Este estudo sobre os primeiros moradores do distrito de Providência foi inicialmente publicado em 2001, com o título de Primeiros Moradores do Quarto Quarteirão do Feijão Cru, no site do Arquivo Histórico de Além Paraíba, seção destinada ao Centro de Pesquisas Sertões do Leste – CEPESLE. Posteriormente obtivemos muitas outras informações que complementam e corrigem o apurado até aquele momento. Parte delas foi incorporada a esta revisão de 2012. Recomendamos fortemente que sejam consultadas outras matérias disponíveis neste site.
A historiografia local ainda não dedicou maior atenção ao início do povoamento de nossa região. Querem alguns que a data inicial seja a da concessão das sesmarias. Oras, é sabido que muitas vezes a Carta de Sesmaria era passada após a ocupação. Em outros casos o beneficiado com as terras nelas instalou prepostos e só veio a ocupá-las muitos anos depois. Sendo assim, ao lado do levantamento das Sesmarias concedidas, analisamos outros documentos que pudessem nos dar uma idéia de quais teriam sido as primeiras famílias a habitarem o local. Temos certeza de que nosso estudo não está completo. Provavelmente ainda encontraremos outros indícios que venham a modificar nossa atual posição.
No momento temos indicações de que as terras hoje ocupadas pelo distrito de Providência, bem como uma parte de Abaíba, durante muito tempo reunidas no chamado Quarto Quarteirão, receberam o habitante livre nos anos de 1820. No decorrer da década, ali se instalaram pelo menos três famílias que eram chefiadas por Bernardo José Gonçalves Montes. Joaquim Cezário de Almeida e Romão Pinheiro Corrêa de Lacerda.
Optamos por falar da proto história de Providência através das mais antigas famílias encontradas em seu território, indicando-as em ordem alfabética de sobrenome e separadas por períodos de efetiva moradia.
ALMEIDA RAMOS
O primeiro estudioso desta família, e também um dos maiores pesquisadores da história de Leopoldina, foi Mauro de Almeida Pereira. Em 1966 publicou o livro Os Almeidas, os Britos e os Netos em Leopoldina, obra de referência para quantos se interessam pelo levantamento dos povoadores da cidade, com versão digital disponível neste site. Como seguidores do Mauro Almeida, falecido a 21 de junho de 2001, apresentamos o desenvolvimento dos estudos por ele iniciados sobre o casal Manoel Antônio de Almeida e Rita Esméria de Jesus. Esclarecemos que o povoador Manoel Antônio de Almeida, citado como Comendador em diversas obras, era filho de Antônio de Almeida Ramos, donde provém o sobrenome composto.
Joaquim Cezário de Almeida nasceu em 1804 em Santana do Garambéu, MG, filho de Inácio José do Bem e de Antônia Maria de Almeida, irmã de Manoel Antônio de Almeida acima citado. Acompanhou o tio na mudança para as terras do Feijão Cru, estabelecendo-se no território depois denominado Quarto Quarteirão. Estava recém casado com sua prima Luciana Esméria de Almeida, filha do mesmo Manoel Antônio de Almeida.
Joaquim Cezário formou a Fazenda do Tesouro, cuja localização merece comentários mais detalhados. Divisava por um lado com as terras de Bernardo José Gonçalves Montes e por outro com as de José Ferreira Brito e Francisco José de Freitas Lima, estes localizados entre Abaíba e Conceição da Boa Vista. Ao sul divisava com terras posteriormente ocupadas por Manoel José Monteiro de Castro e Antônio Augusto Monteiro de Barros Galvão de São Martinho.
Em 1851, ao ser criado o Curato de Nossa Senhora da Conceição da Boa Vista, Joaquim Cezário aparece como proprietário na divisa daquele distrito. O que nos levou a concluir que suas terras ficassem no território hoje pertencente a Abaíba. No entanto encontramos documentos da Câmara Municipal de Rio Pomba em que se faz referência ao Tesouro do Feijão Cru como tendo sido o nome de Leopoldina entre 1831 e 1834. Pela leitura de vários documentos, passamos a suspeitar que a Fazenda do Tesouro era mais próxima das nascentes do Feijão Cru pequeno, onde se estabeleceu Manoel Antônio de Almeida, tio e sogro de Joaquim Cezário. Nesta hipótese, Joaquim Cezário teria ocupado terras limítrofes à atual sede do distrito de Providência. O que seria confirmado através da análise de batismos e casamentos de seus descendentes.
