57 – Botelho Falcão: a origem do sobrenome no Arquipélago dos Açores

Hoje o Trem de História inicia uma viagem pela família Botelho Falcão. E o começo dela remonta a década de 1860 quando surgem, nos livros paroquiais de Leopoldina e seus distritos, as primeiras referências às ilhas atlânticas do território português que constituem a Região Autônoma dos Açores.

Importante registrar que para estudar as famílias mencionadas como provenientes do Arquipélago dos Açores, inúmeras vezes foi consultada a monumental obra de Gaspar Frutuoso denominada Saudades da Terra, cujo volume IV, que trata especificamente da Ilha de São Miguel, se fez guia do estudo da família aqui tratada.

Registre-se, ainda, como curiosidade, que o conjunto de ilhas conhecido como Arquipélago dos Açores recebeu este nome porque, segundo a lenda, os primeiros portugueses que o avistaram tiveram a impressão de terem visto o “açor” uma ave de rapina diurna, caçadora de animais e pássaros. Mais tarde os navegadores descobriram tratar-se de uma águia popularmente conhecida como “milhafre queimado”. Mas o arquipélago já estava batizado e o açor passou a fazer parte não só do nome como da bandeira dos Açores.

O Arquipélago é formado por Santa Maria, São Miguel, Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico, Faial, Flores e Corvo, nove ilhas atlânticas encontradas pelos portugueses no século XV. Dentre estas ilhas destacamos para o estudo atual a de São Miguel, que se divide em seis concelhos: Lagoa, Nordeste, Ponta Delgada, Ribeira Grande, Vila Franca do Campo e Povoação.

Frutuoso destaca, de fontes por ele consultadas, que no século XVI,

“quase doze anos inteiros depois de ser descoberta a ilha de Santa Maria, aos oito dias do mês de Maio da era de mil e quatrocentos e quarenta e quatro anos, por dia do aparecimento do arcanjo S. Miguel, príncipe da igreja, foi vista e descoberta por eles esta ilha; que, por ser achada e aparecer em tal dia e festa do aparecimento do arcanjo, lhe foi posto este nome à ilha de S. Miguel.”

Quanto ao povoamento do arquipélago, a crítica histórica atual apresenta argumentos contrários à data do início recolhida por Frutuoso com a gente de seu tempo. E estes críticos utilizam a informação do próprio autor, que opina ter sido somente na década de 1470 que ali se estabeleceram os povoadores, cujos nomes pudemos conhecer a partir de sua obra.

Ressalte-se que a obra Saudades da Terra permaneceu manuscrita até o século XX e que foi através dela que conseguimos localizar fontes que permitiram esboçar a genealogia de alguns imigrantes açorianos que se tornaram moradores da Vila Leopoldina.

Importante ressaltar, também, que a referência à ilha de São Miguel nos assentos paroquiais leopoldinenses conduziu as buscas para o Livro das Genealogias, um conjunto de 618 fichas genealógicas compulsadas por Carlos Machado e organizadas por Ernesto do Canto, atualmente disponíveis no site da Biblioteca Pública e Arquivo Regional dos Açores.

No índice dessa obra localizamos os Botelho Falcão, em cuja ficha é informado que no século XVIII residiam na Freguesia de Santa Cruz, no concelho da Lagoa. A partir daí, consultamos os livros paroquiais também disponíveis no mesmo site e seguimos para outras freguesias e concelhos, conforme indicavam os registros encontrados. E descobrimos que na Ilha de São Miguel, segundo o trabalho de Carlos Machado, o sobrenome Falcão aparece pela primeira vez em Manoel Botelho Falcão I, que se casou com Maria Corrêa.

Mas antes de abordar a genealogia propriamente dita, é bom esclarecer que o sobrenome Botelho provém de antiga medida utilizada para grãos ou algas marinhas. E que, segundo estudiosos vinculados ao Instituto Português de Heráldica, inicialmente o sobrenome era indicativo da profissão de vendedor de grãos ou algas. Já o sobrenome Falcão tem origem numa ave de rapina da mesma classe do ‘açor’ e foi inicialmente utilizado para denominar o praticante da falcoaria (arte de adestrar falcões para a caça ou, lugar onde se criam falcões, segundo o Dicionário Aurélio). Entretanto, alguns heraldistas argumentam que é sobrenome locativo por ter sido inicialmente utilizado por residentes em lugares onde se praticava a falcoaria em Portugal.

Esclarecendo que em virtude do grande número de homônimos tornou-se imprescindível acrescentar algarismos romanos em alguns nomes para indicar ordem de nascimento mais antiga, como fizemos com Manoel Botelho Falcão I, informamos que a viagem seguirá na próxima edição deste Jornal, com os primeiros personagens do sobrenome e fechamos a carga do vagão do Trem de História de hoje. Até lá.


Fonte consultada:

FRUTUOSO, Gaspar, Saudades da Terra: livro IV (Ponta Delgada, Açores, Instituto Cultural Ponta Delgada, 1998), pag 17.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado no jornal Leopoldinense de 9 de setembro de 2016

4 opiniões sobre “57 – Botelho Falcão: a origem do sobrenome no Arquipélago dos Açores”

    1. Olá, José Gregório. É muito bom saber que nosso texto agradou. Só temos três filhos de José e Ondina, sem descendentes, pois nosso recorte temporal se encerrou em 1930. A partir daí, só contamos com informações fornecidas por familiares. Caso vc queira colaborar, por favor, conte-nos os detalhes sobre seu grupo.

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  1. Gostaria de saber a respeito da origem dos meus pais e avós, se essa pesquisa continua e qual a possibilidade de chegar até a geração deles. o Nome de meu pai Pedro Botelho Falcão casado com Madalena que após o casamento passou a se chamar Madalena Ferreira Botelho. Meus avós paternos Francisco Botelho Falcão e Ana de Oliveira Ramos. Meus avós maternos Agostinho Francisco Ferreira e Rachel Maria de Oliveira. Aguardando uma resposta, agradeço a oportunidade de poder me expressar. Att Suely.

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    1. Olá Suely: talvez seu pai tenha nascido após o fim do nosso recorte temporal. A pesquisa sobre as antigas famílias de Leopoldina contemplou busca de fontes documentais para eventos ocorridos até 1930. Enviaremos, em msg privada, sugestões para complementá-la.

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