Raízes no Rio Pardo

Mauro de Almeida Pereira, autor de “Os Almeidas, os Britos e os Netos em Leopoldina”, foi quem direcionou meus passos para Argirita mesmo sem que ele próprio soubesse de nossa ligação com o antigo Curato do Senhor Bom Jesus do Rio Pardo.

Desde o lançamento de seu livro em 1966 e até alguns meses antes de sua morte em junho de 2001, o Mauro foi meu principal interlocutor. No início era dele que eu ouvia as principais referências que serviram de base para estabelecer minha estratégia de buscas. Nos últimos anos ele foi o ouvinte atento, sempre vibrando com cada nova descoberta.

Pois bem! Pesquisando a genealogia dos Almeidas o Mauro descobriu que a avó materna dele era filha de Carolina Rosa, de quem se dizia ser parente do Alféres José Joaquim da Silva Xavier. Durante muitos anos ele acreditou que o parentesco viria através da mãe de Carolina Rosa. Mas, ao tempo em que pesquisava ativamente, era ainda mais difícil encontrar documentos probatórios das lendas familiares. Além disso, ele confiou nas informações publicadas por Artur Vieira de Rezende e Silva em “Genealogia Mineira”, acreditando que ali foram listados todos os parentes do Tiradentes que viveram em nossa região. Somente na década de 80 apresentei ao Mauro uma hipótese que justificasse a memória familiar. Ele achou válida e passamos a buscar provas documentais para defendê-la.

Tal hipótese transferia para a ascendência paterna de Carolina Rosa o parentesco com Tiradentes e acrescentava um sobrenome ao que já conhecíamos como sendo o terceiro-avô materno do Mauro. Compulsando diversas fontes, encontrei em “Velhos Troncos Mineiros” do Cônego Raimundo Trindade, a afirmação de que o personagem que eu acreditava ser pai de Carolina Rosa foi filho único e faleceu em 1845, na Fazenda Campo Limpo, em Leopoldina. Infelizmente nós ficamos com a publicação do Cônego Trindade e não mais procuramos documentos em Leopoldina, após constatarmos que não existia o inventário do personagem em questão e tampouco de seus pais.

Já na década de 90 consegui acesso ao Arquivo da Prefeitura Municipal de Leopoldina e, para nossa surpresa, constatamos que a informação do Cônego Trindade não procedia. Encontrei o pai e o avô de Carolina Rosa como eleitores do Curato de Bom Jesus do Rio Pardo em 1862!

A partir daí foi fácil reordenar os dados colhidos em diversos documentos e demonstrar minha hipótese. Para tanto voltei a pesquisar todos os documentos possíveis sobre Argirita. O resumo desta busca foi publicado sobre o título Pioneiros Esquecidos, há cerca de um ano. O conjunto das pesquisas permitiu compor um estudo da história de Argirita. Futuramente poderão ser acrescentados outros dados já que ainda existe a hipótese dos pais de Carolina terem sido primos por parte de pai e, a se confirmar, alguns textos sofrerão modificação.

§         Antonio Felisberto da Silva Gonçalves, nascido a 2 janeiro 1804 em São João d’El Rei, MG; faleceu entre  1865 e 1868 em Argirita ou Aventureiro.  Era filho de Felisberto Gonçalves Silva e Ana Bernarda da Silveira. Antonio Felisberto casou-se com Francisca de Paula de São José, nascida por volta de 1815 provavelmente em Baependi, MG.

§    De Antonio Felisberto e Francisca de Paula encontramos apenas a filha Carolina Rosa de São José, nascida por volta de 1831 em território do então Distrito de Bom Jesus do Rio Pardo. Carolina casou-se com Francisco de Paula Pereira Pinto, filho de Carlos Pereira Pinto e Francisca Augusta. Do casal Carolina Rosa e Francisco de Paula Pereira Pinto descende o Mauro de Almeira Pereira e muitos outros usuários do sobrenome Almeida em Leopoldina e cidades vizinhas.

§         Felisberto Gonçalves Silva nasceu em São Sebastião do Rio Abaixo e faleceu em 1863 em Argirita, MG.  Era filho de Domingos Gonçalves de Carvalho e Maria Vitória de Jesus Xavier.  Felisberto casou-se com Ana Bernarda da Silveira no dia 29 setembro 1802 em São Tiago, Ibituruna, São José del Rei, MG.

§         Ana Bernarda da Silveira nasceu em 1789 em São João d’El Rei, filha de Bernardo José Gomes da Silva Flores e Joaquina Bernarda da Silveira.

§         Domingos Gonçalves de Carvalho, nascido por volta de 1740 em São João de Arneja, Bastos, Portugal, era filho de Antonio Gonçalves e Maria Mendes.  Domingos casou-se com Maria Vitória de Jesus Xavier em 1 outubro 1759 na Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Prados, MG.

