Bibliotecas Públicas em Leopoldina

A Lei nr 2746, de 18 de dezembro de 1880,  autorizava o governo a aplicar verba em auxílio às bibliotecas públicas que fossem criadas pelas municipalidades da província. Parece-nos estar aí a origem da Biblioteca Pública Municipal que, em julho de 1889, recebeu uma doação de variadas obras por parte do advogado Gabriel de Paula Almeida Magalhães, conforme noticiado pelo jornal Irradiação do dia 24 de julho de 1889, edição nr 74, página 1.

Seis anos depois o jornal O Leopoldinense, de 19 de maio de 1895, edição 49, página 2, sugeriu ao Agente Executivo que desligasse a Biblioteca Municipal da Secretaria da Câmara, para aprimorar o seu funcionamento. Diz a matéria:

“Tal qual como tem estado até agora, esta repartição não produz nenhum dos benefícios para que foi creada, é letra morta e a querer-se tirar d’ella algum proveito, mistér se torna organisal-a em moldes mais racionaes.”

Não se sabe se as sugestões foram acatadas. Mas a Biblioteca Municipal continuou funcionando, conforme declarou Nelson de Senna em seu livro A Terra Mineira, publicado em 1926. Segundo este autor, Leopoldina estava no grupo de oito municípios mineiros onde associações literárias particulares mantinham Gabinetes de Leitura e Bibliotecas Anexas.

A atual Biblioteca Municipal Luiz Eugênio Botelho foi organizada por João Barroso Pereira Júnior, mais conhecido como Barroso Junior, que em seu discurso de inauguração não deixou de enfatizar ser uma “biblioteca pública onde os leitores terão livre acesso às estantes pejadas de livros.” Atualmente ela não está aberta ao público, já que espera a conclusão das obras e equipagem do Centro Cultural Mauro de Almeida Pereira, cuja inauguração deve ocorrer a breve tempo.

20 – Opinião e Política

O Trem de História de hoje volta à sobra de carga amontoada na estação desde o artigo anterior e segue a falar de opinião e política da época da Maria Fumaça. E conta que em outubro de 1898, quando O Arame veio à luz, a imprensa em Leopoldina estava praticamente reduzida à Gazeta de Leopoldina, legítima representante do tipo em que não há espaço para críticas ao poder vigente.

Para se ter uma ideia de como as coisas funcionavam naquela época, basta analisar um fato envolvendo profissionais da imprensa periódica em Leopoldina.

O editor de O Arame, Ovídio Rocha, casou-se quatro anos depois do lançamento deste jornal com uma sobrinha de Luiz Falcão, que fora proprietário e editor d’O Leopoldinense da terceira fase. Segundo Luiz Eugênio Botelho, em “Leopoldina de Outrora”, O Arame “era de oposição aos Ribeiro Junqueira que então começavam a dominar a política em Leopoldina”. E para que se tenha uma pálida ideia do nível da contenda, em 05.11.1899 a Gazeta de Leopoldina publicou uma nota acusando Ovídio Rocha de ter tentado deflorar uma jovem. Seria uma acusação real ou apenas uma tentativa de desacreditar o redator concorrente?

É interessante observar a leitura d’O Arame, um jornal que se apresenta como sendo “de caráter puramente crítico e noticioso”. O tom jocoso perpassa quase a totalidade das suas matérias. Na edição nº 3, por exemplo, o editorial da primeira página é um agradecimento aos “colegas da Gazeta de Leopoldina pelos efeitos da propaganda que fizeram em prol do nosso jornalzinho” e continua nos seguintes termos, com adaptação da ortografia feita pelos autores desta coluna, preservando a pontuação original:

Já não temos mãos a medir com tantos pedidos de assinaturas e números avulsos da parte dos verdadeiros apreciadores da prosa amena e espírito fino e delicado. Todos quantos sabem ler querem possuir um número do Arame cuja leitura é um corretivo dos efeitos da prosa massuda, soporífera de Júlio Caledônio. E, dr. Zezé e de quanto bicho implume infesta a pobre imprensa mineira.

Vendo que a Gazeta de nós se ocupava com a asinina delicadeza que lhe é proverbial, o público que se orienta pela leitura da Gazeta fazendo justamente o contrário do que ela aconselha, compreendeu logo que havia uma pontazinha de inveja nas palavras do dr. Zezé, que é o “toma larguras” daqui da terra.

Como não ser grato aos distintos amigos pelos relevantes serviços que nos prestaram?

E que melhor modo de patentear essa nossa gratidão do que registrando o espantoso sucesso do Arame e atribuindo a quem de direito esse resultado?

