159 – Fazenda Feijão Cru

A mais antiga referência sobre esta propriedade é a declaração[1] de Manoel Antonio de Almeida, em 1856. Segundo esta fonte, a fazenda estava localizada no Ribeirão do Feijão Cru, contendo duas sesmarias de terras.

Sua sede ficava na margem direita do ribeirão que lhe empresta o nome, no local onde hoje se encontra o Colégio Estadual Professor Botelho Reis.

Na sede da fazenda passou a funcionar a Farmácia Central, fundada[2] por volta de 1866 pelo farmacêutico Antônio José Alves Ramos, cuja esposa Amélia Carolina Pereira Pinto era parente de Manoel Antônio.

Luiz Eugênio Botelho[3] relembra esta farmácia quando registra que o carnaval de 1898 contou com diversas representações e uma delas foi “a reconstituição de uma das batalhas da guerra russo-japonesa e teve como campo de batalha a praça Visconde do Rio Branco, defronte do sobrado de D. Amélia Ramos (onde está hoje edificado o Colégio Leopoldinense)”.

Em 1895, a Câmara Municipal de Leopoldina autorizou[4] a compra do prédio que na época pertencia aos herdeiros de Antonio José Alves Ramos, pelo poder público. Mas esta transação, ao que parece, não foi concluída imediatamente porque em 1896 a viúva ainda constou como contribuinte do imposto[5] sobre prédio urbano e farmácia.

Segundo informações orais, a venda somente se efetivou em 1902, ano em que a Câmara Municipal o transferiu para o político Ribeiro Junqueira que, juntamente com seus sócios, ali fundou a escola particular então denominada Gymnasio Leopoldinense.

Sobre esta transferência, comenta Estevam de Oliveira[6] que ela se afigurou um “escandaloso e revoltante privilégio” uma vez que o politico “obteve no orçamento elevado subsídio para um instituto de ensino de sua propriedade em Leopoldina”.

Quanto aos vizinhos, é sabido que uma das divisas da Fazenda Feijão Cru, declarada por Manoel Antonio em 1856, era com a Fazenda da Cachoeira. Esta Fazenda da Cachoeira foi formada por Joaquim Ferreira Brito e havia sido dividida no final de 1846, quando os proprietários fizeram a partilha dos bens entre seus herdeiros[7] e uma parte dela foi vendida para Antonio José Monteiro de Barros.

Outra divisa era com a Fazenda da Onça, cujo primeiro proprietário foi Bernardino José Machado, falecido em outubro de 1846. Conforme se verifica em seu inventário[8], as terras da Onça que divisavam com a Fazenda Feijão Cru couberam a dois genros de Bernardino.

Também declarada por Manoel Antonio de Almeida foi a divisa com Manoel Joaquim de Thebas, que hoje se sabe ser Manoel Joaquim Ferreira, formador da Fazenda Monte Alegre em cujas terras surgiu o atual distrito de Tebas.

Manoel Antonio declarou, ainda, ser vizinho de D. Thereza viúva de José Carlos. Este casal é identificado como Tereza Joaquina de Jesus, viúva de José Carlos de Oliveira falecido[9] em julho de 1852, sendo ele filho de Vital Antonio de Oliveira e Maria Narciza de Jesus, formadores da fazenda Rio Pardo que foi dividida em 1849 por ocasião da abertura do inventário[10] de Maria Narciza, que havia falecido em abril de 1843.

Os vizinhos seguintes da Fazenda Feijão Cru eram Carlos de Assis Pereira, Francisco Luiz Pereira e João Ribeiro.

O primeiro era neto de um irmão de Manoel Antonio de Almeida e viera para Leopoldina junto com a mãe, Joaquina Eucheria de Almeida, terceira esposa de João Gualberto Ferreira Brito. Ainda não se sabe o nome e a localização desta sua propriedade.

O segundo era o proprietário da Fazenda Ribeirão da Samambaia que mais tarde ficou conhecida como Fazenda Francisco Luiz, depois como Fazenda Samambaia e Fazenda Indaiá.

