60 – Dos Açores para Leopoldina – II

O Trem de História segue viagem e encontra Luiz Botelho Falcão II, nascido(1) em 10.05.1816, filho de Hierônimo Botelho Falcão e Ana de Jesus, que pode ser o pai do Luiz Botelho Falcão III que viveu em Leopoldina e foi casado com Ana Cecília.

Antes, porém, convém que se faça o registro de que há grande dificuldade para se abordar a família de Luiz Botelho Falcão III, dentre outros motivos, por não se ter indicadores seguros sobre a data provável em que ele teria passado ao Brasil.

Sabe-se, apenas, que já vivia em Leopoldina no ano de 1855, porque seu nome aparece ao lado de Ana Cecília, no batismo de uma filha de Sabino Gomes da Silva; que no Registro de Terras de 1856, embora não conste da lista de proprietários, ele é mencionado como vizinho do Patrimônio de São Sebastião do Feijão Cru e que, em 1859, foi citado(2) por ação contestatória que lhe moveu Lauriano João Celestino Ferreira em virtude de problemas na venda de uma chácara.

Quanto à família também existem lacunas. Não foi encontrado seu casamento e a origem de sua esposa não está clara, como se verá adiante. Sobre os filhos do casal, pode-se supor a paternidade de um deles através do alistamento eleitoral e admitir a hipótese de que tenha sido pai de Luiz Botelho Falcão IV, apesar da fragilidade das fontes literárias onde este último é citado.

Diante de tão poucas fontes confiáveis, para contornar os riscos de se publicar inverdades, neste trabalho foram descartadas as informações orais sem respaldo de outra fonte e feita uma criteriosa análise dos textos impressos a que se teve acesso. A partir daí se chegou a Luiz II, que pode ser o mesmo Luiz III, que faleceu(3) em Leopoldina, em 1878.

Parte dessa dificuldade parece poder ser explicada pelos fatos seguintes. O desaparecimento de notícias sobre Eugênio Botelho Falcão a partir de 1901, bem como o falecimento de Luiz Botelho Falcão IV em 1893, criaram o ambiente propício para se tornarem perenes as referências à família encontradas no obituário deste último. Como ele faleceu com pouco mais de 40 anos, com diversos filhos pequenos e o mais velho com cerca de 15 anos de idade, é lícito supor que não havia quem prestasse informações mais consistentes ao médico Ernesto de La Cerda, autor do obituário.

O fato é que as origens de Luiz Botelho Falcão III e de sua esposa foram inúmeras vezes informadas sem base conhecida. Ele foi tido como nascido em Portugal e ela como pertencente à família Ferreira Brito. E em pelo menos uma publicação, que copiou o texto de La Cerda, houve inversão de origem e o marido ficou sendo membro da família Ferreira Brito. Informações estas que não se sustentam quando comparadas com documentos.

Segundo o registro de sepultamento, Ana Cecília Botelho era filha de João Ides de Nazareth que seria natural de Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores e morava na região de Bom Jardim de Minas antes de se transferir para o Feijão Cru. Em Bom Jardim, João Ides se casara com Maria Justina Ferreira, em 1810, filha de Justino José Corrêa de Lacerda e de Ana Justina Ferreira. Esta Maria Justina era neta paterna de Antonio Carlos Corrêa de Lacerda e Ana de Souza da Guarda, e neta materna de Manoel Ferreira Brito e Maria Tereza de Jesus. Vale dizer que a primeira esposa de João Ides de Nazareth era sobrinha-neta de Joaquim Ferreira Brito, genearca de uma das famílias povoadoras de Leopoldina. Portanto, da família Ferreira Brito. Ocorre que João Ides ficou viúvo e se casou pela segunda vez com Maria Emerenciana de Santana, com quem teve, entre outros, a filha Ana Cecília que parece não ter parentesco algum com os Ferreira Brito da primeira esposa do seu pai.