§         Maria Vitória de Jesus Xavier, nascida por volta de 1742 em São João d’El Rei, MG, era filha de Domingos da Silva Santos e Antonia da Encarnação Xavier.

§         Bernardo José Gomes da Silva Flores, nascido em San Thiago de Lobam, Porto, Portugal, era filho de Manoel Gomes da Silva e Maria Rosa de Jesus.  Bernardo casou-se com Joaquina Bernarda da Silveira no dia 26 agosto de 1787 em São João del Rei, MG.

§         Joaquina Bernarda da Silveira, nascida por volta de 1770 em São João d’El Rei, MG, era filha de Anastácio José de Souza e Maxima Jesuina da Silveira.

As divisas do distrito da Piedade

O distrito da Piedade, atual Piacatuba, teve os seus primeiros limites fixados em 10 de outubro de 1851 pela Lei nr. 533 que criou o distrito:

Art. 5 – O novo Distrito de Nossa Senhora da Piedade do Município do Mar de Hespanha, divide com o do Feijão Cru pelas águas vertentes do Ribeirão da Samambaia, e córrego do Nery; dali em direção às Laranjeiras e à fazenda de João Pedro de Souza no Rio Pomba; por este acima à fazenda do Capitão David; e dali em direção à Serra da Pedra Branca, atravessando o Ribeirão do Pires, até alcançar a fazenda da Graminha, compreendidas as vertentes do Rio Novo; e com o distrito do Rio Novo, divide pela maneira seguinte: ficam pertencendo ao novo Distrito de Nossa Senhora da Piedade as vertentes do Ribeirão da Independência, desde a sua foz no Rio Pardo até a Serra da Parapetinga, e da Barra do mesmo Ribeirão, Rio Pardo acima, ficam compreendidas as fazendas de D. Antônia Maria da Luz, Francisco Tavares e Francisco Mendes da Silva.

No estudo acima, a área em laranja corresponde ao distrito da Piedade em 1851 e a área em cinza não lhe pertencia. A área azul na parte inferior era do distrito do Senhor Bom Jesus do Rio Pardo, hoje Argirita. A linha azul, pelo centro e à direita do mapa, mostra a atual divisa do distrito com Tebas ao sul, a sede do município de Leopoldina a leste e Cataguases a norte-nordeste, demonstrando a área que Piacatuba perdeu entre a criação do distrito e as divisas atuais. Conforme verificado na imagem, a linha divisória sofreu algumas alterações, ora aumentando, ora diminuindo a área do distrito.

Será sempre oportuno buscar novos documentos que possam esclarecer, exatamente, quais eram os limites entre os distritos da Piedade, Rio Pardo e Monte Alegre. Especificamente sobre o Distrito do Rio Pardo (Argirita), sabemos que ele se limitava, pela serra Dourada e vertentes do rio Angu, com o Distrito de Madre de Deus do Angu (Angustura); com o então Curato do Espírito Santo (Guarará), pela serra da Prata e vertentes do ribeirão de mesmo nome; pelas vertentes do rio São João, com São João Nepomuceno e, partindo da serra de Santa Rita, seguia o córrego de São Bento até encontrar, novamente, a serra Dourada, também chamada de serra da Boa Vista.

Lei 1198 de 9 de agosto de 1864

A lei 2027 de 1º de dezembro de 1873 aborda os limites distritais e indica, como pertencentes ao Distrito de Nossa Senhora da Piedade, as fazendas Graminha, a de Manoel Antônio Dutra e a de José Maria Gonçalves Coelho, que marcavam os limites com São João Nepomuceno.

Ainda nesta lei de 1873, encontramos a primeira menção a Francisco de Paiva Campos como freguês da Piedade, sendo ali esclarecido que, até então, sua fazenda pertencia ao Distrito de Dores do Monte Alegre.

Dois anos depois, com a criação da Vila de Cataguases em novembro de 1875, foram retirados do território de Piacatuba, os terrenos da margem esquerda do rio Novo, na parte que hoje pertence a Dona Eusébia. No entanto, na jurisdição eclesiástica, aqueles terrenos continuaram com a Igreja de Nossa Senhora da Piedade.

Em 1880, nova lei vinha tratar dos limites entre Piacatuba e Cataguases. Agora estabelecendo que, do ponto do Rio Novo, onde é a atual divisa entre Itamarati, Cataguases e Dona Eusébia, seguindo pelo córrego Pirapetinga e até encontrar a foz do Rio Pardo, todos os terrenos ao norte ficariam pertencendo a Cataguases. Mas, esta ainda não seria a divisão definitiva. Em setembro do ano seguinte, o trecho compreendido entre a serra da Pedra Branca, em Astolfo Dutra, e o rio Novo, passaria também para Cataguases. Desta forma, as fazendas de João Antônio de Araújo Porto e de José Henriques da Mata, deixaram de pertencer à Piedade. Pouco depois, em outubro de 1882, foi a vez de passarem para Cataguases as fazendas de David Alves Ferreira e Pedro Antônio Furtado de Mendonça. Finalmente, em 1884, nova transferência acrescenta a Cataguases a fazenda de Cândido da Silva Ladeira.