O último vizinho da Feijão Cru era João Antonio Ribeiro, proprietário da Fazenda Campo Limpo que se supõe ter sido um desmembramento das sesmarias recebidas por Felisberto da Silva Gonçalves e sua mulher Ana Bernarda da Silveira em 1813. Tal suposição encontra respaldo no Cônego Trindade[11] e em Artur Vieira[12] que indicaram a fazenda Campo Limpo como local de residência do filho do casal, Antonio Felisberto da Silva Gonçalves, em 1850. Esta fazenda Campo Limpo localizava-se a sudoeste da sede municipal, próximo à foz do ribeirão Samambaia no rio Pardo.

O Trem de História fica por aqui. Na próxima viagem, trará informações sobre outros vizinhos da fazenda Feijão Cru, assim como os nomes de seus sucessores. Até a próxima edição!

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado na edição 412 no jornal Leopoldinense de 1 de novembro de 2020

Fontes Consultadas:
[1] Registro de Terras de Leopoldina. Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114, termo 18.
[2] Inventário de Manoel Rodrigues Coelho processo 38402233 COARPE/TJMG img 25, nota de venda de remédios.
[3] BOTELHO, Luiz Eugênio. Leopoldina de Outrora. Belo Horizonte: s.n, 1963. p. 43
[4] Lei Municipal nº 54, 22 de fevereiro de 1895.
[5] O Mediador. Leopoldina, MG. 01.11.1896 ed 50 p. 1 col 4.
[6] OLIVEIRA, Estevam de. Notas e Epístolas. Juiz de Fora-MG: Typographia Brasil, 1911. p. 163
[7] Inventário in vitae processo 38404416 COARPE – TJMG
[8] Inventário de Bernardino José Machado processo 38403334 COARPE – TJMG fls 2 img 4.
[9] , Inventário de José Carlos de Oliveira processo 38403280 COARPE – TJMG
[10] Inventário de Maria Narciza de Jesus processo 38404173 COARPE – TJMG
[11] TRINDADE, Cônego Raimundo. Velhos Troncos Mineiros. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1955. v. 2 p. 197.
[12] REZENDE, Arthur Vieira de. Genealogia Mineira. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1937. v. IV p. 271

80 – Juvenal Carneiro, o filho mais conhecido de Antonio Teodoro.

O Trem de História está de volta. E como foi prometido no artigo anterior, trazendo Juvenal Lúcio de Andrade Carneiro ou, simplesmente Juvenal Carneiro, o nome mais conhecido e referenciado dentre os filhos de Antonio Teodoro de Souza Carneiro e Amanda Malvina de Andrade

Segundo Luiz Eugênio Botelho[1], Juvenal era mineiro nascido em São José do Rio Preto em 1871, mesma informação constante do livro Do Lombo de Burro ao Computador, publicado por seu filho Erymá.

Por volta de 1890, foi para o Rio de Janeiro onde fez o curso de guarda-livros no Liceu de Artes e Ofícios. Por esta época, final do século XIX, sua família já estava em Leopoldina para onde ele se transferiu ao terminar o curso.
Em 1896 casou-se[2] em Leopoldina com Honorina Antunes Vieira, filha de Honório Antunes Pereira (1854 – 1936), o criador da Sauvicida Agapeama e, Maria Balbina Vieira de Rezende (1860 – 1932)[3].

Em 1926, Honório Antunes Vieira demonstrou a ação do Sauvicida Agapeama na Quinta da Boa Vista, com a presença do Vice-Presidente da República. Nesta época, a empresa que produzia este defensivo agrícola tinha como sócios, além do inventor do produto, Augusto Ferreira Ramos, Juvenal Carneiro, Carlos Pacheco Filho, Zilda Pires Carneiro e Alvaro Alberto Margarido Pires. [4]

Juvenal é frequentemente lembrado por ter dado aos filhos nomes de forma a que as iniciais homenageassem a província de MINAS GERAES, na grafia da época. Mas a intenção não se concretizou, ficando faltando a última letra S.

