Estudo da ocupação do território que constitui o município de Leopoldina e sua organização no século XIX.
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Antepassados de Leda Maria Campos
Para complementar os estudos de José Capaz Dutra Cappai, reunimos informações sobre antigas famílias leopoldinenses que compõem a genealogia da segunda esposa de João Cappai de Oliveira.
Atualização de estudos genealógicos
Informamos aos nossos leitores que atualizamos dois capítulos da genealogia da Família Almeida Ramos:
Capítulo 3 – Descendentes de Antonia Maria de Almeida
Capítulo 7 – Descentes de José de Almeida Ramos
Agora estes capítulos contam com seis gerações de descendentes.
Maria José de Almeida Oliveira
A pedido de um visitante, republicamos antiga postagem sobre os descendentes de Maria José de Almeida Oliveira, composta com a colaboração de seu neto Fábio Vargas de Mendonça. Acrescentamos algumas gerações de ascendentes para localizá-la entre os povoadores de Leopoldina.
Descendentes de Maria José de Almeida Oliveira
Primeira geração
1. Maria José de Almeida Oliveira, filha de João Carlos Gualberto de Oliveira
e Rita Augusta de Almeida, nasceu a 2 Ago 1887 em Leopoldina, MG.(1)
Maria casou com João de Almeida Vargas.
Filhos deste casamento:
2 M i. Alcemar
3 M ii. Antonio
4 M iii. Delmar
Delmar casou com Gerce de Amor Souza.
5 F iv. Eulina
Eulina casou com José Fontes Coimbra.
6 M v. Itamar
Itamar casou com Terezinha Ferreira Castro.
+ 7 M vi. João de Almeida Vargas Júnior
8 M vii. José
José casou com Maria Bouds.
9 M viii. Manoel
Manoel casou com Virgínia Ferreira Castro.
10 ix. Maria
Maria casou com Carlindo Gonçalves Cardoso.
11 x. Mário
Mário casou com Elvira Capasse.
12 xi. Rita
Rita casou com José Ferrari.
13 xii. Ruth
Ruth casou com Walter.
Segunda geração (Filhos)
7. João de Almeida Vargas Júnior
João casou com Conceição Ferreira Castro.
Filhos deste casamento:
14 i. Fernando Castro Vargas
+ 15 ii. Regina Castro Vargas
16 iii. Amélia Castro Vargas
+ 17 iv. Laércio Vargas de Castro
18 v. Carlos Alberto Castro Vargas
19 vi. Elizabeth Castro Vargas
20 vii. João
Terceira geração (Netos)
15. Regina Castro Vargas
Regina casou com Nilson Furtado de Mendonça.
Filhos deste casamento:
21 i. Humberto Vargas de Mendonça
22 ii. Gustavo Vargas de Mendonça
23 iii. Fábio Vargas de Mendonça
17. Laércio Vargas de Castro
Laércio casou com Maurisa Gindre.
Filhos deste casamento:
24 i. Simone Gindre Vargas
25 ii. Rodrigo Gindre Vargas
82 – Romão Pinheiro Corrêa de Lacerda: um pioneiro esquecido.
Ao pesquisar a história de Leopoldina, vez por outra se esbarra em nomes que ficaram esquecidos nas gavetas do passado. É o caso de Romão Pinheiro Corrêa de Lacerda que será estudado a partir deste artigo.
Romão nasceu(1) a 28.02.1795, filho de Álvaro Pinheiro Corrêa de Lacerda e Ana de Lacerda. Casou-se com Ana Severina de Oliveira Castro com quem teve apenas um filho: Américo Antonio de Castro Lacerda. Em segundas núpcias, com Maria de Nazareth Pereira teve nove filhos que serão identificados mais tarde.
Em 1826, segundo Celso Falabella(2), ele morava e era procurador da Câmara de Valença (RJ). No Mapa de Habitantes(3) de São José do Paraíba, de 1831, aparece entre os moradores do Feijão Cru como solteiro e possuidor de 4 escravos. Esta informação se confirma no Mapa de 1835 do então Curato de São Sebastião do Feijão Cru(4).
Eleitor do 5º quarteirão do Feijão Cru(5), lavrador, era juiz de paz em janeiro de 1851. Tomou posse como vereador suplente(6) em Leopoldina, a 24.04.1855.
