19 – A Voz de Thebas e O Arame

O título está a mencionar Tebas, distrito a que temos acesso passando pela Colônia Agrícola da Constança, lembrada no Dia Nacional do Imigrante Italiano em 21 de fevereiro.

Distrito importante e que já foi sede do município de Leopoldina em tempos passados. Terras tebanas que, embora não tenham conhecido os trilhos da estrada de ferro, participam da história da imprensa em Leopoldina por ter ali circulado um dos periódicos que abordaremos neste texto.

O Trem de História de hoje recolhe dados para levar ao leitor duas publicações que circularam por pouco tempo, mas que merecem uma atenção especial: A Voz de Thebas e O Arame.

A Voz de Thebas parece ter circulado por apenas três anos e trazia no cabeçalho a informação de ser um “órgão republicano constitucional”. Foi lançado cinco anos após a Proclamação da República, seu slogan parecia indicar que pretendia diferenciar-se dos demais embora não se tenha conseguido determinar a que outro jornal pretendia contrapor-se. Porque, à exceção d’O Leopoldinense, é possível que os demais periódicos existentes nos anos anteriores não tenham sobrevivido ao primeiro ano de circulação. Além disto, durante o segundo ano d’A Voz foi fundada a Gazeta de Leopoldina, em páginas da qual foram publicadas respostas ácidas a acusações feitas pelo jornal de Tebas, em outubro de 1895.

Diferentemente dos jornais republicanos analisados por Nelson Werneck Sodré, em “A História da Imprensa no Brasil”, A Voz de Thebas parece ter servido apenas de veículo para manifestações virulentas de seu editor, Francisco Sequeros Teixeira, que era também proprietário da Photographia Moderna, estabelecida no centro de Leopoldina, na Rua da Estação nº 4. Pelas três únicas edições encontradas, todas pertencentes ao acervo do Arquivo Público Mineiro, pode-se apenas informar que publicaram editoriais arrebatados e aparentemente cifrados, não sendo o conteúdo compreensível por falta de dados esclarecedores. Além disso, apenas em uma das edições foi encontrado um único anúncio, o que remete a um possível patrocínio do próprio editor, apesar de indicação de preços de assinatura.

José César da Silva, em “Memória de um Tebano”, página 49, diz; “Há muito tempo, um aventureiro que se chamava Teixeira, podendo-se dizer que veio sem se saber de onde, imprimiu aqui um jornalzinho que tinha o nome de Voz de Tebas. O nome, na verdade, era mesmo bonito, mas de fato, devia ter o nome de Voz de Satanás, que nem merece aspas, pois era um verdadeiro pasquim que somente servia para difamar, arquitetar intrigas e provocar desordens”.

O segundo periódico, O Arame, apresenta algumas semelhanças com o de F. S. Teixeira. Lançado em 1899, foram localizadas 23 das 25 primeiras edições, sendo que a última encontrada parece ter sido a derradeira do jornal. De certa forma, O Arame e A Voz de Thebas assemelham-se aos pasquins que Nelson Sodré definiu como sendo de características específicas, não tendo nascido de desejos ou de deficiências dos jornalistas da época, mas da realidade circundante. Para este autor, os folhetos muitas vezes injuriosos surgiram quando as publicações existentes deixavam de observar e denunciar o que não estava funcionando a contento, assemelhando-se à imprensa áulica que, segundo ele mesmo, alugava penas “de alguns notórios jornalistas […] desonra da classe que não pode por eles ser aferida”, com o intuito de publicar apenas o que agradasse ao poder instituído.

O Arame apareceu no momento em que O Leopoldinense circulava irregularmente, fazendo suspeitar que passasse por problemas financeiros após o corte das publicações oficiais. Este foi o provável motivo para o encerramento das atividades d’O Mediador no ano anterior e de outros mais que eram considerados de oposição. Coincidentemente, o período do início da carreira política de José Monteiro Ribeiro Junqueira que, naquele momento, trabalhava pelo sepultamento da liderança de oposição na região, representada pelo Senador Joaquim Antonio Dutra.

Esclareça-se que José Monteiro Ribeiro Junqueira era um dos sócios da Gazeta de Leopoldina e, segundo o site do Senado Federal, foi Presidente do Conselho Distrital em 1895, Deputado Estadual entre 1895 e 1900, Deputado Federal de 1903 a 1930, Deputado Constituinte 1933-34 e Senador de 1935 a 1937. Durante a deputança estadual foi, também, Agente Executivo do município de Leopoldina, assim como o fora seu opositor Joaquim Antônio Dutra.

Infelizmente restou, ainda, carga na plataforma da estação, mas o Trem de História precisa fazer uma pausa porque política é carregamento estafante. No próximo Jornal a viagem continuará. Até lá.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado no jornal Leopoldinense de 01 de março de 2015

Parte XIV de A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899

Conheçamos a Nossa Terra

Há 100 anos, no dia 18 de fevereiro de 1915, saiu no jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro a matéria mandada publicar pela administração municipal de Leopoldina, exaltando as riquezas, a economia e a educação. Entretanto, chama a atenção o subtítulo:

Conheçamos a Nossa TerraPara os interessados em conhecer como Leopoldina era na época, lembramos que embora indicando “o município” no subtítulo, o conteúdo da matéria longe está de abrangê-lo como seria de se esperar.