Lei nr 2700 de 30 de novembro de 1880

Em virtude de tantas alterações dos limites entre Cataguases e a Piedade, até hoje continuam a ser mal informados os leitores de jornais e livros publicados na própria região. Especialmente no que se refere ao Museu da Eletricidade, é comum ler que a Usina Maurício está localizada naquele município. Acreditamos que caiba ao morador de Piacatuba, assim como a todos aqueles que amam este belo distrito, lutarem para que seja preservada adequadamente a sua história.

Foi no ano de 1880, com a criação do distrito de Santo Antônio de Tebas, no lugar antes denominado Aplicação de Monte Alegre, que começaram as modificações nos limites da Piedade pelo sudoeste. Ali, num primeiro momento, passaram para o novo distrito as fazendas de Francisco José Barbosa de Miranda, Francisco Paulino Ramos e Francisco Xavier Augusto. Na outra margem do rio Pardo, continuaram, na Piedade, as fazendas de Manoel Ferreira de Souza, Francisco Antônio Nogueira, Eleotério Gonçalves Pereira e João Paulino Barbosa.

Dois anos depois, com a elevação de Tebas a Freguesia, em 1882, passou a contar, em seu território, com as seguintes fazendas desmembradas da Piedade: Valverdes, Manoel Lopes de Carvalho, Rafael Teixeira, Pedro José de Novaes, Francisco Antônio Nogueira da Gama, Francisco Paulino Dias de Oliveira, Luiz José Gonzaga de Gouvêa, Paulo José Ribeiro e Joaquim Rodrigues da Silva.

Este texto foi atualizado em novembro de 2023.

Origem dos Povoadores de Leopoldina

Um personagem sempre recorrente na história de Minas, quiçá do Brasil, é o Tropeiro. Escolhemos a descrição de Saint-Hilaire por acreditarmos ser a mais abrangente.

Dá-se o nome de tropeiros aos homens que conduzem as caravanas de burros destinadas a empreender essas viagens e outras semelhantes. As tropas um pouco consideráveis são divididas em lotes de sete animais, e cada um é confiado à guarda de um negro ou mulato que, caminhando na retaguarda dos cargueiros de que está encarregado, os incita e dirige por meio de gritos ou por um assobio bastante brando. Costuma-se carregar cada besta com oito arrobas (cerca de 120 quilos), e para não ferí-los, iguala-se a carga com o maior cuidado. Cada caravana que chega a um rancho aí toma o seu lugar; os animais são logo descarregados; arruma-se as mercadorias com ordem; cada animal recebe sua ração de milho; levam-nos ao pasto; arranjam-se-lhes as albardas, e se desentortam os cravos destinados a ferrá-los. Enquanto isso o mais jovem da tropa vai buscar água e lenha, acende o fogo, arma em redor três bastões que se unem superiormente, amarra-os, e suspende um caldeirão na tripeça, onde põe a cozinhar o feijão preto destinado ao jantar do dia e ao almoço do seguinte. Os tropeiros das diversas caravanas se aproximam uns dos outros, põem-se a conversar, relatam suas viagens e aventuras amorosas, e, às vezes, um deles encanta o trabalho dos vizinhos tocando guitarra e cantando algumas dessas árias brasileiras que tem tanta graça e doçura. Tudo se passa com ordem; raramente discutem, e falam entre si com uma delicadeza desconhecida na Europa entre homens de classe inferior. No dia seguinte, levantam-se bem cedo; dão aos burros nova ração de milho. Deixando o rancho, saúdam os tropeiros que ainda aí ficam; fazem nova caminhada de três a quatro léguas, e chegam a outra estação pelas duas ou três horas da tarde.[1]

Auguste de Saint-Hilaire, cientista francês que viajou pelo interior do Brasil entre 1816 e 1822, deixou-nos preciosas informações sobre o Brasil do início do século XIX. Mário Guimarães Ferri, na introdução do “Segunda Viagem”, nos diz que “seus relatórios de viagens são um manancial riquíssimo de informações. … Sua obra é, com efeito, de valor perene e interessa ao botânico, ao zoólogo, ao geógrafo, ao historiador, ao etnógrafo; interessa, enfim, a todos quantos desejam conhecer algo sobre o Brasil do início do século XIX, de um Brasil que, em geral, já não mais existe.” [2]