No Registro de Terras(7) de 1856, assinado na Fazenda da Memória por ele e pelo Vigário José Maria Solleiro, consta que era “Senhor e possuidor de uma sesmaria em terras de cultura na Fazenda denominada Memoria no Districto d’essa Villa que houve por compra do Major Manoel Gomes de Oliveira”. O registro informa, ainda, que estas terras faziam divisa com José Augusto Monteiro de Barros; Antonio Prudente d’Almeida; D. Maria Vidal e seus herdeiros; e, com Joaquim Antonio de Almeida e Gamma.
Em 1875 foi citado como um dos fazendeiros de café em Leopoldina(8). E sobre ele disse Ferreira de Rezende(9):
“eu ainda aqui alcancei como um dos fazendeiros mais ricos destes lugares e que embora por ser homem muito retraído, muito pouco figurasse na vida pública, veio entretanto a fundar pela sua descendência e pelos parentes que atraiu, uma das melhores famílias desta freguesia.”
Segundo o registro de sepultamento(10), seu óbito ocorreu no dia 14.03.1872. Portanto, com o traslado de seus restos mortais ele é o mais antigo povoador da cidade sepultado no atual Cemitério de Nossa Senhora do Carmo.
A primeira esposa de Romão, Ana Severina de Oliveira Castro nasceu(11) por volta de 1801 e faleceu(12) em Leopoldina a 02 de janeiro de 1846. Era filha de Mateus Alberto de Souza Oliveira e Castro e Feliciana Candida Esméria da Fonseca.
Américo, o único filho de Romão e Ana Severina, nasceu(13) em Leopoldina no ano de 1839. Casou-se com Filomena Josefina Cândida da Gama, filha de Joaquim Antonio de Almeida e Gama e Maria Josefina Cândida de Jesus, de quem já se falou no Trem de História nº 51, publicado na edição nº 307, de 01.07.16, do Jornal O Leopoldinense.
Filomena nasceu a 28 de dezembro de 1847 e faleceu a 04 de janeiro de 1916 em Leopoldina(14). Ela também aparece como Prudenciana Josefina da Gama Lacerda no batismo da filha Alzira. Américo e Filomena tiveram dez filhos: I) Adelaide da Gama de Castro Lacerda; II) Alberto Gama de Castro Lacerda; III) Américo de Castro Lacerda; IV) Alzira Gama de Castro Lacerda; V) América de Castro Lacerda; VI) Lucas de Castro Lacerda; VII) Eduardo da Gama de Castro Lacerda; VIII) Joaquim Gama de Castro Lacerda; IX) Maria Josefina da Gama Lacerda; e, X) Sofia Gama de Castro Lacerda.
Em janeiro de 1877, Américo colaborou(15) com a Comissão de Socorro às vítimas das inundações ocorridas naquele ano. Segundo o Almanaque da Província(16) ele foi juiz de paz(17) eleito em 1875 e em 1887. Foi vereador conforme o livro de Juramento e Posse de autoridades diversas do período 1877-1894. Foi acionista(18) intalador do Banco de Leopoldina em 1891. Foi nomeado(19) Tenente da 1ª Cia do 70º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional em 1897.
Nas próximas edições do Jornal a história deste pioneiro esquecido, Tenente Romão Lacerda, continuará. Para corrigir o rumo do que dele se conhece, colocar em lugar de destaque este personagem leopoldinense, falar da numerosa e atuante descendência que deixou e, lembrar os 200 anos das primeiras sesmarias concedidas nas terras por onde corre o Feijão Cru. Aguardem!
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Fontes consultadas:
1) Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, data na lápide no túmulo. Arquivo Público Mineiro CX 07 DOC 07, Mapa da População de Além Paraíba – 1831, fam 117 e CX 03 DOC 06, 1835-38 e CX 03 DOC 04, 1843, Mapa da População do Feijão Cru, 1835 fam 131 fls 21; 1843 fam 156.
2) CASTRO, Celso Falabella de Figueiredo. Os Sertões de Leste: Achegas para a história da Zona da Mata. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1987. fls 69.