Conheçamos a nossa terra: primeira parte

Talvez o termo “município”, para o político que estava no poder naquela época, significasse apenas o conjunto das propriedades da sua família com as escolas por eles administradas, o comércio que julgavam de boa qualidade, as construções por eles levantadas através da empresa construtora de sua propriedade…

Para quem se dedica ao estudo da história de Leopoldina, esta matéria é um exemplo claro da interferência de seu produtor, que atua segundo as práticas sociais de seu tempo, e de interesses que jamais podem ser considerados universais. Não é, como de resto nenhuma outra, uma fonte é isenta.

A continuação da matéria reafirma esta constatação.

Conheçam a Nossa Terra: final

A divulgação desta fonte de informação atende a um dos objetivos deste blog: suscitar uma reflexão sobre a história de Leopoldina e incentivar outras pessoas a pesquisá-la. Nesta postagem, trouxemos um exemplo de como era realizada a campanha política de um leopoldinense que se elegeu para cargos fora do âmbito regional. Eximindo-se de abordar o município como um todo, deixou de informar ao leitor que havia mazelas carentes da atenção do poder público. Mas isto não seria adequado divulgar. Era necessário mostrar apenas os pontos positivos, de modo a garantir a permanência do político no poder.

Mudou alguma coisa em relação aos discursos dos políticos atuais?

17 – A Leopoldina

A Leopoldina é o nome do periódico de hoje no Trem de História. Um periódico de existência curta, mas que teve importância em razão dos seus sócios e redatores.

Sua primeira edição data de 16.02.1893, embora Xavier da Veiga, em Efemérides Mineiras, informe que este jornal teria sido lançado em 1892.

Dele, no Arquivo Público Mineiro não foram encontradas edições. Já no acervo da Biblioteca Nacional existem dois exemplares, sendo um deles o de número 1, onde se constata a data de lançamento.

Era propriedade de Galdino & Coura e seus redatores eram os sócios: Galdino Vieira de Freitas e Jorge Rodrigues Coura. Suas oficinas localizavam-se na Rua Cotegipe nº 13 e as edições eram lançadas nas quintas-feiras.

Diferentemente de outros jornais da época, este não trazia subtítulo e não indicava valor de número avulso. Só informava o preço da assinatura anual, do que se depreende ser o valor cobrado de moradores de Leopoldina. Não se sabe se havia assinantes de fora da cidade.

Sobre seus sócios e redatores, apurou-se que ocupavam cargo de Escrivão desde 1891 e os dois provinham de Rio Pomba-MG. Galdino Vieira de Freitas casou-se em Leopoldina, em 1886, com Elisa Delfim Gama, filha de Francisco Joaquim de Almeida Gama e Guilhermina Rosa Delfim. Viúvo, contraiu segundas núpcias aos 31 de março de 1894, com Luiza Fernandes que residia na casa onde o Imperador Pedro II almoçou quando esteve em Leopoldina em 1881. Era filha de Francisco de Paula P. Fernandes e Luiza Amélia Cerqueira. Luiza era irmã de Adelaide casada com Alberto Moretzshon Monteiro de Barros e de Maria Leonor casada com Paulino Delfim da Gama e Silva.

Importante lembrar que Alberto Moretzshon era advogado, cujos anúncios em jornal indicam como endereço a Rua Octavio Otoni mas provavelmente o endereço era rua Teófilo Otoni, atual Lucas Augusto. Este advogado foi redator e proprietário do jornal O Mediador e teria lançado o Correio de Leopoldina em 1895, segundo Luiz Eugênio Botelho em “Leopoldina de Outrora”, Entretanto, esta última informação não parece adequada porque o redator e proprietário do Correio de Leopoldina, lançado em 1894 e não 1895, foi Henrique Cancio.

O segundo redator de “A Leopoldina” era Jorge Rodrigues Coura, que foi editor e proprietário do jornal O Bocayú lançado em Rio Pomba no ano de 1882. Curiosamente, este jornal contava com um colaborador que escrevia para diversos jornais mineiros, entre eles o Liberal Mineiro, A Província de Minas e Correio de Leopoldina, chamado Jacobino Freire. Jacobino era poeta, jornalista e professor do Atheneu Leopoldinense. Um literato cuja trajetória confirma as palavras de Nélson Sodré a respeito da carreira jornalística de nomes da literatura nacional. Teria sido, também, um dos redatores de um jornal leopoldinense de nome A República, órgão do partido republicano, ao lado de Theophilo Domingos Alves Ribeiro, Américo Lobo Leite Pereira e Werneck de Lacerda.

No editorial da primeira edição de A Leopoldina, em 16 de fevereiro de 1893, está a informação de que “o marasmo que a epidemia produziu” teve como reação “as múltiplas iniciativas que por todos os lados despontam” e que entre estas iniciativas estava o desejo dos editores de lançar um jornal “moderno, variado, tanto quanto possível noticioso, estranho à politicagem, acima de grupos e de personalidades”.

Na verdade, quase o mesmo tom utilizado por Coura no lançamento do jornal de Rio Pomba, apenas com a referência à epidemia de febre amarela que causou muitas perdas humanas em Leopoldina no ano anterior, sendo determinante para a mudança temporária da administração municipal para Tebas.