Tropeiros na Serra dos Órgãos, por Rugendas, prancha 15 das paisagens em Viagem Pitoresca através do Brasil
Tropeiros na Serra dos Órgãos, por Rugendas, prancha 15 das paisagens em Viagem Pitoresca através do Brasil

De leitura agradabilíssima, os relatos de viagem de Saint-Hilaire nos trazem informações algumas vezes surpreendentes. Um exemplo é a forma como descreve a Inconfidência Mineira no volume dedicado à primeira viagem a Minas. Usando termos como “pretensa conspiração” ele nos indica que ao tempo de sua estada no Brasil o movimento dos mineiros não era visto com as cores negras como nos acostumamos a ler nos livros de história. Aliás, é ainda Saint-Hilaire quem escreve que o Visconde de Barbacena informou ao Vice-Rei, no Rio de Janeiro, sobre o movimento em Minas, pintando-o como “ato de rebelião mais criminoso e terrível” do que na verdade teria sido.

Na época de sua primeira viagem informa o cientista que o governo mineiro isentava por dez anos de impostos aos que se transferissem para as fronteiras da Província. Portanto, este viajante tem muito a nos dizer sobre as Minas daquele início de século, na época em que se intensificaram as migrações em demanda da região hoje conhecida como zona da mata mineira.

Um outro personagem importante para o estudo de nossa região e também mencionado por aquele viajante é o guarda-mor. Algumas vezes temos visto sucederem-se informações sobre dois ou mais personagens, contemporâneos e vivendo na mesma região, a quem um mesmo autor dá o título de Guarda-Mor das Minas e por essa razão tornam-se alvo de contestação de alguns menos estudiosos. Cargo criado em 1679, era inicialmente o administrador a quem competia, entre outras atividades, conceder licença a quem quisesse descobrir minas. Nomeado pelo Administrador Geral ou Provedor das Minas, a este substituía em algumas das inúmeras atividades que lhe eram afetas, especialmente com a intensificação das pesquisas mineirais em terras do Brasil. Ao tempo de sua primeira viagem a Minas, assim se manifestou Saint-Hilaire;

O cargo de guarda-mor geral é hereditário na família de um rico cidadão da Província de São Paulo que mandou abrir à sua custa o caminho do Rio de Janeiro a Vila Rica.

O guarda-mor geral tem o direito privativo de conceder o título de mineração; como, porém, não habita ordinariamente a Província das Minas, seu cargo de reduz a um título, e os guardas-mores substitutos preenchem suas funções. Quando o guarda-mor geral se encontra na capitania, é ele quem nomeia os substitutos; em sua ausência esse direito pertence ao governador. De poucos anos para cá multiplicaram-se extraordinariamente os guarda-mores substitutos, que, na linguagem corrente, se designam simplesmente pelo nome de guarda-mores.[3]

Esclarecemos que o Guarda-Mor Geral citado por Saint-Hilaire era Garcia Rodrigues Paes, filho de Fernão Dias Paes Leme, sobre os quais o viajante inseriu nota no rodapé do texto acima.

A Segunda Viagem de Saint-Hilaire começou a 29 de janeiro de 1822, no Rio de Janeiro. No dia 6 de fevereiro ele entrou em território mineiro. Eis parte de seu relato do dia:

Serve o Rio Preto de fronteira às capitanias do Rio de Janeiro e Minas.

À extremidade de uma ponte fica uma cidadezinha encostada à montanha, composta de uma única rua muito larga e paralela ao rio. Tem a cidade o mesmo nome do rio; depende do distrito de Ibitipoca e só conta uma igreja não colada, servida por um capelão.

As casas de Rio Preto, excetuando-se uma ou duas, são térreas, pequenas, mas possuem um jardinzinho plantado de bananeiras, cuja pitoresca folhagem contribui para o embelezamento da paisagem. [4]

Seis dias depois o cientista estava acomodado em uma granja no “Rancho de Manoel Vieira” e seu relato volta a mencionar características da paisagem. Já tendo passado pela “Serra Negra”, informa que todo o percurso é um subir e descer muito cansativo. Sobre o Rio do Peixe que atravessara “um quarto de légua” antes, diz apenas; “passamos, sobre uma ponte de madeira, o pequeno rio chamado Rio do Peixe e pelo percurso vimos várias fazendas”.

Já no relato de sua primeira viagem o cientista declarou-se impressionado com o que chamou de “misto de desordem e regularidade selvagem”, chamando a atenção sobre as montanhas que se misturam no horizonte e fazem pensar que o rio nasce na elevação posterior à que primeiro se avizinha quando, ao passar posteriormente por ela, constatou que as águas vinham de um ponto bem mais distante. Século e meio depois o grande poeta Carlos Drumond de Andrade nos brindou com suas fortes impressões das montanhas de Minas.

