Fontanella em Leopoldina

Os Fontanella passaram ao Brasil na época em que a imigração de italianos já estava em decréscimo. Aportaram no Rio de Janeiro em fevereiro de 1899 e seguiram para a Hospedaria de Juiz de Fora, dali saindo no dia 23 de fevereiro com destino ao distrito de Aba´íba, em Leopoldina. Alguns filhos de Luigi e Verginia se casaram com imigrantes ou filhos deles. Outros se uniram a membros de antigas famílias que viviam no lugar, como Oliveira e Azevedo.

Família Fontanella em Leopoldina

137 – Propriedades pequenas e produtivas

 

Antes de tratar das propriedades vendidas aos imigrantes aqui no Brasil, é bom que se tenha uma ideia de como eram as propriedades, na época, na Itália.

Segundo a investigação agrária realizada por de Jacini[1], na segunda metade do século XIX as pequenas propriedades eram mais comuns do que o latifúndio na Emilia-Romagna. Em algumas partes da região encontravam-se unidades de 10 a 30 hectares, sendo o tamanho mais frequente em torno de 9 hectares ou, um pouco menos de dois alqueires mineiros.

Emilio Franzina[2] caracteriza como sendo mito a ideia sobre uma divisão de terras que teria ocorrido no Veneto, informando que nos arredores de Rovigo, Vicenza, Padova e Treviso as propriedades mediam entre 20 e 30 hectares.

Num extrato sobre o trabalho de Jacini, Giulio Gatti conclui que a propaganda da emigração comparava a diminuta extensão das propriedades rurais na Itália com a possibilidade de adquirir grandes fazendas no Brasil.

Tomando por base o tamanho dos lotes da Colônia Agrícola da Constança, com 25 hectares em média, verifica-se que a realidade encontrada aqui no Brasil estava longe de confirmar a propaganda que atraíra aqueles imigrantes. E se torna mais grave quando é sabido que antes do estabelecimento daquele núcleo colonial os imigrantes raramente tiveram oportunidade de adquirir uma boa propriedade que permitisse o rendimento necessário para o sustento de família numerosa.

Ressalte-se que as bases sobre as quais se assentou a nova sociedade brasileira fundada no trabalho livre incluíram modalidades diversas de relações sociais, não havendo um padrão único seguido por todos os fazendeiros e colonos. Pelo menos duas modalidades dessas relações são encontradas nas fazendas leopoldinenses. Na primeira delas estão os imigrantes que foram explorados nas fazendas, presas fáceis da marginalização e da miséria, mas que tomando atitudes muitas vezes impensadas, conseguiram se livrar do jugo dos fazendeiros que os contrataram na hospedaria e encontraram o caminho para o sucesso. Na segunda modalidade que se deduz de vários depoimentos colhidos de descendentes, está um grupo de imigrantes que contou com melhor sorte. Este teria tido ascensão econômica e n’alguns casos também a social porque contou com a ajuda dos fazendeiros contratantes. Neste caso ocorreu que os fazendeiros, grandes beneficiários do sistema de importação de mão de obra livre, sentiram necessidade de estabelecerem vínculos trabalhistas mais favoráveis aos colonos, a fim de evitar perderem aqueles novos braços que passaram a sustentar as suas lavouras. Sentiram que a falta dos imigrantes poderia trazer de volta aqueles tempos terríveis após a libertação dos cativos, quando a produção de muitas lavouras se perdeu no mato por falta de mão de obra para a colheita.

O mais comum, antes da criação das colônias, era que os imigrantes raramente tinham oportunidade de realizar o sonho de adquirir uma boa propriedade. Foi o caso, por exemplo, da família Casadio. Com a esposa Luigia Martinelli e pelo menos dois filhos, em 1897 Giuseppe Casadio foi contratado para uma fazenda no então distrito de Leopoldina chamado Rio Pardo, hoje o município de Argirita. Em 1910, o filho Giovanni Casadio adquiriu o lote número 35 da Constança, no qual também viveram seus pais. Outros imigrantes da mesma região, como os Minelli, de Bologna, que se radicaram no distrito de Ribeiro Junqueira e os Conti, de Marzabotto, que se tornaram proprietários na localidade de São Lourenço, também no município de Leopoldina, parecem ter percorrido caminho semelhante.

