As divisas do distrito da Piedade

O distrito da Piedade, atual Piacatuba, teve os seus primeiros limites fixados em 10 de outubro de 1851, através da própria lei de sua criação. Posteriormente, a linha divisória sofreu algumas alterações, ora aumentando, ora diminuindo a área do distrito. Sobre algumas dessas mudanças e outras curiosidades é que vamos falar no decorrer deste texto. Percorrendo os marcos divisórios, é de se observar que o limite começa a ser delineado na região do ribeirão de Tebas, que foi propriedade de Manoel Joaquim de Tebas.

Daí, caminhando em direção ao rio Pomba, a linha divisória atingia a propriedade de João Pedro de Souza. Nessa época, 1851, provavelmente João Pedro era ainda jovem. Somente no ano de 1873, seu nome aparece nos registros paroquiais pelo batismo de seu filho Antônio, havido do casamento com Rita Maria de Jesus. Sabe-se que era filho de José do Egito de Souza, adquirente de seis alqueires de terras então pertencentes a Inácio José de Bem, no lugar denominado “Novo Descoberto do Rio Pardo”. Por estes dados, acreditamos que a região hoje conhecida como “Lajinha” seja uma das mais recentemente povoadas no imenso distrito da Piedade.

Acrescente-se que a primeira localização encontrada, de Inácio José de Bem (filho), a Fazenda da Caridade, fica nas vertentes do rio Pomba, córrego Pirapetinga, no atual limite entre Leopoldina e Cataguases, a oeste da estrada entre os dois municípios. Posteriormente este Inácio desbravou e formou nova fazenda, chamando-a Novo Descoberto do Rio Pardo. Curiosamente, Inácio José de Bem era filho de outro homônimo e de Antônia Maria de Almeida, que, por sua vez, era irmã de Manoel Antônio de Almeida. Inácio José de Bem chegou a Leopoldina entre 1838 e 1843, estabelecendo-se com a família antes da foz do rio Pardo.

A indicação seguinte, “fazenda do capitão David”, referia-se a David Alves Ferreira, provavelmente filho de Joaquim Ferreira Brito e Joana Maria de Macedo, pioneiros e doadores do patrimônio de São Sebastião do Feijão Crú.

O limite, pela serra da Pedra Branca até a fazenda da Graminha, incluía partes dos atuais municípios de Cataguases, Dona Euzébia, Astolfo Dutra e Itamarati de Minas. Vale registrar que esta fazenda da Graminha nada tem a ver com uma outra, de mesmo nome, que aparece nos mapas mais recentes localizada na divisa de São João Nepomuceno.

No que se refere aos limites com Rio Novo, é necessário esclarecer que se trata de São João Nepomuceno que, naquela época, pertencia a Rio Novo. A ressalva é importante porque, com as diversas mudanças de sede ocorridas, uma leitura pouco atenta poderá levar à conclusão de que o Distrito de Piacatuba limitava-se com a Paróquia de Conceição do Rio Novo, o que não é correto.

As fazendas de Antônia Maria da Luz, Francisco Tavares e Francisco Mendes da Silva, estavam localizadas entre os rios Novo e Pardo. Infelizmente ainda não foram encontrados documentos de propriedade destas terras, o que nos impede de estabelecer-lhes a exata localização.

Quanto aos limites do Distrito da Piedade, na região do ribeirão de Tebas, estes merecem um estudo cuidadoso. Isto porque a lei 947 de 8 de junho de 1858, criou a Paróquia de Nossa Senhora das Dores do Monte Alegre, pertencente a Leopoldina. Alguns pesquisadores acreditam ser, esta paróquia, a mesma de que trata uma lei de agosto de 1864, o que não é verdade. A lei de 1864 trata da criação da Paróquia de Nossa Senhora das Dores do Monte Alegre, em Mar de Espanha. E, é fácil esclarecer esta dúvida.

Em 1839, na criação do distrito de Bom Jesus do Rio Pardo (Argirita), que pertencia à comarca de Rio Pomba, é informado que tal distrito “compreende a Aplicação das Dores”. Esta mesma informação consta da lei de elevação de São João Nepomuceno (1841), do documento de transferência para Vila de Mar de Espanha (1851) e do ato de instalação da Vila Leopoldina. Como se vê, bem anterior àquela outra, de 1864. Em verdade, a criação de 1864 refere-se à paróquia que foi elevada a Freguesia em 1872, pertencendo a São João Nepomuceno, e que hoje tem o nome de Taruaçu.

Com isto, será sempre oportuno buscar novos documentos que possam esclarecer, exatamente, quais eram os limites entre os distritos da Piedade, Rio Pardo e Monte Alegre. Especificamente sobre o Distrito do Rio Pardo (Argirita), sabemos que ele limitava-se, pela serra Dourada e vertentes do rio Angu, com o Distrito de Madre de Deus do Angu (Angustura); com o então Curato do Espírito Santo (Maripá), pela serra da Prata e vertentes do ribeirão de mesmo nome; pelas vertentes do rio São João, com São João Nepomuceno e, partindo da serra de Santa Rita, seguia o córrego de São Bento até encontrar, novamente, a serra Dourada, também chamada de serra da Boa Vista.

Lei 1198 de 9 de agosto de 1864

A lei 2027 de 1º de dezembro de 1873 aborda os limites distritais e indica, como pertencentes ao Distrito de Nossa Senhora da Piedade, as fazendas Graminha, a de Manoel Antônio Dutra e a de José Maria Gonçalves Coelho, que marcavam os limites com São João Nepomuceno. É válido registrar que este José Maria Gonçalves Coelho, freguês da Igreja de Nossa Senhora da Piedade desde 1863, era casado com Constança Maria de Jesus e deixou grande descendência em Piacatuba. Foram seus filhos: Clara nascida em 1863; José nascido em 1865; Custódio nascido em 1868; Maria nascida em 1869 e Honório José Coelho. Honório, por sua vez, foi casado com Antônia Rosa de Jesus e é o ancestral de muitos dos atuais habitantes que assinam Reis, Rodrigues, Nascimento e Coelho.