Através do estudo de Carlos Machado(4), especialista nas famílias miquelenses, sabe-se que o filho de Hierônimo Botelho Falcão e Ana de Jesus, de nome Luiz, passou ao Brasil por volta de 1850. Provavelmente junto com um Antonio Botelho Falcão, provavelmente o jovem nascido no dia 20.07.1834(5). Este Antonio era filho de Antonio Botelho Falcão III e de Ana Thomazia de Arruda, neto paterno de Francisco Botelho Falcão II e de Antonia de Jesus Maria.

E para fechar a carga do vagão de hoje resta esclarecer que Luiz II e Antonio nasceram na mesma Freguesia de Santa Cruz, Concelho Lagoa, Ilha de São Miguel, Açores, Portugal. E que Hierônimo, pai de Luiz II, era filho de Manoel Botelho Falcão III e irmão de Francisco Botelho Falcão II, avô paterno do Antonio acima citado.

Confuso?  Fique tranquilo. São os normais “cruzamentos” das linhas genealógicas. Confusos como um pátio de manobras de ferrovia, onde as linhas se cruzam, mas o Trem, inclusive o de História, sempre encontra o caminho a seguir. Na próxima viagem, tem mais.


Fontes consultadas:

1 – Biblioteca Pública e Arquivo Regional dos Açores, N.9 L.11 batismos Santa Cruz 1815-1820 fls 14v img 15.

2 – Correio Oficial de Minas (Ouro Preto) 17.11.1859 ed 299 p.4.

3 – A Actualidade (Ouro Preto) 26.12.1878 ed 147 p.3.

4 – CANTO, Ernesto do e MACHADO, Carlos, Livro de Genealogias, ficha 231.

5 – Biblioteca Pública e Arquivo Regional dos Açores, lv 14 bat 1832-1838 Santa Cruz, Lagoa, fls 116v img 117.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado no jornal Leopoldinense de 07 de outubro de 2016

59 – Dos Açores para Leopoldina – I

Na coluna anterior, depois de citados três filhos de Hierônimo Botelho Falcão e Ana de Jesus, ficou prometido continuar o assunto e é o que fazemos hoje.

O quarto filho do casal, o também açoriano Francisco Botelho Falcão Sobrinho casou-se a primeira vez em 1846 com Ana Emília do Amor Divino, filha de Francisco Manoel Vellós e de Francisca Victorina. Ficando viúvo, casou-se a segunda vez com Rosa Emilia, filha de José da Ponte e Umbelina de Jesus. Do casamento com Ana Emília são os filhos: Antonio (1847); Francisco (1849); Manoel Botelho Falcão IV, gêmeo do anterior; Vitorino Botelho Falcão que se casou em Leopoldina em 1878, com Maria de Nazareth Oliveira Ramos, filha de Francisco de Oliveira Ramos e Francisca das Chagas de Nazareth; Manoel Botelho Falcão V que se casou em Leopoldina com Filomena Francisca de Oliveira Ramos, irmã de sua cunhada Maria de Nazareth;  Jerônimo Botelho Falcão que se casou em Leopoldina com Clotilde Eucheria de Jesus, filha de Honório Fidelles Ferreira e Joaquina Eucheria de Jesus em 1889 em Leopoldina; José Botelho Falcão Sobrinho que se casou em Recreio com Maria da Conceição Ferreira, filha de Pacifico José de Souza e Mariana Cecilia Ferreira em 1885; e, Emília Amália Botelho Falcão que se casou em Leopoldina com João Canuto de Rezende, filho de Simão José de Rezende e Maria Feliz do Bonsucesso.

Seguindo um pouco mais com os descendentes de Francisco Botelho Falcão Sobrinho, o Trem de História chega aos seus netos, como se verá a seguir.

Do casal Vitorino Botelho Falcão e Maria de Nazareth são, pelo menos, os filhos: Vitorino Botelho Falcão Filho, nascido em 1881 e casado em 1906 com Amelia de Oliveira Ramos, filha de Antonio Francisco de Oliveira Ramos e Albina Luiza de Oliveira; Francisca de Oliveira Ramos (1883) e falecida em 1916; Pedro (1884); Antonio (1891); e, Maria, (setembro de 1907) e falecida no dia 23.12.1907.

