163 – O Arraial se torna o distrito de Tebas

O arraial de Santo Antonio do Monte Alegre se tornou distrito com o nome de Santo Antonio de Tebas pela lei nº 2675 de 30.11.1880, conforme ficou dito no artigo anterior. No ano seguinte, em outubro o distrito foi elevado à categoria[1] de freguesia. Ao tempo do Império, como não havia separação entre Igreja e Estado, tornar-se freguesia significava que o poder eclesiástico avalizava a criação do distrito. Na prática, ao se tornar freguesia a Igreja de Santo Antonio de Tebas passou a ter livros próprios e os eventos não mais deveriam ser registrados nos livros da Freguesia de Bom Jesus do Rio Pardo [Argirita] ou de Nossa Senhora da Piedade [Piacatuba].

Um pouco antes, mais precisamente em agosto, o diretor geral dos Correios criou[2] uma agência em Tebas. Segundo o Jornal Liberal Mineiro[3], na sessão da Assembleia Legislativa de 09.08.1883, foram transferidas para Tebas algumas propriedades até então pertencentes à freguesia do Rio Pardo.

E neste mesmo ano de 1883 foram criadas[4] duas cadeiras de instrução primária na povoação, sendo uma para o sexo feminino e outra para o masculino. Fontes orais indicam que o prédio da imagem abaixo é de uma escola criada no final dos anos oitocentos.


No censo de 1890 o distrito de Santo Antonio de Tebas aparece com um total de 2.226 habitantes sendo 1161 do sexo masculino. Dessa população, 19 homens e 17 mulheres eram nativos e um total de 61 homens e 42 mulheres eram estrangeiros.

Quanto aos 36 nativos (indígenas) apontados pelo censo é oportuno lembrar a referência feita por Francisco de Paula Ferreira Resende[5] que chegou a Leopoldina em 1861:

“Quando vim para a Mata, ainda tive ocasião de ver um grande número desses índios na fazenda da Soledade que pertencia ao capitão Quirino; e vi também ainda algum tempo depois uma espécie de pequeno aldeamento deles, um pouco para lá do atual arraial de Tebas na estrada que ia para o Rio Pardo. Eram apenas alguns pequenos ranchos muito imundos e onde eles pareciam estar sempre a cozinhar preguiça. Nunca soube-lhes o número ao certo; mas parece que deveriam ser uns dez ou doze […] Eu já disse que estes índios eram aqui conhecidos pelo nome de Puris”

Em 1895 Francisco Gonçalves da Rocha Andrade, por contrato lavrado com a Câmara Municipal[6] encarregou-se da empreitada da estrada de Tebas, na seção à Fazenda da Constança, na extensão de 6 km.

Francisco foi subdelegado, segundo o periódico A Voz de Thebas[7] e, 2º Juiz de Paz de Tebas, conforme a Gazeta de Leopoldina[8].

Na década de 1890 e por curto período de tempo, circularam em Tebas dois periódicos: A Voz de Thebas, de 1894 a 1897 e, o Arame, de 1898 a 1899. Ambos se tornaram conhecidos pelas posições críticas e contestadoras que assumiram.

Em 1894 uma epidemia de febre amarela atingiu a sede do município de Leopoldina obrigando ao fechamento do cemitério local pela impossibilidade de receber mais corpos. A contaminação assustava de tal modo que a administração municipal se viu obrigada a transferir o centro administrativo para o distrito de Tebas.

Com esta lembrança triste o Trem de História de hoje fica por aqui. Na próxima edição ele voltará para falar de Manoel Joaquim Ferreira e seus descendentes. Até lá!

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 416 no jornal Leopoldinense, janeiro de 2021

Fontes consultadas:
[1] Arquivo Público Mineiro. Lei N. 2848 de 25 de outubro de 1881. Art. 1
[2] O Leopoldinense. 28 ago 1881. p.1 col. 3
[3] Jornal Liberal Mineiro, 23.08.1883, Ed. 88, p.1. col. 3
[4] Arquivo Público Mineiro. Livro da Lei Mineira tomo I Parte Primeira Folha N. 11 Lei N. 3127 18 de outubro de 1883.
[5] REZENDE. Francisco de Paula Ferreira de. Minhas Recordações. Belo Horizonte: Itatiaia, 1988. p. 364.
[6] O Leopoldinense, 28.07.1895, ed. 59, p. 2, col. 5.
[7] A Voz de Thebas, 1897, ed. 29, p.2, col. 3.
[8] A Gazeta de Leopoldina, 01.05.1898, ed. 3, p.2, col. 4. 

160 – Vizinhos e Sucessores da Fazenda Feijão Cru

Hoje o Trem de História acrescenta, à relação de confrontantes do artigo anterior, os proprietários[1] que citaram Manoel Antonio de Almeida como vizinho ao fazerem o registro de suas terras em 1856.

Foram eles: José Augusto Monteiro de Barros, fazenda da Constança; Antonio Bernardino Machado, que havia adquirido uma parte da fazenda Cachoeira; Custódio de Vargas Corrêa, fazenda Boa Esperança; Manoel Rodrigues da Silva, fazenda dos Purys; Domingos Dias Tostes, fazenda Barra; e, José Bernardino Machado que não declarou o nome de sua propriedade.

Quanto aos sucessores de Manoel Antonio, a história começa com o falecimento da sua esposa, Rita Esméria de Jesus, em janeiro de 1865.

Em setembro de 1868, no decorrer do inventário de Rita Esméria, o piloto[2] Carlos Pereira de Souza fez a medição da propriedade encontrando uma área[3] de oito milhões trezentos e quinze mil cento e oitenta e quatro braças quadradas [8.315.184], equivalente a 831,5 alqueires que foram divididos entre os herdeiros.

Como se observa, esta área encontrada pelo agrimensor era bem maior do que as duas sesmarias declaradas em 1856. Tal divergência se explica por um hábito social daquela época, hoje pouco comentado e que pode ser analisado da seguinte maneira.

