos pela pesquisadora portuguesa referem-se à população da Freguesia do Espírito Santo do Landal: 1527 – 135 moradores; 1759 – 263 moradores; 1960 – 1483 moradores; 1981 – 1331 moradores; 1999 – 1800 moradores.

Desta forma, embora sem termos descoberto muitos dados sobre os três jovens, pudemos conhecer um pouco sobre a região de origem de Antonio de Almeida Ramos, Agostinho de Almeida Ramos e Francisco Farto de Almeida.

Já nos arquivos brasileiros conseguimos verificar a presença dos nomes destes portugueses em diversas fontes. Numa delas, o Abecedário dos Moradores da Comarca do Rio das Mortes, documento da Coleção Casa dos Contos arquivado na Biblioteca Nacional, levantamos os moradores da Comarca que, de alguma forma, se vinculam aos povoadores de Leopoldina.

Esclareçamos que este documento é um conjunto de cinco cadernos tamanho ofício sem pauta, onde são listados os moradores de cada região da comarca. Até o momento não foi possível, a nenhum historiador, especialista ou técnico em grafoscopia, identificar a data em que a listagem foi organizada. No entanto, considerando que o primeiro caderno informa que seu autor foi Joaquim Silvério dos Reis, e sabendo que tal personagem arrematou o contrato das entradas entre 1782 e 1784, tendo permanecido no controle da arrecadação até 1792, pode-se inferir que ali constam os pagantes de tributos desta época.

Também não se tem notícia de qual foi a fonte utilizada para a organização da listagem. Admite-se que, ao tomar posse, Silvério dos Reis utilizou-se de livros de controle de arrecadação do quinto do ouro e deles extraiu os nomes dos que haviam sido fiscalizados no período próximo precedente. Acrescente-se que alguns nomes poderão ter sido acrescentados com base no movimento do Registro entre 1782 e 1792. Ao lado de cada nome é informado um número, sem que alguém até então tenha descoberto a que se refere. Há os que aventam a hipótese de ser o número da página onde foi efetuado o lançamento do débito daquele morador. Os mais altos algarismos são inferiores ao número total de páginas que habitualmente compunham os livros de registro então utilizados.

Nestes “cadernos” apuramos que, entre os moradores do Caminho Novo estavam os seguintes personagens, todos com descendentes em Leopoldina: Antonio d’Almeida Ramos, Antonio Joaquim de Ávila, Antonio Roiz da Fonseca, Antonio Roiz Gomes, Bernardino Coelho Gomes, Domingos Gonçalves Pereira Chaves, Domingos Roiz Chaves, Francisco Xavier da Fonseca, Joaquim José da Fonseca e Tomaz Ferreira de Aquino.

Sob o código I – 10, 6, 3, nº 4, sem menção ao autor e com caligrafia algo distinta do anterior, encontramos na Biblioteca Nacional a lista dos moradores do L4, como era então designada a região que tomava São João del Rey por sede. Neste caderno foram listados os moradores de São João del Rey, Lavras do Funil, São José do Rio das Mortes, Prado, Tamanduá, Borda do Campo, Caminho Novo do Mato, Santa Ana do Bambuí e Baependi. A organização é um pouco confusa, já que os moradores são divididos por seus locais de moradia e a ordem alfabética não é rigorosa. Numa análise um tanto superficial, localizamos apenas Felisberto da Silva residente em São José del Rey e dois moradores da Borda do Campo que nos interessam: Felix Gonçalves da Costa e Felix de Oliveira Braga.

E sob o código I – 10, 6, 3, nº 5, encontramos o caderno contendo as listas de moradores do L5 da Comarca do Rio das Mortes. Refere-se às localidades de Aiuruoca, Pouso Alto, Campanha do Rio Verde e Ouro Fino, Jacuí, Itajubá, Congonhas do Campo, Carijós e Itaverava. Para nossa surpresa, e sem que tivéssemos nos detido na análise cuidadosa dos nomes, na primeira página encontramos os moradores Agostinho de Almeida Ramos e Antonio Gonçalves da Costa, ambos de Aiuruoca.

Com o objetivo de a conferir o encontrado com outros documentos, pesquisamos a carta de Brás Álvares Antunes a Antonio Mendes da Costa, informando ter recebido a lista de 28 créditos do Registro do Caminho Novo e o envio da lista do Registro da Mantiqueira, de 06.10.1776. Em outra carta do mesmo remetente, endereçada a João Rodrigues de Macedo, há referência ao envio da lista de créditos do Caminho Novo, de 27.11.1777. Esta carta faz menção a um provável anexo, nomeado como “Lista 18, 24 credores”.  Infelizmente porém, não há notícias desta “Lista 18”.

Há uma série de outros documentos da Coleção Casa de Contos que poderão conter anexos como o citado na carta retro mencionada. Até que prossigamos neste assunto, deixamos registrada nossa impressão, tal qual o fizemos no competente livro de registros: os três jovens provenientes do Concelho de Óbidos aparecem entre os contribuintes registrados na segunda metade do século XVIII, bem como no Abecedário de Moradores da Comarca do Rio das Mortes.