 De Manoel Botelho Falcão V casado com Filomena Francisca são os filhos: Manoel (1891); Manoel Botelho Falcão VI (1892) e que se casou com sua prima Rosa da Conceição Botelho em 1919. Ela era filha de seu tio paterno José Botelho Falcão Sobrinho; Maria (1894); Antonio (1896); José (1901) e falecido em 1903; Américo (1902); Rita (1904); João (1907); e, Filomena (1909).

Do casal Jerônimo Botelho Falcão e Clotilde Eucheria de Jesus são os filhos: Carmen (1892); Narcisa (1893); Sebastião (1894); Colombo (1896); Homero (1896); Felisberto nascido em outubro e falecido dezembro de 1901; Cecília (1902) e falecida em 1903; Marieta (1904); Clotilde Botelho Falcão (1905) e casada em 1926 com Joaquim Cardoso de Moura, filho de Jeronimo Cardoso de Moura e Rosa Felicia; Emília (1911); e, Aristotelina (1914).

De José Botelho Falcão Sobrinho e Maria da Conceição Ferreira são os filhos:

– Francisco José Botelho, que se casou em 1914 com Ana Maria de Oliveira Ramos, filha de Antonio Francisco de Oliveira Ramos e Albina Luiza de Oliveira, com quem teve os filhos José (1915); Albina (1917); Antonio (1918); Maria (1920); e, Milsse (1925);

– Rosa da Conceição nascida em 1899 em Recreio, casou-se com seu primo Manoel Botelho Falcão V citado anteriormente;

– Cecília da Conceição nasceu por volta de 1907 e se casou em 1925 com Joaquim da Silva Coutinho, filho de Antonio Mauricio da Silva e Emilia dos Reis Coutinho; e,

– Isabel nascida em 1909, em Recreio.

De Emília Amália Botelho Falcão e João Canuto de Rezende são os filhos: Maria (1883); Filomena (1885) e falecida em 1886; e, Simão (1886).

Na próxima edição o Trem de História vai tratar do outro filho de Hierônimo Botelho Falcão e Ana de Jesus, conforme já anunciado. Até lá!


 Fontes Utilizadas:

Biblioteca Pública e Arquivo Regional dos Açores Santa Cruz, Lagoa lv 5 cas 1838-1848 fls 90 / lv 6/2 cas 1848-1858 fls 42v / lv bat 18, 1848-1851 fls 90v e fls 231v.

Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 1 cas fls 6 termo 17, fls 68 termo 191e fls 394 termo ordem 1476 /  lv 2 cas fls 26 termo 120 / lv 3 cas fls 392 termo 2 /  lv 5 cas fls 326 termo 68 / lv 6 cas termo 23 fls 30 e termo 18a fls 15.

Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 02 bat fls 46 termo 430, fls 83v termo 760, fls 126 termo 1195 e fls 172v termo 1622; lv 04 bat fls 32v termo 530, fls 58v termo 732, fls 60v termo 753, fls 89v termo 1040, fls 120v termo ordem 1169, fls 123 termo 9 e fls 172 termo 108; lv 05 bat fls 3 termo 424;  lv 06 bat fls 99 termo 30 e fls 50v termo 130; lv 08 bat fls 7 termo 61; lv 09 bat fls 51v termo 432,  fls 66v termo 95e fls 92v termo 349; lv 10 bat fls 44 termo 128 e fls 58 termo 268; lv 11 bat fls 15 termo 405 e fls 69v termo 162; lv 13 bat fls 41v termo 213; lv 12 bat fls 55v termo 292; lv 15 bat fls 58v termo 39 e fls 90 termo 351; lv 16 bat fls 70 termo 69; lv 17 bat fls 73v termo 95; lv 18 bat fls 71v termo 503 e lv 21 bat fls 95 termo 512.

Cemitério Público de Leopoldina, MG (1880-1887) (Livro 1880-1887), folhas 26 sepultura 809.

Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, lv 1 fls 40 nr 11695; fls 34 nr 11431 e fls 42 nr 11770; lv 2 fls 20 nr 231e fls 72 nr 98.

Igreja Menino Deus, Recreio, MG, lv 02 bat fls 93v termo 870 e fls 134v termo 1284; lv 10 bat fls 2 e lv 15 bat fls 30v.

Igreja N. S. Conceição da Boa Vista, Recreio, MG, lv 1 cas fls 229 termo 675.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado no jornal Leopoldinense de 29 de setembro de 2016

58 – Os Botelho Falcão mais antigos

Conforme anunciamos no Jornal anterior, hoje a viagem segue com os primeiros personagens do sobrenome Botelho Falcão.

Começamos com Cypriano Botelho Falcão, filho de Maria de Frias e Gaspar Botelho Falcão que se casou em 1712 com Barbara do Canto Amaral, filha de Manoel do Canto Fazenda e Maria da Costa.

Por parte de pai Cypriano era neto de Manoel Botelho Falcão II e Ana de Rezende. O avô era filho de Francisco Cabral Travassos e Clara da Fonseca II. Esta Clara da Fonseca II era filha de Manoel Botelho Falcão I e de Maria Corrêa, sendo esta filha de Sebastião Jorge Formigo e Joana Tavares.

O matrimônio de Manoel I e Maria foi celebrado em 1575 e Frutuoso o coloca como morador da Vila da Ribeira Grande por esta época. Interessante registrar que este personagem aparece pela primeira vez nas fichas genealógicas de Carlos Machado com o sobrenome Botelho Falcão, mas a mesma fonte a ele se refere também com o nome de Manoel Botelho da Fonseca. De todo modo, os dois nomes se referem ao mesmo filho de Manoel Lopes Rebelo e Clara da Fonseca I, neto paterno de Antonio Lopes Rebelo e Maria Falcoa, e neto materno de Jorge da Mota e Bartoleza da Costa.

Vale registrar que não raras vezes houve dificuldade para entender se o sobrenome era Rebelo ou Botelho, nos assentos paroquiais dos setecentos. Mas confrontando as obras de Frutuoso e de Carlos Machado vimos que o neto de Antonio Lopes Rebelo e Maria Falcoa passou a ser chamado de Manoel Botelho na página 26 do volume IV de Saudade da Terra e de Manoel Botelho Falcão na ficha número 113 de Carlos Machado. Já na ficha 119, Machado indica o nome Manoel Botelho da Fonseca para o mesmo personagem, numa clara referência ao sobrenome materno que, entretanto, não aparece nos assentos paroquiais relativos aos filhos do casal.

Dito isto, o foco da pesquisa fixa-se em dois filhos de Cypriano e Barbara: Manoel Botelho Falcão III e Antonio.

Manoel Botelho Falcão III casou-se em 1742 com Antonia Muniz de Puga, filha de Manoel de Medeiros e Thereza Muniz de Puga. O casal teve, pelo menos, seis filhos: Antonia (1743), Antonio (1745), Hierônimo (1749) e Francisco (1752), Maria e Joana Batista.

O quarto destes filhos, Francisco Botelho Falcão II, nasceu em 1752 e se casou em 1794, com Antonia de Jesus Maria, filha de João José de Faria e de Ana Eufrasia de Melo.

Francisco II e Antonia de Jesus foram pais de Antonio Botelho Falcão III que se casou em 1831, com Ana Tomazia de Arruda, filha de Antonio Pedro de Arruda e de Umbelina Rosa. Deles é o filho Antonio Botelho Falcão V, nascido em 1834 e que, segundo a já mencionada ficha 231 de Carlos Machado, transferiu-se para o Brasil.

Começa, então, com este casal o vínculo entre os Botelho Falcão açorianos e os usuários do mesmo sobrenome que viveram em Leopoldina. E as fontes consultadas indicam que Antonio Botelho Falcão V viajou para o Brasil juntamente com um primo, filho do seu tio Hierônimo.