Dos 13 filhos de Manoel Antonio e Rita Esméria, alguns chegaram ao Feijão Cru ainda solteiros e no estudo de suas trajetórias há indícios de que o pai adquiriu pequenas posses que formaram o dote de tais filhos. Embora não seja habitual denominar como dote o que os pais passavam para os filhos do sexo masculino ao se casarem, esta prática era bastante comum naquela época. E na visão de Nazzari[4], “o dote era claramente um instrumento de domínio dos pais sobre os filhos”.

Mesmo não fazendo doações equivalentes para filhas e filhos, parece não haver dúvida de que esta era uma forma do pai manter o controle sobre a família. E como nos inventários todos precisavam declarar o que haviam recebido, corrigiam-se aí as eventuais distorções.

No caso da família em análise, no inventário e partilha dos bens da matriarca são identificadas porções de terras não registradas em 1856 e que, somadas, perfazem total próximo do encontrado pelo agrimensor no tombamento da fazenda Feijão Cru.

Vale ressaltar que naquele momento Manoel Antonio dividiu também a sua meação entre os descendentes e ficou com uma pequena área da parte que lhe cabia. Assim, a partir desse momento a Fazenda do Feijão Cru se tornou um condomínio entre os seguintes sucessores e ou, proprietários:

1) Manoel Antonio de Almeida, com a sua “terça”, equivalente a 1/6 dos bens do casal;

2) Antonio de Almeida Ramos e sua mulher Rita Bernardina de Andrade, ele, filho de Manoel Antonio, proprietários da Fazenda Boa Vista, em Tebas, com 167 alqueires;

3) Antonio Venancio de Almeida, marido de Maria Inocência, filha de Manoel Antonio, com 51 alqueires da Fazenda Feijão Cru;

4) Custódio de Vargas Corrêa e sua mulher Maria Messias de Sene, ela, filha de Maria Venancia, filha falecida de Manoel Antonio. Junto com sua filha Ana Tereza de Vargas e o marido dela Francisco Antonio Coimbra, eram sócios na Fazenda Monte Alegre, em Tebas, com 26 alqueires;

5) Gervásio Antonio Monteiro de Castro que havia adquirido 35 alqueires de Manoel Antonio de Almeida;

6) Honório Evangelista de Almeida e sua mulher Maria Candida de Almeida, filha do primeiro casamento de Antonio de Almeida Ramos e neta de Manoel Antonio, com 24 alqueires da Fazenda Boa Vista;

7) Joaquim Francisco de Assis e sua mulher Teresa Balbina de Vargas, com 20 alqueires adquiridos de Manoel de Antonio de Almeida;

8) João Rodrigues Ferreira Brito e sua mulher Messias Esmeria de Jesus. Ela, filha de Manoel Antonio. Na partilha constam três partes somando 113 alqueires, as quais ficaram conhecidas como Fazenda Conceição ou, sítios Caeté, Palmeira e Serra, todos em Tebas;

9) Joaquim Antonio de Almeida Ramos e sua mulher Maria Luiza. Ele, filho de Manoel Antonio. Além de uma faixa da Fazenda Feijão Cru, o casal tinha a fazenda Santa Fé, em Tebas, com 108 alqueires;

10) Joaquim Camilo Villas Boas e sua mulher Rita Tereza de Jesus, ela filha de Joaquim Antonio de Almeida Ramos, de quem recebera como dote 9 alqueires da Fazenda Feijão Cru;

11) Joaquim Ignacio de Moura e sua mulher Eufrasia Maria, com 7 alqueires provavelmente adquiridos de algum descendente de Manoel Antonio e Rita Esmeria;

12) Justino Marques de Oliveira e sua mulher Mariana Carolina de Oliveira que detinham 16 alqueires provenientes do dote da primeira esposa de Justino que era uma sobrinha neta de Manoel Antonio;

13) Manoel Marques e sua mulher Maria Barbosa de Toledo, proprietários de 12 alqueires da Fazenda Feijão Cru, provavelmente comprados de descendentes de Manoel Antonio e Rita Esméria; e,

14) Venancio José de Almeida Costa e sua mulher Ana Paula de Sena. Ele, filho de Manoel Antonio, com 220 alqueires, sendo 138 da Fazenda Bela Aurora que divisava com a Feijão Cru.

Registre-se que entre a data da medição em setembro de 1868 e o requerimento para a divisão judicial em abril de 1869, José Rodrigues Carneiro Ferreira e sua mulher Mariana Esmeria de Sena, ela, filha de Maria Venância e neta de Manoel Antonio, teriam vendido sua parte mas o comprador não foi identificado.

Observe-se, ainda, que entre junho de 1867 e setembro de 1868 foi realizada a medição e tombamento da fazenda Monte Alegre e pelo menos oito dos condôminos da Feijão Cru foram citados ora como adquirentes de partes da Monte Alegre ora como seus vizinhos. Confirmando, portanto, a declaração no Registro de Terras de 1856 de que a fazenda formada pelo pioneiro Manoel Antonio de Almeida fazia divisa com a fazenda formada por Manoel Joaquim Ferreira, mais frequentemente referido como Manoel Joaquim de Tebas.

E é sobre esta Fazenda Monte Alegre, de Manoel Joaquim, a bagagem para a próxima viagem do Trem de História. Até lá.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 413 no jornal Leopoldinense de 12 de novembro de 2020


Fontes consultadas:

[1] Registro de Terras de Leopoldina. Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114, termos 31, 44, 54, 68, 70 e 73.

[2] Piloto era o termo correspondente a engenheiro agrimensor de nossos dias.

[3] Divisão amigável da fazenda Feijão Cru, processo 38402789 COARPE – TJMG imgs 19/20.

[4] NAZZARI, Muriel. O Desaparecimento do Dote. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p.66.