Mas como era a região onde passaram a viver depois de deixar a terra natal?


Preparar a Mudança

Referências às impressões dos viajantes estrangeiros que estiveram em Minas no século XIX nos dão oportunidade de nos aproximarmos do pensamento vigente na época em que nossos ancestrais portugueses trilharam os caminhos da nossa terra. Quando publicamos o opúsculo que ora revisamos, havíamos consultado antigas edições dos relatos de John Mawe, Auguste de Saint-Hilaire, Jean Louis Agassiz e Richard Burton. Ao nos propormos a revisar nosso texto, buscamos edições mais recentes que pudessem, eventualmente, esclarecer pontos obscuros nas traduções consultadas. Além dos destaques da primeira edição, decidimos acrescentar trechos que nos passaram despercebidos na primeira leitura. Um deles é a descrição do tipo mineiro, segundo Burton (2001, p. 463):

O mineiro – no sentido do homem cujos antepassados, ou, pelo menos os pais, nasceram na região – é facilmente reconhecido, mesmo entre os brasileiros, e suas peculiaridades não podem ser explicadas “pela bazófia e pelo culto do dólar”. É um tipo alto, magro, ossudo, que, quando exagerado, representa nosso popular D. Quixote esguio e macilento. Não há necessidade do “batismo intelectual”, da inervação, vulgarmente chamado “sangue”. O arcabouço é musculoso e bem adequado à atividade; é reto como o do basco, e não semelhante ao do sargento instrutor e mesmo os trabalhadores não costumam curvá-lo, como nossos camponeses de ombros abaulados. O pescoço é comprido e a laringe proeminente; ao tórax freqüentemente falta espessura. Os quadris e a pelve são, em geral, estreitos; as juntas, punhos e calcanhares, finos, e as pernas, como acontece muitas vezes entre as raças latinas, não são proporcionais aos braços na força. A obesidade é rara, como é entre os verdadeiros persas; ocasionalmente aparece em homens de idade avançada e é considerada como diabetes nullo curabilis. O português, baixo, quadrado e robusto, ossudo e muscular, não é raro, contudo. [...] Muitas das mulheres têm formas cheias e arredondadas, que chegam aos extremos mais tarde, tornando-as gordas, por vezes excessivamente. Não poucas possuem aquela beleza frágil, graciosa e delicada, que todos os estrangeiros notam nas cidades da União.

Assim como disséramos na primeira vez em que levamos a público este artigo, cremos ser dispensável entrar em detalhes antropométricos, já que muito do que se escreveu sobre nossos ancestrais é hoje contestado por novos estudos científicos. Parece-nos, entretanto, ainda não ter sido questionada a impressão de fisionomia séria do mineiro, um apreciador de exercícios físicos. Por outro lado, a idéia dos viajantes estrangeiros de que o mineiro tinha espírito nômade, sempre viajando em busca de novos locais a desbravar, suscita algumas reflexões ao nosso olhar, viventes da última metade do século XX.

Em todos os nossos escritos temos chamado a atenção para o risco de uma postura anacrônica, levando para a realidade dos nossos ancestrais a experiência adquirida em nossa própria estadia no planeta. Assim é que, muitas vezes, nossos interlocutores insistem em argumentar que os pioneiros abandonavam a casa dos pais porque ali faltava o pão. Não é, já o dissemos em várias oportunidades, a nossa opinião. Lendo os diários dos europeus que por aqui estiveram no século XIX, ficamos sabendo que o mineiro andava a cavalo desde tenra idade, apoiando apenas uma parte do pé no estribo porque acreditavam que assim a viagem seria menos cansativa. E qual o motivo de tantas viagens? Acreditamos que, na busca de suprimentos que tornassem mais fácil a vida em suas fazendas, o mineiro também se demorava em incursões verificadoras, expressão que criamos para significar as viagens que os fazendeiros faziam pelo interior das matas, seguindo caminhos indicados pelos tropeiros. Para os interessados, sugerimos nosso texto sobre Tropas e Tropeiros, em nosso Caderno 3: Os Moradores do Caminho Novo (CANTONI, 1976).

Um outro aspecto a considerar entre os hábitos de nossos antepassados, é a forma como se vestiam. Sabemos que o consumo exagerado de peças do vestuário, tão comum atualmente, bem longe está da realidade daqueles que povoaram os rincões mais distantes de Minas Gerais. Tendo abandonado os trajes habituais em seus lugares de origem, por inadequados ao clima da terra que escolheram por moradia, o mineiro do século XVIII vestia-se com simplicidade e acumulava um pequeno número de peças de roupa durante a existência, sendo comum um conjunto escuro para as tarefas mais pesadas e roupas mais claras para ocasiões formais. Indicamos outro de nossos textos, As Tecelãs de Ibitipoca (ALMEIDA, 1972) para o que se refere ao vestuário mais usual entre as famílias antigas. Lembramos ainda, que eram considerados pertences pessoais os arreios de prata, as esporas, as rosetas, um chapéu alto para as solenidades, o chapéu panamá para o cotidiano e as botas de cano longo que os protegiam de ataques dos animais rastejantes.

