Colônias de Imigrantes em Minas Gerais

O quadro a seguir contém informações sobre os núcleos coloniais mineiros, extraídas dos Relatórios da Presidência da Província de Minas Gerais e do trabalho pioneiro de Norma de Goes Monteiro, publicado pela Editora Itatiaia em 1994, sob o título migração e Colonização em Minas 1889-1930



Nome do Núcleo Fundação Local
1
São João del Rei Antes de 1899 São João del Rei
2
Rodrigo Silva Antes de 1899 Barbacena
3
Francisco Sales 1893 Pouso Alegre
4
Carlos Prates 1899 Subúrbio da Capital
5
Américo Werneck 1899 Subúrbio da Capital
6
Afonso Pena 1899 Subúrbio da Capital
7
Bias Fortes 1899 Subúrbio da Capital
8
Adalberto Ferraz 1899 Subúrbio da Capital
9
Nova Baden 1900 Lambari
10
Vargem Grande 1907 Subúrbio da Capital
11
Itajubá 1907 Itajubá
12
João Pinheiro (federal) 1908 Sete Lagoas
13
Constança 10.4.1910 Leopoldina
14
Santa Maria 20.4.1910 Astolfo Dutra
15
Barão de Ayuruoca 1910 Mar de Espanha
16
Inconfidentes (federal) 1910 Ouro Fino
17
Major Vieira 1911 Cataguases
18
Rio Doce 1911 Ponte Nova
19
Wenceslau Braz 1912 Sete Lagoas
20
Pedro Toledo 1912 Carangola
21
Guidoval 1913 São Domingos do Prata
22
Joaquim Delfino 1914 Cristina
23
Vaz de Melo 1915 Viçosa
24
Álvaro da Silveira 1920 Pitangui
25
David Campista 1921 Bom Despacho
26
Júlio Bueno Brandão 1921 Peçanha
27
Francisco Sá 1921 Teófilo Otoni
28
Padre José Bento 1923 Pouso Alegre
29
Brucutu 1924 Santa Bárbara
30
Raul Soares 1926 Pará de Minas
31
Mucuri 1927 Teófilo Otoni

De onde vieram os Italianos?


Leopoldina recebeu imigrantes procedentes de 14 regiões da Itália: Lombardia, Friuli-Venezia Giulia, Veneto, Piemonte, Emilia Romagna, Toscana, Umbria, Marche, Abruzzo, Campania, Basilicata, Calabria, Sicilia e Sardegna.

Valéria Benatti Abraçou a Ideia

Durante o Show do Marcus Vinicius neste domingo, Valéria Benatti participou por telefone, ocasião em que reafirmou seu total apoio à campanha Abrace Esta Ideia. Convidada, aceitou representar seus ancestrais italianos nas comemorações do Centenário, em 2010, para lembrar os núcleos coloniais das cidades vizinhas e irmãs de Leopoldina. Valéria procede de Visconde do Rio Branco, tendo ligações de parentesco com os Minicucci e Vitoi de Argirita.

Mais uma vez agradecemos pela adesão da Valéria. Trabalhando em estreitas relações com Lúcia Horta, Secretária de Educação, Valéria Benatti lembrou que Educação e Cultura estão prontas para contribuírem com o evento comemorativo do Centenário da Colônia Agrícola da Constança.

Todo imigrante trabalhava na agricultura?

Esta foi a pergunta de um leitor deste blog, a quem agradecemos pelos comentários. Infelizmente não informou o endereço de e-mail para que pudéssemos responder diretamente.

A criação da Colônia Agrícola da Constança teve como objetivo desenvolver a agricultura, aproveitando o braço imigrante e as facilidades para o escoamento da produção através dos trilhos da Estrada de Ferro da Leopoldina. Mas isto não significa que todos os imigrantes foram para a lavoura. Alguns dos que chegaram no final da década de 1870 já viviam na área urbana em 1880. É possível que tenham viajado com subsídio, ou seja, contratados para a agricultura. Entretanto, logo depois estabeleceram-se com casas comerciais na sede do município ou nos distritos.

Motivo para trazer Imigrantes

A necessidade de buscar o braço imigrante, que surgiu a partir do fortalecimento da idéia de libertação dos escravos, foi o principal motivo. Naquele momento da história do Brasil, os fazendeiros sentiram que a libertação de todos os escravos viria pelo mesmo caminho com que se deu liberdade aos maiores de 60 anos e se decretou a Lei do Ventre Livre. Estes eram sinais definitivos de que a ideia da escravidão se exauria. Some-se a isto a pressão dos ingleses. Como esta mão de obra, então escrava, era fundamental para o plantio, a colheita e demais trabalhos nas fazendas, prioritário se tornou encontrar uma alternativa para a sua substituição.