3) Arquivo Público Mineiro CX 07 DOC 07, Mapa da População de Além Paraíba – 1831, fam 117.
4) Arquivo Público Mineiro CX 03 DOC 06, 1835-38 e CX 03 DOC 04, 1843, Mapa da População do Feijão Cru, 1835 fam 131 fls 21; 1843 fam 156.
5) Arquivo Público Mineiro PP1 Cx 44 Pacote 30, Qualificação de eleitores do Feijão Cru em janeiro de 1851 nr 263.
6) Livro de Juramento e Posse de Vereadores em Leopoldina – 1º livro, fls 3-verso.
7) Arquivo Público Mineiro TP 114 Registro de Terras de Leopoldina 1856, nr 9
8) MARTINS, Antonio de Assis. Almanaque Administrativo, Civil e Industrial da Província de Minas Gerais. Ouro Preto: s.n., 1864-1875. 1875 – fls 452.
9) REZENDE, Francisco de Paula Ferreira. Minhas Recordações. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944. p. 369.
10) Cemitério Público de Leopoldina (1880-1887) fls 13 sep 393.
11) MATHIAS, Herculano Gomes. Um Recenseamento na Capitania de Minas Gerais: Vila Rica – 1804. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1969. p. 108.
12) Arquivo do Fórum de Mar de Espanha, ano 1846, inventário de Ana Severina de Oliveira Castro, caixa 1
13) Arquivo Público Mineiro CX 03 DOC 04 Mapa da População do Feijão Cru, 1843 fam 156.
14) Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, lápide do túmulo.
15) O Globo – jornal do século XIX Rio de Janeiro, 1877 5 jan, ed 5, p. 3 e 1877 8 jan, ed 8 p. 4.
16) Almanaque da Província de Minas Gerais. Ouro Preto: s.n., 1864-1875, 1875 – fls 451.
17) MARTINS, Antonio de Assis. Almanaque Administrativo, Civil e Industrial da Província de Minas Gerais. Ouro Preto: s.n., 1864-1875, 1875 – fls 451.
18) O Estado de Minas Geraes Ouro Preto, MG. 1891 11 abril ed 145 p 4.
19) Diário Oficial da União, 1897 10 dez seção 1 p. 4.
Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado na edição 336 no jornal Leopoldinense de 1 de agosto de 2017
51 – Filomena Josefina Cândida: a segunda filha de Joaquim Antônio de Almeida Gama
Em razão do volume de informações coletadas, o Trem de História optou por apartar em artigo próprio os dados da segunda filha de Joaquim Antonio e Josefina Cândida. Assim, a partir de agora se vai falar de Filomena Josefina Cândida da Gama, nascida aos 28.12.1847 e falecida no dia 04.01.1916. Como já informado, ela se casou com Américo Antonio de Castro Lacerda(1), único filho do casamento de Romão Pinheiro Corrêa de Lacerda com a primeira esposa, Ana Severina de Oliveira Castro. Os dados para este texto foram coletados nos livros 1 a 18 de batismos e 1 a 6 de casamentos de Leopoldina, bem como no livro 2 do Cemitério Nossa Senhora do Carmo e nas lápides dos túmulos e no livro 1 de Registro Civil de Recreio. Filomena teve, pelo menos, dez filhos nascidos em Leopoldina: 1) Adelaide da Gama de Castro Lacerda, nascida a 30.06.1867, casou-sedia 29.07.1888 com Américo Moretzshon Monteiro Castro, filho de Américo de Oliveira Barros e Joaquina Cândida Moretzshon, sendo neto paterno de Lucas Antonio de Oliveira, irmão de sua avó materna. O casal teve, pelo menos, seis filhos: Maria (1890), Américo (1893), Dinah (1894), Hugo (1895), Jurema (1899) e Alberto, de quem se tem apenas referência ao nome; 2) Alberto Gama de Castro Lacerda, nascido a 09.01.1869, casou-se com Natalia T. Cortes com quem teve cinco filhos: Romão(1901), Virginia (1903), Maria da Conceição (nascida e falecida em 1904), Haydée (1906) e Mirtes (1910); 3) Américo de Castro Lacerda, nascido a 06.11.1870 e falecido a 15.01.1936, casou-se dia 30.07.1909 com Nair da Gama, filha de João Evangelista de Castro Gama e de Rosa da Cândida da Gama, neta paterna de Caetano José de Almeida Gama e Carolina Teodora de Castro e neta materna de Joaquim Antonio de Almeida Gama e Maria Josefina Cândida de Jesus. Deste casal são os cinco