Como o objetivo deste texto é abordar as incursões de nossos antepassados, que os levaram a ocupar terras desabitadas, queremos ressaltar um aspecto importante da vida em família. Burton (2001, p. 478), citou uma de suas interlocutoras para declarar que, assim como para a mulher mexicana, para a mineira

o baluarte de parentes pelo qual a jovem esposa é cercada serve, em grande parte, para protegê-la; independente disso, porém, acho-a quase sempre retraída e recatada, chegando mesmo ao puritanismo, quando os estranhos se mostram audaciosos. Seus casamentos são realmente domésticos e felizes; os cônjuges são sempre vistos juntos e o marido costuma oferecer presentes à mulher, o que é considerado como uma prova especial de afeição.

Convido-os, pois, a imaginarem como seria a preparação de uma viagem que levaria um casal, seus filhos, escravos e pertences para se estabelecerem em algum lugar escolhido para fixarem nova residência. No próximo capítulo, vamos trazer informações de vários autores sobre os locais onde se instalaram.


Impressões de Viagem

Na reunião de família do ano passado, um grupo de parentes insistiu em buscar explicações para o nosso interesse em conhecer tantas cidades mineiras, pequenos lugarejos nos quais muitas vezes não conseguimos, sequer, obter uma imagem que nos ajude a fixar na memória alguma impressão local.

Uma das nossas dificuldades é reproduzir as poucas fotografias que fizemos nestas nossas viagens. Por esta razão, e sabedores da nossa pouca possibilidade de descrevê-las adequadamente, buscamos em autores consagrados aquilo que acreditamos sejam relatos bem próximos do que existia na época em que os Almeida Ramos espalharam-se pela terra mineira.

Ao relatar suas primeiras impressões dos arredores do Rio de Janeiro, Agassiz (2000) nos dá uma imagem saborosa da paisagem e também dos percalços pelos quais passaram. Considerando que sua estadia em nosso país ocorreu um século depois da chegada dos jovens de Óbidos, é fácil imaginar quão mais difícil teria sido a viagem daqueles rapazes em solo nacional. Por outro lado, os hábitos observados pelos americanos Agassiz nos fazem supor que a tão decantada hospitalidade nasceu justamente das dificuldades de sobrevivência.

Voltemo-nos ao diário de Elizabeth Agassiz para tentarmos fazer um paralelo com as providências que teriam sido tomadas pelos descendentes de nossos personagens, quando decidiam sair da casa de seus pais para formar suas próprias fazendas. Diz a autora que a casa sede das fazendas normalmente tinha apenas um andar em um edifício comprido e de grande extensão. Por estarem totalmente isoladas e afastadas de outras habitações, era necessário fazer provisão de todo o necessário, gerando hábitos primitivos como o que lhe foi contado por um de seus anfitriões. O caso teria ocorrido com rica marquesa que pernoitara na fazenda, no trajeto de uma viagem de poucas semanas até a Corte. Para tanto, a ilustre figura vinha acompanhada de uma tropa de “trinta e uma bestas de carga conduzindo toda a bagagem imaginável, sem contar as provisões de toda espécie, galinhas, presuntos, etc. e vinte e cinco criados a acompanhavam.” (AGASSIZ, 2000, p. 73) Isto, para uma viagem relativamente curta ao fim da qual estaria instalada em residência que contava com o conforto possível na época.

Descrições desta natureza nos fazem compreender que a organização de uma viagem era empreitada bastante complexa, envolvendo um sem número de providências inimagináveis nos dias atuais. Em meados do século XIX, os viajantes estrangeiros observaram que bastava alguém se apresentar numa fazenda ao fim de um dia de jornada e, se a aparência não fosse má, os proprietários o receberiam cordialmente, oferecendo-lhe alimentos e um quarto para repousar. De modo geral, o viajante municiava-se de uma carta de recomendação para facilitar a acolhida. Isto, quando estava em viagem. Mas como seria a viagem de mudança, em que toda a família se transferia para outro lugar?

Evidentemente que o status econômico era determinante, sendo possível identificar as posses de uma família pela quantidade de bagagem que a tropa de mudança conduzia. Por outro lado, os menos aquinhoados não decidiam, por si sós, pela mudança de residência. Antes, pelo contrário, famílias mais simples só saíam de um local quando agregadas aos grandes proprietários que, eles sim, tomavam a decisão de abrir novas frentes de ocupação. Pelo que nos foi dado apurar até o momento, os Almeida Ramos inscreviam-se na categoria daqueles que possuíam alguns bens e organizavam as expedições de mudança, levando para outros pontos os seus pertences, escravos e agregados.