Joaquim Cezário de Almeida faleceu a 18 Março 1855. Sua esposa Luciana Esméria permaneceu na Fazenda do Tesouro, onde faleceu a 1 Março 1864. Dos filhos do casal, encontramos vinculados a Providência ao final do século dezenove apenas o primeiro e a quarta filha.
– João Basílio de Almeida casou-se com Augusta Leopoldina Rezende Martins e faleceu a 15 Dezembro 1882 deixando viúva e 12 filhos na Fazenda Alto da Cachoeira. Sua descendência está descrita entre os Gonçalves Montes, já que sua esposa foi a nona filha de Bernardo José Gonçalves Montes. Nas Eleições realizadas em setembro de 1868, João Basílio foi um dos eleitores ausentes, provavelmente em solidariedade a tantos que discordaram do direcionamento que estava sendo dado ao município.
– Maria Cezária de Almeida casou-se com seu primo João Ferreira de Almeida, filho de João Rodrigues Ferreira Brito e Messias Esméria de Almeida, sendo neto materno de Manoel Antônio de Almeida e paterno de Bento Rodrigues Gomes. Ou seja, o casal descendia dos troncos povoadores de Leopoldina. A Fazenda de Maria Cezária e João ficava ao sul da estrada que ligava Abaíba a Leopoldina, na margem direita do Ribeirão São Lourenço, território que pertenceu ao distrito de Providência.
GONÇALVES MONTES
Bernardo José Gonçalves Montes nasceu em Prados, entre 1780 e 1788. Filho de José Gonçalves Montes, português, e de Rosa Felícia de Jesus, natural de Prados. Neto paterno de Maria Luisa do Monte e Pedro Gonçalves Poça, nascido a 20 de outubro de 1675. Por este era bisneto de Maria Dias e João Gonçalves da Poça, nascido a 29 de junho de 1657 na Freguesia da Alheira, Orago de Santa Marinha, Concelho de Barcelos, Braga, Portugal. A avó paterna, Maria Luisa do Monte, era filha de Estêvão Luis e Maria Domingues.
Por parte de mãe, Bernardo José era neto de Bernardo Rodrigues Dantas, nascido a 17 de agosto de 1694 em Santa Maria de Sá, Concelho Ponte de Lima, Viana do Castelo, Portugal e falecido em Prados a 1º de março de 1773. A ascendência de Bernardo Rodrigues Dantas é bem conhecida entre os estudiosos. Era filho de Pascoal Rodrigues, nascido a 17 de junho de 1678 e Paula Rodrigues, nascida a 7 de setembro de 1683. Pascoal era filho de João Fernandes e Esperança, ambos naturais do Concelho de Ponte de Lima. Paula era filha de Antônio Fernandes Souto e Maria Rodrigues, naturais do mesmo Concelho, e irmã de Ana Joana da Conceição, que em 1799 casou-se, em Santana do Garambéu, com José Francisco Machado.
A avó materna, Catarina de Assunção Xavier, é ainda mais conhecida. Nascida a 25 de dezembro de 1719 em São José del Rei, atual Tiradentes, casou-se a 9 de abril de 1736 no mesmo lugar e faleceu em Prados a 29 de dezembro de 1802. Era filha de Domingos Xavier Fernandes, nascido a 26 de agosto de 1683 no Famalicão, Braga, Portugal, por ele neta de Domingos Rodrigues e Catarina Fernandes. A mãe de Catarina, Maria de Oliveira Colaça, era filha de Antônio de Oliveira Setúbal e Isabel de Oliveira Colaça.