Na verdade, a propriedade de um pedaço de terra era uma das condições a que se impuseram os imigrantes para atingirem a igualdade e, ao mesmo tempo, a liberdade sonhada com a vinda para a América. Óbvio que para isto ainda precisavam reorganizar suas vidas na nova terra e resolver os problemas das dívidas eventualmente contraídas na viagem e nos primeiros anos junto ao armazém da fazenda.

Segundo levantamentos parciais nos registros existentes, num período de 8 a 12 anos trabalhando nas fazendas a maioria dos imigrantes se tornou proprietária. O que se traduz num feito extraordinário se consideradas as condições em que chegaram da Itália.

Basta lembrar que os desafios eram muitos. Começavam no embarque no porto italiano e não terminavam com a chegada a um lugar desconhecido chamado Leopoldina. Eram problemas de toda ordem: falta de recursos financeiros, exploração de intermediários, viagens cansativas, muitos casos de doença e até de perda de familiares ou separação nas hospedarias onde o fazendeiro escolhia as pessoas que lhe interessavam.

Superados ou absorvidos todos estes problemas, restava ainda, como muitos casos relatados pelos descendentes, o grande obstáculo oferecido na chegada, onde a língua e a cultura dessa nova pátria eram totalmente estranhas.

Os imigrantes venceram todas as dificuldades. Na medida do possível, procurando fixar-se junto a seus conterrâneos de modo a se sentirem mais confiantes e buscando a ajuda mútua para o amparo e para o aumento dos rendimentos. Ao evitar se dispersarem, em muitos casos surgiram parcerias entre famílias imigrantes que começaram no amanho da terra e se prolongaram em casamentos entre os filhos. E, acima de tudo, trabalhando muito.

Não se deve descartar a hipótese de algum imigrante ter vindo por influência de uma propaganda enganosa de que seria fazendeiro no Brasil, mas é inegável que estes numerosos colonos transformaram, assim que puderam, pequenos lotes em exemplos de produtividade e foram bastante operosos, conseguindo boa condição de vida para suas famílias.

Por hoje a conversa fica por aqui. Até a próxima edição!


Fontes consultadas:

1 – JACINI, Stefano. Inchiesta Agraria. Roma: s.n., 1884.

2 – FRANZINA, Emilio. A Grande Emigração: o êxodo dos italianos do Veneto para o Brasil. Campinas: Unicamp, 2006. p. 142-144

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 390 no jornal Leopoldinense de 16 de outubro de 2019

 

Outubro 1918

Nascimentos em Leopoldina:

1 Out 1918,

Maria Tripoli

pais: Umberto Tipoli e Elvira Teixeira da Conceição


3 Out 1918,

Hermes

pais: Virgilio Garcia de Matos e Virgilina Machado

Iolanda

pais: Pedro José Pacheco e Dorcelina Amélia de Jesus


9 Out 1918,

Eugenio Fofano

pais: Carlo Batista Fofano e Amabile Stefani


13 Out 1918,

Antonio Minelli

pais: Giulio Minelli e Maria da Conceição Lopes de Barros


14 Out 1918,

Geraldo

pais: Manoel Francisco da Silva e Francisca Rodrigues de Souza


25 Out 1918,

Graciema

pais: Raimundo de Vargas Ferreira Brito e Horácia Machado da Silva

Minelli: atualização do estudo sobre esta família italiana

Segundo notícia do Jornal do Commercio de 27 de agosto, edição número 237 página 6, às 20 horas do dia 26 de agosto de 1897 chegou à Ilha Grande (Rio de Janeiro) o paquete italiano Attività, procedente de Genova e escalas, com 788 italianos na 3ª classe. Com 27 dias de duração, a viagem trouxe imigrantes que se destinavam a Minas Gerais, os quais não passaram pela Hospedaria da Ilha das Flores, conforme se verifica no respectivo livro número 89. No dia 27, foram registrados na Hospedaria Horta Barbosa, em Juiz de Fora e quatro dias depois começaram a sair com destino a diversas cidades da zona da mata mineira. Para o município de Leopoldina vieram 270 pessoas dos seguintes sobrenomes:

Bardino, Beccari, Borghi, Casu, Conti, Facchini, Faedela, Ferretti, Gigli, Guidotti, Laffi, Lenzi, Lipparini, Loi, Lolli, Manca, Manella, Marchi, Marongiu, Mazotti, Mazzanti, Minelli, Mocci, Orati, Pazzaglia, Pedrini, Porcu, Rosa, Rubini, Sabbi, Scala, Soldati, Tassi, Tibaldi, Tonello, Tonioni, Toro, Vecchi, Ventura, Zannini, Zappoti, Zecchini, Zoncheddu e Zucca.