Hierônimo Botelho Falcão, filho de Manoel Botelho Falcão III e de Antonia Muniz de Puga, nasceu em 1749 se casou com Ana de Jesus, com quem teve os filhos Antonio Botelho Falcão IV, Luiz Botelho Falcão II, José Botelho Falcão II e Francisco Botelho Falcão Sobrinho.

O mais velho, Antonio Botelho Falcão IV, nascido em 1812, casou-se em 1832 com Ana Joaquina, filha de Antonio Caetano e Maria Tomazia. O casamento foi realizado na Freguesia Água do Pau, Concelho Lagoa, e provavelmente o casal ali viveu, não tendo sido encontradas outras notícias.

Do segundo filho, Luiz Botelho Falcão II, nascido em 1816, daremos notícia mais adiante.

O terceiro filho, José Botelho Falcão II, casou-se com Luzia dos Santos, filha de Joaquim de Medeiros e Maria Caetana, com quem teve o filho José Botelho Falcão III nascido em 1861 na mesma Freguesia de Santa Cruz onde encontramos os Botelho Falcão desde o século anterior.

O Trem de História faz uma parada para descanso, porque a viagem pelos Botelho Falcão é longa. Mas na próxima edição ela continuará. Aguardem.


Fontes Consultadas:

Biblioteca Pública e Arquivo Regional dos Açores, livros de Santa Cruz, Lagoa:  Idem, lv.6 bat 1742-1756 fls 104 e 136v; lv.10 bat 1809-1815 fls 88; lv 14 bat 1832-1838, fls 116v; lv.23 bat 1861 fls 27; lv 3 cas, 1731-1780 fls 55; lv cas n3L4 1781-1820 fls 61; lv 4 cas 1820-1838, fls 74v e livro 6 casamentos de Água do Pau 1809-1832 fls 186v.

CANTO, Ernesto do e MACHADO, Carlos, Livro de Genealogias, ficha 113 img 119, acesso 13 jan 2016

FRUTUOSO, Gaspar, Saudades da Terra: livro IV (Ponta Delgada, Açores, Instituto Cultural Ponta Delgada, 1998), pag 17.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado no jornal Leopoldinense de 19 de setembro de 2016

57 – Botelho Falcão: a origem do sobrenome no Arquipélago dos Açores

Hoje o Trem de História inicia uma viagem pela família Botelho Falcão. E o começo dela remonta a década de 1860 quando surgem, nos livros paroquiais de Leopoldina e seus distritos, as primeiras referências às ilhas atlânticas do território português que constituem a Região Autônoma dos Açores.

Importante registrar que para estudar as famílias mencionadas como provenientes do Arquipélago dos Açores, inúmeras vezes foi consultada a monumental obra de Gaspar Frutuoso denominada Saudades da Terra, cujo volume IV, que trata especificamente da Ilha de São Miguel, se fez guia do estudo da família aqui tratada.

Registre-se, ainda, como curiosidade, que o conjunto de ilhas conhecido como Arquipélago dos Açores recebeu este nome porque, segundo a lenda, os primeiros portugueses que o avistaram tiveram a impressão de terem visto o “açor” uma ave de rapina diurna, caçadora de animais e pássaros. Mais tarde os navegadores descobriram tratar-se de uma águia popularmente conhecida como “milhafre queimado”. Mas o arquipélago já estava batizado e o açor passou a fazer parte não só do nome como da bandeira dos Açores.

O Arquipélago é formado por Santa Maria, São Miguel, Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico, Faial, Flores e Corvo, nove ilhas atlânticas encontradas pelos portugueses no século XV. Dentre estas ilhas destacamos para o estudo atual a de São Miguel, que se divide em seis concelhos: Lagoa, Nordeste, Ponta Delgada, Ribeira Grande, Vila Franca do Campo e Povoação.

Frutuoso destaca, de fontes por ele consultadas, que no século XVI,

“quase doze anos inteiros depois de ser descoberta a ilha de Santa Maria, aos oito dias do mês de Maio da era de mil e quatrocentos e quarenta e quatro anos, por dia do aparecimento do arcanjo S. Miguel, príncipe da igreja, foi vista e descoberta por eles esta ilha; que, por ser achada e aparecer em tal dia e festa do aparecimento do arcanjo, lhe foi posto este nome à ilha de S. Miguel.”