Por este casal, poderemos prosseguir até o século dezesseis, através de genealogias publicadas por diversos estudiosos, incluindo-se o renomado Silva Leme e nosso conterrâneo Pedro Wilson Carrano de Albuquerque. Observe-se que a avó materna de Bernardo José Gonçalves Montes era irmã de Antônia da Encarnação Xavier, mãe do Alferes José Joaquim da Silva Xavier.
Dos irmãos de Bernardo José, encontramos os nomes de Antônio Rodrigues Dantas, Maria Rosa Montes e Severino José Montes. Não pesquisamos a descendência desses irmãos. Mas, acreditamos que Severino possa ser ancestral de outros antigos moradores do Feijão Cru. Da mesma forma supomos que o tio paterno João Gonçalves Montes, casado com Paula Maria de Assunção, possa ser ancestral de leopoldinenses que aqui chegaram muito tempo depois do início do povoamento.
Dos tios pelo lado materno encontramos numerosas ligações familiares não só em Providência como em todo o município de Leopoldina. Tanto através de sobrinhos do Alferes Tiradentes, como também por filhos de Bernardo Rodrigues Dantas e Catarina de Assunção Xavier que podem ser, entre outros, ancestrais da família Vale tão numerosa em Leopoldina.
Casou-se Bernardo José com Maria Antonia de Jesus, também natural de Prados. O pai de Maria Antônia, Antônio Francisco Teixeira Coelho, recebeu uma sesmaria a 28 de março de 1818. Não sabemos se chegou a ocupá-la. O que sabemos é que a sesmaria foi o dote de casamento da filha, por volta de 1824. Analisando batismos e casamentos de filhos e netos de Bernardo José e Maria Antônia, concluímos que logo após o casamento eles vieram habitar as terras do Feijão Cru.
Entre 1824 e 1850, Bernardo José trocou parte de suas terras por outras e também comprou as terras de Feliciano Rodrigues Moreira, outro pioneiro do Quarto Quarteirão. O casal tronco dos Gonçalves Montes residiu na Fazenda do Sossego e seus filhos ocuparam outras propriedades da margem direita do Córrego de São Lourenço. Bernardo José Gonçalves Montes faleceu em 1861, deixando vasta descendência.
Abrimos um parenteses para mencionar um dos mais antigos moradores do Feijão Cru, cuja família não será aqui estudada por não ter estado localizada no território de Providência. Antônio Rodrigues Gomes (filho), batizado em Santa Rita de Ibitipoca-MG a 5 Junho 1786, transferiu-se para nossa região na mesma época em que Bernardo veio aqui residir. A 20 Abril 1829 comprou parte de uma sesmaria que tinha sido doada aos Lacerda. Ali formou a Fazenda do Córrego do Moinho.
Filhos do casal pioneiro, todos nascidos no Quarto Quarteirão do Feijão Cru:
i. Antonio Rodrigues Montes, casado com Maria Gabriela Moreira.
ii. Bernardo Rodrigues de Rezende Montes, casado com Ana Ignacia de Almeida, radicou-se em Chiador-MG.
iii. Maria Rodrigues Montes.
iv. Ana Antônia de Jesus, casada pela primeira vez com José Antônio de Almeida Ramos e segunda vez com Domingos Marques de Oliveira.
v. Joaquina Cândida de Jesus, casada com Manoel José Pereira da Silva.
vi. João Rodrigues de Rezende Montes, casado com Deolinda Clara de Valadão.
vii. Manoel José de Rezende Montes, casado a primeira vez com Maria Antônia de Jesus e a segunda vez com Maria Rosa da Silveira.
viii. Claudina Celestina de Jesus, casada com João Francisco Pereira.
ix. Augusta Leopoldina Rezende Martins, casada a primeira vez com João Basílio de Almeida e a segunda vez com Bernardo Rodrigues Ferreira Gomes.
x. José de Resende Montes, casado com Tereza Joaquina de Jesus.
xi. Maria Umbelina da Anunciação, casada primeira vez com Francisco Rodrigues Gomes de Almeida e a segunda vez com José Marinho de Freitas.
xii. Inacia Presceliana de Rezende Montes, casada a primeira vez com Antônio Carlos de Oliveira e a segunda vez com José de Rezende Montes.
xiii. Zeferino José de Resende Montes, casado com Ignes Luiza da Silva.
xiv. Rita Firmina Montes.
xv. Querino de Resende Montes, casado a primeira vez com Julia Ferreira de Rezende e a segunda vez com Vitalina da Penha Cabral.