A maioria era proveniente da Emilia Romagna. Os demais eram da Sardegna. Nem todos ficaram em Leopoldina. Há relatos de fuga por tratamento inadequado em fazendas. Alguns ficaram pouco tempo trabalhando para o primeiro contratante e se transferiram para outros municípios. Da mesma forma, imigrantes destinados a localidades vizinhas vieram a se estabelecer definitivamente em Leopoldina alguns anos depois.

Entre os passageiros desta viagem do Attività, estavam os Minelli. O genearca do grupo foi Giacomo Emilio Minelli, nascido por volta de 1855 em Malfolle, localidade do comune de Marzabotto, província de Bologna. Era filho de Angelo Minelli e Maria Angela Caroli. Pelo que nos foi possível apurar, Giacomo teve pelo menos quatro irmãos: Saturno, Giuseppe, Gaetano e Federico, alguns nascidos em Malfolle e outros em Montasico, também Marzabotto. Na década de 1880, todos viviam em Marzabotto e eram colonos agricultores, ou seja, trabalhavam sob contrato com proprietários de terras.

Aos 24 de novembro de 1884, Giacomo Minelli casou-se com Albina Bruni, com quem teve a filha Clelia Adalgisa Maria Minelli, nascida no dia 15 de janeiro daquele ano. Albina estava com 22 anos, era natural de Grizzana Morandi, também na Bologna, sendo filha de Carlo Bruni e Catterina Mondassi.

O segundo filho do casal foi Antonio Alfonso Giuseppe Minelli, nascido no dia 22 de outubro de 1886 em San Martino. Dois anos depois, aos 19 de dezembro de 1888, nasceu o terceiro filho: Arnoldo Ponziano Alessandro Minelli.

Os leitores poderão estranhar os nomes porque em Leopoldina passaram a ser conhecidos como Adalgisa, Antonino e Ernesto. Os outros filhos do casal foram registrados com nome único:

– Giulio Minelli, nascido no dia 23 de novembro de 1891 em Montasico;

– Alfonso Minelli, nascido aos 28 de abril de 1894, também em Montasico.

Deste último não tivemos outras notícias após a saída da Hospedaria, no dia 31 de agosto de 1897. Por outro lado, encontramos o casamento de uma filha do casal nascida no Brasil, como se verá adiante.

1 – Clelia Adalgisa Maria Minelli, conhecida como Adalgisa, casou-se em Leopoldina no dia 30 de abril de 1910 com Alipio Ribeiro Macieira Filho, filho de Alipio Ribeiro Macieira e Angela da Costa. Adalgisa e Alipio tiveram, pelo menos, seis filhos nascidos no município de Leopoldina: Augusto, Angela, Carmen, Leonira, Marina e Omar Macieira. Alipio morreu em maio de 1935 e Adalgisa em janeiro de 1979.

2 – Antonio Alfonso Giuseppe Minelli, conhecido como Antonino, casou-se em Leopoldina aos 16 de janeiro de 1909 com Marina Fontanella, nascida no Piemonte, Italia, aos 22 de julho de 1889. Ela era filha de Francesco Fontanella e Verginia Gronda que passaram ao Brasil em 1899 com cinco filhos pequenos. Foram contratados para trabalhar em fazenda no mesmo distrito de Abaíba onde os Minelli viviam há um ano e meio.

Segundo informações de familiares, Antonino e Marina tiveram 8 filhos nascidos em Leopoldina. Entretanto, só encontramos nascimento de cinco e uma das filhas era desconhecida dos parentes. Até o momento temos os seguintes nomes: Maria, Acirema, Maria Francisca, Emilia, Helena, José, Ida, Nair e Geraldo Minelli.