É ainda Agassiz (2000) quem lembra que os percursos eram realizados através de trilhas estreitas, esburacadas e com variados níveis de risco. Ao longo da ocupação das vias transitáveis, foram criadas “estações de troca”, nas quais o viajante fazia uma pequena parada e trocava seus animais por outros descansados. Entretanto, as migrações internas dos Almeida Ramos não parecem ter sido feitas pelos caminhos descritos pelos viajantes estrangeiros. Acreditamos mesmo que foram pioneiros na abertura de novas vias de ocupação. E tornaram-se conhecedores de paisagens que assombraram não poucos estudiosos, como ocorreu a Agassiz (2000, p. 86), “perplexo e muito embaraçado com o aspecto inteiramente novo de fenômenos que lhe são bastante familiares noutras regiões, mas que, nessas montanhas, o desconcertavam completamente.”

Neste ponto pedimos permissão para remeter nossos leitores a uma obra recentemente reeditada, na qual tivemos oportunidade de confirmar a forte impressão que nos causaram as casas de cupim que vislumbramos em diversos trechos de nossas incursões pelas terras onde outrora viveram os Almeida Ramos. Na visão de Burton (2001, p. 85), as casas de cupim são “grandes colunas ou pirâmides de barro, amarelas ou pardacentas, de acordo com a terra, e chegando às vezes, a uns dois metros de altura”. Assim como observou este naturalista inglês, lembram túmulos, espalhando-se aos pares ou em grupos maiores. Mesmo das atuais estradas de rodagem, não nos escapa a visão dos cupinzeiros que chamaram a atenção do viajante estrangeiro, parecendo abandonados. Entretanto, ensina-nos Burton que, quando abertos, “parecem um hotel monstruoso, tal como Asmodeus o veria, e bastam alguns golpes decididos com uma picareta sobre a dura crosta desses cupinzeiros que parecem desertos, para se ver sair de seu interior uma multidão tão frenética quanto os hóspedes de um hotel que fogem ao grito de ‘Fogo!’.”

Mas os estudiosos também nos ensinam que os cupinzeiros não prejudicam sobremaneira os fazendeiros, já que encontram inimigos naturais no solo onde tentam vicejar. Fica-nos o questionamento: estavam os nossos ancestrais habilitados a contornar os males causados ao solo pelos cupinzeiros, assim como pelas formigas e demais partícipes de seu modus vivendi? É ainda de Burton que extraímos, sobre a vida no cupinzeiro:

Não se trata, contudo, de uma família feliz, se se leva em conta que o sapo, depois de comer o cupim, é comido pela cobra, e a cobra comida pela seriema, uma ave cujo gosto coincide com o Gypogeranus africanus, mas falta-lhe a caneta atrás da orelha que fez os holandeses dar-lhe denominação tão literária. Há, também, quem acredite que os cupins novos são aprisionados e escravizados, como africanos ocidentais, pela maldosa e impiedosa formiga das fazendas, que representa, assim, o maldoso e impiedoso homem branco. (BURTON, 2001, p. 86)

Sebollas

Iniciemos nosso percurso por Santana de Sebollas, um pouco antes de adentrarmos a terra mineira. Lá estivemos enquanto pesquisávamos sobre uma família que, naquela época, pensávamos ter ligações com os Almeida Ramos. Sabíamos que ali Carlos José de Santana, filho de José Joaquim de Santana e Maria Rosa de Jesus, casara-se em junho de 1877 com Emilia Francisca Gonçalves, filha de Antonio Joaquim de Santana e Francisca Maria de Jesus. Suspeitávamos que este casal tivesse vínculos com Joaquim Farto de Almeida, um dos netos de Francisco Farto, filho de outro do mesmo nome. Joaquim Farto nasceu em 1754 em Santa Rita de Ibitipoca e teve, pelo menos, os filhos Jacinta (1781), Teodora (1783), Francisco (1788), Joaquim (1792) e Carlos Gomes de Almeida, nascido em Conceição de Ibitipoca em 1797.

Sebollas é o atual distrito de Inconfidência, cujo núcleo urbano fica a cerca de 20 km da sede municipal em Paraíba do Sul. A localidade entrou para a história do Brasil por ter servido de pouso ao alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que dá nome ao atual Museu Sacro e Histórico de Inconfidência. Suas construções mais antigas datam do século XIV.

Nossa viagem a Sebollas não trouxe o resultado esperado, já que os livros paroquiais encontravam-se em outra localidade onde estivemos mais tarde. Entretanto, o resultado de nossas leituras levou-nos a concluir que, embora não havendo vínculos familiares no local, certamente os três rapazes de Óbidos passaram por Sebollas. Além do que já houvéramos apurado em Abreu (1975), a recente obra de Santos (2001) nos faz acreditar que nossos ancestrais estiveram naquele pouso antes de seguirem viagem para Minas.

