Manoel José de Novaes

Foi na contagem populacional de 1838 que encontramos o sobrenome Novaes ou Navaes em terras do então Curato do Feijão Cru. Procedente de Bom Jardim de Minas, onde nasceu na última década do século XVIII, Manoel José de Novaes era filho de Domingos José de Novaes e de Genoveva Maria do Rosário, sendo neto paterno dos açorianos Antônio Dias Novaes e Ana de Ferres. Seus avós maternos foram Lázao Medeiros e Rosa Maria do Rosário.

No dia 22 de junho de 1808, na Ermida dos Lacerda, em Bom Jardim de Minas, foi celebrado o casamento de Manoel com Ana Francisca Garcia, filha de José Garcia e Maria do Rosário. Natural de Aiuruoca, Ana Francisca vem trazer para nossos estudos outra família que ocupou terras da região, já que os Garcia de Matos aí deixaram numerosa descendência.

Pelo Registro de Terras de 1856 soubemos que Manoel José de Novaes e Ana Francisca Garcia formaram o Sítio das Saudades, às margens do Pomba, tendo como vizinhos Mariana Pereira Duarte, Francisco da Silva Barbosa, Processo José Corrêa de Lacerda, Pedro Belarmino da Silva, Pedro Moreira de Souza, Francisco Martins de Andrade e Pedro de Oliveira. Acreditamos que a propriedade estivesse situada nas proximidades da atual divisa entre Recreio e Laranjal, dentro do distrito de São Joãquim, hoje Angaturama. Em 1878 a propriedade é citada como limítrofe ao então criado distrito de Campo Limpo.

Localizamos sete filhos de Manoel e Ana Francisca: Vicência, João, Sebastião, Antônio, Francisco, Pedro e Manoel. Mas de apenas três deles temos informações sobre descendentes.

Vicência Ferreira Neto casou-se com Francisco da Costa Muniz, filho de Manoel da Costa Muniz e Ana Joaquina. O fato de Vicência usar o sobrenome Ferreira Neto na idade adulta faz-nos suspeitar de ligação de parentesco com duas outras famílias que viveram na região: os Ferreira Brito e os Gonçalves Neto. Seus filhos foram Antonio da Costa Muniz que se casou com Antônia Porcina de Carvalho, Marciano, Maria, Filomena e Jovita.

Sebastião José de Novaes casou-se com Francisca Maria de Jesus com quem teve, pelo menos, os filhos José e Albina, nascidos em 1857 e 1859 respectivamente.

Pedro José de Novaes casou-se com Maria Tereza de Jesus, com que teve os filhos Manoel Bertoldo de Novaes e Maria Bárbara de Lacerda.  Segundo os documentos encontrados, a família de Pedro residia em Piacatuba por volta de 1882.

Lauriano José de Carvalho

Através dos Mapas de População descobrimos que, morando na região desde os anos de 1830, e genro de Felicíssimo Vital de Moraes, Lauriano José de Carvalho foi pai de

– Domingos Rodrigues de Carvalho
– Maria Rufina de Carvalho casada com Francisco Mendes do Vale Júnior
– Felicíssimo Rodrigues Carvalho casado com Rita Firmina Machado de Almeida

Além destes, teve as filhas Ana, Rita e Joaquim, nascidos entre 1834 e 1841, dos quais não temos referências posteriores.

Segundo escritura de compra e venda de imóveis, soubemos que em 1887 transferiu-se para Itapiruçu com sua esposa, Ana Maria ou Marta de São Joaquim e os filhos. Deixou descendentes também em Angaturama.