143 – A Fazenda Constança do final do século XIX

O Trem de História traz hoje um retrato da Constança no meado dos anos de 1890. E começa registrando que, em 1896, 9,75 hectares da Fazenda[1] foram vendidos por Gustavo Augusto de Almeida Gama e sua mulher Carolina Rosa França para Octaviano Nicomedes Barbosa. Tal propriedade fazia divisa por seus diversos lados com os herdeiros de Manoel Rodrigues da Silva; com João Baptista de Almeida; João Fonseca ou Francisco Guimarães; e, com a Fazenda do Feijão Cru. Formando uma área distinta, mas incorporada à Constança, também estavam 10 alqueires de terras desmembradas do Sítio Pury, parte esta que tinha como confrontantes: a fazenda do Coronel José Joaquim (Fazenda Boa Sorte); a fazenda Constança; Antonio Bernardino Machado; Domiciano Ferreira Monteiro de Castro (ou, Domiciano Ferreira Monteiro de Barros, administrador da Paraíso); herdeiros de Dona Messias (esposa de Custódio de Vargas Corrêa) e outros.

Dentro destes limites estava a casa sede[2] da fazenda, uma construção assobradada, com escada de madeira por fora, tendo na frente 3 janelas e um portão em baixo. Em cima, 8 janelas e uma porta no centro e divisões que formavam 3 salas, 10 quartos e 1 varanda. Esta, com porta e 4 janelas para o quadrado interno.

Em continuação era ligada por uma varanda a uma segunda casa contendo porta e 5 janelas para a frente. Esta segunda casa era dividida em sala e corredor com 4 quartos voltados para uma mesma varanda, uma dispensa e 1 quarto. Seguia outra varanda para o quadrado, que terminava numa cozinha com fogão econômico e em seguida 2 quartos.

No fim da varanda existia uma coberta de telhas (meia água), onde tinha um forno. No quadrado existia uma cocheira para animais e um quarto para empregados.

Existia, ainda, uma casa de sobrado, caiada, assoalhada e coberta de telhas, engenho de café com todo o maquinismo para preparo do mesmo e moinho para fubá, tocado por máquina a vapor. Engenho de serra e outras benfeitorias.

Mais adiante, outra casa com 2 portas e 7 janelas, sendo 1 porta e 2 janelas de morada e 1 porta e 5 janelas de armazém, com armação e balcão para negócio.

Além destas construções, existiam ainda as 44 casas mencionadas na coluna anterior, cujas indicações embasam a conclusão de que mais tarde se tornaram casas dos adquirentes dos lotes da Colônia Agrícola da Constança.

Com tantas casas, empregados, meeiros e mais as dificuldades vividas pelos lavradores da ocasião era natural que alguns desencontros pudessem se tornar mais sérios. Um deles, de 1899, chegou às páginas do jornal Minas Gerais[3] que o registrou na forma seguinte: “Na fazenda Constança deu-se no dia 22 de maio ultimo um grave conflito entre o proprietário da fazenda sr. Octaviano Barbosa e outros de um lado e o meeiro da fazenda Bartholomeu Mello e pessoas de sua família, do outro lado.”

Superando estes e outros contratempos, a Fazenda ainda sobreviveu como tal durante aproximadamente uma década até que o Relatório[4] assinado por Guilherme Prates a 20.03.1910 informou que a Colônia Agrícola da Constança foi “fundada em terras das fazendas annexadas e denominadas Constança, Sobradinho, Boa Sorte, Onça e o sitio Puris, que o Estado adquiriu”.

A partir daí, com a implantação da Colônia Agrícola da Constança, cuja administração foi instalada na sede da Fazenda da Boa Sorte, a casa sede da Fazenda Constança se tornou subsede da Colônia e residência do auxiliar do administrador, o sr. João Ventura Gonçalves Neto. Suas terras foram divididas para dar origem a muitos dos lotes vendidos aos colonos que deram início à bela história dos imigrantes que ali se fixaram.

Hoje, fruto do descaso para com a história, a casa sede da Constança, que ficava na margem direita da BR 267, na altura do km 2 desta rodovia, não existe mais. Para marcar o lugar, estão lá algumas palmeiras e os vestígios do que foi uma escola municipal, num terreno que ainda hoje pertence ao poder público.

Com este artigo o Trem de História encerra a série destinada ao resgate do que foi a Fazenda que emprestou seu nome à Colônia Agrícola da Constança e acolheu muitos dos imigrantes italianos que vieram para Leopoldina. Certamente a história não termina aqui. *** E até 17 de maio de 2020, quando acontecerá o Encontro de Descendentes dos Imigrantes de Leopoldina, muita novidade ainda pode surgir. *** Até a próxima!


Fontes de Referência:

[1] Arquivo Permanente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais – COARPE – TJMG. Extrato de Confrontações da Fazenda Constança – Processo códice 38405781

[2] idem

[3] Jornal Minas Geraes, Ouro Preto (MG), 07.06.1899, Ed. 146 p. 2, col.3.

[4] Arquivo Público Mineiro. Relatório da Diretoria de Agricultura, Terras e Colonização de Minas Gerais, 1909.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 396 no jornal Leopoldinense de 16 de janeiro de 2020

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17/03/2020: em virtude da pandemia de coronavírus, foram suspensos os preparativos para o ENCONTRO DE DESCENDENTES DOS IMIGRANTES DE LEOPOLDINA que seria realizado no próximo dia 17 de maio de 2020. Nova data será oportunamente informada.

Imigração em Leopoldina: revisão da pesquisa

Alguns temas da pesquisa publicada em 2010 foram atualizados e republicados a partir de fevereiro de 2019. Ei-los:

121 – Imigrantes Italianos em Leopoldina – O início do estudo

122 – Relembrando a pesquisa publicada em 2010

123 – Fontes das Informações

124 – Acréscimos e Correções

125 – Viagem com os sobrenomes de imigrantes italianos

127 – A identificação mais antiga

128 – Colônia Agrícola da Constança

129 – A formação da colônia e o ensino agrícola

130 – Primeiros impactos: a chegada do Trem e o desenvolvimento

131 – Imigrantes de outras origens

132 – Encontro de Descendentes dos Imigrantes de Leopoldina

133 – As Hospedarias

134 – O Ribeirão Jacareacanga

135 – Hospedaria Jacareacanga

136 – Imigrantes e a Hospedaria Jacareacanga

137 – Propriedades pequenas e produtivas

138 – Colônias em Minas Gerais e migrações entre elas

139 – Pelos Caminhos da Colônia

140 – Fazenda Constança: primeiras informações

141 – Fazenda Constança: mudança de domínio

142 – Fazenda Constança: de Gervásio a Octaviano

143 – A Fazenda Constança do final do século XIX

144 – Imigrantes Italianos em Leopoldina – Regiões de origem

142 – Fazenda Constança: de Gervásio a Octaviano

A viagem de hoje do Trem de História segue com outras mudanças de proprietários da Fazenda Constança. E lembra que foi através de notícia do jornal A União[1], de 1888, que se teve conhecimento da presença de imigrantes naquela propriedade, com a nota informando que o “Governo autorizou Gervásio Antonio Monteiro de Castro a contratar imigrantes para sua fazenda Constança com passagens por conta do governo imperial”.