Consta que houve mais um filho: Francisco de Sales Montes casado com Ana Umbelina de Moraes. No entanto, analisando nascimentos e casamentos de descendentes de Francisco e Ana Umbelina, concluímos que as datas tornam incompatível a filiação.
Como dissemos anteriormente, ao formarem suas próprias famílias os filhos de Bernardo José e Maria Antônia ocuparam terras nas margens do Corrego São Lourenço. Ao final do século dezenove, por ocasião da criação dos distritos de Providência e Abaíba, encontramos referências a muitos descendentes deste pioneiro residindo naquela região.
PINHEIRO CORRÊA DE LACERDA
A Família Pinheiro Corrêa de Lacerda tem sido objeto de estudo de vários pesquisadores, já que as duas primeiras sesmarias a citarem o nome “Feijão Cru” foram concedidas a dois de seus membros: Fernando Afonso e Jerônimo Pinheiro Corrêa de Lacerda beneficiados com duas sesmarias em outubro de 1817. Por conta disso, muitos são os que acreditam terem sido eles os primeiros habitantes livres do território onde nasceu Leopoldina. Esta não é nossa opinião, formada a partir da análise dos mais antigos documentos que pudemos encontrar sobre a história de Leopoldina. E que se aproxima da opinião de antigos articulistas da história local, segundo os quais os Lacerda foram grandes desbravadores da zona da mata através de um método peculiar: obtinham as sesmarias e as vendiam no todo ou em parte aos habitantes da região de Santa Rita de Ibitipoca.
Irmão de Fernando Afonso e Jerônimo, Álvaro Pinheiro Corrêa de Lacerda foi batizado a 22 Julho 1755 em Bom Jardim. Casou-se na Matriz de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo (Barbacena), a 23 Fevereiro 1797 com Ângela Maria do Livramento, filha de Manoel Francisco Braga e Tereza Maria de Jesus. Ângela vivia em território do Feijão Cru em 1831, já viúva. Filhos do primeiro casamento de seu marido também já estavam por aqui: Ana de Souza, Francisco Pinheiro Corrêa de Lacerda e Romão Pinheiro Corrêa de Lacerda.
Dos cinco filhos que pudemos localizar em Leopoldina, somente de um temos informações sobre ligação com o território de Providência: Romão Pinheiro Corrêa de Lacerda. Lembrando que sua irmã Ana foi casada com Bernardo José da Fonseca, citado em diversos estudos da história de Leopoldina, Romão é o personagem que nos remete às terras localizadas no então chamado Pirapetinguinha, ou pequeno braço do Pirapetinga. Querem alguns que Romão tenha sido encarregado pelos Monteiro de Barros para a formação de fazendas naquela região. De fato pudemos comprovar que os Monteiro de Barros só vieram ocupar aquelas terras mais tarde. Mas, antes disso Romão já estava residindo em sua Fazenda da Memória, cujo nome permanece apenas na ponte existente na estrada de Providência para Leopoldina. A fazenda limitava-se com terras posteriormente ocupadas por José Augusto Monteiro de Barros e foi sucessivamente dividida e vendida. Dentre os compradores, localizamos Antônio Prudente de Almeida adquirente entre 1838 e 1841.
A Fazenda da Memória foi comprada por Romão a Manoel Gomes de Oliveira. Citado como Major Manoel Gomes, este primeiro proprietário teria sido um militar que atuou na investida contra o Descoberto do Macuco, no famoso episódio de caça ao Mão de Luva. Fato ocorrido entre 1784 e 1786. É corrente entre historiadores atuais que membros da diligência comandada por Pedro Afonso Galvão de São Martinho, após cumprida a missão para a qual foi destacada, demoraram-se pelos então chamados “Sertões do Leste”, requerendo e obtendo sesmarias onde se fixaram com suas famílias.