São filhos do casal: Moacyr; Ierecê; Nahumá (duas do mesmo nome); Aracy; Suikire; Guaraci; Erymá; Rudá; Apalaís; e, Erundy (as duas últimas, gêmeas).

Sobre estes filhos, Oswaldo de Rezende, em Genealogia dos Resendes informa que Moacyr c.c. Zilda Margarida Pires; Ierecê Carneiro de Almeida c.c. Manoel José da Silva Almeida; Nahumá  c.c. Jeová Batista de Sousa (médico); Araci Antunes Carneiro c.c. Jaci Soares (advogado) natural de Rio Pomba; Suiquire Carneiro (médico) c.c. Neréa Costa; Guaraci c.c. Guaraci Medeiros; Erymá  (advogado) c.c. Diva Mascarenhas (cas.1) e Rose Espíndola (cas.2); Rudá c.c. Ernani Paturi Monteiro; Apalaís; e, Erundi c.c. Ademar Vaz de Carvalho.

Através de outras fontes, sabe-se que o filho Moacyr, nascido[6] em 1896, foi bancário e autor dos livros Octagenário e A Bondade do Meu Avô; Ierecê[7], nascida em 1898, segundo o livro do irmão Erymá foi a primeira moça da pequena burguesia local a trabalhar no comércio, como escriturária do Banco Ribeiro Junqueira; Erymá formou-se em advocacia e contabilidade e foi professor universitário, ex-diretor de Contabilidade do Estado de Minas Gerais, consultor do Sindicato de Contabilistas do Rio de Janeiro, fundador e ex-presidente do Instituto de Organização e Revisão de Contabilidade, conforme Joaquim Custódio Guimarães em seu trabalho sobre os Escritores Leopoldinenses; e, Suikire, médico que exerceu a chefia do ambulatório de crianças do Hospital São João Batista da Lagoa e chefe da enfermaria de crianças do Hospital da Cruz Vermelha. Publicou os livros Roteiro das Mães e, O Cristianismo do Cristo.

Luiz Eugênio Botelho, já citado, declarou que o professor Juvenal Carneiro se tornara figura de destaque nos meios sociais leopoldinenses pela sua honradez, capacidade de trabalho e pelo seu espírito de iniciativa. Foi professor de geografia e de contabilidade comercial no Ginásio Leopoldinense.

Ainda segundo Erymá, Juvenal foi proprietário de duas escolas: Curso Comercial Afonso Vizeu para os rapazes e Curso Comercial Rodolfo de Abreu, para as moças, ambos na Rua Cotegipe, em Leopoldina, quase em frente à residência da família.

Escreveu as seguintes obras: Geografia; Aritmética Comercial e Tratado Prático de Máquinas de Escrever e Calcular, publicado em 1920; O Guarda-Livros Prático; e, Tratado de Contabilidade, em 6 volumes, sendo 4 publicados em vida e 2 póstumos. E, em parceria com o filho Erymá Carneiro, escreveu Do Lombo de Burro ao Computador, e, Contabilidade Bancária.

Foi tenente do 4º Esquadrão do 5º Regimento da Guarda Nacional de Leopoldina[8]. Durante quinze anos trabalhou como contador da Casa Bancária Ribeiro Junqueira, Irmão & Botelho (depois Banco Ribeiro Junqueira)[9] e como guarda-livros da Casa de Caridade Leopoldinense.

Ao transferir-se para o Rio de Janeiro, lecionou no Instituto Lafayete[9] e participou ativamente dos assuntos de interesse dos contabilistas cariocas.

Faleceu, no Rio de Janeiro (RJ) em 1931, sendo sepultado no Cemitério São João Batista.

Hoje, Juvenal Carneiro empresta seu nome a uma via pública de Leopoldina que, partindo da Rua Vinte e Sete de Abril, em frente ao prédio da antiga fábrica de tecidos, segue na direção do Córrego do Feijão Cru e Rua Manoel Lobato.