A outra edição de A Leopoldina a que se teve acesso foi a de número 10, datada de 21 de abril do mesmo ano de 1893, toda ela em homenagem ao “mártir da Independência”, com textos de diversos autores, incluindo poema. Mas esta não teria sido a derradeira porque O Leopoldinense, edição 28 de 25.11.1894, página 2, publicou uma reclamação de Manoel Joaquim Taveira Júnior contra o jornal A Leopoldina que, na edição de 16 daquele mês, teria atribuído ao Pastor Becker intenções e atos indignos.

Conforme se verifica, a história de um periódico de Leopoldina sempre traz à tona outros órgãos da imprensa local, deixando claro que além das interligações havia um constante movimento em prol da disseminação das informações, fossem elas de qualquer corrente.

O Trem de História de hoje dedicou espaço a um jornal com nome da sede do município, Leopoldina. Como naquela época, provisoriamente, esta sede se transferiu para o distrito de Tebas, no próximo número se dará vez ao periódico chamado A Voz de Thebas. Até lá.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 01 de fevereiro de 2015

Parte XIII de A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899

16 – Gazeta de Leste

Hoje o trem de história traz o primeiro periódico da cidade que utilizou o título GAZETA e que foi a Gazeta de Leste, lançada em 05.10.1890. Um periódico que trazia no subtítulo a informação de que era Órgão Popular.

De início é bom que se diga que a diferença entre o papel da gazeta e o do jornal não é claramente perceptível na imprensa de Leopoldina porque aqui os periódicos surgiram, como já foi dito em artigos anteriores, no último quartel do século XIX quando os conceitos já não eram tão estáticos. Mas de qualquer forma a Gazeta de Leste é um exemplo de periódico que se enquadraria no significado antigo de Gazeta, até porque especificava o recorte espacial ao qual se dedicaria.

Diga-se a este respeito que os estudiosos ensinam ser próprio das gazetas a inclusão, no nome do periódico, do lugar que seria objeto da publicação, enquanto jornais nem sempre o faziam.

Outro aspecto importante é a relação do proprietário com a localidade, assim como com a sociedade local, porque isto pode ser determinante para a linha editorial. No caso da Gazeta de Leste o redator e proprietário, José de Moura Neves Filho, embora natural de Valença, era engenheiro municipal em Leopoldina, nomeado no final de 1890, conforme o próprio jornal noticiou na sua edição de 20.12.1890, onde ele aparece também como primeiro imediato de Juiz de Paz.

Ressalte-se que ele era casado com Ambrosina Cândida, filha de José Antônio de Oliveira Martins que foi Agente do Correio e gerente desta Gazeta. Ambrosina, por sua vez, era irmã de Ricardo José de Oliveira Martins que trabalhou em outra Gazeta da cidade, foi Agente do Correio e esteve envolvido num imbróglio com redatores de outros jornais de Leopoldina. O problema era relativo ao atraso na entrega de telegramas que os jornais recebiam habitualmente e nos quais baseavam suas colunas de notícias nacionais e internacionais.

O editorial de lançamento, na edição de 05.10.1890, esclarece que a Gazeta de Leste estava “particularizada à parte oriental do Estado de Minas, [e tomaria] a defesa dessa rica e futurosa Zona”. Neste número foram publicadas notícias locais e nacionais (como uma que informa ter havido um duelo, no Rio de Janeiro entre dois jornalistas) destacando-se como novidade em relação aos outros jornais de Leopoldina o fato de publicar um Obituário. Além disto, este exemplar trazia ainda a transcrição do Decreto Federal sobre a secularização dos cemitérios, notas sociais, notícias internacionais, editais da justiça e uma lista de destinatários de cartas registradas de Leopoldina, provavelmente em razão do seu gerente ser Agente do Correio.

Na segunda edição da Gazeta de Leste chama a atenção um editorial sobre o suicídio de Arão Garcia de Mattos, no qual o redator manifesta-se contrário à posição da Igreja e de parte da imprensa, aquela por negar sepultamento ao suicida e esta por não colaborar quando se nega a noticiá-lo.

O terceiro número mantém o editorial na primeira página. Entre as notícias nacionais selecionadas para comporem o espaço, duas deixam perceber que o fator idade chamou a atenção do redator, já que uma delas é relativa à passagem para a reforma de um general de apenas 47 anos e a outra destaca a longevidade de uma portuguesa falecida na capital federal aos 114 anos.

O padrão da Gazeta de Leste se manteve na quarta edição, datada de 25.10.1890 e, portanto, mantendo a periodicidade semanal anunciada desde o primeiro número. E seguiu até a oitava, que foi uma edição especial em homenagem ao primeiro aniversário da Proclamação da República, mas trouxe notícias locais, nacionais, internacionais e anúncios classificados, como os outros jornais. As demais edições encontradas, a partir da nona, não são subsequentes e estendem-se apenas até maio de 1891, não se sabendo ao certo quando a Gazeta de Leste parou de circular.

Sabe-se que a sua linha editorial foi sempre a mesma, contrariando o conceito de que ao redator de uma gazeta não cabia exibir seus conhecimentos ou opiniões, mas apenas divulgar notícias que selecionasse em periódicos de outros centros ou trazidos pelo telégrafo, como ensina Maria Beatriz Nizza da Silva, no artigo A Imprensa Periódica na Época Joanina, inserido na obra Livros Impressos: Retratos dos Setecentos e dos Oitocentos, organizada por Lúcia Maria Bastos P. das Neves.