Documentos da Divisão de Terras e Colonização da Província de Minas Gerais registram que foi a partir de 1881 que os fazendeiros de Leopoldina começaram a contratar imigrantes italianos para as suas lavouras. Mas sabemos que no período de 1888 e até 1898 ocorreu a maior incidência de imigração de italianos, principalmente para as atividades ligadas à agricultura.

Dificuldade de adaptação dos Imigrantes

Nem tudo na imigração foram flores. Nem todos os imigrantes europeus, inclusive alguns italianos, se adaptaram ao clima da nossa região e ao regime de trabalho imposto pelos fazendeiros. Nem todos suportaram o isolamento e as condições da nossa lavoura.

Na verdade, alguns logo conseguiram o repatriamento. Embora, dentre estes, alguns retornaram ao Brasil para uma nova tentativa. Outros, em bom número, desistiram de viver em Leopoldina e quando chegaram à Hospedaria, que os acolhia no percurso de volta ao Porto, optaram por assinar contrato com fazendeiro de outra região, desistindo da viagem de volta à Itália.

A Imigração na história de Leopoldina

Palestra proferida por José Luiz Machado Rodrigues e Nilza Cantoni em evento promovido pela Academia Leopoldinense de Letras e Artes em abril de 2008.

Capela da sede da Colônia Agrícola da Constança

Estamos aqui, atendendo convite desta Academia para falarmos sobre a história de Leopoldina. Para nós este convite é uma feliz demonstração de que a Instituição se propõe a abraçar a luta pela preservação da memória da cidade.

Como pessoas que se dedicam à pesquisa do tema há vários anos, ficamos felizes e lisonjeados pelo convite. É uma oportunidade de contribuirmos para evitar que no futuro volte a se repetir o fato ocorrido no carnaval deste ano no Rio de Janeiro, quando se premiou com a nota máxima um samba que trazia na sua letra, escrita à moda do saudoso Stanislaw Ponte Preta, uma “confusão histórica” envolvendo o nome de Leopoldina. Dizia a tal letra que a Estrada de Ferro Leopoldina recebeu este nome em homenagem à Imperatriz Leopoldina, mãe de Dom Pedro II, falecida em 1826.

Como sabemos, a cidade de Leopoldina tem este nome em homenagem a uma filha do Imperador Pedro II, nascida em 1847. A estrada de ferro, por sua vez, cuja construção foi iniciada na década de 1870, herdou da cidade o seu nome porque aqui nasceu a construtora do primeiro trecho da ferrovia e porque saíram daqui os primeiros recursos para a formação da Companhia que posteriormente espalhou seus trilhos por boa parte da região sudeste.

Julgamos importante a preservação da memória cultural da cidade e temos pensado nisso com mais freqüência a partir de entrevistas com descendentes dos imigrantes que modificaram a face de Leopoldina desde as últimas décadas do século XIX. Acreditamos que, a partir da idéia de comemorarmos o Centenário da Colônia Agrícola da Constança, foi aberta uma grande oportunidade para valorização daquele sentimento que todos nós desenvolvemos desde a infância: o orgulho de sermos leopoldinenses.

Tenham a certeza de que este é o principal motivo para estarmos aqui.

Dentro da história da cidade hoje pretendemos abordar mais especificamente a imigração.

Mas como seria impossível começarmos pelo capítulo 8, vamos voltar um pouco no tempo e recordarmos o início da história.


O INÍCIO DA HISTÓRIA

A partir de 1500 começaram a surgir povoações de “homens brancos” na orla marítima. Os tempos foram passando e vieram as “entradas e bandeiras”, a busca por minérios e outras riquezas no interior do Brasil.

Quando, no final do século XVII foram descobertas as “minas de ouro”, tratou o governo de controlar a evasão de impostos. Um dos controles utilizados se valia da mãe natureza. Era a barreira natural das montanhas e florestas que margeavam o caminho que seguia do Rio de Janeiro para a região central das Minas. Toda a faixa de terras do leste mineiro, localizada à direita do Caminho Novo que subia para a região do ouro, até o final dos anos de 1700 era ocupada apenas por matas e pelos “primeiros habitantes” – Puris, Coroados e Coropós, constituindo um obstáculo natural de grande valia.

Estabeleceu o governo central, então, que esta parte das Minas hoje conhecida como Zona da Mata era uma área que não deveria ser habitada nem transitada, uma “área proibida”, para assim evitar que por ela fossem criadas rotas de contrabando do ouro para eventuais portos clandestinos nos litorais fluminense e capixaba.