Seguindo em direção a Minas, nossos rapazes portugueses provavelmente se depararam com o ambiente descrito mais de cinqüenta anos depois por Saint Hilaire (1975, p. 47):

A paisagem que se apresenta aos olhos do viajante quando este entra na Comarca do Rio das Mortes, às margens do Paraibuna, tem algo que impressiona por um misto de desordem e regularidade selvagem. Por toda a parte o rio é dominado por montanhas elevadas; como ele descreve uma volta antes de chegar ao registro, não se vislumbra por esse lado mais que uma pequena parte do seu curso, e dá a impressão de ;que todo ele começa na base de uma montanha mais alta que as outras, e cujo cume absolutamente nu contrasta com a vegetação vigorosa dos morros vizinhos.

Nosso percurso para conhecer o provável caminho de entrada em Minas não obedeceu à mesma ordem em que aparece em Saint Hilaire. De Sebollas fomos à Paraíba do Sul e dali rumamos para São José das Três Ilhas.

Iniciemos nosso percurso por Santana de Sebollas, um pouco antes de adentrarmos a terra mineira. Lá estivemos enquanto pesquisávamos sobre uma família que, naquela época, pensávamos ter ligações com os Almeida Ramos. Sabíamos que ali Carlos José de Santana, filho de José Joaquim de Santana e Maria Rosa de Jesus, casara-se em junho de 1877 com Emilia Francisca Gonçalves, filha de Antonio Joaquim de Santana e Francisca Maria de Jesus. Suspeitávamos que este casal tivesse vínculos com Joaquim Farto de Almeida, um dos netos de Francisco Farto, filho de outro do mesmo nome. Joaquim Farto nasceu em 1754 em Santa Rita de Ibitipoca e teve, pelo menos, os filhos Jacinta (1781), Teodora (1783), Francisco (1788), Joaquim (1792) e Carlos Gomes de Almeida, nascido em Conceição de Ibitipoca em 1797.

Nossa viagem a Sebollas não trouxe o resultado esperado, já que os livros paroquiais encontravam-se em outra localidade onde estivemos mais tarde. Entretanto, o resultado de nossas leituras levou-nos a concluir que, embora não havendo vínculos familiares no local, certamente os três rapazes de Óbidos passaram por Sebollas. Além do que já houvéramos apurado em Abreu (1975), a recente obra de Santos (2001) nos faz acreditar que nossos ancestrais estiveram naquele pouso antes de seguirem viagem para Minas.

Sebollas é o atual distrito de Inconfidência, cujo núcleo urbano fica a cerca de 20 km da sede municipal em Paraíba do Sul. A localidade entrou para a história do Brasil por ter servido de pouso ao alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que dá nome ao atual Museu Sacro e Histórico de Inconfidência. Suas construções mais antigas datam do século XIV.

Seguindo em direção a Minas, nossos rapazes portugueses provavelmente se depararam com o ambiente descrito mais de cinqüenta anos depois por Saint Hilaire (1975, p. 47):

A Freguesia de São José do Rio Preto, ou São José das Três Ilhas, foi instituída por provisão episcopal de 7 de novembro de 1833. A criação do distrito civil só ocorreu em 1850. Estas datas nos desanimaram num primeiro momento. A Igreja é muito nova e ali não encontraríamos informações.

Resolvemos então pesquisar as Cartas de Sesmaria e encontramos uma de 09 de dezembro de 1818, concedendo terras na Paragem de São Roque de Monte Verde, Freguesia de Simão Pereira, Termo de Barbacena a Carlos Gomes da Fonseca. Estava resolvida nossa principal dúvida, já que o beneficiário era filho do português Carlos Gomes Monteiro e Antonia Maria de Jesus e portanto irmão de Joaquim Gomes Monteiro, este último pai de Zeferino Antonio Gomes da Fonseca que foi pai de Teresa Maria.

Necessário se torna esclarecer que a visita a Três Ilhas tinha sido motivada por pesquisas em torno da família Fonseca, que só mais tarde descobrimos ter descendentes em diversas famílias leopoldinenses. O curioso é que em assentos religiosos relativos a membros da família Fonseca, algumas vezes é informado que moravam na Fazenda Reserva e outras vezes na Fazenda São Roberto. Segundo José Rodrigues de Magalhães Alves, oficial substituto do Cartório de Três Ilhas, a Fazenda São Roberto foi construída pelo terceiro avô dele, Francisco de Assis Alves, localizada em território hoje pertencente ao distrito de Porto das Flores. Não logramos êxito na busca da Carta de Sesmaria que teria dado origem à Fazenda São Roberto. Suspeitamos que as duas fazendas fossem vizinhas e a Reserva estaria localizada nas proximidades da atual divisa entre Santa Bárbara do Monte Verde e Belmiro Braga.

A seguir, decidimos pesquisar um pouco sobre a história de Simão Pereira, a mais antiga freguesia daquela região.