Por hora a carga está de bom tamanho. O Trem de História faz mais uma parada para reabastecimento, mas promete seguir viagem e trazer uma filha de Antonio Teodoro de Souza Carneiro, Maria da Glória, na próxima edição. Até lá!


Fontes Consultadas:

1 – BOTELHO, Luiz Eugênio. Leopoldina de Hoje… e de Ontem. 1 ed. Leopoldina: do autor, 1967.  p. 134

2 – Secretaria Paroquial da Matriz do Rosário, Leopoldina, MG, lv 2 cas fls 135v termo 20.

3 – REZENDE, Oswaldo. Genealogia das Tradicionais Famílias de Minas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1969. p. 80 nº 10.

4 – O Paiz (Rio de Janeiro), 10 set 1926, ed 15301 p. 4 e Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 12 dez 1926, ed 355, p. 14

5 – CARNEIRO, Erymá. Do Lombo de Burro ao Computador. Rio de Janeiro, 1976 p.15

6 – Secretaria Paroquial da Matriz do Rosário, Leopoldina, MG, lv 06 bat fls 181v termo 677

7 – Secretaria Paroquial da Matriz do Rosário, Leopoldina, MG, lv 08 bat fls 51v termo 90.

8 – Diário Oficial da União, 1897 10 dez seção 1 p. 4

9 – CARNEIRO, Erymá. Do Lombo de Burro ao Computador. Rio de Janeiro, 1976, p.18 e 56

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 334 no jornal Leopoldinense de 1 de julho de 2017

Augusto dos Anjos por Júlio Caboclo

O Trem de História continua nos trilhos das Homenagens pelo Centenário da Morte de Augusto dos Anjos. Hoje, trazendo no vagão mais um pouco da história e a visão de um dos maiores divulgadores e grande incentivador do culto à obra do poeta paraibano: o professor e poeta Júlio Ferreira Caboclo, em suas aulas no Ginásio Leopoldinense e nas matérias publicadas em diversos jornais e revistas.

De início é bom lembrar que a história de Júlio Caboclo como professor, embora ainda incompleta, parece ter tido início quando desembarcou no Rio de Janeiro, com aproximadamente vinte anos em busca de “uma colocação”, conforme declarou à Polícia Política de Minas Gerais anos mais tarde.

Ainda conforme declarado à Polícia, poucos meses depois conseguiu emprego de professor no Colégio Ítalo-Brasileiro, de Santo Antônio de Pádua, RJ e por volta de 1922 passou a lecionar no então Ginásio Leopoldinense.

E em Leopoldina Júlio Caboclo passou a estimular o culto à obra e à pessoa de Augusto dos Anjos. De tal modo o fez, que se tornou uma figura indissociável da trajetória de Augusto dos Anjos entre a juventude leopoldinense. Os textos que produziu sobre o “rapaz de cérebro de ouro” conforme escreveu na seção Caixilhos, da Fon-Fon de 30 de outubro de 1926, o confirmam.

Além disto, no ano anterior, mais precisamente no dia 25 de junho de 1925, foi Júlio quem ajudou a fundar o Grêmio Lítero-Artístico Augusto dos Anjos, segundo a Revista Brasil Progresso, do Rio de Janeiro, edição de setembro 1925, do qual foi o primeiro presidente. E foi com o apoio dele que, para comemorar o décimo segundo aniversário de morte de Augusto dos Anjos, em 1926, o Grêmio promoveu uma romaria ao túmulo e uma sessão solene que incluiu a denominada Missa de Arte, na qual falaram vários oradores, entre os quais Erymá Carneiro (então acadêmico de Direito), Gerardo Majella Bijos, Antônio Pedro Braga, Francisco Eufrosino dos Santos e outros estudantes do Curso de Farmácia do Ginásio Leopoldinense.

Vale recordar que, naquela época, algumas pessoas do grupo acima citado lançaram a ideia de transferir as cinzas de Augusto dos Anjos para a sua terra natal, na Paraíba. Mas esta ideia não recebeu apoio da maioria, ficando sem efeito a proposta de buscar ajuda política para realizar o intento. Tal atitude, entretanto, parece ter sido estimulante no sentido de fazer nascer entre os leopoldinenses um maior apreço pelo poeta que tão pouco tempo viveu na cidade, mas que se tornou parte integrante da nossa história.