Joaquim Cesário de Almeida e Luciana

O sogro de Ignacio Ferreira Brito deixou enorme descendência em Recreio e Leopoldina. Nascido em Santana do Garambeo, em 1804, descendia de açorianos por parte de pai e sua mãe era irmã do “comendador” Manoel Antonio de Almeida, um dos povoadores de Leopoldina. Casou-se com sua prima Luciana, filha deste seu tio Manoel Antonio de Almeida. Encontra-se o nome da esposa de Joaquim Cesário como Luciana Esméria de Almeida, Luciana Francelina de Jesus ou Luciana Felisbina.O casal formou a Fazenda do Tesouro, na qual viveram até a morte de Joaquim Cesário, ocorrida no dia 18 de março de 1855. A partir daí, seja pelo desmembramento da propriedade por ocasião do inventário, seja por compra que seus filhos fizeram ou receberam por dote da esposa, encontram-se referências às fazendas Alto da Cachoeira, Passa Tempo e Tesouro, como propriedades da família.

Filhos de Joaquim Cezário de Almeida e Luciana:

– João Basílio de Almeida casado com Augusta Leopoldina Rezende Martins
– Izahias de Almeida
– Maria Cezária de Almeida casada com João Ferreira de Almeida
– Mariana Ozória de Almeida casada com Ignacio Ferreira Brito
– Antonio Augusto de Almeida casado com Virgínia Pereira Werneck
– Honorina Antonia de Almeida casada com Antonio José de Freitas Lima
– Joaquina Eucheria de Almeida casada com Francisco Gonçalves Neto
– Rita Virgínia de Almeida casada com Antônio Venâncio de Almeida

Família Barbosa

Assim como diversas outras antigas famílias da região, também os Barbosa representam uma dificuldade para nossas pesquisas, já que ainda não pudemos definir, com segurança, se todos os usuários do sobrenome pertenciam à mesma família. Nossos estudos têm confirmado a observação de Sheila de Castro Faria que, no artigo História da Família e Demografia Histórica, publicado em Domínios da História (Cardoso e Vainfas, 1997), ressalta esta característica da sociedade brasileira: diversidade de sobrenomes de pessoas da mesma família consangüínea.

            Considerando, porém, que os Barbosa se inscrevem entre os antigos moradores de Recreio, trazemos uma segunda informação sobre eles.

            Em 1883 a Sra. Maria Madalena Barbosa compareceu ao Cartório de Conceição da Boa Vista para requerer seu reconhecimento como tutora de seus filhos menores: José, Geraldo e Antônio (ou Teotônio). Na mesma oportunidade, outros de seus filhos ali estavam para tratar da partilha de bens de seu pai, Vicente Gomes Leal, no processo de inventário do pai deste, Francisco Gomes Leal. Estes filhos foram Vicente Gomes Barbosa, Severino Gomes Barbosa e Ana Gomes Barbosa que se apresentou acompanhada do marido, José de Oliveira Sarandi.

            Sendo assim, temos mais um grupo de pessoas que vivia no então distrito de Conceição da Boa Vista na época em que se organizava o Arraial Novo que mais tarde tornou-se o distrito de Recreio.

Francisco da Silva Barbosa e Ana Josefa

Voltamos a falar dos mais antigos moradores do território que veio a constituir o município de Recreio. Em 1831, Francisco da Silva Barbosa comprou 250 alqueires nos quais formou a Fazenda Boa Vista, onde viveu com a esposa Ana Josefa e os filhos Ana, Joaquina, Antonio e Matilde. Ao fazer o requerimento para registro das terras, informou que sua propriedade limitava-se com José Thomaz de Aquino Cabral, Dona Mariana, Processo José Correia de Lacerda, Manoel José de Novaes e Manoel Ferreira Brito

Felicíssimo Vital de Moraes e Delfina Inácia de Jesus

Encontramos referências a este casal entre 1838 e 1880. Ambos nascidos na última década do século XVIII, procediam da Serra da Ibitipoca e deixaram grande descendência em Recreio, Leopoldina e Muqui, no Espírito Santo. Foram seus filhos:

João Estêvão de Moraes casado com Severina Inacia;

Marcelino Gonçalves de Moraes;