Daí decorre o fato de a Zona da Mata ter permanecido por um longo período sem a presença de colonizadores.

Salvo uma ou outra informação esparsa, e por vezes não confirmada em documentos oficiais, poucas são as notícias sobre a presença do homem branco pela região. Sabe-se, apenas, das diligências chefiadas pelo sargento-mor do Regimento de Cavalaria de Minas Gerais, Pedro Afonso Galvão de São Martinho, das quais teria feito parte o Tiradentes, em 1784 e 1786, com a missão de fazer levantamento da região e perseguir contrabandistas e malfeitores “facinorosos” que desviavam riquezas por caminhos que chegavam a Cantagalo no estado do Rio de Janeiro.

SOBRE A CIDADE

Centremos o foco, agora, na região onde está Leopoldina.

Pelo que se localizou até aqui, a mais antiga evidência da existência de um povoado no Feijão Cru é de Sinval Santiago, em “Município de Rio Pomba”, informando que a Câmara Municipal do Pomba criou o distrito do Feijão Cru com base no Decreto Imperial de 11 de setembro de 1830. Este decreto foi revogado em agosto de 1834 e a partir dessa época a criação de distritos passou a ser da alçada do Presidente da Província. Considerando que o município do Pomba foi instalado em agosto de 1832, acreditamos que o distrito do Feijão Cru tenha sido criado entre agosto de 1832 e agosto de 1834.

Segundo a legislação da época, para ser criado o distrito era necessário já existir um arraial e uma igreja funcionando em patrimônio próprio. Sendo assim, acreditamos que a doação realizada por Joaquim Ferreira Brito e sua mulher Joana Maria de Macedo, no dia 01.06.1831, deve ter sido feita para atender às normas para se requerer a criação do distrito. A segunda doação do casal, em novembro do mesmo ano, parece-nos indicar que se tratava de terreno para a construção da Casa do Cura, o que viria corroborar a existência de um arraial.

Em 1834 o Feijão Cru já contava com 135 famílias em 82 propriedades. Mas é bom lembrar que algumas destas famílias estavam localizadas em território posteriormente desmembrado.

É a partir do ano de 1843 que podemos melhor observar a existência de moradias dentro do patrimônio de São Sebastião. Nesse ano, o território de São Sebastião contava com 2.171 moradores. Em 1851 a população do Feijão Cru atingia um número significativamente maior, quase 4.000 habitantes, num arraial agora elevado à condição de Freguesia. E chegamos finalmente a 1854 com a realização do sonho dos povoadores de não mais ficarmos na dependência de Barbacena, Rio Pomba, São João Nepomuceno ou Mar de Espanha, as anteriores sedes administrativas a que se subordinou o arraial e distrito. Em abril de 1854 foi promulgada a Lei nº. 666 e, em janeiro de 1855, era instalada a câmara municipal da cidade e vila Leopoldina.


O CAFÉ

Não se pode falar da história de Leopoldina sem se referir ao café.

Não resta dúvida de que ao lado da estrada de ferro e do escravo, o café teve grande importância no desenvolvimento da região.

Permitimo-nos, no entanto, discordar da afirmação mais ou menos geral de que unicamente o plantio da rubiácea foi responsável pelo progresso do município.

Noutras ocasiões já dissemos e repetimos aqui, que esta afirmativa é uma simplificação perigosa, uma vez que o café não foi o único produto das fazendas. Até porque, segundo fontes documentais, nem todas as propriedades dedicavam-se exclusivamente aos cafezais quando os imigrantes aqui chegaram. Sabe-se, por fontes seguras, que muitas delas contavam com extensos plantéis de gado bovino, por exemplo.

Claro que nosso questionamento se refere a algumas interpretações apressadas, que dão conta de que todos os braços e todo o capital disponível destinava-se exclusivamente ao plantio e manutenção dos cafezais. Insistimos que Leopoldina não produzia APENAS café.

Até porque, ao admitirmos por hipótese esta idéia, estaríamos obrigados a acreditar que teria ocorrido uma brusca mudança para a produção leiteira, o que todos sabemos não ser verdade.

Depoimentos de descendentes dos colonos imigrantes nos mostraram que existiam outros tipos de produção nas fazendas onde trabalharam e que essa diversidade de funções foi, inclusive, uma das grandes responsáveis pela inserção desses estrangeiros na sociedade local. Foi este grande número de atividades, muitas delas ligadas à agricultura e à pecuária, que facilitou a integração dos profissionais imigrantes e modificou totalmente o “retrato da região”.