Como registro final vale lembrar que a mesma autora ensina que assuntos relativos à literatura, comércio e artes eram próprios de jornais e não de gazetas. Mas que ao longo do tempo os redatores foram modificando a linha editorial até que, no final do século XIX, eram comuns as publicações que ostentavam o título de gazetas, mas se assemelhavam mais ao formato de jornais. Como é o caso da Gazeta de Leste que, entretanto, não perde o seu valor de fonte de consulta.

E assim se completa o vagão de hoje e o Trem de História coloca mais lenha na caldeira para seguir viagem. Na próxima estação ele recolherá o vagão do periódico “A Leopoldina”.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 16 de janeiro de 2015

Parte XII de A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899

15 – Irradiação – parte II

Como ficou dito no artigo anterior, o Trem de História segue a mesma toada tratando ainda da bagagem do jornal Irradiação, o mais claramente político dos periódicos de Leopoldina do final do século XIX.

E para prender um vagão ao outro, recomeça a história contando que a divulgação das ideias republicanas chega a uma incidência um pouco maior em algumas das edições analisadas, como ocorreu na de número 62, datada de 21 de abril de 1889. Nela, além de noticiar o lançamento de novos órgãos do Partido Republicano em São João del Rei, Ubá e no estado do Pará, de rechaçar notícias falsas sobre o Club Republicano do Pará e comentar a eleição de um vereador republicano em Rio Novo, foi noticiado em cores fortes o atentado contra o republicano Nilo Peçanha em Lage do Muriaé e foi publicada uma forte reclamação contra o delegado de Conceição da Boa Vista por ter soltado os manifestantes que provocaram distúrbios em fevereiro daquele ano, com o objetivo de impedir a conferência republicana. O mesmo acontece na edição de 26 de junho de 1889, quase toda ela preenchida com notícias políticas. Na de número 71, um editorial transcrito do jornal O Movimento comparou a República do Haiti com a Monarquia do Brasil, afirmando que enquanto os partidários do

“velho sistema monárquico […] continuam a devorar a melhor seiva deste povo por demais explorado; enquanto forem apontando e dilapidando os cofres públicos, iremos apontando as nossas desgraças e mostrando a felicidade e riqueza das nações irmãs pelo continente”. E mais adiante informa que “a população do Império do Brasil sendo 15 vezes maior do que a do Haiti, para que os dois países estivessem em igualdade de circunstâncias seria preciso que todos os dados estatísticos relativos ao Brasil fossem 15 vezes maiores do que os do Haiti”.

Aqui vale uma explicação pertinente, à moda de uma nota de rodapé: Pensar nesta comparação hoje, século XXI, 125 anos depois de ter sido escrita, poderá gerar incredulidade e espanto naqueles que desconhecem os meandros da história e apenas sabem que o Haiti atualmente se encontra em situação política e econômica muito delicada. Entretanto, a matéria faz alusão aos benefícios que a República, sistema político vigente na ilha caribenha naquela época, trazia para a população e que, na opinião do articulista, não era prática da nossa monarquia.

Voltando ao trilho da história, é bom que se diga que o jornal muitas vezes divulgava, também, matérias sobre os Clubes da Lavoura, instituições que começaram a surgir na região de Leopoldina no início da década de 1880 e que tinham por objetivo substituir a mão de obra escrava pelo trabalhador livre. E, também, matérias sobre temas recorrentes como a imigração.

Uma destas matérias, que também merece uma nota de rodapé para lembrar o leitor sobre a época em que foi escrita, diz:

“Na opinião desses […] o chinês é a jaça, que desmerecerá o valor moral, intelectual, físico e… nem sabemos mais qual outro, das populações que o Brasil tem de atrair para seus extensos vales e férteis montanhas”. E prossegue: “vícios, trazem-nos europeus e asiáticos; virtudes trazem-nas também ambos, a menos que nos provem, coisa simplesmente impossível, que ao lado das mais peregrinas virtudes, que podem exaltar os povos, não rastejam por toda parte, formando embaixo relevo das misérias humanas, o vício em todas as suas formas de tendências, hábitos e ações”.  Mais adiante declara que “o ponto que nos deve interessar na questão [é] saber se as aptidões do chinês como trabalhador podem corresponder às condições do nosso país e satisfazer convenientemente a necessidade que nos assoberba”.

Interessante observar que o redator do Irradiação, Theophilo Alves Ribeiro, procedia do Ceará, primeiro estado brasileiro a abolir a escravidão. O que torna ainda mais difícil compreender a leitura de matéria publicada na edição de número 60, de abril de 1889, a respeito do serviço doméstico. Escreveu o redator:

“O serviço doméstico, por exemplo, de que se não cogitou ou se cogitou mal, foi abandonado como qualquer outro, reinando no interior das casas a mesma confusão que perturba e aniquila a atividade industrial. […] Se a parte pobre da população fugia do serviço doméstico; se as imigrações estrangeiras fugiam do país, explicavam uma e outra anomalia pela existência da instituição escrava; entretanto, esta desapareceu e com ela desapareceram também todos ou a maior parte dos que se empregavam no serviço doméstico e o estrangeiro só entra no país a custo de enormes sacrifícios da receita e de promessas…”.