filhos: Maria da Conceição (1910) que se casou em 1929 com Mário da Gama Cerqueira, filho de Álvaro da Gama Cerqueira e Carolina da Gama, sendo neto materno de João Evangelista de Castro Gama e Rosa Cândida da Gama, por esta, bisneto de Joaquim Antonio de Almeida Gama e Maria Josefina Cândida de Jesus; Nair (1911); Americo (1912); Filomena(1915) e Dulce (1919); 4) Alzira, nascida dia 30.09.1879; 5) América de Castro Lacerda, nascida dia 03.05.1881 aos 28.12.1912 casou-se com José Alfredo de Carneiro Fontoura Júnior, natural de Natividade do Carangola, RJ, filho de outro do mesmo nome e de Amelia Celestina Bastos; 6) Lucas de Castro Lacerda, nascido dia 18.10.1882, casou-se com Rita de Cassia da Gama, filha de João Evangelista da Gama e Rosa Cândida da Gama, neta materna de Joaquim Antonio de Almeida Gama e Maria Josefina Candida de Jesus; 7) Eduardo da Gama de Castro Lacerda, nascido dia 22.11.1884, casou-se dia 30.03.1910 com Aurelia Monteiro de Barros, filha de Aurélio de Souza Barros e Francisca Carolina Domingues, família que residia no distrito de Providência na última década do século XIX. Em Leopoldina tiveram, pelo menos, o filho Izar, nascido dia 24.11.1911; 8) Joaquim Gama de Castro Lacerda, nascido dia 26.11.1886 e falecido dia 17.11.1920. Em 18.10.1911 ele se casou com Maria da Conceição Monteiro de Barros, irmã de sua cunhada Aurelia Monteiro de Barros acima citada. Deste casal são os dois filhos: Maria da Conceição em 1912 e Joaquim em 1914. A viúva de Joaquim contraiu segundas núpcias no dia 01.07.1922 com Osmar Tavares de Lacerda, filho de José Romão Corrêa de Lacerda e Luiza Augusta Tavares, sendo neto paterno do segundo casamento de Romão Pinheiro Corrêa de Lacerda com Maria de Nazareth Pereira; 9) Maria Josefina da Gama Lacerda casou-se aos 14.08.1891 com Julio César Baldoino da Silva, nascido dia 11.06.1859, filho de Pedro Baldoino da Silva e Francisca de Paula Reis. Na época do casamento o noivo declarou residir em Palma, mas três filhos estão nos livros paroquiais de Leopoldina: Valfrido (1895), Marfisa (1905) e Afonso batizado dia 03.07.1906; e, 10) Sofia Gama de Castro Lacerda casou-se no dia 20.07.1895 com Everaldo de Bastos Freire, nascido em Sergipe, filho de Secundino de Matos ou Macedo Freire e Ana Bastos. De Sofia e Everaldo se encontrou o nascimento dos seguintes filhos: Americo em 1897, Maria em 1898, Everaldo em 1899, Edgard em 1910 e Osvaldo José em 1912. Sofia faleceu e Everaldo casou-se novamente com Alice de Sales Nogueira no dia 14.04.1915, com quem teve, pelo menos, o filho Durval nascido em 1919. Alice nascera em Leopoldina no dia 01.07.1884, filha de Antonio José Nogueira Filho e Altina Josefina. Na próxima edição a história de Joaquim Antonio de Almeida Gama será concluída com um pouco da genealogia de duas de suas filhas: Rosa Cândida da Gama, que se casou com seu primo João Evangelista de Castro Gama e, Virginia Angélica da Gama, que se casou com Luiz Salgado Lima, o qual empresta seu nome a uma escola da cidade. Aguardem. É só mais um vagão. Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA Publicado no jornal Leopoldinense de 01 de julho de 2016 |
História Social através do Método de Pesquisa Genealógica – II
Povoadores do Feijão Cru
por Nilza Cantoni
A pequena cidade de Leopoldina tem sua história tradicional baseada em duas afirmativas. Uma delas diz respeito ao seu primeiro nome – Feijão Cru. Diz-se que tem origem no fato de tropeiros terem colocado o feijão para cozinhar e saírem para procurar ouro. Outra versão afirma que foram caçar e uma terceira informa que deixaram o feijão cozinhando durante a noite. Todas as versões informam que choveu e, quando os tropeiros foram se alimentar, jogaram o alimento no rio reclamando por estar cru.