Simão Pereira

A paisagem que se apresenta aos olhos do viajante quando este entra na Comarca do Rio das Mortes, às margens do Paraibuna, tem algo que impressiona por um misto de desordem e regularidade selvagem. Por toda a parte o rio é dominado por montanhas elevadas; como ele descreve uma volta antes de chegar ao registro, não se vislumbra por esse lado mais que uma pequena parte do seu curso, e dá a impressão de ;que todo ele começa na base de uma montanha mais alta que as outras, e cujo cume absolutamente nu contrasta com a vegetação vigorosa dos morros vizinhos.

Nosso percurso para conhecer o provável caminho de entrada em Minas não obedeceu à mesma ordem em que aparece em Saint Hilaire. De Sebollas fomos à Paraíba do Sul e dali rumamos para São José das Três Ilhas.

São José das Três Ilhas

Todas as localidades por onde passa o rio do Peixe já foram objeto de nossos olhares, uma vez que nelas residiram os antepassados dos povoadores de Leopoldina. Conta a história que no Sítio de Simão Pereira foi criada a freguesia de Nossa Senhora da Glória em 1718. Vejamos como descreveu Cunha Matos, em obra publicada em 1837.

Grande distrito paroquial cuja igreja matriz existe na estrada do Rio de Janeiro para Barbacena, na margem esquerda do Rio do Barros, braço setentrional do Paraibuna, em terreno muito baixo na fralda de uma alta serra, ramo da Mantiqueira. A pequena distância da igreja existe uma humilde casa em que mora o vigário, e na serra fronteira há outra ainda menor, proporcionando, aliás, o terreno as melhores comodidades para uma grande povoação. Dista 35 léguas do Rio de Janeiro, e 43 da cidade do Ouro Preto.

Recebeu o nome de Simão Pereira por se achar próxima do lugar em que um homem assim chamado estabeleceu fazenda que ainda se apelida “Sítio do Simão Pereira”. Fica ao norte de outro lugar conhecido pelo nome de Rocinha de Simão Pereira, ambos na estrada real. O distrito próprio de Simão Pereira, dista 23 léguas da cabeça do termo. Tem 98 fogos e 964 almas.

Diz ainda Cunha Matos que a paróquia era também conhecida pelo nome de Simão Pereira do Caminho Novo. A Freguesia de Nossa Senhora da Glória do Sítio de Simão Pereira era o primeiro povoado de Minas. Mas, para descrever aquele trecho do Caminho Novo com maior proximidade no tempo, utilizaremos trechos do diário de Saint-Hilaire.

Auguste de Saint-Hilaire, cientista francês que viajou pelo interior do Brasil entre 1816 e 1822, deixou-nos preciosas informações sobre o Brasil do início do século XIX. A Segunda Viagem de Saint-Hilaire a Minas começou a 29 de janeiro de 1822, no Rio de Janeiro. No dia 6 de fevereiro entrou em território mineiro. Eis parte de seu relato do dia:

Serve o Rio Preto de fronteira às capitanias do Rio de Janeiro e Minas. À extremidade de uma ponte fica uma cidadezinha encostada à montanha, composta de uma única rua muito larga e paralela ao rio. Tem a cidade o mesmo nome do rio; depende do distrito de Ibitipoca e só conta uma igreja não colada, servida por um capelão. As casas de Rio Preto, excetuando-se uma ou duas, são térreas, pequenas, mas possuem um jardinzinho plantado de bananeiras, cuja pitoresca folhagem contribui para o embelezamento da paisagem.

O Caminho Novo

Seis dias depois o cientista estava acomodado em uma granja no “Rancho de Manoel Vieira” e seu relato volta a mencionar características da paisagem. Já tendo passado pela “Serra Negra”, informa que todo o percurso é um subir e descer muito cansativo. Sobre o Rio do Peixe que atravessara “um quarto de légua” antes, diz apenas; “passamos, sobre uma ponte de madeira, o pequeno rio chamado Rio do Peixe e pelo percurso vimos várias fazendas”.

Já no relato de sua primeira viagem Saint-Hilaire declarou-se impressionado com o que chamou de “misto de desordem e regularidade selvagem”, com a atenção voltada para “as montanhas que se misturam no horizonte e fazem pensar que o rio nasce na elevação posterior à que primeiro se avizinha” quando, ao passar posteriormente por ela, constatou que as águas vinham de um ponto bem mais distante. Século e meio depois o grande poeta Carlos Drumond de Andrade nos brindou com suas fortes impressões das montanhas de Minas.

Antes de prosseguirmos, transcrevemos mais um trecho da primeira viagem.

O primeiro lugar habitado que se encontra depois do Paraibuna é Rocinha da Negra, onde se vê um rancho e uma venda construídas em um vale à margem de um regato. Pouco mais longe, passa-se diante de uma choça denominada Três Irmãos, e em breve se chega à povoação de Vargem, localizada em um amplo vale rodeado de morros. O nome Vargem, sinônimo da palavra portuguesa várzea, se aplica geralmente a essas espécies de planícies úmidas e rodeadas de elevações que são bastante comuns nas partes montanhosas do Brasil, e diferem um pouco do resto do país pela vegetação.