E que não pense o leitor em censura porque o motivo para encerrar este artigo agora é bem outro. Acaba de chegar, pelo telégrafo da ferrovia, a mensagem:

– ENCERRAR HISTÓRIA IRRADIAÇÃO vg LEITOR QUER NOVIDADE pt TREM DE HISTÓRIA FALARÁ SOBRE GAZETA DE LESTE pt RECOLHER MATERIAL PRÓXIMO VAGÃO pt SAUDAÇÕES

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 1 de janeiro de 2015

Parte XI de A Imprensa em Leopodina (MG) entre 1879 e 1899

14 – Irradiação – parte 1

O Trem de História volta aos trilhos da Imprensa em Leopoldina no final do século XIX e fala hoje do jornal “Irradiação”, o mais claramente político dos periódicos de Leopoldina daquela época.

Sua história começa pela informação de Xavier da Veiga, em “A Imprensa em Minas Gerais” de que a sua primeira edição tem a data de 25 de fevereiro de 1888 e sabe-se que ele sobreviveu até 1890. Isto é, nasceu alguns meses antes da assinatura da Lei que regulamentou uma prática que já ocorria em Leopoldina desde o início da década: a da libertação de escravos. Circulou até um pouco além da Proclamação da República.

Este jornal era de propriedade das filhas de seu redator, Theophilo Domingues Alves Ribeiro, advogado natural de Aracati, no Ceará, que foi sócio da Cia Engenho Central Aracaty, localizada nas proximidades da Estação de Vista Alegre, no município de Leopoldina, onde se beneficiava a cana de açúcar.

Em 1890 Theofilo foi eleito presidente da Companhia Vila Rica, em Ouro Preto e vendeu o jornal para Sérvulo Fontes & Barreto e não se sabe se o periódico continuou em circulação.

Infelizmente não foi possível analisar os primeiros 39 números deste jornal por não terem sido preservados. Mas da leitura das edições encontradas na Biblioteca Nacional se constata ter sido o único jornal de Leopoldina a se enquadrar na hipótese de Nélson Werneck Sodré a respeito da disseminação das ideias republicanas. Em todas as nove edições compulsadas há notícia do partido. E o próprio subtítulo indica que a folha era um órgão republicano. Mas além desta posição, assim como os demais periódicos este também aceitava colaborações literárias como as de Davi Madeira e Dilermando Cruz que, ainda estudantes do Ateneu Leopoldinense, publicavam ali as suas poesias, conforme relata Cassio de Rezende em “Memórias de um Médico”.

Importante esclarecer que as ideias republicanas atraiam leopoldinenses há alguns anos, não sendo uma consequência do fim da escravidão por decreto, como o senso comum acreditava.

Francisco de Paula Ferreira de Rezende, em seu livro “Minhas Recordações”, conta que no final de 1864 adquiriu a fazenda Córrego da Onça e a crismou com o nome de Filadélfia, “a grande cidade em que se proclamou a primeira das repúblicas americanas para recordar essa república pela qual vivia sempre a suspirar”. E disse mais: “razão porque os meus últimos filhos se chamaram Cássio, Flamínio e Manlio, grandes republicanos dos bons tempos de Roma”.

Como Rezende, outros republicanos viveram em Leopoldina antes de 1889. Embora não se tenha indícios claros a respeito da convicção republicana de todos os colaboradores do jornal Irradiação, é de se supor que se não o fossem não teriam aceitado o convite de um jornal que veio a luz com o objetivo de divulgar as vantagens deste sistema de governo. O fato torna-se mais sugestivo quando observamos na lista de colaboradores da coluna Literatura e Ciências, nomes de notórios opositores da monarquia. Nela estão, por exemplo: Antônio Augusto de Lima (Juiz Municipal em Leopoldina, depois Promotor Público em Serra-ES, Presidente de Minas em 1891, Poeta, Membro da Academia Brasileira de Letras em 1903); C. Drummond (há um literato com este sobrenome em jornais republicanos do Rio); Custódio de Almeida Magalhães (Advogado em Leopoldina); Estevam Lobo; Luiz de França Vianna (advogado em Leopoldina, concunhado do redator deste jornal); J. Lobo; José James Zig Zag (farmacêutico e oficial do judiciário em Leopoldina); Martiniano de Souza Lintz (Advogado, Juiz Municipal e Professor em Leopoldina); Octavio Esteves Ottoni (médico e político em Leopoldina); Theophilo A. Rodrigues; e, Vaz Pinto (nesta época existia no Rio um juiz federal, republicano, chamado Henrique Vaz Pinto Coelho).

É certo que esta lista não esgota os nomes de republicanos em Leopoldina. Outros tantos opositores da monarquia, menos conhecidos, também colaboraram com o jornal e escreveram em defesa dos ideais republicanos. Mas extrapolou a capacidade do vagão de hoje e o assunto precisa continuar. Resta, então, controlar a lenha na caldeira para que o Trem de História tenha tempo para organizar a carga e continuar falando sobre o mesmo jornal, no início do próximo ano. Até lá, um Feliz Natal e Próspero Ano Novo a todos.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 16 de dezembro de 2014

Parte X de A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899

9 – O Leopoldinense Pioneiro

No vagão anterior falou-se dos diversos jornais que utilizaram o nome “Leopoldinense”. Neste, o trem de história reitera alguns pontos apurados sobre o jornal O Leopoldlinense lançado pelo Alferes Francisco da Costa Sobrinho em 01 de janeiro de 1879, o primeiro periódico que circulou na cidade e, por via de consequência, o primeiro a usar este nome.