Um outro aspecto que ressalta dos documentos é a ocupação efetiva das sesmarias doadas aos Monteiro de Barros. Conforme diversos autores já levaram ao conhecimento público, a família Monteiro de Barros recebeu doação de 14 sesmarias dentro do território onde se formou Leopoldina. Estas doações ocorreram em março de 1818, seis meses após as doações aos Pinheiro Corrêa de Lacerda e no mesmo mês da doação ao sogro de Bernardo José Gonçalves Montes. Fizemos um levantamento das sesmarias concedidas no entorno do Feijão Cru e concluímos que os Pinheiro Corrêa de Lacerda não foram os primeiros beneficiários. Entre 1812 e 1813 foram doadas diversas sesmarias na margem direita do Rio Pomba, algumas delas localizadas em território dos atuais municípios de São João Nepomuceno, Argirita, Santo Antônio do Aventureiro e Além Paraíba. Parece-nos, pois, que a margem direita do Pirapentiguinha teria sido ocupada pelo homem livre a partir de 1812.
Talvez, e aqui vai uma das hipóteses que vimos avaliando, talvez os Pinheiro Corrêa de Lacerda tenham seguido o caminho que estava sendo ocupado pelos sesmeiros e aí descoberto a extensa faixa de terra ao sul do Rio Pomba que ainda não estava ocupada. Voltando ao centro da Província, requereram suas sesmarias, no que foram acompanhados pelos demais povoadores.
Para concluir, lembramos que em 1826 Romão Pinheiro Corrêa de Lacerda ainda vivia em Valença. A primeira referência que dele encontramos em território de Leopoldina é no ano de 1831, morador recenseado no Quarto Quarteirão, solteiro, com 4 escravos.
De seu casamentos com Ana Severino encontramos o filho:
i. Américo Antônio de Castro Lacerda, nascido por volta de 1839, foi pai de Alberto Gama de Castro Lacerda (1867), Joaquim Gama de Castro Lacerda (1887) e Américo de Castro Lacerda (1871).
Do segundo casamento de Romão Pinheiro Corrêa de Lacerda, com Maria de Nazareth Pereira, localizamos os filhos: [Atualizado em julho de 2014]
ii. José Romão Corrêa de Lacerda casou-se com Luiza Augusta Tavares com quem teve os filhos Guiomar (1879), Adélia (1880), Olívia (1881), Amélia (1882), Maria José (1884), João (1886), Luiza (1887), Valdemar (1889), Sofia (1891), Osmar (1898) e Romão (1902), todos nascidos em Providência.
iii. Lucas Tavares de Lacerda nascido por volta de 1850, estudou no Caraça entre 1860 e 1862.
iv. Romão Augusto Corrêa de Lacerda, nascido por volta de 1853.
v. Heliodora, nascida a 7 Janeiro 1858, que se casou com Felix Martins Ferreira e de quem tratamos em outros estudos sobre a sede municipal.
vi. Sophia, nascida a 9 Maio 1860.
vii. Luiz Antônio Corrêa de Lacerda, nascido a 12 Abril 1863. Em 1877 estava matriculado no Colégio Caraça. Casou-se a 16 Fevereiro 1884 com Isabel Maria de Lacerda Werneck, filha de Luiz Peixoto de Lacerda Werneck e Isabel Augusta. Foram pais de Mario (1889), Maria Nazareth (1902) e Maria da Glória (1904). Luiz Antônio foi um dos fundadores do Centro Espírita Beneficiente em Leopoldina, no ano de 1904.
SEGUNDO MOMENTO: 1831 A 1838
Chegamos ao período em que a ocupação da margem direita do Rio Pomba tornou-se mais intensa, demonstrando a necessidade da criação de novos distritos na Freguesia de São Manoel do Pomba (Rio Pomba). Por falta de documentação, os historiadores registram apenas a criação de Nossa Senhora das Mercês do Cágado (Mar de Espanha) e São José do Além Paraíba (Além Paraíba) em julho de 1832. Mas, após leitura atenta do excelente livro de Sinval Santiago – Município de Rio Pomba Síntese Histórica, decidimos por uma releitura de documentos e normas da época, concluindo que o distrito do Tesouro do Feijão Cru pode ter sido criado na mesma data.