Quanto ao povoamento do arquipélago, a crítica histórica atual apresenta argumentos contrários à data do início recolhida por Frutuoso com a gente de seu tempo. E estes críticos utilizam a informação do próprio autor, que opina ter sido somente na década de 1470 que ali se estabeleceram os povoadores, cujos nomes pudemos conhecer a partir de sua obra.

Ressalte-se que a obra Saudades da Terra permaneceu manuscrita até o século XX e que foi através dela que conseguimos localizar fontes que permitiram esboçar a genealogia de alguns imigrantes açorianos que se tornaram moradores da Vila Leopoldina.

Importante ressaltar, também, que a referência à ilha de São Miguel nos assentos paroquiais leopoldinenses conduziu as buscas para o Livro das Genealogias, um conjunto de 618 fichas genealógicas compulsadas por Carlos Machado e organizadas por Ernesto do Canto, atualmente disponíveis no site da Biblioteca Pública e Arquivo Regional dos Açores.

No índice dessa obra localizamos os Botelho Falcão, em cuja ficha é informado que no século XVIII residiam na Freguesia de Santa Cruz, no concelho da Lagoa. A partir daí, consultamos os livros paroquiais também disponíveis no mesmo site e seguimos para outras freguesias e concelhos, conforme indicavam os registros encontrados. E descobrimos que na Ilha de São Miguel, segundo o trabalho de Carlos Machado, o sobrenome Falcão aparece pela primeira vez em Manoel Botelho Falcão I, que se casou com Maria Corrêa.

Mas antes de abordar a genealogia propriamente dita, é bom esclarecer que o sobrenome Botelho provém de antiga medida utilizada para grãos ou algas marinhas. E que, segundo estudiosos vinculados ao Instituto Português de Heráldica, inicialmente o sobrenome era indicativo da profissão de vendedor de grãos ou algas. Já o sobrenome Falcão tem origem numa ave de rapina da mesma classe do ‘açor’ e foi inicialmente utilizado para denominar o praticante da falcoaria (arte de adestrar falcões para a caça ou, lugar onde se criam falcões, segundo o Dicionário Aurélio). Entretanto, alguns heraldistas argumentam que é sobrenome locativo por ter sido inicialmente utilizado por residentes em lugares onde se praticava a falcoaria em Portugal.

Esclarecendo que em virtude do grande número de homônimos tornou-se imprescindível acrescentar algarismos romanos em alguns nomes para indicar ordem de nascimento mais antiga, como fizemos com Manoel Botelho Falcão I, informamos que a viagem seguirá na próxima edição deste Jornal, com os primeiros personagens do sobrenome e fechamos a carga do vagão do Trem de História de hoje. Até lá.


Fonte consultada:

FRUTUOSO, Gaspar, Saudades da Terra: livro IV (Ponta Delgada, Açores, Instituto Cultural Ponta Delgada, 1998), pag 17.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado no jornal Leopoldinense de 9 de setembro de 2016

Nascidos em junho de 1915

8 jun 1915

  • José filho de Francisco José Botelho Falcão e de Ana Maria de Oliveira Ramos
  • Ubirajara filho de Frederico Cintra Rodrigues da Costa e de Maria Eliza Gomes
  • América Machado de Andrade filha de Américo José Machado e de Altina de Andrade Neto

10 jun 1915

  • José filho de Antonio Pereira da Silva e de Matilde Porcina do Patrocínio

13 jun 1915

  • Filomena filha de Américo de Castro Lacerda e de Nair da Gama

15 jun 1915

  • Anibal filho de Olímpio Augusto de Lacerda e de Rita Ferreira Brito

16 jun 1915

  • Preciliana filha de José Augusto Tavares Pinheiro e de Rita Batista Monteiro

24 jun 1915

  • Antonio Bartoli filho de Alfredo Bartoli e de Virginia Rosa Carraro

25 jun 1915

  • Francisco filho de Izolino de Macedo Freire e de Maria Cipriana de Carvalho
  • Amelia Maria Saggioro filha de Antonio Saggioro e de Octavia Lorenzetto