De início, para colocar o trem na linha e desfazer o equívoco registrado por Luiz Eugênio Botelho no seu livro “Leopoldina de Outrora”, é necessário que se esclareça que Luiz Botelho Falcão não lançou O Leopoldinense em 1879 conforme afirma o autor. As edições do próprio jornal, consultadas para este trabalho, dão conta de que Botelho Falcão só assumiu o periódico alguns anos depois da sua fundação. E esteve à frente dele por cerca de dois anos, ao final dos quais, em 1894, o vendeu a Randolpho Chagas e Valério de Rezende.

Feito este esclarecimento, que se coloque lenha na caldeira para que o trem prossiga com a história. E diga-se que O Leopoldinense aqui estudado trazia nas suas primeiras edições o subtítulo: “Consagrado aos Interesses dos municípios de Leopoldina e Cataguases”. A partir do seu segundo ano de existência este subtítulo foi alterado para informar que o periódico passou a ser “Dedicado à Causa Pública”, embora continuasse com os mesmos posicionamentos e com a mesma equipe editorial.

Mais adiante, em maio de 1882, de fato ele sofreu uma significativa mudança estrutural quando foi desfeita a sociedade “Costa Sobrinho & C” e todo o ativo e passivo da tipografia, bem como a casa de negócio situada à Rua do Rosário nº 37 (atual Rua Tiradentes), passou a ficar a cargo do sócio Francisco da Costa Sobrinho, conforme nota publicada na primeira página da edição de 21.05.1882. Mas esta mudança aparentemente não alterou em nada a linha editorial, a estrutura e o público alvo do jornal, conforme se deduz das edições subsequentes.

Ressalte-se que O Leopoldinense nasceu e circulou numa época em que a política marcava presença no cenário municipal. Num período conturbado, com manifestações sobre a libertação dos escravos, a monarquia e a república. Anos de acirradas disputas no campo político e com forte apelo literário bastante influenciado pelas publicações francesas. Sem contar que sofria a influência de jornais publicados na Corte, como o “Diário do Brasil”, conforme fica patenteado na sua edição de 25.05.1882 quando o editor deixa claro que seu periódico acompanha o referido diário. E é bom que se diga que o “Diário do Brasil” é citado por Nelson Werneck Sodré, em “A História da Imprensa no Brasil” como sendo um dos órgãos da pequena imprensa que se isolou no apoio ao manifesto de Carl von Koseritz, em 1883, de incentivo à imigração germânica. Fato que leva a crer, com boa margem de certeza, que não teria sido por mero acaso que O Leopoldinense tenha se colocado em diversas oportunidades a favor da substituição da mão de obra escrava por colonos estrangeiros.

Alguns fatos podem dar uma ideia de quão árdua deve ter sido a sua luta. Um jornal do interior a defender a libertação dos escravos numa cidade que presta homenagem ao Barão de Cotegipe, dando o nome dele à rua principal. Um barão que, ao cumprimentar a princesa Isabel pela assinatura da Lei Áurea, teria afirmado: “Vossa Alteza libertou uma raça, mas perdeu o trono”. E no ano seguinte implantou-se a república. Uma cidade que homenageia Cotegipe, mas esquece a princesa Isabel e lembra Pedro II numa pequena Travessa que mais parece um apêndice da rua principal.

Mas vale lembrar que O Leopoldinense, além dos assuntos locais, publicava também matérias relativas a diversos municípios que não faziam parte da área de influência de Leopoldina. O que indica sua boa receptividade numa região mais vasta, embora não tenha sido possível identificar com precisão todo o universo dos seus assinantes. Sabe-se, apenas, que além dos moradores de localidades próximas ele possuía leitores em diferentes pontos das províncias de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, além dos residentes na Corte.

E para fechar o vagão de hoje resta dizer que O Lepoldinense circulou até os primeiros anos do século XX, embora no estudo atual não se tenha chegado às últimas edições. Dizer, também, que a viagem continuará e na próxima estação recolherá o vagão com a história de outro periódico da cidade. Até lá.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 1 de outubro de 2014

Parte IX de A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899

8 – ‘Leopoldinense’: nome de vários jornais

Antes que agarre na memória de algum leitor distraído uma informação indevida, feito o pó de carvão que sujava a roupa dos passageiros da Maria Fumaça, o Trem de História vira a chave do desvio, evita possível descarrilamento e presta um esclarecimento importante.

Diferentemente do Leopoldinense atual, que acolhe mais uma vez um resgate histórico destes autores, o Leopoldinense do passado teve uma outra história.

O atual nasceu em agosto de 2003, bem depois de arrancados os trilhos e derrubada a estação ferroviária, com o nome de “Gazeta Leopoldinense de Notícias”. Assim circulou por alguns meses até que, em 2004, por alteração contratual a sua razão social passou para “Grupo Leopoldinense de Notícias Ltda”. E é esta empresa, comandada por Luiz Otávio Meneghite, a responsável pela edição do atual “Jornal Leopoldinense”, que empunha a bandeira da “Consciência crítica da Cidade”. Um jornal que tem uma tiragem média de 2.000 exemplares e circula rigorosamente a cada início de quinzena.