Ainda nesta lei de 1873, encontramos a primeira menção a Francisco de Paiva Campos como freguês da Piedade, sendo ali esclarecido que, até então, sua fazenda pertencia ao Distrito de Dores do Monte Alegre.

Dois anos depois, com a criação da Vila de Cataguases em novembro de 1875, foram retirados do território de Piacatuba, os terrenos da margem esquerda do rio Novo, na parte que hoje pertence a Dona Eusébia. No entanto, na jurisdição eclesiástica, aqueles terrenos continuaram com a Igreja de Nossa Senhora da Piedade.

Em 1880, nova lei vinha tratar dos limites entre Piacatuba e Cataguases. Agora estabelecendo que, do ponto do Rio Novo, onde é a atual divisa entre Itamarati, Cataguases e Dona Eusébia, seguindo pelo córrego Pirapetinga e até encontrar a foz do Rio Pardo, todos os terrenos ao norte ficariam pertencendo a Cataguases. Mas, esta ainda não seria a divisão definitiva. Em setembro do ano seguinte, o trecho compreendido entre a serra da Pedra Branca, em Astolfo Dutra, e o rio Novo, passaria também para Cataguases. Desta forma, as fazendas de João Antônio de Araújo Porto e de José Henriques da Mata, deixaram de pertencer à Piedade. Pouco depois, em outubro de 1882, foi a vez de passarem para Cataguases as fazendas de David Alves Ferreira e Pedro Antônio Furtado de Mendonça. Finalmente, em 1884, nova transferência acrescenta a Cataguases a fazenda de Cândido da Silva Ladeira.

Lei nr 2700 de 30 de novembro de 1880

Em virtude de tantas alterações dos limites entre Cataguases e a Piedade, até hoje continuam a ser mal informados os leitores de jornais e livros publicados na própria região. Especialmente no que se refere ao Museu da Eletricidade, é comum ler que a Usina Maurício está localizada naquele município. Acreditamos que caiba ao morador de Piacatuba, assim como a todos aqueles que amam este belo distrito, lutarem para que seja preservada adequadamente a sua história.

Foi no ano de 1880, com a criação do distrito de Santo Antônio de Tebas, no lugar antes denominado Aplicação de Monte Alegre, que começaram as modificações nos limites da Piedade pelo sudoeste. Ali, num primeiro momento, passaram para o novo distrito as fazendas de Francisco José Barbosa de Miranda, Francisco Paulino Ramos e Francisco Xavier Augusto. Na outra margem do rio Pardo, continuaram, na Piedade, as fazendas de Manoel Ferreira de Souza, Francisco Antônio Nogueira, Eleotério Gonçalves Pereira e João Paulino Barbosa.

Dois anos depois, com a elevação de Tebas a Freguesia, em 1882, passou a contar, em seu território, com as seguintes fazendas desmembradas da Piedade: Valverdes, Manoel Lopes de Carvalho, Rafael Teixeira, Pedro José de Novaes, Francisco Antônio Nogueira da Gama, Francisco Paulino Dias de Oliveira, Luiz José Gonzaga de Gouvêa, Paulo José Ribeiro e Joaquim Rodrigues da Silva.

Registre-se, aqui, que entre estes nomes alguns são moradores pioneiros da Piedade, como Francisco José Barbosa de Miranda e Pedro José de Novaes. Este último tendo nascido no lugar.

Quanto às terras dos Valverdes, localizadas na margem do ribeirão Tebas, sabe-se que eram por eles habitadas há mais de dez anos, antes da criação do distrito.

Da enorme descendência de João Pereira Valverde, destacamos dois filhos: Antônio e Manoel Pereira Valverde. O primeiro, casado com Maria José de Jesus, foi pai de João Manoel, nascido em 1872 e Agenor nascido em 1886. O segundo, foi casado com Ana Joaquina de Jesus, com quem teve, pelo menos, 3 filhos: José, João e Manoel. Manoel Pereira Valverde (filho), nascido na Piedade em 1865, casou-se com Anastácia Carolina de Oliveira e foi pai de Maria Pereira de Oliveira, ancestral de muitos dos atuais Rodrigues e Machados que vivem em Leopoldina e Piacatuba.

É interessante observar que a fazenda de João Pereira Valverde voltou para o distrito da Piedade, seis anos depois, na última lei que tratou dos limites do distrito de Tebas.

Outra observação sobre os nomes citados é a respeiro de Francisco Paulino Dias de Oliveira e Luiz José Gonzaga de Gouvêa. O primeiro era filho e o segundo era genro de Vital Inácio de Moraes, que adquiriu a Fazenda Samambaia, em março de 1871. Mas já era residente da Piedade desde 1855, quando ali batizou sua filha Tereza. Natural de Conceição de Ibitipoca, era casado com Umbelina Cassiano do Carmo, com quem teve 12 filhos, a maioria batizada na Igreja de Nossa Senhora da Piedade.

Uma curiosidade desta família, que em muito dificulta sua identificação, é o uso de várias formações de nome.  O patriarca, por exemplo, é muitas vezes citado como José Vital de Moraes. E é com este nome que aparece entre os Fazendeiros de Café da Piedade, no ano de 1875, e como proprietário da Fazenda Palmeiras, em 1890. De José Vital de Moraes e Umbelina Cassiano do Carmo, descendem muitos dos Moraes, Gouvêa, Rodrigues, Oliveira e Silva que residem em Piacatuba, Tebas e Leopoldina.

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