A outra afirmação que vem sendo repetida ao longo tempo é que Leopoldina foi uma cidade rica e que seu povoamento se iniciou em consequência do fim da mineração, trazendo para a nossa terra as famílias que antes se ocupavam de lavras na área central da província e foram para lá plantar café.
Na década de 1960 foi publicado um livro de genealogia, abordando as três principais famílias povoadoras: os Almeidas, os Britos e os Netos. A partir daí, levantou-se uma questão: por que aquelas pessoas foram para lá se não há uma só pista de que em algum momento tenham encontrado ouro? Não seria mais lógico que, com a queda da mineração, tivessem se dirigido para outras regiões mineradoras?
Consultando livros dos antigos cartórios de notas, bem como o arquivo paroquial e os processos do judiciário, foi possível perceber que as referências indicavam atividade agrícola antes da migração. Foram sendo recolhidos recortes de jornais, cadernos com cópias de assentos paroquiais e trechos de processos judiciais, além de fichas de leitura das mais variadas obras. Ao longo do tempo aumentava a distância entre o que era propagado pela história oficial e o que diziam as fontes originais.
No final da década de 1980, com o acesso a microcomputador, as informações foram organizadas em um software que deu novo fôlego ao trabalho, na medida em que ficou mais fácil reunir as referências sobre cada personagem. Alguns anos depois, descobriu-se que fazer genealogia não era simplesmente montar uma lista de nomes, mas utilizar um método de pesquisa que permitia analisar e comparar diferentes aspectos da vida das pessoas que formaram o arraial do Feijão Cru.
E assim, colhendo dados e buscando interpretá-los à luz do conhecimento produzido pelos especialistas de diversas áreas, foi possível observar que a história tradicional parecia estar distante da realidade.
À exceção de uma das primeiras famílias que se estabeleceram em Leopoldina, e que não foram abordadas no livro acima mencionado, todas as que foram identificadas procediam de região agrícola. Com base na Contagem Populacional de 1831, descobriram-se os nomes dos moradores dos “fogos” ali registrados[1].
Entre os 589 moradores, 276 eram cativos que seria difícil investigar por falta de sobrenome. Houve dificuldade, também, para estudar os habitantes de 22 fogos que eram chefiados por “forros”. Seguindo-lhes a trajetória, ficou claro que o sobrenome variava bastante e não foi possível eliminar homonímia nem estabelecer quem eram estes grupos familiares.
Pesquisando assentos paroquiais, inventários, testamentos, documentos de compra e venda de bens e de sepultamentos, chegou-se à relação de 62 nomes dos chefes de fogos em 1831.
Classificando estas pessoas pela origem e atividades anteriores, foi possível definir os seguintes percentuais:
% | Origem | Atividade Anterior |
41,9 | Desconhecida | Desconhecida |
16,1 | Bom Jardim de Minas | Agricultura |
8,1 | Freguesia de Barbacena | Agricultura |
6,5 | Freguesia de São João del Rei | Agricultura |
4,8 | Aiuruoca | Agricultura |
4,8 | Santana do Garambéu | Agricultura |
3,2 | Freguesia de São João del Rei | Agricultura / Comércio |
3,2 | Prados | Agricultura |
1,6 | Bocaina de Minas | Agricultura |
1,6 | Conceição de Ibitipoca | Agricultura |
1,6 | Congonhas | Mineração |
1,6 | Conselheiro Lafaiete | Agricultura |
1,6 | Ibertioga | Agricultura |
1,6 | Santa Rita de Ibitipoca | Agricultura |
1,6 | São João del Rei | Agricultura / Comércio |
Vale registrar que o quadro poderá sofrer modificações na medida em que novas fontes forem encontradas. Atualmente a esperança de encontrar os deserdados do ouro está entre os 22 fogos chefiados por forros e 3 fogos chefiados por mulheres sem sobrenome. Será que Leopoldina realmente foi povoada por mineradores?