Mais 3 dias da segunda viagem e no dia 15 de fevereiro de 1822 o relato de Saint-Hilaire nos traz informações sobre o acidente geográfico que foi determinante na escolha do local de fixação dos antigos moradores da região – a Serra da Ibitipoca.

A Serra da Ibitipoca não é pico isolado e sim contraforte proeminente de cadeia que atravessei desde o Rio de Janeiro até aqui. Pode ter uma légua de comprimento e apresenta partes mais elevadas, outras menos, vales, penedos, picos e pequenas partes planas. As encostas são raramente muito íngremes. Os pontos altos representam, geralmente, cumes arredondados e os rochedos mostram-se bastante raros. O fundo e barrocas estão geralmente cobertos de arbustos, mas poucos capões se vêem de mato encorpado. Quase toda a montanha está coberta de pastos, sempre excelentes.[5]

No dia 16 de fevereiro de 1822 é a vez de citar a Vila de Ibitipoca que ele mal conhecera na viagem anterior e por isso julgava ser “mais insignificante”.

Fica situada numa colina e se compõe de pequena igreja e meia dúzia de casas que a rodeiam, cuja maioria está abandonada, além de algumas outras, igualmente miseráveis, construídas na encosta de outra colina. Não espanta, pois, que inutilmente haja eu procurado, ontem, nesta pobre aldeia, os gêneros mais necessários à vida. [6]

Nesta ocasião Saint-Hilaire faz comentários sobre o interior de uma casa de fazenda que é semelhante a outras que ele conhecera no Brasil. Informa que na sala existe uma única mesa e um banco e nos quartos as camas são simples armações de madeira. A parada seguinte é Santa Rita de Ibitipoca, mencionada no diário de 17 de fevereiro.

Esta aldeia, situada em agradável posição, na encosta de uma colina, não é senão uma sucursal de Ibitipoca, embora importante. Compõe-se de uma única rua, mas ali se vêem algumas bonitas lojas.[7]

No dia seguinte Saint-Hilaire escreve da Fazenda da Cachoeira, onde pousou após o percurso de 5 léguas desde Santa Rita de Ibitipoca. Esta Fazenda é ponto de análise para quantos se dediquem ao estudo dos povoadores da zona da mata mineira. Mencionada por muitos como tendo sido propriedade desta ou daquela família, acreditamos que no início do século dezenove o nome Fazenda da Cachoeira compreendia inúmeras pequenas propriedades, talvez desmembramentos de uma grande fazenda formada no século anterior. Saint-Hilaire não indica o nome do proprietário, apenas informa que estava em viagem para “buscar algodão no Araxá para levar ao Rio de Janeiro”.

Aqui trouxemos recortes de como foram vistos por Saint-Hilaire as terras onde viviam os povoadores dos Sertões do Leste. Antes de prosseguirmos, transcrevemos mais um trecho da primeira viagem.

O primeiro lugar habitado que se encontra depois do Paraibuna é Rocinha da Negra, onde se vê um rancho e uma venda construídas em um vale à margem de um regato. Pouco mais longe, passa-se diante de uma choça denominada Três Irmãos, e em breve se chega à povoação de Vargem, localizada em um amplo vale rodeado de morros. O nome Vargem, sinônimo da palavra portuguesa várzea, se aplica geralmente a essas espécies de planícies úmidas e rodeadas de elevações que são bastante comuns nas partes montanhosas do Brasil, e diferem um pouco do resto do país pela vegetação.[8]

Em nota do próprio autor ao texto acima ficamos sabendo que ele foi recebido de maneira muito cordial em Vargem e que por isso faz questão de denunciar um outro viajante estrangeiro que teria sido tão bem recebido quanto ele e que, no entanto, depois teria “vilipendiado” o hospedeiro.

Encerramos este capítulo que pretendemos seja esclarecedor quanto à anterior localização dos povoadores de São Sebastião do Feijão Cru, de Bom Jesus do Rio Pardo, de São José do Paraíba, de Madre de Deus do Angu e de Nossa Senhora da Piedade. Localidades que nasceram no alvorecer do século dezenove nas antigas “áreas proibidas” da terra mineira.

1 - SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975. p. 41

2 - SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda Viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a São Paulo. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974. p. 7

3 - Viagem pelas Províncias...(idem nota 1), p. 110

4 - Segunda Viagem...(idem nota 2), p. 24

5 - idem, p. 33

6 - idem, p. 35

7 - idem, p. 36

8 - Viagem pelas Províncias...(idem nota 1), p. 49

Indígenas em Leopoldina

Os indígenas são mencionados em todos os trabalhos sobre o povoamento de Leopoldina. Entretanto, nem sempre o que foi publicado sobre o assunto condiz com o registrado em fontes documentais.

