9 – O Leopoldinense Pioneiro

No vagão anterior falou-se dos diversos jornais que utilizaram o nome “Leopoldinense”. Neste, o trem de história reitera alguns pontos apurados sobre o jornal O Leopoldlinense lançado pelo Alferes Francisco da Costa Sobrinho em 01 de janeiro de 1879, o primeiro periódico que circulou na cidade e, por via de consequência, o primeiro a usar este nome.

De início, para colocar o trem na linha e desfazer o equívoco registrado por Luiz Eugênio Botelho no seu livro “Leopoldina de Outrora”, é necessário que se esclareça que Luiz Botelho Falcão não lançou O Leopoldinense em 1879 conforme afirma o autor. As edições do próprio jornal, consultadas para este trabalho, dão conta de que Botelho Falcão só assumiu o periódico alguns anos depois da sua fundação. E esteve à frente dele por cerca de dois anos, ao final dos quais, em 1894, o vendeu a Randolpho Chagas e Valério de Rezende.

Feito este esclarecimento, que se coloque lenha na caldeira para que o trem prossiga com a história. E diga-se que O Leopoldinense aqui estudado trazia nas suas primeiras edições o subtítulo: “Consagrado aos Interesses dos municípios de Leopoldina e Cataguases”. A partir do seu segundo ano de existência este subtítulo foi alterado para informar que o periódico passou a ser “Dedicado à Causa Pública”, embora continuasse com os mesmos posicionamentos e com a mesma equipe editorial.

Mais adiante, em maio de 1882, de fato ele sofreu uma significativa mudança estrutural quando foi desfeita a sociedade “Costa Sobrinho & C” e todo o ativo e passivo da tipografia, bem como a casa de negócio situada à Rua do Rosário nº 37 (atual Rua Tiradentes), passou a ficar a cargo do sócio Francisco da Costa Sobrinho, conforme nota publicada na primeira página da edição de 21.05.1882. Mas esta mudança aparentemente não alterou em nada a linha editorial, a estrutura e o público alvo do jornal, conforme se deduz das edições subsequentes.

Ressalte-se que O Leopoldinense nasceu e circulou numa época em que a política marcava presença no cenário municipal. Num período conturbado, com manifestações sobre a libertação dos escravos, a monarquia e a república. Anos de acirradas disputas no campo político e com forte apelo literário bastante influenciado pelas publicações francesas. Sem contar que sofria a influência de jornais publicados na Corte, como o “Diário do Brasil”, conforme fica patenteado na sua edição de 25.05.1882 quando o editor deixa claro que seu periódico acompanha o referido diário. E é bom que se diga que o “Diário do Brasil” é citado por Nelson Werneck Sodré, em “A História da Imprensa no Brasil” como sendo um dos órgãos da pequena imprensa que se isolou no apoio ao manifesto de Carl von Koseritz, em 1883, de incentivo à imigração germânica. Fato que leva a crer, com boa margem de certeza, que não teria sido por mero acaso que O Leopoldinense tenha se colocado em diversas oportunidades a favor da substituição da mão de obra escrava por colonos estrangeiros.

Alguns fatos podem dar uma ideia de quão árdua deve ter sido a sua luta. Um jornal do interior a defender a libertação dos escravos numa cidade que presta homenagem ao Barão de Cotegipe, dando o nome dele à rua principal. Um barão que, ao cumprimentar a princesa Isabel pela assinatura da Lei Áurea, teria afirmado: “Vossa Alteza libertou uma raça, mas perdeu o trono”. E no ano seguinte implantou-se a república. Uma cidade que homenageia Cotegipe, mas esquece a princesa Isabel e lembra Pedro II numa pequena Travessa que mais parece um apêndice da rua principal.

Mas vale lembrar que O Leopoldinense, além dos assuntos locais, publicava também matérias relativas a diversos municípios que não faziam parte da área de influência de Leopoldina. O que indica sua boa receptividade numa região mais vasta, embora não tenha sido possível identificar com precisão todo o universo dos seus assinantes. Sabe-se, apenas, que além dos moradores de localidades próximas ele possuía leitores em diferentes pontos das províncias de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, além dos residentes na Corte.