Além do café alguns outros temas relativos à história da cidade mereceriam atenção de nossa parte. Assim, por exemplo, poderíamos falar agora, sobre a história da educação que legou à cidade o codinome de “Atenas da Mata Mineira”, das grandes e importantes fazendas do município, das famílias fundadoras, das ruas e logradouros da cidade, etc.

Mas optamos falar sobre a imigração.

IMIGRAÇÃO

A partir do momento em que os fazendeiros entenderam que chegava ao final o período escravagista no Brasil, iniciaram-se as buscas por alternativas para suprir as lavouras e fazendas com a mão de obra necessária.

Muito embora o maior fluxo tenha ocorrido a partir de 1888, para efeito de nossos estudos fixamos 1881 como o início da imigração de colonos agricultores.

E falamos em imigrantes italianos porque, entre os europeus que por aqui se instalaram, a predominância numérica foi de nascidos na Itália.

Mas é bom lembrar que nem todos os imigrantes que passaram ao Brasil no século XIX eram agricultores, muito embora quase todos tenham sido contratados para substituir a mão-de-obra escrava. Exemplo disso é a Colônia Imperial de Petrópolis, formada em 1845 com imigrantes alemães, cujo objetivo era construir obras públicas. Quando as principais obras da cidade estavam concluídas, muitos daqueles imigrantes foram para outras construções, inclusive para a província mineira. É o caso, por exemplo, dos imigrantes que trabalharam na abertura da Estrada de Rodagem União Indústria e na Estrada de Ferro Dom Pedro II.

No início da década de 1870 encontramos, vivendo em Mar de Espanha, alemães que inicialmente trabalharam em Petrópolis. Em meados da mesma década, alguns deles haviam se transferido para Leopoldina. Sabemos que em Mar de Espanha eles trabalhavam nas obras da Estrada de Ferro Pedro II. Mas, e em Leopoldina? Qual o motivo pelo qual vieram para cá?

Uma das hipóteses é a de que tenham sido contratados para os trabalhos de abertura da Estrada de Ferro Leopoldina. A primeira concessão para construção dessa estrada, no trecho Porto Novo – Leopoldina é de 1871, mas segundo pudemos apurar, somente após a concessão de 1872 é que os trabalhos realmente tiveram início. E uma das condições impostas pelo capital inglês, que assumira a companhia construtora, era não utilizar mão-de-obra escrava. Donde concluímos que a chegada dos imigrantes alemães esteja vinculada à abertura do ramal da Leopoldina que ligaria a Estrada de Ferro Dom Pedro II às cidades de Leopoldina e Cataguases. Já o grande fluxo de italianos teria na origem a substituição da mão-de-obra escrava na lavoura.

O SENTIMENTO DE NACIONALIDADE ITALIANA

Antes de continuarmos a falar sobre os imigrantes queremos abrir parênteses para um comentário interessante.

Segundo Bertonha1, o sentimento de nacionalidade italiana estava em início de construção quando se deu o grande movimento de travessia do Atlântico. Isto porque a Itália, recém-unificada, vinha de longos séculos de fragmentação política e cultural que não permitiam às classes populares a percepção de algo que unisse genoveses, venezianos, romanos e sicilianos sob um mesmo arco cultural.

Esta fragmentação cultural está na origem, entre outras conseqüências, das diferenças lingüísticas que resultaram em italianos julgarem-se austríacos ou alemães, embora todos fossem provenientes de território abaixo do “passo de Brenner”, marco geográfico que separa a Itália dos países alpinos.

O mesmo autor ressalta também que a “incapacidade do protestantismo em se estabelecer no território italiano aumentou ainda mais a força do catolicismo no ser italiano”2. Em outro momento da mesma obra, Bertonha lembra que a cúpula da Igreja Católica preferia que os imigrantes viessem para a América do Sul porque aqui encontrariam solo fértil para a prática de sua fé religiosa. Mas cabe aqui uma observação curiosa: em Leopoldina só se lembraram de alocar um padre italiano quando a paróquia foi transferida para o Bispado de Mariana, em 1896.


NOSSAS PESQUISAS

A falta de acesso à documentação das antigas fazendas de Leopoldina dificulta o estudo mais detalhado sobre a vida dos imigrantes dos primeiros tempos.

No nosso caso, superamos um pouco desta dificuldade a partir de 1998, quando publicamos uma série de artigos comemorativos dos 90 anos da Colônia Agrícola da Constança. Com isto nossos leitores nos enviaram muitas mensagens, abrindo oportunidade para trocarmos informações com descendentes que guardam as memórias familiares.