Este texto traz algumas informações que apuramos principalmente em livros paroquiais de Leopoldina e seus antigos distritos, região habitada pelos Puris antes da chegada do homem branco. As imagens foram extraídas dos livros dos viajantes estrangeiros que visitaram os Sertões do Leste. A exceção é Debret que desenhou baseado em relatos de terceiros.

Segundo Spix e Martius[1]

“Todos os índios que chegamos a conhecer aqui, das tribos de Puris, Coropós e Coroados, surpreendentemente, pouco se diferençavam entre si na estatura e nas feições; os traços individuais pareciam, provavelmente por falta de desenvolvimento, dominados pelos traços gerais da raça do que é o caso, nas outras raças.
Os índios são baixos ou de estatura mediana; os homens têm quatro a cinco pés de altura, as mulheres, em geral, pouco mais de quatro pés; todos têm corpos robustos, largos e atarracados. Só raramente se encontram entre eles alguns de estatura mais alta e esbelta. Têm ombros largos, pescoço curto e grosso; os seios das mulheres não são tão frouxos e descaídos como os das negras; o ventre é fortemente protruso, o umbigo muito bulboso, porém menos que nos negros; as partes masculinas são muito menores que as dos negros, e não, como as destes últimos, em constante turgidez; as extremidades são curtas, as inferiores não são nada carnudas, são, sobretudo, franzinas as barrigas das pernas e as nádegas; as superiores são cheias e musculosas. O pé, estreito no calcanhar, é muito largo na frente e o dedo grande aparta-se dos outros; as mãos estão quase sempre frias, os dedos relativamente finos, e as unhas, que eles roem constantemente, costumam ser muito curtas. O colorido da tez é vermelho-cúprico, mais ou menos carregado, diferençando-se segundo a idade, a ocupação e estado de saúde do indivíduo. As crianças recém-nascidas são de cor branco-amarelada, como os mulatos; os doentes tornam-se de cor amarelo-pardacenta, e só excepcionalmente se encontram, entre eles, albinos ou malhados de escuro. Em geral, são de cor tanto mais escura, quando mais robustos e ativos. Nas partes inferiores do corpo e nas extremidades, o vermelho-cúprico passa, às vezes, para colorido mais escuro; na face interna das articulações, ao contrário, a cor esvaece e torna-se esbranquiçada.
O índio, propriamente, não pode corar, e o humano “Etubescit, salva res est” não tem aplicação para essa rude raça humana. Só depois de longa convivência com os brancos, notamos entre os índios a mudança de cor, como sinal de emoção.
A sua pele é muito fina, macia, brilhante e, exposta ao sol, sujeita a transpirar; o cheiro que exala (catinga) não é tão intenso como o dos negros, mas é acre, amoniacal. O cabelo negro, brilhante, comprido, escorrido, cai espesso e emaranhado da cabeça. Nas axilas e sobre o peito, não se nota em geral cabelo algum; nas partes sexuais e no queixo dos homens, apenas leve penugem. Entretanto, há exceções, embora raras; vimos alguns deles de peito cabeludo e barba cerrada. O característico da cabeça é corresponder ao peito largo a largura especialmente da parte parietal ; na face avultam maçãs salientes. A testa é baixinha, o sinus frontal saliente na base, em cima estreita e inclinada muito para trás. O occipício é muito mais saliente do que o dos negros, cujo crânio é mais estreito e alongado que o dos índios. O rosto é largo e anguloso, e não é tão proeminente como o dos negros, porém, mais do que o dos calmucos ou dos europeus. As orelhas são pequenas, bonitas, um tanto saídas para fora, não são furadas e nem desfiguradas por objetos pesados. São pequenos os olhos, pardo-escuros, oblíquos, o canto interior volvido para o nariz, protegidos por sobrancelhas de poucos pêlos, que, no meio, se recurvam para cima; o nariz é curto, em cima pouco achatado e chato na ponta, entretanto não tão chato como o dos negros; as narinas são largas e apenas pouco viradas para fora; os lábios muito menos grossos e salientes que os dos negros; não é o lábio inferior, porém o superior que se salienta um pouco, ou então são ambos iguais; a boca é pequena e mais fechada que a dos negros. São muito alvos os dentes, os incisivos largos e bem alinhados; salientam-se os caninos. Em geral, o corpo o índio é entroncado, largo e baixo, ao passo que o dos negros é alto e esguio; ele, com isso, aproxima-se mais das outras raças, sobretudo dos chineses e calmucos, conquanto estes sejam de tez mais clara e de traços melhor conformados. Deformados e aleijados nós tampouco encontramos nos índios, pelo que alguns supõem que costumam dar cabo deles, logo ao nascerem.”