 

9 – O Leopoldinense Pioneiro

No vagão anterior falou-se dos diversos jornais que utilizaram o nome “Leopoldinense”. Neste, o trem de história reitera alguns pontos apurados sobre o jornal O Leopoldlinense lançado pelo Alferes Francisco da Costa Sobrinho em 01 de janeiro de 1879, o primeiro periódico que circulou na cidade e, por via de consequência, o primeiro a usar este nome.

De início, para colocar o trem na linha e desfazer o equívoco registrado por Luiz Eugênio Botelho no seu livro “Leopoldina de Outrora”, é necessário que se esclareça que Luiz Botelho Falcão não lançou O Leopoldinense em 1879 conforme afirma o autor. As edições do próprio jornal, consultadas para este trabalho, dão conta de que Botelho Falcão só assumiu o periódico alguns anos depois da sua fundação. E esteve à frente dele por cerca de dois anos, ao final dos quais, em 1894, o vendeu a Randolpho Chagas e Valério de Rezende.

Feito este esclarecimento, que se coloque lenha na caldeira para que o trem prossiga com a história. E diga-se que O Leopoldinense aqui estudado trazia nas suas primeiras edições o subtítulo: “Consagrado aos Interesses dos municípios de Leopoldina e Cataguases”. A partir do seu segundo ano de existência este subtítulo foi alterado para informar que o periódico passou a ser “Dedicado à Causa Pública”, embora continuasse com os mesmos posicionamentos e com a mesma equipe editorial.

Mais adiante, em maio de 1882, de fato ele sofreu uma significativa mudança estrutural quando foi desfeita a sociedade “Costa Sobrinho & C” e todo o ativo e passivo da tipografia, bem como a casa de negócio situada à Rua do Rosário nº 37 (atual Rua Tiradentes), passou a ficar a cargo do sócio Francisco da Costa Sobrinho, conforme nota publicada na primeira página da edição de 21.05.1882. Mas esta mudança aparentemente não alterou em nada a linha editorial, a estrutura e o público alvo do jornal, conforme se deduz das edições subsequentes.

Ressalte-se que O Leopoldinense nasceu e circulou numa época em que a política marcava presença no cenário municipal. Num período conturbado, com manifestações sobre a libertação dos escravos, a monarquia e a república. Anos de acirradas disputas no campo político e com forte apelo literário bastante influenciado pelas publicações francesas. Sem contar que sofria a influência de jornais publicados na Corte, como o “Diário do Brasil”, conforme fica patenteado na sua edição de 25.05.1882 quando o editor deixa claro que seu periódico acompanha o referido diário. E é bom que se diga que o “Diário do Brasil” é citado por Nelson Werneck Sodré, em “A História da Imprensa no Brasil” como sendo um dos órgãos da pequena imprensa que se isolou no apoio ao manifesto de Carl von Koseritz, em 1883, de incentivo à imigração germânica. Fato que leva a crer, com boa margem de certeza, que não teria sido por mero acaso que O Leopoldinense tenha se colocado em diversas oportunidades a favor da substituição da mão de obra escrava por colonos estrangeiros.

Alguns fatos podem dar uma ideia de quão árdua deve ter sido a sua luta. Um jornal do interior a defender a libertação dos escravos numa cidade que presta homenagem ao Barão de Cotegipe, dando o nome dele à rua principal. Um barão que, ao cumprimentar a princesa Isabel pela assinatura da Lei Áurea, teria afirmado: “Vossa Alteza libertou uma raça, mas perdeu o trono”. E no ano seguinte implantou-se a república. Uma cidade que homenageia Cotegipe, mas esquece a princesa Isabel e lembra Pedro II numa pequena Travessa que mais parece um apêndice da rua principal.