Sabemos que foi criado durante a vigência do Decreto Imperial de 11 setembro 1830, que delegava às Câmaras Municipais a criação de distritos em seu território. Este Decreto foi revogado pela Carta de Lei Provincial Mineira de 12 agosto 1834, voltando a prerrogativa para a alçada do Presidente da Província. O arquivo de Rio Pomba relativo à época foi destruído por um incêndio.
Sendo assim, resta-nos como primeiro documento o Mapa de Habitantes de 1838, no qual nos baseamos para identificar as famílias aqui residentes. Nesta segunda etapa da ocupação do território de Providência prosseguiremos considerando o Quarto Quarteirão como um todo, com a ressalva de que as divisões distritais do final do século dezenove modificaram sensivelmente a área abrangida sob tal denominação.
Encontramos mais 22 famílias, parte delas já completamente identificada. Iniciaremos pela citação das que não pudemos confrontar com outros registros, impedindo sua localização no espaço territorial.
O primeiro grupo é constituído pelas famílias de Forros que no conjunto dos moradores do Quarto Quarteirão representam 17,57% do total. Indicaremos a idade informada no Mapa, nome do cônjuge, número de filhos e de escravos. É possível que muitos tenham vivido fora dos limites do atual distrito de Providência. Foram eles:
– Alberto José, 30 anos, a esposa Joaquina, 3 filhos;
– Ana Maria, 20 anos, viúva com 3 filhos;
– Feliciano Roiz, 60 anos, a esposa Eva Pereira, 7 filhos e 1 escravo;
– Francisco Pereira, 40 anos, a esposa Maria Claudina, 3 filhos, 1 escravo.
– Manoel Gonçalves, 22 anos, a esposa Isabel Cândida, com 2 escravos;
– Maria Joana, 60 anos, viúva com 2 filhos;
O segundo grupo é formado por famílias que teriam vivido em Conceição da Boa Vista.
– Antônio Bernardes da Rocha, 41 anos, a esposa Maria Luiza, 9 filhos;
– Domiciano Lemos, 44 anos, a esposa Maria Inácia, 1 filha e 1 escravo;
– Francisco Antônio Dias, 24 anos, a esposa Ana Rosa, 1 filho, 1 escravo;
– João Antônio de Oliveira, 55 anos, a esposa Antonia, 3 filhos, 7 escravos;
– Joaquim Marques, 45 anos, a esposa Francisca Clara, 4 filhos, 2 agregadas;
– José Antônio, 20 anos, a esposa Maria;
– José Joaquim Siqueira, 40 anos, a esposa Francisca Maria, 1 filha;
– Manoel Francisco, 30 anos, a esposa Maria Rita, 4 escravos.
O terceiro grupo é constituído por 7 famílias cujos descendentes permaneciam vinculados a Providência no final do século dezenove. Foram chefes destas famílias, por ordem alfabética de sobrenome: Francisco José de Almeida Ramos, José Zeferiro de Almeida Ramos, Antônio José de Avelar Menezes, Querino Ribeiro de Avelar Menezes, José Joaquim Cordeiro, Anastácio Francisco de Oliveira, e Antônio José Monteiro de Barros.
Falar dos Almeida Ramos seria repetir em parte o que foi dito no início deste trabalho. Os Avelar Menezes misturam-se profundamente aos Monteiro de Barros, muito bem descritos na obra fundamental sobre esta família: Família Monteiro de Barros, de Frederico de Barros Brotero.
Resta-nos, pois, nos determos em algumas informações básicas sobre os dois patriarcas que nos parecem ainda pouco conhecidos: José Joaquim Cordeiro e Anastácio Francisco de Oliveira.