Outra informação sobre a presença de Gervásio na Fazenda é a descrição de Luiz Rousseau[2] sobre uma visita que teria empreendido à Fazenda. Conta ele que depois de passar pelo Sobradinho, “andamos uma légua, e depois de passar por dentro de córregos e bambuais, matas virgens com pássaros grandes e pequenos, chegamos à Fazenda da Constança, mas antes passando por baixo das senzalas que atravessavam a estrada. […] A Fazenda da Constança pertencia ao Gervazinho”. Parece que Rosseau se baseou em memória familiar para citar o proprietário da fazenda, já que Gervásio vendeu a Constança para Gustavo de Almeida Gama quando o menino Luiz Rosseau contava cerca de 3 anos de idade.

Por uma escritura[3] do cartório de Notas do Tabelião Castro, da capital da República, lavrada em 30 de dezembro de 1895, sobre a transferência da fazenda de Gustavo de Almeida Gama para Octaviano Nicomedes Barbosa, sabe-se que o valor da transação foi de 200 contos de reis e que o pagamento dessa importância foi feito através da liquidação de hipoteca de Gervásio Antonio Monteiro de Castro junto ao “Banco Hypothecario do Brazil cessionario do Banco da Republica do Brasil e este do Banco dos Estados Unidos do Brazil, do qual foi aceita a hypoteca por escritura de 16 de julho de 1890”.

Interessante observar que nessa escritura, além da regular transferência da propriedade da fazenda que passou de Gustavo Augusto de Almeida Gama e sua mulher Carolina Rosa França da Gama para Octaviano Nicomedes Barbosa, consta uma averbação de esclarecimento sobre a hipoteca existente e sobre a reclamação pendente, ora por meios amigáveis, que tem os transmitentes contra o síndico da massa falida do Conde de Leopoldina[4] e atinente à compra de café feita simultaneamente com a fazenda Constança. Diz essa averbação que “os cafés colhidos que existem atualmente na referida fazenda que por comum acordo não são compreendidos no contrato por saberem os vendedores o seu direito à liquidação da colheita deste ano, ficando a cargo exclusivo dos mesmos transmitentes a solução de quaisquer dúvidas ou reclamações de colonos, oriundos de fatos anteriores ao presente contrato”.

Por estas informações, como se pode supor, no final dos anos de 1880 a Fazenda Constança talvez tenha passado por um período um pouco conturbado financeiramente.

Mas independente das dificuldades por que passavam os proprietários, o poder público se preocupava com a região onde ela estava. Em 1895 o jornal O Leopoldinense[5] registrou que “O Sr. Francisco Gonçalves Andrade, por contracto lavrado com a Camara Municipal em data de ante-hontem, encarregou-se da empreitada da estrada de Thebas, na secção de Thebas à Fazenda Constança, na extensão de 6 kilometros pela quantia de 18 contos de réis”.

Informação relevante, também obtida no Extrato de Confrontações da Fazenda Constança em 1895, na folha 3, é a existência de casas espalhadas pela lavoura, todas cobertas de telha, algumas assoalhadas e uma caiada (esta em Santa Cruz), a saber: no sítio do Buraco Fundo, uma; no cafezal de Santa Cruz, duas; na várzea entre o pasto e Santa Cruz, seis; na divisa do Vargas, duas; na fralda da Serra do Paraíso, dez; na estrada do Paraíso, duas; na divisa do Vargas a Paraíso, uma; na estrada em frente ao Marrière, uma; no cafezal da Conceição, três, no cafezal do Fernando, uma; no cafezal de S. Joaquim, quatro; no cafezal de Sto Antonio, uma; na várzea entre Santo Antonio e pasto, três; no cafezal do Marrière, uma e uma no Alto do mesmo Marrière. Muitas destas casas podem ser as que mais tarde foram ocupadas por colonos, conforme indica o relatório da Colônia Agrícola da Constança ao informar que alguns lotes já contavam com casa de morada.

Sobre estas moradias o Trem de História promete retornar em texto futuro. Quanto à viagem pela história da Fazenda Constança, os fatos continuaram acontecendo e merecem ser resgatados. Novos textos e *** o Encontro de Descendentes dos Imigrantes de Leopoldina, que acontecerá em 17 de maio de 2020, *** serão boas oportunidades para isto. Mas neste ponto da narrativa de hoje uma nova parada se impõe. Na próxima edição do Jornal a viagem continuará, com toda a certeza. Aguardem.

***

17/03/2020: em virtude da pandemia de coronavírus, foram suspensos os preparativos para o ENCONTRO DE DESCENDENTES DOS IMIGRANTES DE LEOPOLDINA que seria realizado no próximo dia 17 de maio de 2020. Nova data será oportunamente informada.

 

Fontes de Referência:

[1] Jornal A União, Ouro Preto (MG), 07.04.1888, ed. 160, p. 2 coluna 4.

[2] BOTELHO, Luiz Rousseau. Alto Sereno. Além Paraíba: Editora Vega, 1975. P. 59.

[3] Arquivo Permanente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais – COARPE – TJMG. Extrato de Confrontações da Fazenda Constança – Processo códice 38405781, 1895

[4] Não se tem conhecimento da existência deste título nobiliárquico em Leopoldina. Parece que seria uma referência ao pai de Gervásio, que não teve título nobiliárquico algum e cujo inventário estava em andamento na época.