Além da contagem populacional de 1831, foram consultados documentos de mesmo gênero não só em relação ao Feijão Cru como aos curatos e freguesias vizinhas.[2]
Utilizaram-se, também, os Registros de Terras[3] realizados por força da Lei nº 601 de 18 de setembro de 1850, conhecida como Lei de Terras. Segundo Ligia Osório Silva[4], o normativo objetivava “demarcar as terras devolutas e normalizar o acesso à terra por parte dos particulares, daquela data em diante”. Estes documentos trazem os nomes dos proprietários e quase todos incluem o nome da propriedade, a identificação dos vizinhos e a principal atividade desenvolvida.
Na região, os registros foram realizados nos primeiros meses de 1856 e Leopoldina teve sua emancipação administrativa em 1854. Razão pela qual foi necessário comparar com o alistamento eleitoral de 1850[5] para melhor recortar o universo a ser estudado. Um bom número de proprietários identificados no arquivo do judiciário não aparece nos registros de Leopoldina, Além Paraíba, Mar de Espanha, Meia Pataca ou São João Nepomuceno. Outros, especialmente os do território que formou o Distrito de Conceição da Boa Vista em 1851, estão no Registro de Terras de Santo Antônio de Pádua[6]. Foi desenvolvido um estudo sobre as disputas de limites entre Rio de Janeiro e Minas Gerais para entender os motivos pelos quais Leopoldina ficou subordinada ao Bispado do Rio de Janeiro até 1897[7].
Do estudo realizado com os Registros de Terras, verificou-se que apenas um dos proprietários de 1856 declarou o plantio de café entre as atividades agrícolas em suas terras.
E assim, investigando as famílias antigas de Leopoldina, através das técnicas de pesquisa genealógica, acumulou-se um bom número de informações a demonstrarem que os povoadores não deixaram para trás minas de ouro esgotadas. Foram e continuaram sendo agricultores.
Em todas as oportunidades de conversar com a gente simples da localidade, observam-se os olhos dos interlocutores brilharem. Quando se diz que os povoadores podem não ter sido pessoas ricas e famosas – as celebridades dos tempos da mineração, parece que compartilham da impressão de que foram pessoas comuns, sem auréola de heróis. Sorriem de felicidade, sentindo-se incluídos numa história que até então não lhes dizia respeito.
O envolvimento nestas buscas despertou a admiração por alguns teóricos, razão pela qual se pede licença aos especialistas para citar dois deles. Segundo Bloch[8], “textos ou documentos […] não falam senão quando sabemos interrogá-los”. Para Le Goff[9]
A memória, na qual cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens.
[1] Arquivo Público Mineiro CX 07 DOC 07, Mapa da População de São José do Paraíba, 1831.
[2] Listas de moradores 1834, 1838 e 1841, do Feijão Cru e Curatos limítrofes.
[3] Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114, Registro de Terras de Leopoldina, 1856.
[4] SILVA, Ligia Osório. Terras Devolutas e Latifúndio. Campinas-SP: Editora Unicamp, 1996.
[5] Arquivo Público Mineiro, CX 36 PCT 29 PP 11 Alistamento Eleitoral de São João Nepomuceno, 1850.
[6] Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Registros Paroquiais de Terras séc. XIX RJ. Disponível em http://www.docvirt.no-ip.com/aperj/acervo.htm. Publicado em 2003
[7] CANTONI, Nilza. Disputas de Limites entre Rio de Janeiro e Minas Gerais. Disponível em http://www.cantoni.pro.br/documentos/divisasRioMinas.html. Publicado em2005
[8] BLOCH, Marc. Apologia da História ou O Ofício de Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 79-80, 102-104
[9] LE GOFF, Jacques. História e Memória. 5. ed. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2003. p. 471
Ascendência de Wander Barbosa Ladeira
Estudo Provisório de Nilza Cantoni publicado a pedido do descendente. A partir da 8ª geração as informações tem origem exclusivamente em literatura publicada.