E foram estas conversas que nos permitiram, por exemplo, vislumbrar alguns aspectos que orientaram a vida senão de todos, mas de grande parte dos que viveram por aqui e que mudaram o curso da história de Leopoldina.

Hoje, por exemplo, é sabido que para os imigrantes, principalmente os italianos, ter terra era sinônimo de liberdade. Por isto muitos levavam uma vida difícil e modesta, trabalhavam muito, controlavam suas economias e até abriam mão de pequenas coisas em prol de juntar dinheiro para a realização do sonho maior que era o de adquirir um pedaço de terra. E, via de regra, quando já haviam adquirido o primeiro lote o sonho se expandia no sentido de conquistar outros, preferencialmente nas proximidades, para acolher os descendentes e demais agregados.

Razão, inclusive, de muitos deles, num espaço de tempo relativamente curto, se transformarem de simples colonos em lavradores independentes e passarem a formar a nova classe de pequenos e médios proprietários até então praticamente desconhecida na cidade.

Esses imigrantes, que chegaram como simples força de trabalho para a lavoura que perdera o braço escravo, tornaram-se sitiantes. Quem chegou como empregado da fazenda, logo se tornou meeiro e depois proprietário.

E um dos locais onde ocorreu uma concentração maior dessa transformação de empregado em sitiante, foi exatamente na Colônia Agrícola da Constança, foco das nossas pesquisas.

COLÔNIAS AGRÍCOLAS EM MINAS GERAIS

Aqui vale a pena fazermos alguns comentários para que se possa entender melhor o curso dessa história.

A organização de colônias agrícolas em Minas Gerais, entre outros motivos, foi determinada pela necessidade de se oferecer atrativos que fixassem os imigrantes no estado.

O caminho encontrado pelos nossos dirigentes foi, então, criar e incentivar a criação de colônias agrícolas em terras devolutas e no entorno das estradas que se abriam, inclusive a ferrovia.

A criação da Colônia Agrícola da Constança tinha por objetivo desenvolver a agricultura, aproveitando o braço imigrante e as facilidades para o escoamento da produção através dos trilhos da Estrada de Ferro da Leopoldina.

Importante reafirmar que desde a década de 1880 havia uma intensa movimentação política no sentido de facilitar a entrada de estrangeiros, de modo a atender a falta de braços para a lavoura.

Assim, quando da criação da Colônia, Leopoldina contava com um bom número de imigrantes espalhados por diversas fazendas, algumas em decadência, o que levou o povoamento inicial da Constança a ser constituído principalmente por imigrantes chegados antes da sua criação, ocorrida em 12.04.1910, pelo Decreto Estadual nº. 2801.

Ressalte-se que o relatório da administração da Colônia, relativo ao ano de 1909, informa que em março daquele ano o governo adquiriu as primeiras terras para formação da Colônia Agrícola da Constança. Diz ainda o relatório que ela foi “fundada em terras das fazendas annexadas e denominadas Constança, Sobradinho, Boa Sorte, Onça e sítio Puri”3.

OS IMIGRANTES COMO PROPRIETÁRIOS

Interessante observar que esses imigrantes, como proprietários de pequenas glebas de terra, de algum lote na Colônia Agrícola da Constança ou em outro lugar por onde foram surgindo as pequenas propriedades e verdadeiras comunidades (Palmeiras, Macuco, Piacatuba e outras), passaram a fazer parte da própria dinâmica da economia do município.

E um fato que não deve ser esquecido, por ser de justiça, é que muitas dessas propriedades eram verdadeiros “retalhos de terras esgotadas” vendidos pelos fazendeiros que viam nessa prática uma forma de o imigrante ver realizado o seu sonho de se tornar sitiante e, ao mesmo tempo, a fazenda garantir uma reserva de mão-de-obra nas suas proximidades. Apesar de não serem exatamente lotes de boa qualidade, aquelas terras se tornaram produtivas unicamente pela formidável capacidade de trabalho do imigrante e pela grande prole da maioria deles.

Encerrando esta nossa conversa, queremos destacar dois fatos que não podem ser esquecidos. O primeiro deles, o de que é evidente que a produção das lavouras, pomares, terreiros, moinhos, engenhos de cana e olarias da Colônia foi importante para o progresso da cidade. Esta produção fez movimentar muita riqueza pelas estradas de chão batido da Colônia e pelos trilhos da Estrada de Ferro da Leopoldina.