[5] Jornal O Leopoldinense, Leopoldina (MG), 28.08.1895, p.1, col.5.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 395 no jornal Leopoldinense de 30 de dezembro de 2019

141 – Fazenda Constança: mudança de domínio

Na edição anterior, o Trem de História mencionou alguns dados sobre a Fazenda homônima da Colônia que acolheu muitos imigrantes que viveram em Leopoldina. Falou-se no Registro de Terras de 1856, documento que contém informações preciosas na indicação da propriedade e de seu proprietário. Mas que exige que se tenha cautela ao utilizar seus dados uma vez que registra a informação oral de um declarante, que nem sempre sabia o exato tamanho de suas terras, muitas vezes indicadas em documentos oficiais com medidas acrescidas de expressões do tipo “pouco mais ou menos”. Feitas estas observações iniciais segue, então, a viagem de hoje.

Três anos depois do Registro feito por José Augusto Monteiro de Barros o seu pai, Antonio José, declarou que vendeu a Fazenda Constança para José Teixeira Lopes Guimarães[1]. E numa escritura[2] de troca de terras, Guimarães e sua mulher Maria Teixeira da Fonseca se referiram ao plantio de milho em suas terras afirmando que a FaliFaria Lonstança [tem] em um corrego Marrier, 28 alqueires de semeadura de milho”.

José Teixeira Lopes Guimarães faleceu[3] em Leopoldina aos 02 de fevereiro de 1884 e sobre ele há uma passagem interessante, relacionada à Fazenda Constança. No Almanaque de Leopoldina de 1886, um texto sem indicação de autoria, páginas 71 a 81, termina com a seguinte informação:

“Até 1887 carissimos leitores, emquanto não raia o seculo XX em cuja aurora prometto-vos escrever não um artigo, mas um livro bastante para uma cidade de 200.000 almas, cuja serra offerece já perspectivas encantadoras, e na elevada casa do finado capitão José Teixeira Lopes um panorama superior ao do Corcovado, dominando verdadeiro oceano de selva virgem.”

Ainda sobre a família Teixeira Guimarães, no conjunto documental da Fazenda Paraíso, pertencente ao Arquivo Histórico do Museu Imperial, encontra-se uma escritura de troca de partes da Fazenda Feijão Cru, ocorrida em 14.01.1868. Segundo essa fonte, João Teixeira da Fonseca Guimarães, José Teixeira Lopes Guimarães Júnior e Joaquim Teixeira Lopes Guimarães, filhos de José Teixeira Lopes Guimarães e Maria Teixeira da Fonseca, adquiriram quatro partes da Fazenda Feijão Cru pertencentes aos herdeiros Ignacio Ferreira Brito, João Rodrigues Gomes, José Mancio de Moraes e Antonio de Freitas Lima, num total de 35 alqueires, no valor de 3 contos de réis. Em todas estas partes havia planta de milho. O filho João realizou a troca com os pais, que cederam a “Constancia”, terras em torno do córrego Marrier, com 28 alqueires de semeadura de milho, mais o sítio formado pelo filho Joaquim, com 7 alqueires.

As fontes analisadas indicam que a Fazenda Constança sofreu diversos desmembramentos entre 1856, data em que foi citada pela primeira vez, e 1882, quando foi realizada a medição e definição dos proprietários de cada parte de seus 989 hectares.

Esta medição foi requerida[4] ao Juiz por Gervasio Antonio Monteiro de Castro e outras 14 pessoas, entre condôminos da Constança e seus confrontantes.

Gervasio Antonio Monteiro de Castro era filho de José Joaquim Monteiro de Castro e Maria do Carmo Monteiro da Silva. Estudou no Caraça[5] entre 1860 e 1864, donde se pode supor que tenha nascido por volta de 1850. Em 1869, na partilha[6] dos bens da mulher de Manoel Antonio de Almeida, ele é citado como proprietário de 35 alqueires de planta de milho na Fazenda Feijão Cru. A confirmar a sua presença em Leopoldina estão os registros de filhos aqui nascidos entre 1880 e 1888. Mas em 1893 ele residia em Faria Lemos, então distrito de Carangola, conforme se conclui pelo batismo[7] da filha Joaquina lá realizado.

O pai de Gervásio também faz parte da proto-história da Colônia Agrícola da Constança por ter sido proprietário de 614 hectares da Fazenda Boa Sorte, que passou para o Banco Rural Hypothecario no decorrer de seu inventário. José Joaquim Monteiro de Castro faleceu[8] em Leopoldina aos 13 de dezembro de 1892. Seus filhos fizeram abstenção judicial dos bens a inventariar em benefício da liquidação das dívidas do espólio.

O assunto “Fazenda Constança” não esgotou. Mas o Trem de História precisa fazer uma parada técnica para atender ao limite de espaço do Jornal. *** Antes, porém, lembra ao leitor que o Encontro de Descendentes dos Imigrantes de Leopoldina acontecerá em 17 de maio de 2020 e todos estão convidados a participar. Na próxima edição do Jornal a história continua. Até lá.

***

17/03/2020: em virtude da pandemia de coronavírus, foram suspensos os preparativos para o ENCONTRO DE DESCENDENTES DOS IMIGRANTES DE LEOPOLDINA que seria realizado no próximo dia 17 de maio de 2020. Nova data será oportunamente informada.

 

Fontes de Referência:

[1] Arquivo do Museu Imperial de Petrópolis. Coleção Kenneth Light, doc. 2198/97, histórico da Fazenda Paraíso.

[2] Arquivo do Museu Imperial de Petrópolis. Coleção Kenneth Light, doc. 2265/97, histórico da Fazenda Paraíso.

[3] Cemitério Público de Leopoldina, MG (1880-1887), folhas 15 sepultura 470.

[4] Arquivo Permanente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais – COARPE – TJMG. Divisão Amigável da Fazenda da Constança. Processo códice 38402839.