“O Leopoldinense”, ao qual se refere este estudo sobre a história da imprensa em Leopoldina entre 1879 e 1899, teve sua primeira edição em 01.01.1879. Seu primeiro editor e gerente foi o Alferes Francisco da Costa Sobrinho e o próprio jornal informava ser “propriedade de uma sociedade anônima”. Na sua fase inicial apresentava-se como “Folha Comercial Agrícola Noticiosa”, trazendo o subtítulo “Consagrado aos Interesses dos Municípios de Leopoldina e Cataguases”. Segundo consta de todas as edições d’O Leopoldinense a que se teve acesso, até julho de 1883 a sua tiragem era de 2000 exemplares.

Importante esclarecer que, após esta data, foram encontradas seis edições no Arquivo Público Mineiro entre 1890 e 1892, nas quais não constam informações sobre assinaturas ou tiragem, nem tampouco os nomes dos redatores e proprietários.

Quanto à data de lançamento e o nome do proprietário do Leopoldinense antigo, registre-se um esclarecimento importante.

Segundo Luiz Eugênio Botelho, em Leopoldina de Outrora, seu pai Luiz Botelho Falcão teria lançado o jornal em 1879, o que se comprovou não ser coerente com a realidade. Pelas edições do próprio jornal, Luiz Botelho teria assumido a empresa em 1892, naquela que se poderia chamar terceira das quatro fases conhecidas d’O Leopoldinense. Por outro lado, entre setembro e novembro de 1886, quando Carlos Wehrs esteve em Leopoldina, informaram-lhe que Luiz Eugênio seria o proprietário do jornal. Uma das hipóteses prováveis é a de que, com a morte do fundador Francisco da Costa Sobrinho, Botelho Falcão tenha adquirido a empresa e só alguns anos depois o periódico tenha voltado a circular.

De todo modo, apesar dos descendentes terem incensado o patriarca como grande e pioneiro jornalista leopoldinense, só há indicação de que Luiz Botelho Falcão tenha estado à frente do periódico por cerca de dois anos, vendendo-o a Randolpho Chagas e Valerio de Rezende em 1894.

Circulou ainda pela cidade, no final dos anos de 1950, outro informativo com o nome de Leopoldinense. Segundo consta, era uma publicação de responsabilidade da Diocese de Leopoldina, impresso numa tipografia que funcionava junto à casa episcopal. Mas como este informativo é de período posterior ao estudado, dele não se apurou maiores detalhes e influências. Faz-se apenas o registro da sua existência pela coincidência do nome e para que ele não perca o Trem de História.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 26 de setembro de 2014

Continuação do trabalho A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899

7 – Periódicos e suas Histórias

Conforme prometido no artigo anterior o Trem de História traz um pouco da vida dos vinte e um periódicos publicados no município de Leopoldina entre 1879 e 1899. De alguns deles se falará um pouco mais em vagões posteriores.

01) O Leopoldinense, o mais antigo deles, circulou de 1879 a 1900. É o primeiro da lista e a ele se voltará em artigo posterior;

02) O Correio da Leopoldina veio em seguida, no ano de 1881. Deste se sabe apenas, por nota d’O Leopoldinense de 03.07.1881 que José de Souza Soares Filho e Manoel Teixeira da Fonseca Vasconcelos eram seus redatores e proprietários.  É possível que fossem moradores do então distrito de Bom Jesus do Rio Pardo, atual município de Argirita;

03) O terceiro periódico é O Povo, que segundo o já citado Xavier da Veiga teria circulado de 1885 a 1890 no distrito de Campo Limpo (atual Ribeiro Junqueira). Dele pouco se sabe. Foram encontradas três edições datadas de 1885 e 1886, ano em que o proprietário se transferiu para Cataguases, onde continuou publicando o periódico;

04) Princípio da Vida. Deste periódico se sabe apenas que foi lançado em 1885;

05) O Pássaro, lançado em 1886, do qual não foram encontradas edições;

06) Estrela de Minas teve sua data de lançamento – 29 de julho de 1887, registrada por José Pedro Xavier da Veiga na monografia A Imprensa em Minas Gerais, publicada em 1894 em fascículo do jornal Minas Geraes e republicada em 1898 na Revista do Arquivo Público Mineiro. Entretanto, nenhuma edição foi localizada;

07) Ideia Nova teve o lançamento informado também por Xavier da Veiga, e assim como do anterior não foram encontradas suas edições. No jornal A Província de Minas, edição 501, 24 de novembro de 1887, página 1, anuncia-se o aparecimento no dia 17 de novembro de 1887, sob direção de Jacobino Freire e Reynaldo Matolla, sendo de propriedade de Arnaldo Lessa;

08) Irradiação circulou entre 1888 a 1890. Sua história será um pouco mais detalhada em artigo posterior;

09) A Voz Mineira. Deste periódico tem-se o registro de que circulou em 1890. Está na lista dos desconhecidos;

10) Gazeta de Leste circulou entre 1890 e 1891. Trazia no subtítulo a informação de que era Órgão Popular. Seu redator e proprietário era José de Moura Neves Filho. É mais um periódico que terá sua história contada em artigo vindouro;

11) A Leopoldina registra na sua primeira edição a data de 16.02.1893. Também sobre este periódico se vai falar em artigo futuro;