Mas o que talvez mereça um destaque ainda maior, a ser proclamado com muita ênfase, é a nossa crença em que a grande contribuição da Colônia e dos imigrantes para Leopoldina não está somente no aspecto econômico. Está muito mais na mistura de etnias e nos belos exemplos de trabalho e dedicação deixados por esses imigrantes. Trabalho e dedicação, inclusive, que nos permitiram sem grandes traumas, por exemplo, fecharmos o ciclo do coronelismo e iniciarmos o de um desenvolvimento mais igualitário. Um novo ciclo onde a riqueza deixou de estar apenas nas mãos de uns poucos e abastados fazendeiros para se espalhar pelos diversos sobrenomes italianos que hoje se destacam no comércio, na indústria, na prestação de serviços, na agro-pecuária e nas demais atividades produtivas desta nossa Leopoldina.

Mas isto já é assunto para uma outra oportunidade.

NOTAS

1- BERTONHA, João Fábio. Os Italianos. 2ª edição, São Paulo: Contexto, 2005

2 – idem, página 35

3 – Os Relatórios da Colônia encontram-se no Aquivo Público Mineiro, fundo Secretaria de Agricultura.

O papel do Imigrante

A presença do imigrante europeu em Leopoldina pode ser detectada desde os seus primórdios. Entretanto, as esparsas referências não nos permitem seguir rigidamente os passos deste elemento povoador.

Observamos que formavam núcleos isolados por origem e mantinham o relacionamento mínimo indispensável com a “gente da terra”.

É a partir da metade do século dezenove que os “estrangeiros” passam a ser notados com mais vigor. Observe-se entretanto que o imigrante português nem sempre é tido como estrangeiro.

Como eles chegaram?

Estabeleçamos três períodos para definir-lhes a história: 1829-1859; 1860-1888; 1889 até os primeiros anos do século vinte.

Os pioneiros, encontrados na cidade antes de 1859, eram essencialmente comerciantes. Não encontramos referências a agricultores entre eles. Quase sempre identificados como “turcos”, a sala de suas casas era a loja e as demais dependências destinavam-se à moradia. Entre eles estão os primeiros mascates do lugar, homens que visitavam as fazendas levando os produtos para serem vendidos. Eventualmente aparece o elemento português como mascate ou comerciante, mas sua atividade é quase sempre voltada ao comércio de gêneros alimentícios. Provavelmente estes primeiros imigrantes chegaram a Leopoldina buscando produtos a serem “exportados” para São Fidélis.

O segundo período, entre 1860 e 1888, pode ser contado a partir da abertura da estrada destinada a escoar a produção agrícola da região de Barbacena e Juiz de Fora. Para construí-la, foi fundada a Companhia União e Indústria, que contratou engenheiros, técnicos e operários especializados na Alemanha em 1856. Numa segunda etapa, em 1858, foram contratados colonos para desenvolverem a agricultura na Colônia Dom Pedro II, em Juiz de Fora. Necessário também nos referirmos aos trabalhadores arregimentados entre aqueles colonos de 1845/1847 que já não encontravam ocupação nas obras públicas de Petrópolis.

No contrato com o primeiro grupo em 1856, aqui classificado como de artífices, a Companhia União e Indústria se comprometia a pagar as despesas da viagem para o Brasil, empregá-los durante dois anos com salário de 2.000 réis mensais e fornecer alojamento e alimentação durante a vigência do contrato. Esses contratados puderam assim formar uma boa reserva pecuniária. Ao término dos dois anos, estabeleciam-se por conta própria com base na poupança amealhada. Deste grupo saíram os primeiros industriais da Zona da Mata.

Já os colonos contratados depois, obtinham vantagens menores. O transporte do Rio até a Colônia Dom Pedro II era gratuito, mas as despesas de viagem da Alemanha ao Brasil eram financiadas pela Cia em 4 anos. O salário mensal caía para 1.500 réis, a moradia era garantida por um ano apenas e alimentos e demais produtos necessários eram adquiridos pelo próprio colono.

A partir de 1860 a Cia iniciou a venda das glebas aos colonos, com financiamento de quatro anos. A partir daí muitos deles tornaram-se mão de obra assalariada para os fazendeiros da região, já como reflexo da Lei do Ventre Livre em 1871.

O declínio da Compahia União Indústria ocorreu no período de implantação da Estrada de Ferro Dom Pedro II, cujo traçado era, em linhas gerais, o mesmo da rodovia. Muitos colonos alemães, bem como imigrantes de outras nacionalidades, passaram a trabalhar na ferrovia.

Por esta época, 1871, a Companhia Estrada de Ferro Leopoldina obteve concessão para a construção de uma linha de bitola de um metro, ligando Porto Novo do Cunha a Leopoldina. Substituida pela Leopoldina Railway Company Limited, esta companhia foi a principal responsável pela chegada da maioria dos imigrantes. Necessário esclarecer que quase todos estavam no Brasil há mais de dez anos, seja trabalhando na União Indústria ou na Estrada de Ferro Dom Pedro II.