[5] Colégio do Caraça Disponível em <http://www.santuariodocaraca.com.br> Matrícula nr. 99

[6] Arquivo Permanente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais – COARPE/TJMG. Divisão Amigável da Fazenda Feijão Cru. Processo códice 38402789.

[7] Igreja de São Mateus, Faria Lemos, MG. lv 1 bat fls 7.

[8] Arquivo Permanente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais – COARPE – TJMG. Inventário de José Joaquim Monteiro de Castro. Processo códice 38404143 fls 7 img 12.


140 – Fazenda Constança: primeiras informações

Faz alguns anos que o Trem de História viaja pelo passado da cidade em seguimentos diversos e, de forma recorrente, pela imigração italiana e a Colônia Agrícola da Constança. Mas até aqui, pouco reuniu sobre a fazenda que emprestou seu nome para a instituição que se tornou moradia de tantos estrangeiros que passaram por Leopoldina.

Hoje, para preencher esta lacuna, num imaginário olhar a partir do alto do Belvedere da Serra da Vileta, fixando a vista em derredor do trevo da BR 116 e nas terras cortadas pela BR 267, no trecho que vai dali até as proximidades de Tebas, o Trem de História traz um pouco da história desta fazenda que, após sua derrocada, recebeu numerosos imigrantes e compõe o atual Bairro da Constança.

Logo de início é bom que se diga que ainda não foi possível documentar o momento exato da constituição e a origem das terras da Fazenda Constança. Mas o que se pode afirmar, desde logo e com muita segurança, é que em 1847 ela não aparecia entre as propriedades mapeadas no distrito do Feijão Cru, o que leva a crer que não existisse até aquele momento.

Recorde-se, no entanto, que Francisco de Paula Ferreira de Rezende[1], ao tratar da chegada de Manoel Antonio de Almeida à atual Leopoldina, refere-se à Constança quando comenta que este pioneiro da cidade adquiriu terras acima da confluência do Feijão Cru pequeno com o grande[2] e que “A sua posse veio por esta forma a compreender todas as vertentes desse mesmo ribeirão, e o que é certo, é que apesar de ter-se dela destacado a grande fazenda ou sesmaria da Constança….”

Tal informação de Rezende não retira do campo das hipóteses o possível esclarecimento sobre a formação da Fazenda Constança. Assim, optou-se pela realização de uma análise comparativa com outras fontes a partir da mais antiga referência sobre sua existência. Trata-se do Registro de Terras de São Sebastião da Leopoldina[3], em 1856, no qual se encontra a declaração de José Augusto Monteiro de Barros, filho de Antonio José Monteiro de Barros, informando ser proprietário da Fazenda Constança, cuja extensão foi estimada em uma sesmaria.

Considerando que as sesmarias concedidas a partir do final do século XVIII mediam “meia légua em quadra”, convertendo-se tal medida chega-se 10,89 km2 ou, 1.089 hectares, total que muito se aproxima do encontrado no processo de Divisão da Fazenda[4] em 1882, registrado como 989 hectares.

Neste mesmo Registro o proprietário declarou, ainda, que suas terras confrontavam com “as sismarias do Dr. Antonio José Monteiro de Barros (seu pai, proprietário da Fazenda Paraíso), João Vidal Leite Ribeiro (seu cunhado, proprietário da Fazenda Independência), com posses de Manoel Antonio de Almeida (Fazenda Feijão Cru), de Custodio de Vargas Correa e seos irmãos (Fazenda Boa Esperança) e com Manoel Rodrigues da Silva (Fazenda Purys)”, conforme anotou o Vigário José Maria Solleiro, em 15 de abril de 1856.

Recorrendo a outros registros da mesma época, bem como a processos de divisão de outras propriedades na região, verifica-se que Francisco de Vargas Corrêa, pai de Custódio de Vargas Corrêa, em julho de 1830 comprou[5] 150 alqueires ou 726 hectares de terras da sesmaria que havia sido concedida[6] a José Maria Monteiro de Barros que delas fez doação[7] a seu irmão Antonio José Monteiro de Barros. Já a propriedade de Manoel Antonio de Almeida foi registrada[8], em 1856, como sendo equivalente a duas sesmarias, ou seja, 2.178 hectares aproximadamente. Considerando que outros proprietários declararam ter comprado terras de Manoel Antonio nos anos anteriores, e que a medição da Fazenda Constança em 1882 cita condôminos herdeiros de Rita Esméria de Jesus, mulher de Manoel Antonio falecida em 1865, é provável que José Augusto Monteiro de Barros tenha adquirido terras também de Manoel Antonio para formar a Fazenda Constança.

Há indícios de que José Augusto teria homenageado sua avó paterna ao nomear sua propriedade. Trata-se de Francisca Leocádia Constança da Fonseca que foi casada com o avô paterno de José Augusto, o Barão de Paraopeba, falecido em dezembro de 1855. A formação da Fazenda Constança teria ocorrido logo depois da morte do avô e pouco antes do casamento de José Augusto com Rita Vidal Leite Ribeiro, filha de Francisco Leite Ribeiro e Teresa Angélica de Jesus.

Na próxima edição o Trem de História virá com mais bagagem sobre a Fazenda Constança antes dela se tornar parte da Colônia Agrícola que herdou o seu nome. Mas hoje ainda resta lembrar a todos que em 17 de maio de 2020 acontecerá na cidade o Encontro de Descendentes dos Imigrantes de Leopoldina e que espera contar com a participação de todos.***

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17/03/2020: em virtude da pandemia de coronavírus, foram suspensos os preparativos para o ENCONTRO DE DESCENDENTES DOS IMIGRANTES DE LEOPOLDINA que seria realizado no próximo dia 17 de maio de 2020. Nova data será oportunamente informada.

 


Fontes de Referência:

[1] REZENDE, Francisco de Paula Ferreira de. Minhas Recordações. Belo Horizonte: Itatiaia, 1988. p. 348.

[2] Ribeirão do Feijão Cru Pequeno é o que corta a cidade. Feijão Cru Grande é o braço atualmente denominado Ribeirão do Banco.