CORDEIRO
Joaquim José Cordeiro nasceu em 1808 ou 1809 e casou-se antes de 1838 com Ana Flausina. Antes do casamento, vivia em companhia dos pais, estabelecidos no Primeiro Quarteirão. Era o segundo filho de José Joaquim Cordeiro e Florinda de Jesus. Seus irmãos: José Joaquim, Antônio Joaquim, João, Gertrudes, Ana, Mariana, Manoel e Pedro.
O filho mais velho, homônimo do pai, nasceu por volta de 1805 e casou-se com Teresa Rosa de Jesus antes de 1842. O terceiro filho, Antônio Joaquim, nasceu em 1814 ou 1815 e casou-se com Maria Emerenciana, dez anos mais nova do que ele.
Esta é uma das famílias que precisa ser melhor estudada. Os mais remotos documentos encontrados informam que eram pretos forros e que o chefe da família era lavrador, alfabetizado. Nos documentos posteriores não nos foi possível identificá-los. Temos notícia apenas do terceiro filho, Antônio Joaquim Cordeiro, citado como ausente na Assembléia para Eleição de Juizes de Paz e Vereadores em setembro de 1872.
OLIVEIRA
Anastácio Francisco de Oliveira nasceu por volta de 1788. Casou-se com Maria Vidal de Souza e faleceu em Leopoldina antes de 1856. Em 1838 possuía 3 escravos. Em 1843 contava com um agregado nos trabalhos de sua propriedade. Estamos falando de Joaquim Lourenço que, casado com Rita Silvéria, fazia parte do grupo familiar de Anastácio Francisco de Oliveira.
No Registro de Terras de 1856 a viúva Maria Vidal aparece como proprietária de 850 alqueires de “planta de milho” no lugar chamado “Saudade”, em comum com seus filhos e genros. Vizinhos: Romão Pinheiro Corrêa de Lacerda, Antonio P. Almeida, Antonio Carlos da Silva, Pedro T…, Manoel José Monteiro de Castro, Bernardo José Gonçalves Montes e José Zeferino de Almeida. A declaração foi assinada por seu filho Manoel, por ser analfabeta a mãe.
Filhos de Anastácio e Maria Vidal:
1 – Joaquina Umbelina
2 – Francisco Miguel
3 – Joaquim Francisco Vital, casado com Ana Joaquina, pais de Manoel (nascido 17.04.1880)
4 – Manoel Francisco de Gouvêa, casado com Ana Francisca de Sales, filha de Francisco de Sales Montes e Ana Umbelina de Moraes. Pais de Antonio, nascido 30.01.1856
5 – José Antonio
6 – João Eleotério de Gouvêa casado com Maria da Glória Ferreira. Pais de Mariana Flausina Ferreira que se casou com Manoel José de Oliveira a 07.05.1881 e de Maria Vidal Ferreira que se casou com José Amaro Neto na mesma data.
7 – Maria Anastácia
8 – Antonio Francisco
9 – Anastácio
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FONTES UTILIZADAS
Arquivo da Câmara Municipal de Leopoldina, MG – livros diversos, século XIX Arquivo do Forum de Leopoldina, MG – processos de variada natureza, século XIX Arquivo Paroquial: Igreja Madre de Deus do Angu, Angustura, Além Paraíba, MG – livros de batismos, casamentos e óbitos, século XIX Arquivo Paroquial de Leopoldina, MG – livros de batismos e casamentos de 1851 a 1924. Arquivo Paroquial de São João del Rei, MG – livros de batismos, casamentos e óbitos, séculos XVIII e XIX Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, MG - Mapas de Habitantes, Registros de Terras, Cartas de Sesmarias, séculos XVIII e XIX Cartório de Notas de Angustura, MG – livros de compra e venda de bens de raiz, século XIX Cartório de Notas, Leopoldina, MG – século XIX Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais, Angustura, Além Paraíba, MG – nascimentos, casamentos e óbitos, 1888 a 1920 Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais, Leopoldina, MG – nascimentos, casamentos e óbitos, 1888 a 1920 Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina,, MG – livros de registro de sepultamentos, 1880 a 1920 Museu Regional de São João del Rei, inventários e testamentos dos séculos XVIII e XIX