O fluxo de imigrantes para Leopoldina, por conta da Leopoldina Railway Co. Ltd., estende-se por alguns anos. O assentamento desta Companhia ficava próximo a Vista Alegre, às margens do riacho Jacareacanga. Há menção a uma Hospedaria de Imigrantes no local, mas ainda não conseguimos localizar-lhe os documentos.

O terceiro período inicia-se com a Lei Áurea e representa percentualmente o maior volume de estrangeiros chegados à região. Enquanto até aqui os imigrantes eram profissionais das mais diversas categorias, a partir de então a região passa a receber quase que exclusivamente agricultores, basicamente espanhóis e italianos. Historiadores dos mais categorizados já disseram que, fustigados pela fome que assolava sua região de origem, estes imigrantes submeteram-se a condições de trabalho quase iguais às dos escravos que os precederam na lavoura. Diferentemente dos grupos anteriores, entre estes últimos o índice de analfabetismo era bastante elevado, o que contribuiu para torná-los ainda mais frágeis diante dos fazendeiros acostumados a lidar com cativos.

Os primeiros que conseguiram livrar-se dos absurdos contratos com os fazendeiros, estabeleceram-se no trecho que ligava a sede do município a Tebas. No bairro da Onça e na vizinha Fazenda da Constança, famílias de alemães e espanhóis haviam fixado residência e receberam os novos imigrantes sem dificuldades e, principalmente, sem o preconceito que os impedia de participarem ativamente da vida econômica da cidade. Nesta região, a Câmara Municipal havia estabelecido as bases de uma colônia de imigrantes.

Cappai, Capace ou Capaz

Este pequeno estudo genealógico sobre a família Cappai foi publicado em abril de 2001, como um dos capítulos da genealogia da família Gottardo.

AGUS GIUSEPPE CAPPAI nasceu por volta de 1852 em Villasalto, Cagliari, Sardegna, Italia. Foi casado com ANA MARIANICA GESSA, nascida por volta de 1862 também em Villasalto, conforme apuramos nos Livros da Hospedaria Horta Barbosa (Arquivo Público Mineiro), SA 920 fls 145.

O casal deu entrada na Hospedaria Horta Barbosa no dia 28 de junho de 1897, acompanhado de 6 filhos. Saíram no dia 4 de julho de 1897 para trabalhar na Fazenda Bela Vista, de Antonio Belizandro dos Reis Meireles, localizada no então distrito de Rio Pardo, hoje município de Argirita.

A filha MARIA CAPPAI, nascida entre 1883 e 1887 em Villasanto, faleceu em Leopoldina aos 28 de dezembro de 1969, conforme lápide do túmulo no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG. Foi a segunda esposa de Domenico Giuseppe Gottardo, filho de Antonio Gottardo e Tereza Luigia Guerra, com quem se casara no civil aos 30 de julho de 1921 (microfilme 1.285.228 Leopoldina, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, item 4 fls 247 nr. 56) Segundo a Leva Militare delle province di Padova e Rovigo 1846 – 1902, o Registro de Estrangeiros da esposa realizado em Leopoldina e informações de parentes, ele nasceu aos 29 de março de 1871 em Vigonza, Padova, Veneto, Italia. Faleceu em Leopoldina no dia 27 de setembro de 1950, conforme lápide do túmulo no cemitério local.

No requerimento para seu Registro de Estrangeiros, realizado conforme artigo 149 do Decreto 3.010 de 1938, assinado em 30.01.1942, Maria Cappai declarou ser doméstica, residente no distrito de Santa Izabel, atual Abaíba. Declarou, também, que passou ao Brasil em 1893, informação que verificamos não ser correta, já que encontramos seu nome na lista de passageiros do Vapor Equitá, em 1897, junto com seus pais e irmãos.

ANTONIO CAPPAI, o segundo filho de Marianica e Agus, teria nascido por volta de 1884, conforme a lista de passageiros.

SALVATORE CAPPAI, o terceiro filho, nasceu por volta de 1889 em Villasalto e faleceu em Nova Venecia, ES, no dia 25 de março de 1958, conforme informações de parentes. Casou-se no distrito de Providência, Leopoldina, no dia 19 de julho de 1913, com Ersilia Pedrini, filha de Francesco Pedrini e Ermenegilda Vechi (Arquivo da Diocese de Leopoldina, MG, Secretaria Paroquial da Matriz do Rosário, Leopoldina, MG, lv 5 cas fls 267 termo 42). Segundo o assento paroquial, Ersilia teria nascido em 1892 em Marzabotto, Bologna, Emilia Romagna, Italia, informação parcialmente confirmada em Livros da Hospedaria Horta Barbosa (Arquivo Público Mineiro), Livro SA-920 pag 182 fam 107.