Joaquim Inacio de Moraes casado com Maria Ângela de Jesus

Manoel José de Moraes

Ana Maria de São Joaquim casada com Lauriano José de Carvalho

Domingos Esteves de Moraes casado com Maria Zeferina de Almeida

Mariana

José Feliciano Gonçalves de Moraes

Joaquim Felicissimo de Moraes casado com Ana Bernardina de São José

Rita Francisca de Moraes casada com José Bernardes da Rocha

Felicissimo Vital de Moraes Júnior

Luiz Gonçalves de Moraes

Romualdo

Honório Gonçalves de Moraes casado com Ana Ludovina de Matos

Felicíssimo, Delfina e filhos formaram a Fazenda do Barreiro, desmembrada entre 1869 e 1871. Foram também proprietários da Fazenda Bom Retiro, em Itapiruçu. Os sucessores, além dos herdeiros naturais, foram os seguintes compradores: Manoel José de Oliveira Serandi; José Antonio dos Prazeres; Camilo José Sulpreito; Antonio Augusto Monteiro de Barros Galvão de São Martinho; José Lemos da Silva; Manoel de Cristo da Silva; Luiz Antonio de Souza Melo; João Federico Maia; Francisco Augusto de Freitas e João Antonio Pereira.

Segundo as escrituras de compra e venda, também pertenceram à família umas terras no lugar denominado Água Comprida, perto da nascente do córrego de mesmo nome e também no Córrego da Gordura. Além destas, consta que formaram um sítio no ribeirão da Água Limpa, vendido em 1881.

Chefes de Família

No documento que estamos analisando, observamos que o Terceiro Quarteirão traz os nomes dos primeiros moradores de Conceição da Boa Vista, Ribeiro Junqueira, Abaíba e parte de Providência. Esclarecemos que Quarteirão era a denominação das divisões administrativas dos distritos e que o Terceiro Quarteirão parece corresponder ao território que em 1851 foi elevado a Distrito de Nossa Senhora da Conceição da Boa Vista. Assim é que, entre os fogos que receberam os números 67 a 95, e comparando-se com o Registro de Terras de 1856, os povoadores de Recreio seriam: Francisco da Silva Barbosa, João Baptista de (Paula) Almeida, Joaquim Ignacio de Moraes, Manoel José de Navaes (Novaes), Procerço Jose Correia (de Lacerda), Manoel Ferreira Brito, Felliciscimo Vital (Moraes) e Laurianno José (de Carvalho).

Contagem Populacional

Provavelmente outros estudiosos tenham por objetivo a identificação dos personagens que povoaram as terras onde se formou o município de Recreio. Considerando que um pesquisador sempre pode colaborar com o estudo de seus pares e que dificilmente uma busca deste tipo pode ser levada a cabo por uma pessoa só, vamos reunir as informações de que dispomos.

Reputamos como impossível a elaboração de uma listagem exaustiva que contemple todos os nomes daqueles que modificaram a paisagem até então ocupada pelos nativos. Nossa opção é, portanto, divulgar os dados de documentos a que tivemos acesso.

Os chamados Mapas de População eram listagens organizadas pela paróquia e cujo principal objetivo era controlar a arrecadação de impostos. No território objeto de nossos estudos, a primeira destas contagens é de 1831, realizada pela Igreja de Madre de Deus do Angu. Entretanto, dela não consta a delimitação dos quarteirões, dificultando a identificação do local de moradia dos paroquianos. Já a Relação nominal dos Habitantes no Destricto de S. Sebastião do Feijão Crú, Termo da Villa da Pomba, contagem de 1838, divide os moradores em quatro quarteirões.

