
Com o subtítulo Da transcrição de fontes históricas à Pesquisa Acadêmica, a comunicação do professor Sheldon Augusto Soares de Carvalho versou sobre a transcrição documental com o enfoque da oportunidade de trabalho e desenvolvimento cultural que a atividade oferece. Ao iniciar a apresentação, o palestrante lembrou que não há como falar da árvore e de seus frutos sem se referir à terra onde a semente foi depositada e, portanto, ele não poderia discorrer sobre o própria trajetória acadêmica sem mencionar três grande ícones da sua formação: a professora Edna, de História Local, no início de sua vida universitária; o professor Luiz Mauro, que o encaminhou para os primeiros passos na transcrição documental; e o professor Francisco Oliveira, também, contratante de seus serviços desde o início. Os três representam, portanto, a ancestralidade acadêmica do hoje Mestre e Doutorando Sheldon Carvalho.
Em razão do investimento destes três personagens em sua formação profissional, o professor Sheldon sentiu necessidade de abordar o ofício do transcritor neste 3º Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo. E declarou fazê-lo partindo de um conceito de Cristóvam Buarque em Revolução Educacionista que é a produção do capital conhecimento por meio da educação e da produção intelectual. Esta questão envolve a pesquisa e a transcrição documental, intimamente envolvidas com a geração do capital conhecimento.
Após esta introdução o palestrante discorreu sobre sua trajetória iniciada na disciplina História Local, com a leitura e análise do inventário de uma preta forra de nome “Vitória da Silva” datado de 1805. Logo depois veio a primeira oportunidade e experiência de trabalho como leitor e transcritor de fontes históricas com o “livro de contas de José Aires Gomes”. Em continuidade ao seu processo de profissionalização vieram as transcrições de sesmarias e de registros paroquiais de Terras para os historiadores e escritores de história local e Regional: Luiz Mauro Andrade da Fonseca e Francisco Rodrigues de Oliveira.
Lembrando o desafio que é uma transcrição, informou que estes trabalhos lhe permitiram financiar sua formação acadêmica, o que lhe faz declarar que a leitura e a transcrição documental representam um setor promissor de investimento, tanto por parte do escritor, quanto por parte do pesquisador e transcritor. Hoje, informou Sheldon Carvalho, há uma equipe técnica que trabalha sob sua orientação e este grupo vem produzindo novas bibliografias. Surgiu, também, a função de consultor de transcrições por ele realizada para diversos autores que o procuram.
Foi destacado que a atividade de transcrever documentos para terceiros deixou de ser um trabalho eventual para se transformar num negócio que representa, também, desenvolvimento para a cidade, conforme está ocorrendo com a nova coleção da História da Vida Privada, cujo representante procurou a equipe de Barbacena para encomendar transcrições. Ou seja: o arquivo de Barbacena estará registrado nesta grande coleção acadêmica.
As transcrições para terceiros ampliam o manancial de conhecimentos teóricos e metodológicos do pesquisador, forçando-o a se aperfeiçoar cada vez mais. Importante destacar que é um setor com pouca concorrência e de extrema peculiaridade. Quem domina este conhecimento tem um poder nas mãos.
A atividade, que financiou o mestrado e hoje financia o doutorado do professor Sheldon, gera desenvolvimento cultural e acadêmico por meio do avanço de pesquisas em diversos campos do saber, bem como por meio de consultorias sobre fontes históricas regionais. Foi lembrado, ainda, que a maior parte das transcrições para outras pesquisas serviram de complemento empírico ou também acrescentaram volume às fontes utilizadas em suas pesquisas de doutorado. Como exemplo citou a pesquisa em dois livros de registros de terras a pedido de Francisco de Oliveira, cujas transcrições estão arquivadas em seu acervo pessoal e atualmente estão sendo utilizadas para escrever o primeiro capítulo de sua tese de doutorado.
Sheldon Carvalho mencionou também a formação de um campo econômico e lucrativo de trabalho somado à esfera de qualificação profissional especializada, como também à produção cultural consoante ao trabalho com as fontes arquivísticas. Tal situação acelera e gera um maior desenvolvimento no volume de pesquisas e situações novas como as oficinas que realizará com seus alunos de Lafaiete e que nasceram da atividade de um deles, pesquisador do arquivo dos mórmons (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias).
A comunicação foi concluída com a apresentação da síntese a seguir:
- Pesquisador/Transcritor + Equipe programadora e revisora + escritor = agilidade e redução de tempo na conclusão de trabalhos;
- Utilização de grande parte das fontes pesquisadas para particulares em pesquisas de mestrado e doutorado;
- Fornecimento de documentos transcritos para outros pesquisadores gerando ganho financeiro duplo ou triplo;
- O ofício de transcritor testemunha ao mesmo tempo a necessidade do pesquisador estar dentro dos arquivos tendo contato com as fontes em razão do diálogo com as mesmas, surgindo daí novos métodos, novos problemas, novas hipóteses e novos objetos.
A coleta de dados, lembrou Sheldon Carvalho, é bastante peculiar. Se a pessoa não estiver envolvida intimamente com a documentação e com a metodologia da pesquisa, será aberta uma lacuna intransponível. Portanto, trata-se de uma área que envolve investimento econômico, cultural e educacional. O ofício de transcrição é um setor promissor da economia, que gera outras atividades também de viés econômico como vem ocorrendo em Conselheiro Lafaiete com o trabalho realizado no Arquivo Perdigão.
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