Fato curioso é que a notícia sobre as homenagens pelo décimo segundo aniversário de morte de Augusto dos Anjos, que saiu no jornal O Brasil, de 17 de outubro de 1926, traz alguma semelhança com os diversos eventos que foram realizados em vários novembros desde que o poeta passou para outra esfera. A própria celebração de missa com acompanhamento de cânticos sacros, organizada em 1926, tendo à frente Júlio Caboclo, foi uma ideia que se tentou reviver com a Missa em Latim deste ano do centenário de morte.

Antes, em 1924, em homenagem ao décimo ano de falecimento, segundo o periódico O Brasil, do Rio de Janeiro, edição de 22 de novembro de 1924, Júlio Ferreira Caboclo fizera publicar um texto que permanece desconhecido por especialistas da atualidade em função de ter saído com um erro de impressão no nome do autor, corrigido em nota da edição seguinte, onde afirmava:

“Augusto dos Anjos pertencia ao número dessas naturezas singulares cuja imperfeição procede de uma posse incompleta de si mesmas, mas pela razão de que nelas essa posse se torna mais difícil e tardia dos que nos casos mais comuns. Elas são o inédito propriamente dito; para se revelarem passam por todas as torturas e incertezas, todos os erros e descaminhos dos que vêm para descobrir um novo mundo.”

Palavras que nos trazem um pouco da dimensão que o poeta do EU deixou em Júlio Ferreira Caboclo que, por sua vez, impressionou não só os alunos em quem estimulou o culto da obra de Augusto dos Anjos como a nós, que quase cem anos depois nos debruçamos sobre os textos que escreveu e nos sentimos como Miguel Torga tão bem expressou: “Embora de carne e osso, parecia-nos mitológico”.

O Trem de História precisa terminar por aqui. E com ele encerrar a série de artigos em comemoração ao centenário da morte do poeta paraibano. Mas se for do interesse do leitor conhecer um pouco mais sobre o Poeta da Morte e sobre o seu grande divulgador, fica a sugestão para uma visita ao Museu Espaço dos Anjos, ali na Rua Cotegipe, onde morou Augusto dos Anjos. Porque ali se pode compulsar o material disponível sobre Augusto dos Anjos e Júlio Ferreira Caboclo e conhecê-los ainda melhor. No próximo Jornal o Trem de História retornará aos trilhos da Imprensa em Leopoldina e espera continuar contando com a atenção de seus leitores. Até lá.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membro da Academia Leopoldinense de Letras e Artes

Publicado no jornal Leopoldinense de 1 de dezembro de 2014

Júlio Caboclo, o divulgador do poeta.

O Trem de História de hoje continua correndo os trilhos do Centenário de Augusto dos Anjos. Agora para falar um pouco sobre o professor Júlio Ferreira Caboclo, um dos grandes divulgadores e incentivadores do culto à obra de Augusto dos Anjos, seja em sala de aula ou escrevendo matérias para jornais e revistas.

Júlio Ferreira Caboclo que, segundo seu título de eleitor nasceu em 25.09.1901 em Manaus, AM, era filho de José Liberato Ferreira Caboclo e Maria Eliza Ferreira e sua história começa a ficar mais conhecida a partir do momento em que foi admitido como professor em Santo Antônio de Pádua, RJ.

De Pádua ele se transferiu para Leopoldina, por volta de 1922, onde passou a lecionar português, francês, geografia e história no então Ginásio Leopoldinense e foi descrito por Miguel Torga, poeta e médico português que foi seu aluno no Ginásio Leopoldinense, como sendo: “todo teso, pequenino, a ensinar os verbos franceses, metido no colarinho engomado, com as entradas do cabelo mais subidas ainda”.