FILOMENA CAPPAI, a quarta filha de Marianica e Agus, nasceu por volta de 1891 em Villasalto. Não encontramos outros informes sobre ela.

RAFFAELE CAPPAI nasceu por volta de 1893 também em Villasalto. Casou-se com Izabel da Conceição, filha de Antonio Carlos de Oliveira e Ana Cecília da Conceição, aos 10 de novembro de 1917 em Leopoldina (microfilme 1.285.228 Leopoldina, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, item 4 fls 84 reg. 100 e Cartório de Registro Civil de Leopoldina, MG, lv 6 fls 192 termo 50). Ela nasceu em Leopoldina, no dia 11 de março de 1899 (microfilme 1.285.225 Leopoldina, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, item 2 termo 105 fls 11v.)

DANIELE CAPPAI, o filho caçula de Ana Marianica e Agus Cappai, nasceu por volta de 1894 em Villasalto, Cagliari, Sardegna, Italia.. Nada mais conseguimos apurar sobre este filho.

Encontramos descendência apenas do casal Raffaele Cappai e Izabel da Conceição. Ainda assim, estão confusos os registros de batismo e óbito de duas crianças nascidas em 1920. No livro 2 do Cemitério Nossa Senhora do Carmo, Leopoldina, MG, fls 97 nr 47, consta o sepultamento de um natimorto no dia 10 de março de 1920. Já no livro de batismos relativo ao mesmo período, consta o assento de Maria, batizada no dia 2 de maio de 1920, tendo nascido no dia 10 de abril do mesmo ano (microfilme 1.285.227 Leopoldina, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, item 2 bat termo 162 fls 37verso). É possível que fossem duas crianças nascidas no dia 10 de março e o padre teria cometido um engano ao lançar a data de nascimento ao batizar a criança sobrevivente.

Um estudo mais amplo sobre os Cappai está disponível neste endereço.

Registro de Estrangeiros

Os requerimentos para Registro de Estrangeiro, estabelecidos pelo Decreto 3010 de 1938, eram de dois tipos: para maiores ou menores de 60 anos. Quando o imigrante ainda não havia completado 60 anos, deveria prestar informações sobre cônjuge e filhos, além de data de chegada ao Brasil, porto de desembarque, nome da embarcação e viagens ao exterior após a primeira entrada. Já os maiores de 60 anos precisavam informar apenas os dados pessoais, data da chegada, porto e nome da embarcação.

As normas de preenchimento constavam do verso do formulário, conforme se observa na imagem a seguir.

 

Verso do formulário de Registro de Estrangeiros

 

O formulário era composto de 3 vias: uma para arquivamento na Delegacia da localidade, uma para encaminhamento ao Departamento de Polícia Marítima, Aérea e de Fronteiras e uma via deveria permanecer em poder do imigrante. Entretanto, parece que a rotina não foi regular em todos os municípios brasileiros. Entrevistamos filhos de estrangeiros que relataram situações difíceis que seus pais passaram por terem entregue o passaporte ao Oficial de Justiça, por ocasião do preenchimento do requerimento, e não terem recebido nenhum documento.

 


 

As Informações Prestadas

Um aspecto interessante a ser observado é que o preenchimento dos requerimentos parece ter sido feito com pouco rigor e sem conferência. Pelo menos no que se refere aos requerimentos analisados em nossa pesquisa, há falhas inconcebíveis em relação a nomes, datas e idades de filhos, bem como local de moradia. Consultamos alguns de nossos entrevistados, contemporâneos da época em que os requerimentos foram feitos, e alguns justificaram as falhas de preenchimento por um problema já identificado em outras fontes documentais: o escrivão não falava a língua do imigrante, o imigrante não falava a língua portuguesa com desenvoltura e nenhum deles sabia escrever em português.

A seguir um modelo de requerimento, para maior de 60 anos, que apresenta diversas falhas embora o imigrante fosse alfabetizado e, até onde pudemos apurar, exercia uma certa liderança entre seus pares. Desta forma, parece estranho que não soubesse prestar as informações solicitadas.

 

Registro de Estrangeiro maior de 60 anos

 


 

Menores de 60 anos

O modelo abaixo é do requerimento para imigrantes menores de 60 anos que, conforme já mencionado, deveria conter declarações sobre filhos e cônjuges.

 

Registro de Estrangeiro menor de 60 anos.