[3] Arquivo Público Mineiro. Registro de Terras de São Sebastião da Leopoldina. Seção Colonial, TP 114, termos 70 e 71.

[4] Arquivo Permanente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais – COARPE – TJMG. Divisão Amigável da Fazenda da Constança. Processo códice 38402839.

[5] Arquivo Público Mineiro. Registro de Terras de São Sebastião da Leopoldina. Seção Colonial, TP 114, termo 44.

[6] Arquivo Público Mineiro. Carta de Sesmaria códice SC 377 fls 105, concedida a 2 maio 1918

[7] Arquivo do Museu Imperial de Petrópolis. Coleção Kenneth Light, doc. 2123/97, histórico da Fazenda Paraíso

[8] Arquivo Público Mineiro. Registro de Terras de São Sebastião da Leopoldina. Seção Colonial, TP 114, termo 18.

Luja Machado e Nilza Cantoni - Membros da ALLA

Publicado na edição 393 no jornal Leopoldinense de 1 de dezembro de 2019

139 – Pelos Caminhos da Colônia

O Trem de História convida o leitor para uma viagem imaginária pela Colônia Agrícola da Constança. Inicialmente em busca de compreender o motivo pelo qual ela herdou o nome da fazenda Constança e teve sua sede instalada na fazenda Boa Sorte.

Importante compreender que eram outras as estradas ou, os caminhos que serviam às duas fazendas vizinhas, cujas sedes eram relativamente próximas, se consideradas as alternativas de deslocamento daquela época.

Ressalte-se, ainda, o fato de que da estação ferroviária de Leopoldina se chegava com muito mais facilidade à Boa Sorte do que à Constança, antes da abertura da Rio-Bahia na década de 1930.

Até então era difícil a transposição do vale dos Puris, por onde desce o Córrego da Onça que hoje cruza a BR-116 no km 771. Como também era difícil vencer as escarpas do estreito por onde passa o Córrego Água Espalhada, local que os imigrantes italianos e os tebanos mais antigos chamavam de Buraco do Cubu[1]. E não menos problemático era, após vencer estes obstáculos, construir uma estrada transitável durante o período de chuvas sobre o alagadiço que deu nome ao Córrego Água Espalhada, no km 773 da mesma rodovia, no local onde está o “Restaurante Seta”.

Por outro lado, pela estrada da Boa Sorte se chegava primeiro e com menor esforço, às terras da Constança.

Outro fato que merece explicação é o que se refere à localização de alguns lotes. A visão do traçado da Colônia, a partir da realidade das novas rodovias, é também um dos complicadores para se entender a localização dos lotes que hoje são de difícil acesso. Ocorre que muitos deles, quando foram demarcados, eram servidos por estrada de trânsito normal ou até intenso, que posteriormente foram abandonadas em função de novas opções e interesses.

Outro fato que hoje parece estranho, mas que pode ser explicado com facilidade, é o número de colonos da fazenda Paraíso que adquiriram lotes na Colônia Agrícola da Constança.

Já se falou noutros artigos que muitas propriedades foram vendidas por outros fazendeiros aos colonos porque eles viam nessa prática uma forma de o imigrante realizar o sonho de se tornar sitiante, ao mesmo tempo em que a fazenda garantia uma reserva de mão de obra nas suas proximidades. O que deu origem a muitos dos núcleos de imigrantes existentes no município.

Os lotes da Colônia Agrícola da Constança não se encaixam exatamente nesse perfil de venda. Entretanto, na aquisição de partes de fazendas para formar o território da Colônia, ficou determinado que ela abrigaria, também, colonos oriundos dessas propriedades adquiridas.

Além disto, considerando o caminho hoje inexistente, que descia da Paraíso nas imediações da “Água Espalhada”, a distância entre a Colônia e a sede da citada fazenda não era grande, ainda mais para os padrões daquela época.

Para compreender o acesso à Colônia, não se pode esquecer da Capela de Santo Antônio, na Onça, construída entre 1912 e 1915, estrategicamente localizada no percurso natural do imigrante, viesse ele da Boa Sorte ou da Constança em direção à cidade ou, simplesmente para orar ao seu Santo Protetor.

É bom registrar que no fundo do galpão de leilões, ao lado da Igrejinha, existia no ano de 1943 uma escola rural. Na segunda metade dos anos de 1950, com a instalação em Leopoldina do projeto piloto que propunha a erradicação do analfabetismo no Brasil, foi construído um prédio no pátio fronteiro à Igrejinha, ali passando a funcionar a Escola Singular Rural que a Lei Municipal nº 936, de 17.10.1973, deu o nome de “Carlos de Almeida” em homenagem a este ruralista que, em conjunto com os imigrantes que então habitavam a Colônia, trabalhou na construção da Igreja.

Recorde-se que o trânsito da produção da Colônia trazida para a cidade era realizado por antiga via que teve alguns de seus trechos aproveitados no traçado da BR 116, a Rio-Bahia, construída no final dos anos de 1930.

Neste percurso, numa remodelação da rodovia em meados do século XX, alguns trechos da velha estrada de terra permaneceram com menor utilização. Dentre eles está a ligação entre a Igreja de Santo Antônio e o ponto em que a estrada da Boa Sorte encontra-se com a BR 116. Hoje esse trecho se tornou uma via importante, é o Caminho do Imigrante, usado pelos moradores do local, por pedestres, ciclistas e cavaleiros que, procedentes da Boa Sorte dirigem-se à Igreja, à cidade e ao ponto final do ônibus urbano, no Posto Puris.

Por hoje o Trem de História fica por aqui. Na próxima viagem virá o histórico da fazenda que emprestou o nome à Colônia. Até lá!

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 392 no jornal Leopoldinense de 16 de novembro de 2019

Nota:

1 - Cubu é um bolo ou broa de fubá assado no formato do pão de cachorro quente.

129 – A formação da colônia e o ensino agrícola

Como já foi dito, datam do início da década de 1880 as articulações para substituir a mão de obra escravizada na província de Minas Gerais.