Foi um dos fundadores e presidente do Grêmio Litero-Artístico Augusto dos Anjos, em 23.06.25, em Leopoldina, segundo o jornal O Paiz de 20 de agosto e a Revista Brasil Progresso na edição de setembro do mesmo ano, ambas as publicações do Rio de Janeiro.

Em Leopoldina Caboclo conheceu Esther Fialho, viúva de Augusto dos Anjos e com ela se casou em 16 de agosto de 1923, em Leopoldina.

Vale lembrar que, ao se casar com Júlio, Esther Fialho tinha um casal de filhos, Glória e Guilherme Augusto, do seu casamento com Augusto dos Anjos. Com Júlio teve as filhas: Selma, nascida em 1924 e Elida em 1925, ambas nascidas em Leopoldina e, Maria Elisa, em São João Nepomuceno, nascida em 21.05.31 e falecida em 06.06.31, quatro dias depois da morte de Esther Fialho.

Viúvo, com duas filhas menores e dois enteados do primeiro casamento de Esther, Júlio casou-se segunda vez com Lygia de Macedo Cerqueira em 21.06.33 em São João Nepomuceno, e com ela teve as filhas Guaynubi em 1934 e Apalaís em 1936, nascidas em Nova Friburgo, e o filho Júlio César Cerqueira Caboclo nascido em São João Nepomuceno em 1943.

Em 1938, em carta resposta enviada de São Paulo ao amigo Blair de Abreu, residente em São João Nepomuceno, Júlio Caboclo se mostra um homem angustiado, acossado, com saudades da mulher e das filhas e se declara uma pessoa “incontentável, que nasceu fora da época ou, noutros intermúndios”. Na mesma carta declara ainda ter ido “à missa pela manhã” e completa: “Reconciliei-me com a igreja. Estou feliz e satisfeito com a consciência. Posso lançar o brado para a grande batalha. Numa das mãos o sigma. Na outra a Cruz de Cristo”.

Membro da Ação Integralista Brasileira, cujas atividades foram proibidas pelo Decreto-Lei nº 37, no rastro dos efeitos da Constituição Brasileira conhecida como Polaca, promulgada a 10.11.37, Júlio Ferreira Caboclo era um verdadeiro soldado sempre pronto para a batalha. Foi preso e perseguido político.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da Academia Leopoldinense de Letras e Artes

Publicado no jornal Leopoldinense de 16 de novembro de 2014

Prédio da Câmara Municipal de Leopoldina

Em maio de 1895 a Gazeta de Leopoldina publicou a Lei número 54, de 22 de fevereiro daquele ano, em que foi autorizada a compra de um prédio para a Câmara Municipal. A curiosidade desta notícia vem do fato de que Antônio José Alves Ramos, de cujos herdeiros seria comprado o prédio, fora farmacêutico e proprietário da Farmácia Central, estabelecida em um prédio que pertencera à Fazenda do Feijão Cru Pequeno. Este prédio seria, mais tarde, o Ginásio Leopoldinense.

Em jornal comemorativo dos 103 anos do Ginásio, publicado em junho de 2009, informa-se na página 2 que o imóvel fora comprado em 1902, pelo Dr. Ribeiro Junqueira. Esta informação é questionável por informar que o vendedor foi Antonio José Alves Ramos, falecido muito tempo antes. Na verdade deve ter escapado ao articulista que a venda foi realizada pelos herdeiros. Mas resta ainda uma dúvida, já que os descendentes contam que a viúva Amélia Carolina Pereira Pinto vendeu o prédio, por volta de 1904, mas não para a pessoa física acima mencionada e sim para a Câmara Municipal de Leopoldina. A notícia do jornal vem, de certa forma, confirmar esta informação oral.

Segundo publicou O Mediador, em novembro de 1896, a Farmácia Central continuava em funcionamento, tendo sido incluída no Lançamento de Contribuintes para o ano seguinte. Portanto, se a Lei de 1895 teve algum efeito, não foi imediato como parece indicar a sua publicação em maio do mesmo ano. Talvez tenha havido negociação que não chegou a termo imediatamente.