Assentos paroquiais como fonte de pesquisa

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Interpretar os antigos assentos paroquiais requer leituras e releituras atentas, além de análise comparativa com outros documentos que ajudem a esclarecer o significado dos termos utilizados pelos padres. Em muitos estudos, observa-se um certo açodamento dos autores ao fixarem sentido único para termos que foram utilizados de forma variada. É o que ocorre, por exemplo, com as palavras párvulo, inocente e ingênuo. Tomados à primeira vista com o mesmo sentido, nem sempre assim o foram entendidos pelos padres que deles fizeram uso. Nos primeiros livros paroquiais da Matriz de Leopoldina e da Igreja de Nossa Senhora da Piedade, em geral o nome da criança é precedido da palavra “innocente”[2]. Já nos assentos das igrejas de Bom Jesus do Rio Pardo e Conceição da Boa Vista, o termo mais frequente é “párvulo”.  Mas em todos estes livros pode-se encontrar, assim como nos da Igreja de Santo Antonio de Tebas, batismos em que o nome da criança não é precedido de nenhuma outra indicação.

Outra observação importante é a respeito das indicações posteriores ao nome da criança. A primeira informação é bem clara, registrando “filho natural de” ou “filho legítimo de” para distinguir as crianças nascidas de matrimônios celebrados pela Igreja daquelas que nasceram de mães solteiras. Em pequeno número de casos aparece “filho adulterino de” e em um único caso, na Igreja de Santo Antônio de Tebas em 1885, foi encontrado “filho natural de” seguido do nome do pai da criança. No caso dos mancípios, após o nome de cada um dos pais há indicação do nome do proprietário. Com certa frequência temos, também, casos em que a criança filha de escravizada e nascida antes de 1872 foi libertada pelo senhor no ato do batismo.

Nem sempre aparece indicação mais detalhada sobre os escravizados pais da criança batizada. Mas, especialmente no primeiro livro de batismos de Bom Jesus do Rio Pardo, período 1838 a 1864, são frequentes indicações como crioulo, mina, de nação, africano (a) e pardo (a).

Ressalte-se que, em livros de outras Freguesias mineiras, muitas vezes encontramos o nome da criança antecedido da palavra ingênuo (a). Já nas igrejas acima citadas, este termo, quando aparece, não está antes do nome da criança mas após o nome da mãe. É o que ocorre, por exemplo, no assento da página 82 verso de um livro de batismos da Igreja de Santo Antonio de Tebas, informando-se que no dia 25 de dezembro de 1882 o padre Eugenio Martins do Couto Reis batizou Ventura, do sexo masculino, “nascido a 4 de outubro de 1882, filho natural de Belmira, ingenua de Candido José de Almeida”. Este formato repete-se em vários assentos das igrejas de Nossa Senhora da Piedade e Bom Jesus do Rio Pardo, em alguns casos com um complemento: “ingenua puri”.

No primeiro livro de Bom Jesus do Rio Pardo, página 26, encontra-se: “fº natural de Florinda India Puri” e “f. natural de Felisbina Purí”. Na página 18 deste mesmo livro consta: “Aos vinte hum dias do mez de Fevereiro de mil oito centos e quarenta hum Baptizei solemnemente e pus os Santos Oleos nos Puris seguintes Antonio fº de Anna, e Maria fª de Maria” [3].


Outras referências aos indígenas


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Na correspondência de Guido Thomaz Marlière são encontradas diversas referências aos nativos que viviam no Rio Pardo. Entre outras, numa carta do Secretário da Junta Militar da Conquista Ignacio José Nogueira da Gama a Marlière, de 1816, informa-se que foi autorizado o pagamento da fatura do moinho de que necessitam os Indios Puris, aldeados no Rio Pardo e Paraíba, além da compra de tachos, enxadas e vestuário para os mesmos índios[4]. Segundo se verá adiante, a construção do moinho ficou a cargo de José Paradellas, que seria encarregado do aldeamento no Rio Pardo. Sobre este personagem, aliás, no livro Tombo da Igreja de Bom Jesus do Rio Pardo consta o registro de teor seguinte.

José Paradella senhor e possuidor da Fazenda Fortaleza, fez um voto ao Bom Jesus se os seus dois filhos não fossem recrutados para a Revolução Mineira de 1842, doar o patrimonio e construir uma capellinha do Bom Jesus, e tendo sido saptisfeito, edificou uma capellinha de palmitos e determinou as divisas vertentes de 15 alqueires mais ou menos de terra, fazendo divisas com a Fazenda Salvação, a começar num corrego e atravessando a estrada e vertendo o dito corrego até galgar um vallo, seguindo este e atravessando um outro, até a parte que vem do arrayal Feijão Crú, e seguindo o espigão, e descendo numa grota, onde tem uma aguinha até a estrada e indo ao Rio Pardo e por este a Salvação.