É certo que atitudes isoladas já vinham ocorrendo há algum tempo, mas o grande fluxo ocorreu de fato entre 1888 e 1896. Nesse período Leopoldina recebeu grande parte dos imigrantes agricultores que mais tarde residiriam na Colônia Agrícola da Constança, criada pelo Decreto Estadual nº 280, de 12.04.1910, como fruto de parte de um acordo firmado pelo governo com as Empresas Ferroviárias, onde se previa o apoio à criação de núcleos produtivos nas proximidades das Estradas de Ferro.

Respaldando a criação do núcleo colonial ainda existia a Lei nº 438, de 1906, que autorizava o governo do Estado a criar colônias para o assentamento de imigrantes, vendendo a cada colono um lote que a Lei nº 2027, de 08.06.1907, definiu como sendo de três hectares de terras, área posteriormente alterada.

Vale lembrar que três meses depois desta autorização para a venda de lotes, foi promulgada a Lei nº 467, em 14 de setembro de 1907, restabelecendo o serviço de imigração que havia sido suspenso em 1903.

A mensagem do presidente do estado, Wenceslau Braz Pereira Gomes, de 1909, declara que

“a Companhia Leopoldina entrou para os cofres do Estado com a quantia de dois mil contos para o desenvolvimento da colonização na zona da matta […] Já foram adquiridos […] em Leopoldina 333 alqueires.”

  Como se vê, a Estrada de Ferro Leopoldina subvencionou a compra de terras para fundação de núcleos coloniais, cumprindo o contrato firmado a 22 de fevereiro de 1908, citado na mensagem de João Pinheiro de 1908.

Na mensagem, de 14 de junho de 1910, Wenceslau Braz assinala que na cidade de Leopoldina tinham sido adquiridas as fazendas Constança, Sobradinho e Onça, além de sítios anexos que, embora não identificados na mensagem presidencial, eram “situações” que haviam pertencido às fazendas da Onça e Feijão Cru, conforme demonstram transmissões de propriedades em nome dos herdeiros das duas últimas.

Com o objetivo de formar a Colônia, a fazenda Boa Sorte foi adquirida[1] em 02.03.1909. E em 1911, a ela o Governo incorporou a Fazenda Modelo D. Antonia Augusta e, no ano seguinte, a fazenda Santo Antonio do Onça.

Ressalte-se que, segundo mensagem de 1911 do Presidente do Estado, esta última fazenda pertencia à Câmara Municipal de Leopoldina.

E a mensagem do Presidente Julio Bueno Brandão, de 1912, informa nova aquisição:

“[adquirida] por 12:000$000 ao Sr. Fernando Sellani, a fazenda Palmeiras, com a área de 25 alqueires geometricos, 10.000 pés de café novos e produzindo – arrozaes, cannaviaes, milharaes, boa casa de residencia, paiol, tulha, moinho, engenho de canna e seis casas na lavoura para colonos.”

É do mesmo período o início das tratativas para anexar à Colônia Constança uma fazenda-modelo ou aprendizado agrícola, conforme previam os Decretos nº 3356 e 3390 de novembro de 1911. O primeiro dando origem ao Regulamento Geral do Ensino Agrícola e o segundo, indicando que a escola seria subvencionada pelo estado e deveria acolher os filhos de agricultores que nela teriam educação formal e prática, gratuita.

Em Leopoldina existiu tanto o Aprendizado Agrícola quanto a Fazenda do Aprendizado, instituições implantadas e mantidas por verbas públicas e que funcionaram em terras que formam os bairros, Eldorado, Redentor, Pedro Brito, Popular, Quinta Residência, Vale do Sol e adjacências.

Ainda pendente de esclarecimentos de alguns pontos, sabe-se que em 1912 Pedro de Toledo[2] informou que em Leopoldina funcionava curso especializado em “Agricultura Geral e Laticínios”, mantido pela União, sob direção do professor Arthur da Cunha Barros. Não foi possível confirmar a presença deste professor, embora um descendente de italianos tenha informado que seu avô fora ajudante do “professor da leiteria”.

Ocorre que a história oficial de Leopoldina registra estabelecimento do gênero como sendo particular. Donde não se sabe se a informação do entrevistado referia-se à Cooperativa de Produtores de Leite de Leopoldina, empresa particular, ou à “sede de um curso de lacticínios em Leopoldina”, instituição pública mencionada pelo Ministro da Agricultura.

De todo modo, o ministro Queiroz Vieira[3] declarou, em 1913, que o professor Arthur da Cunha Barros continuava em Leopoldina, sendo auxiliado pelo Mestre de Indústrias Rurais Eugenio de Alvarenga Paixão e pelo Instrutor Agrícola Octaviano Costa. Outra informação do ministro Queiroz Vieira indica que na Leiteria Leopoldinense foram feitas várias experiências de fabrico de queijo e manteiga, obtendo-se resultados muito satisfatórios.

A última referência parece corroborar o informe de nosso entrevistado a respeito de uma “leiteria” pública, onde filhos de colonos atuavam como ajudantes.

Já a mensagem de Arthur Bernardes, de 1922, reitera que os aprendizados agrícolas recebiam verba pública para educar os filhos de pequenos lavradores, formando-os para o exercício da prática agrícola de acordo com as modernas técnicas então conhecidas.

Por fim, vale registrar que no período de 1922 a 1927 o repasse de verbas do estado variou entre 3:300$000 e 5:000$000 anuais e se destinavam ao “Aprendizado Agricola annexo ao Gymnasio Leopoldinense”.

Como ficou dito o assunto ainda carece de mais pesquisas, mas por hoje o Trem de História fica por aqui. Volta na próxima edição. Até lá!


Fontes utilizadas:

1 – Annuario Historico-Chorographico de Minas Gerais – Chronologia Mineira. Belo Horizonte: s.n., 1909

2 – Relatório do Ministro da Agricultura Pedro de Toledo, 1912-1913 vol. 1 pag. 32-38

3 – Relatório do Ministro da Agricultura Manoel Edwiges de Queiroz Vieira, 1913 p. 21

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 382 no jornal Leopoldinense de 16 de junho de 2019