3 – Arnoldo Ponziano Alessandro Minelli, conhecido como Ernesto, casou-se em Leopoldina no dia 10 de julho de 1916, com Djanira Ismenia de Jesus, filha de Ismeria Ignacia de Jesus. Não localizamos nascimentos de filhos do casal. Ernesto faleceu aos 12 de junho de 1963 em Leopoldina.

4 – Giulio Minelli, conhecido como Julio, casou-se em Leopoldina no dia 8 de dezembro de 1917, com Maria da Conceição Lopes de Barros. Ela era natural de Leopoldina, filha de Manoel Lopes de Barros e Alice da Costa Ribeiro que era filha de Alipio Ribeiro Macieira e Angela da Costa. Ou seja, a esposa de Julio Minelli era irmã do marido de Adalgisa Minelli. Embora tenhamos encontrado nascimento de apenas três filhos, segundo familiares o casal Julio e Maria da Conceição gerou nove filhos: Antonio, Alice, Lourenço, Moacir, Alcidio, Elia, Maria, Helida e Zelia. Julio faleceu em Leopoldina no dia 1 de junho de 1981.

5 – Alfonso Minelli pode ter falecido na infância e, conforme já dissemos, dele não encontramos referências.

6 – Angelina Minelli foi a filha brasileira de Giacomo e Albina. Segundo o registro de seu casamento, teria nascido em março de 1901 em Cachoeira Alegre que, na época, fazia parte do município de Muriaé mas logo depois se tornou distrito de Palma. Com a criação do município de Barão de Monte Alto em 1962, Cachoeira Alegre lhe foi incorporada.

Caso se confirme o nascimento de Angelina em Cachoeira Alegre, Giacomo Minelli teria ficado menos de quatro anos em Abaíba, repetindo trajetória de outros imigrantes que chegaram pelo vapor Attività em 1897 e foram contratados para trabalhar naquele distrito de Leopoldina. Informações orais dão conta de que três famílias que vieram pelo Attività e foram para Abaíba, antes de 1900 estavam em Morro Alto, hoje Barão de Monte Alto. Duas outras saíram de Abaíba na mesma época e se estabeleceram em Astolfo Dutra.

Angelina Minelli se casou em Leopoldina, no dia 27 de abril de 1918, com José da Cruz Cabral, natural de Ubá, filho de Manoel da Cruz Cabral Júnior e Luiza de Aguiar Cabral.

Manoel da Cruz Cabral Júnior era natural de Diamantina, filho de Manoel da Cruz Silva e de Ana Inocência da Cruz. Casou-se em Leopoldina aos 6 de outubro de 1895 com Luiza de Aguiar Cabral, natural de Leopoldina, filha de Antonio Tomaz de Aquino Cabral e Rosa Vitalina. Antonio Tomaz era filho de José Tomaz de Aquino Cabral, fazendeiro de café em Ribeiro Junqueira.

Angelina e José foram pais Leonidio, Maria das Neves e Amelia que se casou com Walter Fontanella, sobrinho da Marina Fontanella esposa de Antonino Minelli.

Esta atualização tem por objetivo corrigir informações divergentes prestadas por colaboradores sobre a primeira geração descendente de Giacomo Minelli e Albina Bruni. Posteriormente poderão ser feitas novas buscas com vistas a confirmar ou corrigir dados da segunda geração, razão pela qual não a incluímos neste estudo.

Há 100 anos

Em fevereiro de 1914 nasceram em Leopoldina:

Dia 2

Iraci, filha de José Vital de Oliveira e de Mariana Custódia de Moraes

Manoel, filho de Silvano Barbosa da Rocha e de Ana de Melo Gouvêa

Dia 4

Antonia, filha de Joaquim Vargas Corrêa e de Maria Francisca Vargas

Dia 6

Maria Luiza Piccoli, filha de Elias Piccoli e de Corina Meneghelli

João Gottardo, filho de Domenico Giuseppe Gottardo e de Avelina Carolina de Jesus