Importante destacar que a listagem foi encaminhada ao Presidente da Província de Minas através de uma carta na qual podemos observar o seguinte termo de fechamento:

“Dios Guarde a V. Exª  muitos Annos

Novo Corato de S. Sebastiam do Texouro do Municipio da Pomba

26 de outubro de 1835

Manoel Ferreira Britto

Juiz de Paz”

Supomos que este Manoel Ferreira Brito seja o pai de Ignacio e Francisco Ferreira Brito porque há apenas um do nome como chefe da família onde Ignacio e Francisco aparecem como filhos. Como Juiz de Paz, foi ele o encarregado de organizar os dados em uma listagem onde constam o número dos fogos (moradias); os nomes do chefe da família, seus dependentes, agregados e escravos; a idade de cada pessoa; a qualidade (cor); o estado civil e uma observação sobre ser ou não alfabetizado.

Casa-se o Ignacio Ferreira Brito

Segundo a mais conhecida versão da história de Recreio, Ignacio Ferreira Brito morou com seu irmão Francisco, até casar-se com Mariana Ozória de Almeida, filha de Joaquim Cezário de Almeida e Luciana Esmeria de Almeida. Importante ressaltar que a sogra de Inácio era irmã da sogra de Francisco, ambas filhas do lendário “comendador” Manoel Antônio de Almeida. 

Quando o Curato de Conceição da Boa Vista foi elevado a Distrito de Paz, em 1851, o nome do sogro de Inácio foi registrado como proprietário das terras que marcavam o limite do novo Distrito com Madre de Deus do Angu. Assim é que reunimos o Joaquim Cezário de Almeida aos mais antigos moradores do território que formou, já no século XX, o município de Recreio.

 

Em 1869, Inácio Ferreira Brito comprou, de Domingos Custódio Neto, uma “morada de casas” no largo da Matriz de Nossa Senhora da Conceição da Boa Vista. Seria, em termos da época, a sua residência na área urbana. Ali ele recebeu o Escrivão, em diversas datas do anos subseqüentes, para oficializar transações imobiliárias. Inclusive a hipoteca da Fazenda das Laranjeiras. Ainda não encontramos a documentação relativa à cessão do terreno onde se instalou a estação ferroviária.

Francisco Ferreira Brito constitui família

Francisco Ferreira Brito casou-se, antes de 1859, com Messias Rodrigues Gomes, filha de Antonio Rodrigues Gomes (filho) e Rita Esméria de Almeida. O sogro de Francisco foi, seguramente, um dos primeiros moradores do Feijão Crú. Em 1829 comprou parte das sesmarias concedidas a Fernando Afonso Correia de Lacerda e Jerônimo Pinheiro de Lacerda em 1817. Em 1856 a fazenda formada por Antonio Rodrigues Gomes tinha o nome de Águas Vertentes e ocupava terras hoje divididas entre Ribeiro Junqueira e Recreio.

A sogra de Francisco Ferreira Brito era filha do “comendador” Manoel Antonio de Almeida, um dos povoadores pioneiros de Leopoldina. Temos, portanto, mais um exemplo de que as famílias se reorganizavam pelo casamento de seus descendentes. Neste caso, recordemos que o pai de Francisco era neto paterno de Manoel Ferreira Brito e Maria Teresa de Jesus, sendo sobrinho-neto de Joaquim Ferreira Brito, outro pioneiro de Leopoldina.

Ao casar-se, o dote da esposa de Francisco Ferreira Brito foram terras da grande fazenda de Antonio Rodrigues Gomes, na qual o novo casal formou a Fazenda da Boa Vista, vendida em 1871 para Vicente Rodrigues Gomes. Entretanto, por esta época o casal residia na Fazenda das Laranjeiras, vizinha da Boa Vista e também da Bocaina, a primeira de propriedade dos herdeiros de Antonio Rodrigues Gomes e a segunda dos filhos e netos de Manoel Ferreira Brito.

Comparando-se os diversos documentos encontrados, conclui-se que Manoel Ferreira Brito ocupou terras que vieram a pertencer ao Distrito de Conceição da Boa Vista, na divisa com o atual distrito de Ribeiro Junqueira. Teria sido, portanto, vizinho de Antonio Rodrigues Gomes (filho).