12) A Phalena é uma publicação de 1894 da qual nada mais se conseguiu apurar;

13) A Voz de Thebas foi um periódico publicado entre 1894 a 1897 no distrito de mesmo nome. Deste periódico se vai falar mais adiante;

14) O Correio de Leopoldina é de 1894. Um pouco mais sobre a sua história virá em artigo posterior;

15) A Gazeta de Leopoldina, o décimo quinto jornal do período, foi lançada em 1895. Um vagão inteiro será pouco para contar a sua história, como adiante se verá;

16) O Mediador circulou entre 1895 a 1896. Mais adiante se dará mais detalhes sobre sua trajetória;

17) O Tiradentes, publicado em 1897, foi mencionado por Xavier da Veiga como jornal do arraial de Vista Alegre, em Leopoldina. Na única edição encontrada informa-se que o proprietário foi M. C. Machado Júnior, os redatores eram Francisco Gama e Alberto Guimarães e o local consta como Vista Alegre (Minas). Ocorre que o distrito cataguasense recebeu este nome por causa da Estação Vista Alegre que havia sido instalada anos antes no município de Leopoldina, donde é comum encontrar referência a Vista Alegre como se fosse distrito de Leopoldina;

18) O Arame, jornal que circulou entre os anos 1898 a 1899, do qual foram encontrados 23 exemplares em acervo particular. Sobre ele se falará um pouco mais em artigo posterior;

19) A Lyra teria circulado em 1898 no distrito de Campo Limpo, conforme noticiado no jornal O Arame, de 11.12.1898. Seu proprietário e redador foi Jorge de Albuquerque Júnior;

20) O Pelicano, consagrado à maçonaria, teve seu lançamento em 1898. Tinha José Werneck como seu diretor e circulou no distrito de Campo Limpo; e,

21)O Recreio, lançado em 1899 no então distrito do mesmo nome, conforme a Gazeta de Leopoldina de 08.01.1899.  Era editado por “A. Napoleão & C”.

Com o Recreio encerra-se a relação dos 21 periódicos publicados em Leopoldina entre 1879 a 1899. Mas seguindo a História da Imprensa em Leopoldina, a partir do vagão seguinte o leitor conhecerá um pouco mais sobre alguns destes periódicos. “Aguardem a próxima composição”, diria o agente da estação.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 12 de setembro de 2014

Continuação do trabalho A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899

5 – Porque Tantos em Tão Pouco Tempo

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 16 de agosto de 2014

Continuação do trabalho A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899

Nesta viagem sobre a Imprensa em Leopoldina o leitor deve ter observado que o Trem de História corre por trilhos imaginários que ligam os periódicos que circularam durante um determinado recorte de tempo – entre 1879 e 1899. No artigo de hoje a viagem continua.

Agora, para falar da razão de tantos periódicos em período tão curto.

E o princípio da conversa é a afirmação de Nelson Werneck Sodré, em “A História da Imprensa no Brasil”, de que durante o Império houve uma interiorização da imprensa através da publicação de periódicos nas pequenas cidades como forma de compensar a dificuldade de transporte e do serviço de Correio, os quais embaraçavam a chegada às cidades menores dos jornais da Corte e das capitais de província.

Por este modo de pensar os periódicos da cidade teriam proliferado num vazio deixado pela falta ou, deficiência do transporte para o interior do país.

Tudo leva a crer que esta não seria a melhor justificativa para a profusão de folhas que se lançaram em Leopoldina nas duas últimas décadas do século XIX. Até pelo simples fato de que a cidade poderia ser considerada uma privilegiada pela proximidade do Rio de Janeiro. Além de a Estrada de Ferro da Leopoldina já existir, a análise de Rodolpho Jacob no livro “Minas Gerais XX Século” e as tabelas do movimento de transporte ferroviário publicadas no Almanaque Laemmert entre 1879 e 1889 registram que era significativo o movimento diário de carga que chegava a Leopoldina, aí incluída a correspondência. Em verdade Leopoldina contava com o trem e uma boa troca de interesses com a capital.

Outro argumento utilizado para tentar explicar a grande quantidade de jornais na segunda metade do século XIX é a disseminação das ideias republicanas, mencionada por Sodré, na sua obra já citada.

Por este caminho o surgimento do grande número de periódicos publicados em Leopoldina decorreria da necessidade de disseminar tais ideias, o que também não parece tese de fácil defesa. Isto porque a leitura destes jornais não conduz à certeza de que teriam sido criados com o objetivo de divulgá-las ou rebatê-las a qualquer pretexto.

Mas o mesmo autor apresenta um outro motivo que parece adequar-se melhor ao que ocorreu em Leopoldina. Argumenta ele que as últimas décadas do século XIX não representam apenas uma grande época política. Foi também uma época literária, o que parece ser a causa mais provável para o lançamento de tantos jornais em tão curto espaço de tempo. Um motivo que melhor se amolda à Leopoldina daquele tempo e, à dos anos posteriores ao período estudado, quando a cidade se destacou culturalmente e contou com um dos melhores colégios da região.

No próximo Jornal o Trem de História continuará a viagem puxando o vagão que vai nominar e contar um pouco da história dos vinte e um periódicos que circularam no município de Leopoldina no período estudado. Tem jornal para todo gosto.