Mas vale lembrar que O Leopoldinense, além dos assuntos locais, publicava também matérias relativas a diversos municípios que não faziam parte da área de influência de Leopoldina. O que indica sua boa receptividade numa região mais vasta, embora não tenha sido possível identificar com precisão todo o universo dos seus assinantes. Sabe-se, apenas, que além dos moradores de localidades próximas ele possuía leitores em diferentes pontos das províncias de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, além dos residentes na Corte.

E para fechar o vagão de hoje resta dizer que O Lepoldinense circulou até os primeiros anos do século XX, embora no estudo atual não se tenha chegado às últimas edições. Dizer, também, que a viagem continuará e na próxima estação recolherá o vagão com a história de outro periódico da cidade. Até lá.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 1 de outubro de 2014

Parte IX de A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899

Em outros setembros, aconteceu em Recreio

1 set 1888 – casamento de José Celestino Ferreira Neto, filho de Francisco Ferreira Brito e Messias Rodrigues Gomes, com Virgínia Ferreira Neto, filha de Antonio Ferreira Neto e Maria Teodora Neto

2 set 1878 – nasce Francisco Rodrigues Gomes, filho de João Rodrigues Gomes e Messias Ferreira Damasceno

4 set 1897 – casamento de Frankelino Baptista de Almeida, filho de João Batista de Almeida e Augusta Maria da Conceição, com Alcina Ferreira de Almeida, filha de Antonio Bernardo de Almeida e Maria Venância de Almeida

5 set 1892 – casamento de Emílio Augusto Pereira Pinto, filho de Francisco de Paula Pereira Pinto e Carolina Rosa de São José, com Hermínia Cândida Ramos, filha de Antonio José Alves Ramos e Amélia Carolina Pereira Pinto

5 set 1908 – casamento de Francisco D’ Almeida, filho de Lino José de Almeida e Antonia Carolina Pereira Pinto, com Francina Figueiredo Damasceno, filha de Antonio Sabino Damasceno Ferreira e Purcina Padilha Figueiredo

6 set 1853 – nasce Rita Firmina Machado de Almeida, filha de Joaquim Antonio Machado e Rita Balbina de Almeida

11 set 1880 – casamento de Sebastião Batista de Paula, filho de Francisco Batista de Paula e Messias Maria de Jesus, com Maria Amélia Simplício da Cunha, filha de Simplicio Rodrigues da Cunha e Floriana Carolina de São José

11 set 1903 – nasce Antonio de Almeida Ramos, filho de Honório Augusto Almeida Ramos e Ana Galvão

13 set 1927 – nasce Jorge Andrade Neto, filho de Manoel Andrade Neto e Laudelina Pereira

14 set 1861 – nasce Balbina Martinha de Jesus, filha de José Maria Neto e Ana Martinha de Jesus

17 set 1881 – casamento de Moisés Antonio de Menezes, filho de Antonio José de Menezes e Joaquina Margarida, com Rita Firmina de Gouvêa, filha de Antonio Justiniano de Gouvêa e Rita Inácia de Moraes

20 set 1902 – casamento de Francisco D’ Almeida, filho de Lino José de Almeida e Antonia Carolina Pereira Pinto, com Luiza Eugênia Botelho, filha de Eugênio Botelho Falcão e Maria Amélia Botelho

20 set 1904 – nasce Paulino de Andrade Neto, filho de Paulino de Andrade Neto e Júlia Tereza Ferreira Neto

21 set 1857 – nasce Mariana Antonia de Almeida, filha de Severino José Machado e Maria Antonia de Jesus

26 set 1879 – nasce João Clemente de Sá (neto), filho de João Clemente de Sá Filho e Mariana Vasquez de Miranda

27 set 1880 – nasce João, filho de José Joaquim de Bittencourt e Castro e Tereza Carolina Duarte e Castro

Jacira Botelho Falcão e José Zamagna: centenário de nascimento

Nasceram em Leopoldina no dia 13 de março de 1911:

  • Jacira, filha de Luiz Botelho Falcão e Ernestina Antunes Barbosa

  • José, filho de Claudio Zamagna e Sofia Gigli