Rio Pardo 25 de Dezembro de 1842

Segundo o Mapa de Habitantes do Curato do Espírito Santo do Mar de Espanha[5], que abrangia o território de Guarará, Maripá, parte de Argirita e Tebas, em 1831 ali vivia a família Paradellas, de cor parda. Há estudiosos que julgam ser esta a cor indicada para os indígenas, o que acreditamos ser uma interpretação apressada, já que os nativos dificilmente teriam sido recenseados por não atenderem a um pressuposto básico: residirem num “fogo”, ou seja, terem moradia fixa. A 20 de outubro de 1840 os Paradella venderam 60 alqueires da Fazenda Fortaleza para Felisberto da Silva Gonçalves[6], sendo que a venda só foi regularizada em 1851 quando os descendentes do patriarca residiam na Fazenda Bom Retiro.

Recorremos ao Registro de Terras de 1856[7] para acrescentar que Antonio Custodio Nogueira declarou ser proprietário da Fazenda Monte Claro, cujas terras adquiriu de José da Silva Paradellas,

ao qual foi concedida pelo Governo Provincial em indemnização de hum moinho por elle feito para uso dos Indios, como tudo melhor consta dos titulos existentes em seo poder, começando na quadra da Sesmaria do Alferes Candido Antonio da Silveira, seguindo corrego maior acima a fazer deviza na ultima caxoeira do dito corrego e corrego menor, lagrimais, e todas as vertentes de hum e outro lado do dito corrego, confrontando estas terras com o dito Alferes Candido, herdeiros de Joaquim Gonçalves, e outros.

No mesmo ano, em Mar de Espanha foi colhida a declaração do próprio Paradellas[8]

Declaro eu abaixo assignado que possuo nesta Villa do Mar de Hespanha huma demarcação sita na Rua das Caissaras tendo de frente cincoenta e cinco palmos e fundos athe o Rio divide a direita com Felis de tal, e esquerda com Candido de tal. Mar de Hespanha vinte de Abril de mil oito centos e cincoenta e seis. José da Silva Paradellas.


Conclusão

Poder-se-ia realizar um novo levantamento nos livros paroquiais das Igrejas de Argirita, Piacatuba, Tebas, Conceição da Boa Vista e Leopoldina, com vistas ao registro da presença de indígenas no território do antigo Curato de São Sebastião do Feijão Cru. Para o texto que ora se encerra foram inseridas apenas algumas informações que comprovam a presença de nativos na região, sabendo-se que a representatividade é ínfima, uma vez que a grande maioria não foi cristianizada. Deste modo, acredita-se que qualquer pesquisa neste sentido estará sempre aquém da realidade.

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Oiliam José[9] informa que na Serra dos Puris, à margem da BR 116, e na Lajinha (Piacatuba), existiram aldeias puris onde foram encontradas duas machadinhas destes que teriam sido os derradeiros indígenas da Zona da Mata. Segundo o autor, as peças pertenciam à coleção de Mauro de Almeida Pereira. Acrescente-se que esta informação circulava entre as pessoas que conviviam com o Mauro na década de 1960, mas sem indicação do período do achamento ou de análise da idade dos materiais. Sabe-se, entretanto, que Candido José de Almeida, citado no assento transcrito do livro da Igreja de Santo Antonio de Tebas, era irmão do avô materno de Mauro de Almeida Pereira e bisavô da autora deste texto. O mesmo Candido foi Juiz de Paz em Tebas, entre 1883 e 1890, onde residiu a partir de meados da década de 1850. Lendas familiares dão conta de que, além de um bom plantel de escravos libertos, em suas terras viviam diversos puris.

Considerando que este personagem viveu em Tebas no final do século XIX, levanta-se uma questão: os últimos indígenas de Tebas teriam desaparecido no alvorecer dos anos novecentos?


[1] Spix, Johann Baptist von, e MARTIUS, Carls Friedrich Philipp von. Viagem pelo Brasil. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1976. p. 202-203

[2] No século XIX, a palavra era grafada com duas letras “n”.

[3] Foi mantida a ortografia do original.

[4] Revista do Arquivo Público Mineiro, ano X, pág. 407.

[5] Mapa da População do Curato do Espírito Santo – 1831, fl. 18-a fam. 157.

[6] Cartório de Notas de Argirita – 1841-1854, fls. 117-verso.

[7] Registro de Terras de Bom Jesus do Rio Pardo, TP 180, fls. 6, nr. 24, Arquivo Público Mineiro

[8] Registro de Terras de Nossa Senhora das Mercês da Vila de Mar de Espanha, TP 116, fls. 43, s/nr.

[9] JOSÉ, Oiliam. Indígenas em Minas Gerais. Belo Horizonte: MP, 1965. p. 125-126