Em nota do próprio autor ao texto acima, ficamos sabendo que ele foi recebido de maneira muito cordial em Vargem e que por isso faz questão de denunciar um outro viajante estrangeiro que teria sido tão bem recebido quanto ele e que, no entanto, depois teria “vilipendiado” o hospedeiro.


Santa Bárbara do Monte Verde

Seguindo o percurso inverso ao que julgamos ter sido realizado pelos Almeida Ramos, visitamos Santa Bárbara do Monte Verde em duas oportunidades. Não logramos êxito na busca da fazenda que pertenceu ao Barão de Santa Bárbara, personagem que acreditávamos descender de Antonio de Almeida Ramos.

Muitas foram as nossas buscas em Santa Bárbara do Monte Verde, bem como na documentação relativa àquele município que se encontra no Arquivo Público Municipal de Juiz de Fora. Mas foi somente neste ano de 2007 que, com a ajuda do pesquisador Júlio Sales Moreira, tivemos êxito na confirmação de nossa hipótese: descendentes de Antônio de Almeida Ramos deixaram a região da Serra da Ibitipoca no início do século XIX, vindo povoar os atuais municípios de Santa Bárbara do Monte Verte e Rio Preto.

O quinto filho de Antônio de Almeida Ramos e Maria de Oliveira Pedrosa foi João de Almeida Ramos, batizado em Santa Rita de Ibitipoca no dia 16 de abril de 1769. Casou-se a 3 de março de 1794, em Santa do Garambeo, com Teresa Maria de Jesus, filha do açoriano Manoel José do Bem e de Teresa Maria de Jesus. Ressalte-se que Teresa era filha do português Inácio Franco e da ilhoa Maria Tereza de Jesus. Portanto, a esposa de João de Almeida Ramos tinha relação de parentesco com ancestrais de grande parte da população de Leopoldina.

João de Almeida Ramos e Teresa Maria de Jesus foram pais de Francisco, Rita, Manoel Antonio de Almeida Ramos, João de Almeida Ramos Filho, Ana Bernardina de Almeida e Maria Teresa. Destaque-se que Ana Bernardina de Almeida casou-se com Manoel Rodrigues da Silva, formador da fazenda Puris no então Curato de São Sebastião do Feijão Cru. Também por João de Almeida Ramos Filho, que se casou com Joaquina Felisbina de Jesus, vamos encontrar descendentes em Leopoldina no século XIX.

Mas as nossas viagens a Santa Bárbara tinham sido motivadas pelo terceiro filho de João de Almeida Ramos e Teresa Maria de Jesus: Manoel Antonio de Almeida Ramos. Em literatura publicada em meados do século XX, observamos que eventualmente os autores consideravam que Manoel Antonio de Almeida, conhecido como Comendador em Leopoldina, era tido como sendo o mesmo Manoel Antônio de Almeida Ramos que viveu em Santa Bárbara do Monte Verde. Houve, parece-nos, um engano provocado pela semelhança de nomes. Entretanto, o “nosso” Manoel Antônio de Almeida foi o filho caçula de Antonio de Almeida Ramos e Maria de Oliveira Pedrosa, sendo tio do Manoel Antonio de Almeida Ramos de Santa Bárbara do Monte Verde.

Tantos anos depois de nossas buscas, Júlio Sales Moreira ofereceu-nos cópias de documentos que esclareceram definitivamente a questão. Através de um Titular do Império – o Barão de Santa Bárbara, o Júlio colocou um ponto final na questão. O Barão, cujo nome foi João Evangelista de Almeida Ramos, era filho de Manoel Antônio de Almeida Ramos e Joana Tereza do Espírito Santo. Era, portanto, sobrinho neto do nosso Manoel Antônio de Almeida e bisneto de Antônio de Almeida Ramos.

Rio Preto

Quando escrevemos o texto sobre os Almeida Ramos e os Farto de Almeida (CANTONI, 1978), citamos como possibilidade o vínculo entre as duas famílias. Entretanto, conclusões apressadas de outros autores haviam nos desanimado, já que nenhum deles tinha aventado a hipótese de ligação entre as famílias de dois Titulares do Império que descendem de Antônio de Almeida Ramos.

Já em nossa reunião de 1998 foram abordadas as grandes dificuldades para se chegar aos livros paroquiais desta e de outras antigas localidades onde nossos antepassados viveram. A Capela do Senhor dos Passos do Presídio do Rio Preto, segundo Trindade (1945, p. 242), foi erigida em 1831, a pedido de João Alves Garcia. Elevada a Freguesia em 1832, desmembrada da Freguesia de Conceição de Ibitipoca, quatro anos depois foi instituída canonicamente. Segundo o mesmo autor, em 1838 as obras de construção da matriz ainda não estavam concluídas.

Através das pesquisas realizadas no Arquivo Histórico da Prefeitura de Juiz de Fora, e de consultas ao material disponível na Casa de Cultura de Rio Preto e no acervo do Seminário Santo Antônio em Juiz de Fora, apuramos que descendentes dos três jovens de Óbidos viveram em território do atual município de Rio Preto, MG.