E para fechar o vagão de hoje resta dizer que O Lepoldinense circulou até os primeiros anos do século XX, embora no estudo atual não se tenha chegado às últimas edições. Dizer, também, que a viagem continuará e na próxima estação recolherá o vagão com a história de outro periódico da cidade. Até lá.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 1 de outubro de 2014

Parte IX de A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899

8 – ‘Leopoldinense’: nome de vários jornais

Antes que agarre na memória de algum leitor distraído uma informação indevida, feito o pó de carvão que sujava a roupa dos passageiros da Maria Fumaça, o Trem de História vira a chave do desvio, evita possível descarrilamento e presta um esclarecimento importante.

Diferentemente do Leopoldinense atual, que acolhe mais uma vez um resgate histórico destes autores, o Leopoldinense do passado teve uma outra história.

O atual nasceu em agosto de 2003, bem depois de arrancados os trilhos e derrubada a estação ferroviária, com o nome de “Gazeta Leopoldinense de Notícias”. Assim circulou por alguns meses até que, em 2004, por alteração contratual a sua razão social passou para “Grupo Leopoldinense de Notícias Ltda”. E é esta empresa, comandada por Luiz Otávio Meneghite, a responsável pela edição do atual “Jornal Leopoldinense”, que empunha a bandeira da “Consciência crítica da Cidade”. Um jornal que tem uma tiragem média de 2.000 exemplares e circula rigorosamente a cada início de quinzena.

“O Leopoldinense”, ao qual se refere este estudo sobre a história da imprensa em Leopoldina entre 1879 e 1899, teve sua primeira edição em 01.01.1879. Seu primeiro editor e gerente foi o Alferes Francisco da Costa Sobrinho e o próprio jornal informava ser “propriedade de uma sociedade anônima”. Na sua fase inicial apresentava-se como “Folha Comercial Agrícola Noticiosa”, trazendo o subtítulo “Consagrado aos Interesses dos Municípios de Leopoldina e Cataguases”. Segundo consta de todas as edições d’O Leopoldinense a que se teve acesso, até julho de 1883 a sua tiragem era de 2000 exemplares.

Importante esclarecer que, após esta data, foram encontradas seis edições no Arquivo Público Mineiro entre 1890 e 1892, nas quais não constam informações sobre assinaturas ou tiragem, nem tampouco os nomes dos redatores e proprietários.

Quanto à data de lançamento e o nome do proprietário do Leopoldinense antigo, registre-se um esclarecimento importante.

Segundo Luiz Eugênio Botelho, em Leopoldina de Outrora, seu pai Luiz Botelho Falcão teria lançado o jornal em 1879, o que se comprovou não ser coerente com a realidade. Pelas edições do próprio jornal, Luiz Botelho teria assumido a empresa em 1892, naquela que se poderia chamar terceira das quatro fases conhecidas d’O Leopoldinense. Por outro lado, entre setembro e novembro de 1886, quando Carlos Wehrs esteve em Leopoldina, informaram-lhe que Luiz Eugênio seria o proprietário do jornal. Uma das hipóteses prováveis é a de que, com a morte do fundador Francisco da Costa Sobrinho, Botelho Falcão tenha adquirido a empresa e só alguns anos depois o periódico tenha voltado a circular.

De todo modo, apesar dos descendentes terem incensado o patriarca como grande e pioneiro jornalista leopoldinense, só há indicação de que Luiz Botelho Falcão tenha estado à frente do periódico por cerca de dois anos, vendendo-o a Randolpho Chagas e Valerio de Rezende em 1894.

Circulou ainda pela cidade, no final dos anos de 1950, outro informativo com o nome de Leopoldinense. Segundo consta, era uma publicação de responsabilidade da Diocese de Leopoldina, impresso numa tipografia que funcionava junto à casa episcopal. Mas como este informativo é de período posterior ao estudado, dele não se apurou maiores detalhes e influências. Faz-se apenas o registro da sua existência pela coincidência do nome e para que ele não perca o Trem de História.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 26 de setembro de 2014

Continuação do trabalho A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899