Dia 7

Yolanda Iennaco, filha de Lorenzo Iennaco e de Emma Sparanno

Dia 9

Alfredo Sellani, filho de Sante Sellani e de Ana Bisciaio

Dia 10

Dagmar, filha de Romulo de M Pacheco e de Olga Fialho

José, filho de Pedro José Pacheco e de Dorcelina Amélia de Jesus

Dia 14

Emilia Minelli, filha de Antonino Minelli e de Marina Fontanella

José, filho de Antonio Vargas de Moraes e de Mercedes de Almeida Lacerda

Dia 16

Juracy, filha de Luiz Botelho Falcão e de Ernestina Antunes Barbosa

Dia 18

Mario, filho de Constantino Ribeiro Lima e de Cecilia Antunes Barbosa

Dia 24

Ilda, filha de Ricardo dos Reis Coutinho e de Maria Cândida

Sebastião, filho de Waldemar Tavares Lacerda e de Jovenila Lisboa

Dia 27

Deolinda Maimeri, filha de Luigi Maimeri e de Carolina Rancan

Erundy Carneiro, filha de Juvenal Lúcio de Andrade Carneiro e de Honorina Antunes Vieira

Dia 28

Luiz Lammoglia, filho de Francisco Alves Lammoglia e de Luiza Guersoni

Leopoldinenses nascidos em dezembro de 1912

NASCIMENTO
PAI
MÃE
Maria
5 Dezembro
Carlos Lopes da Rocha
Carmosina Maria de Jesus
Zelia Richardelli
7 Dezembro
Luigi Richardelli
Maria Perdonelli
Moacyr
12 Dezembro
Antonio de Lacerda Leal
Antonia Amalia de Aguiar
João Batista
13 Dezembro
Artur Guimarães Leão
Iramira Furtado
Iracema
15 Dezembro
João Gonçalves Pereira Filho
Ernestina Gonçalves Nogueira
Irene
15 Dezembro
João Gonçalves Pereira Filho
Ernestina Gonçalves Nogueira
Joaquim Custódio Guimarães
21 Dezembro
Martinho de Campos Guimarães
Ercilia Furtado
Maria Madalena
21 Dezembro
José Antonio dos Santos
Maria Pereira de Alencar
Tomé Raipp
21 Dezembro
João Simão Raipp
Francisca Maria de Aguiar
Ricart
24 Dezembro
Saturnino Ribeiro de Melo
Carolina Guersoni
Angela
26 Dezembro
Alipio Ribeiro Macieira Filho
Adalgisa Minelli
José Guersoni Lammoglia
30 Dezembro
Francisco Alves Lammoglia
Luiza Guersoni

Italianos no distrito de Providência – final

O leitor interessado nos italianos do distrito de Providência listou alguns nomes que não constam de nossos arquivos. Talvez por serem variações de grafia. Como ele não incluiu o e-mail no comentário, concluímos nossa resposta aqui pelo blog, citando alguns personagens que podem corresponder às últimas famílias consultadas por ele.
  • Brandi – Assim como Brand e Brando, é uma variação da palavra germância branda que significa espada ou gládio. O sobrenome tem o sentido de guerreiro. Em Leopoldina encontramos, além dos descendentes de Braz Brando que viveu na Colônia Agrícola da Constança, referência a Vincenzo Brandi que foi sepultado na sede municipal em 1917.
  • Breschiliaro, Antonieta  – nasceu em 1897 em Providência, filha de Pietro Breschiliano e Luigia Zanetti.
  • Bruni, Albina  – era casada com Giacomo Minelli, família contratada para Providência mas que se espalhou pelo município, com forte incidência em Ribeiro Junqueira. Alvina faleceu na sede municipal em 1916.
  • Bugghaletti, Rigo  – nasceu em 1897 em Providência.
  • Guidotti – Pietro Guidotti com a esposa Vida Matuzzi e três filhos foram para fazenda de São Martinho em 1897. Nomes dos filhos: Alfredo, Silvio, Emilio. Em Providência nasceram Vicente (1899) e Silvio (1902).
  • Lovisetti, Maria Marcolina  casou-se em 1901, no distrito de Ribeiro Junqueira, com Domenico Claudio Finotti. Migraram para Carangola, MG.
  • Scarelli, Adolfo – nasceu em 1898 no distrito de Providência, filho de Francesco Scarelli e Teresa Federici.
  • Vavassovi – Alessando Vavassovi e a esposa Angela Marchetti viviam no distrito de Providência em 1897, quando nasceu um filho do casal falecido no mesmo ano. Este filho aparece em fontes documentais como Giuseppe Vavassovi e também como Joseph Brasile Vavassovi.
  • Zini – Antonio Zini passou ao Brasil em 1877, instalando-se na Colônia Grão Pará, atual município de Orleans, Santa Catarina. Em 1895 já estava em Leopoldina, tendo falecido no distrito de Piacatuba em 1902. Seus filhos constituiram família na cidade: Luigi casou-se com Rosa Farinazzo e Giuseppe casou-se com Orsola Cagliari. Alguns descendentes migraram para a região de Governador Valadares.