Além do já citado Manoel Antônio de Almeida Ramos, pai do Barão de Santa Bárbara, outros filhos e netos de Antonio de Almeida Ramos, de Agostinho de Almeida Ramos e de Francisco Farto de Almeida, são referidos em diversos documentos encontrados no Fórum de Rio Preto.

Acreditamos que outras pesquisas venham a esclarecer detalhes sobre estas ligações, incluindo a ascendência do Barão de Almeida Ramos, título concedido a Joaquim de Almeida Ramos.

Chapéu d’Uvas e Barbacena

Quisemos acompanhar a narrativa de Richard Burton por ali termos encontrado referência a Chapéu d’Uvas, um dos povoados que contaram com os Almeida Ramos no seu nascedouro. O viajante inglês (BURTON, 2001, p. 88) informa que o nome Chapéus d’Uvas refere-se a um cultivador de parreiras que as oferecia para matar a sede dos viajantes que por ali passavam. Acrescenta que naquela localidade encontravam-se dois caminhos: o do Mato, a nordeste, e o do Campo, direção noroeste. Quanto à aparência, o súdito do império britânico destacou o aspecto de pousada à beira da estrada, uma rua, uma capela pobre e pouca possibilidade de fornecer o necessário para o consumo local. Isto, lembremos, numa impressão de 1867. Com o intuito de dar voz aos viajantes estrangeiros, em suas descrições das localidades que vimos estudando, transcrevemos mais um trecho de Burton (2001, p. 114), para sabermos qual a impressão que lhe causou Barbacena.
Barbacena da Rainha fica a 21º13’9" 1 de lat. S. e 0º49’43"3 de long. O. (Rio), no ponto culminante do planalto, a 1.270 metros, em números redondos acima do nível do mar. O clima é essencialmente temperado; a temperatura máxima anual é de 26,6º à sombra. A cidade teve sua origem no Arraial da Igreja Nova da Borda do Campo, pouso para as tropas entre Ouro Preto (22 léguas) e Petrópolis (40 léguas); seu comércio principal consistia em quitandas e comestíveis semelhantes, vendidos por algumas velhas. O lugar era muito adequado para uma povoação de tal origem. No Brasil, as cidades fundadas por eclesiásticos ocupam as melhores posições, colinas e elevações com uma bela vista; os leigos preferiam os terrenos baixos, perto da água e do ouro. A localidade foi elevada a vila em 1791, pelo famoso ou infame Visconde de Barbacena, capitão-general das Minas, que lhe deu seu próprio nome. Mawe (1809) descreve-a como uma povoação de 200 casas, governada por um ouvidor ou juiz auditor. Foi elevada a cidade por lei provincial de 9 de março de 1849. A população do município era em 1864, de 23.448 almas, com 1.954 votos e 39 eleitores, cobrindo 1.400 alqueires de terra. A cidade tinha 5.000 habitantes em 1849; era, então, uma espécie de oásis central do deserto formado pelo mato meridional, a região coberta de florestas que havíamos atravessado e pelos campos do norte, que iríamos atravessar.

Com estes comentários esperamos ter completado o percurso que fizemos em busca da trajetória dos três rapazes de Óbidos. As demais localidades onde viveram, diversas vezes citadas em nossos textos anteriores, poderão vir a merecer novas referências futuras. Especialmente quando lograrmos êxito nas buscas ainda em andamento.

Referências Bibliográficas

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AGASSIZ, Jean Louis Rodolph. Viagem ao Brasil 1865-1866. Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2000.

ALMEIDA, Nilza. Caderno de Família: As tecelãs de Ibitipoca. Leopoldina, MG: do autor, 1972.

BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1995. p. 46

BURTON, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2001.

CANTONI, Nilza. Caderno de Família 3: Os Moradores do Caminho Novo. Leopoldina, MG: do autor, 1976

CANTONI, Nilza. Entre nós: Almeida Ramos ou Farto de Almeida. Leopoldina, MG: do autor, 1978

CANTONI, Nilza. Os 3 jovens do Concelho de Óbidos. Leopoldina, MG: Jornal da Terra, 2001

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Enciclopédia dos Municípios Brasileiros – IBGE, 1960 – vol VII, fls 444

MATOS, Raimundo José da Cunha. Corografia Histórica da Província de Minas Gerais (1837) – Belo Horizonte, Itatiaia, 1981

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda Viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a São Paulo – Belo Horizonte: Itatiaia, 1974

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo Horizonte, Itatiaia, 1975.

SANTOS, Márcio. Estradas Reais: introdução ao estudo dos caminhos do ouro e do diamante no Brasil.  Belo Horizonte: Estrada Real, 2001

TRINDADE, Cônego Raimundo. Instituições de Igrejas no Bispado de Mariana. Rio de Janeiro: SPHAN, 1945