A não ser por este modo só pelo voto, mas este pertence já ao dr. Zezé para todo e qualquer cargo que ele pretenda de futuro; porque é preciso dizer-lhes, e não costumamos errar em nossos vaticínios: o nosso muito amado dr. Zezé, na marcha em que vai há de ir longe. Dentro em pouco não haverá em Leopoldina lugar nenhum que não seja por ele ocupado.

Não nos admirará se o virmos a disputar ao Jerônimo a vaga deixada pelo Chico Tibúrcio.

Aqueles $3 ou $4 da carceragem sempre dão para o charuto do Mingote. Deixá-los ir para as mãos de outrem é que não é de boa política jagunça.

Pois é. Trem de História encheu mais um vagão e não acomodou toda a opinião e política que restava na plataforma. Terá que voltar ao assunto no próximo artigo. E o fará, com certeza.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 16 de março de 2015

Parte XV de A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899

8 – ‘Leopoldinense’: nome de vários jornais

Antes que agarre na memória de algum leitor distraído uma informação indevida, feito o pó de carvão que sujava a roupa dos passageiros da Maria Fumaça, o Trem de História vira a chave do desvio, evita possível descarrilamento e presta um esclarecimento importante.

Diferentemente do Leopoldinense atual, que acolhe mais uma vez um resgate histórico destes autores, o Leopoldinense do passado teve uma outra história.

O atual nasceu em agosto de 2003, bem depois de arrancados os trilhos e derrubada a estação ferroviária, com o nome de “Gazeta Leopoldinense de Notícias”. Assim circulou por alguns meses até que, em 2004, por alteração contratual a sua razão social passou para “Grupo Leopoldinense de Notícias Ltda”. E é esta empresa, comandada por Luiz Otávio Meneghite, a responsável pela edição do atual “Jornal Leopoldinense”, que empunha a bandeira da “Consciência crítica da Cidade”. Um jornal que tem uma tiragem média de 2.000 exemplares e circula rigorosamente a cada início de quinzena.

“O Leopoldinense”, ao qual se refere este estudo sobre a história da imprensa em Leopoldina entre 1879 e 1899, teve sua primeira edição em 01.01.1879. Seu primeiro editor e gerente foi o Alferes Francisco da Costa Sobrinho e o próprio jornal informava ser “propriedade de uma sociedade anônima”. Na sua fase inicial apresentava-se como “Folha Comercial Agrícola Noticiosa”, trazendo o subtítulo “Consagrado aos Interesses dos Municípios de Leopoldina e Cataguases”. Segundo consta de todas as edições d’O Leopoldinense a que se teve acesso, até julho de 1883 a sua tiragem era de 2000 exemplares.

Importante esclarecer que, após esta data, foram encontradas seis edições no Arquivo Público Mineiro entre 1890 e 1892, nas quais não constam informações sobre assinaturas ou tiragem, nem tampouco os nomes dos redatores e proprietários.

Quanto à data de lançamento e o nome do proprietário do Leopoldinense antigo, registre-se um esclarecimento importante.

Segundo Luiz Eugênio Botelho, em Leopoldina de Outrora, seu pai Luiz Botelho Falcão teria lançado o jornal em 1879, o que se comprovou não ser coerente com a realidade. Pelas edições do próprio jornal, Luiz Botelho teria assumido a empresa em 1892, naquela que se poderia chamar terceira das quatro fases conhecidas d’O Leopoldinense. Por outro lado, entre setembro e novembro de 1886, quando Carlos Wehrs esteve em Leopoldina, informaram-lhe que Luiz Eugênio seria o proprietário do jornal. Uma das hipóteses prováveis é a de que, com a morte do fundador Francisco da Costa Sobrinho, Botelho Falcão tenha adquirido a empresa e só alguns anos depois o periódico tenha voltado a circular.

De todo modo, apesar dos descendentes terem incensado o patriarca como grande e pioneiro jornalista leopoldinense, só há indicação de que Luiz Botelho Falcão tenha estado à frente do periódico por cerca de dois anos, vendendo-o a Randolpho Chagas e Valerio de Rezende em 1894.

Circulou ainda pela cidade, no final dos anos de 1950, outro informativo com o nome de Leopoldinense. Segundo consta, era uma publicação de responsabilidade da Diocese de Leopoldina, impresso numa tipografia que funcionava junto à casa episcopal. Mas como este informativo é de período posterior ao estudado, dele não se apurou maiores detalhes e influências. Faz-se apenas o registro da sua existência pela coincidência do nome e para que ele não perca o Trem de História.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 26 de setembro de 2014

Continuação do trabalho A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899