Propriedades pequenas e produtivas

Segundo a Inchiesta Agraria de Jacini, na segunda metade do século XIX as pequenas propriedades eram mais comuns do que o latifúndio na Emilia-Romagna. Em algumas partes da região encontravam-se unidades de 10 a 30 hectares mas o tamanho mais frequente ficava em torno de 9 hectares. Num extrato sobre a Inchiesta Agraria de 1878, Giulio Gatti informa que a propaganda da emigração comparava a diminuta extensão das propriedades rurais na Italia com a possibilidade de adquirir grandes fazendas no Brasil.

Tomando por base o tamanho dos lotes da Colônia Agrícola da Constança, com 25 hectares em média, verifica-se que a realidade encontrada estava longe de confirmar a propaganda que atraíra aqueles imigrantes. Sabemos que antes do estabelecimento daquele núcleo colonial os imigrantes raramente tiveram oportunidade de adquirir uma boa propriedade, que permitisse o rendimento necessário para o sustento de família numerosa. Foi o caso, por exemplo, de Giovanni Casadio. Com a esposa Luigia Martinelli e pelo menos dois filhos, em 1897 Giuseppe foi contratado para uma fazenda no então distrito de Leopoldina chamado Rio Pardo, hoje o município de Argirita. Em 1910, o filho Giovanni Casadio adquiriu o lote número 35 da Constança, no qual também viveram seus pais. Assim como tantos outros, os Casadio foram bastante operosos e conseguiram uma boa condição de vida.

Outros imigrantes da mesma região, como os Minelli de Bologna, radicaram-se no distrito de Ribeiro Junqueira. Já os Conti, de Marzabotto, tornaram-se proprietários na localidade de São Lourenço, também no município de Leopoldina. Ao que se sabe, estes e os demais imigrantes estão entre os numerosos colonos que transformaram pequenos lotes em exemplo de produtividade.

Emigração Temporária

Leoni Carpi, em Dell’Emigrazione Italiani all’Estero, publicado em 1871, apresenta dados semelhantes aos encontrados na obra de Franchetti e Sonnino, no que diz respeito à cultura de emigrar como um fenômeno que fazia parte da vida do italiano desde tempos remotos. Considerando que Carpi incluiu informações sobre as províncias do norte, enquanto Franchetti e Sonnino trataram da Sicilia, a similitude de informações respalda conclusões extraídas das entrevistas com descendentes de imigrantes italianos que viveram em Leopoldina. Trata-se de considerar que os nossos colonos viviam numa sociedade em que as fronteiras nacionais não impediam deslocamentos frequentes para trabalhar na colheita ou em obras públicas dos países vizinhos.

A emigração temporária era assimilada pelos trabalhadores como um fato natural, permitindo que eles formassem uma boa poupança que garantia o sustento de suas famílias, com as quais geralmente conviviam quase que somente durante o inverno. Entre outros números, os autores citados mencionam os cerca de 10.000 indivíduos da província de Belluno e os 2.000 de Bergamo que passaram a temporada de 1872 longe de suas famílias. Quase todos os autores que consultamos utilizam as antigas obras sobre o assunto para afirmar que a emigração temporária sempre foi considerada uma fonte de riqueza para o Estado italiano.

Sendo assim, não nos surpreende que descendentes das famílias Anzolin, Casadio, Conti, Gottardo, Guersoni, Marchesini, Minelli, Rancan, Tazzari e Zamagna tenham mencionado as temporadas de seus antepassados em outros países. Em algumas delas, parece que o fato dos arregimentadores exigirem que trouxessem a família para o Brasil não foi percebido como contratação do “pacote completo”, ou seja, que filhos e esposa aumentavam a força de trabalho disponível e seriam submetidos ao mesmo regime dos chefes de família. Por outro lado, a Itália negociou a vinda de seus habitantes no mesmo modelo praticado já de longa data, qual seja a de formação de colônias italianas no exterior.