133 – As Hospedarias

O Trem de História visita, nesta viagem, casas onde pernoitaram alguns dos imigrantes italianos que viveram em Leopoldina, as chamadas hospedarias. E começa contando um pouco da história da mais citada nas entrevistas realizadas: a hospedaria da Ilha das Flores, no Rio de Janeiro.

Sabe-se que a propriedade onde se instalou aquela hospedaria foi adquirida em 1882 e, no ano seguinte, procedeu-se à instalação de alojamentos compostos de dormitórios coletivos, salas para enfermaria, consultório médico, escritórios, quartos para os empregados e sala de arrecadação.

Segundo o relatório de 1883, a hospedaria começou a receber imigrantes no dia 01 de maio daquele ano, num total de 7.402 indivíduos, sendo que 987 foram encaminhados para Minas Gerais.

Em 1884 foram realizadas obras de melhoramento, assim como em 1885, 1886 e 1888.

Ilha das Flores, é bom que se diga, era uma hospedaria sob a responsabilidade da União. Mas logo no seu início o Governo sentiu necessidade de cobrar das províncias a manutenção de suas próprias hospedarias, de modo a que os imigrantes fossem encaminhados por linha férrea diretamente para elas, tão logo liberados pela Agência Nacional dos Portos, ou seja, pelo Serviço de Imigração.

Informação importante, que merece registro, é a de que, embora muitos descendentes se refiram à Ilha das Flores como local em que obrigatoriamente ficaram seus antepassados, nem todos eles passaram por ali. Muitos dos destinados à Mata Mineira aqui chegaram vindos da hospedaria provincial de Ubá (MG), conforme atestam alguns processos de registro de estrangeiros, nos quais os imigrantes declararam ter passado por tal instituição. Além disso, no início do funcionamento da hospedaria provincial de Juiz de Fora, em 1888, Relatório da Presidência da Província informa que para ali foram transferidos os imigrantes que se encontravam na hospedaria de Ubá.

A Hospedaria Provincial de Juiz de Fora, posteriormente denominada Hospedaria Horta Barbosa, de acordo com documentos relativos à Divisão de Terras e Colonização, de 1888, estava sendo construída naquele ano. Norma de Góes Monteiro ressalta que essa hospedaria foi inaugurada em maio de 1889 e praticamente abandonada seis meses depois, com a Proclamação da República.

Entretanto, pelo que foi apurado em seus livros de registro, a hospedaria mineira esteve em pleno funcionamento entre o segundo semestre de 1888 e junho de 1889, quando teve as atividades suspensas por conta das más condições denunciadas à presidência da província. Segundo os livros preservados, somente em 1892 voltou a funcionar normalmente.

Uma análise comparativa entre os livros de matrícula na hospedaria da Ilha das Flores e os registros na hospedaria de Juiz de Fora demonstra que entre junho de 1888 e maio de 1889, os imigrantes destinados à região não passaram pela Ilha das Flores. Os destinados a Minas Gerais, que chegaram entre agosto e novembro de 1893, também foram encaminhados diretamente para a Horta Barbosa.

Em dezembro daquele ano, informa o Ministro da Agricultura, uma epidemia desenvolveu-se no Vale do Paraíba, determinando a suspensão do tráfego na Estrada de Ferro Central e por este motivo, a pedido do governo de Minas, os imigrantes que se destinavam Minas foram recolhidos na Ilha das Flores entre 11 e 25 de dezembro de 1893. Logo depois, 630 deles foram encaminhados para a Hospedaria do Pinheiro, localizada na atual cidade de Pinheiral (RJ). Por conta dessa epidemia que se alastrou pela congênere mineira, os fazendeiros passaram a não contratar colonos que poderiam infectar-se na instituição de Juiz de Fora.

No final de 1894, o encaminhamento dos imigrantes contratados pela província mineira teria voltado a funcionar como no período anterior, ou seja, do porto eram encaminhados para a estação ferroviária, sendo embarcados no trem para Juiz de Fora.

Registre-se que esta volta ao curso normal de imigrantes para Juiz de Fora pode ter sido um reflexo do Decreto nº 752, de 03 de agosto de 1894, que reestruturou a Horta Barbosa ou, ter sido em função do término da ocupação da Ilha das Flores pelas forças militares, na Revolta da Armada naquele ano, mencionada no Relatório do Ministro da Agricultura, em 1894.

Em junho de 1894 a hospedaria da Ilha das Flores voltou a receber imigrantes. Mas, segundo determinou o Decreto nº 612, de 06 de março de 1893, foi criado no Rio de Janeiro um ponto de desembarque dos passageiros destinados a Minas Gerais. E, pelo que foi possível apurar, esta agência fiscal esteve localizada no próprio porto do Rio, não sendo necessário hospedar os imigrantes na Ilha das Flores.

Entretanto, o ministro Antonio Olinto dos Santos Pires declarou que no ano de 1895 a hospedaria do Pinheiro ainda recebeu imigrantes provenientes de Juiz de Fora, em função de epidemia que ali se desenvolveu.

Segundo mensagem do presidente Francisco Antonio de Sales, em virtude da paralisação do serviço de imigração a partir de 1897, os funcionários da Horta Barbosa foram dispensados através de decretos assinados a 10 de outubro de 1902 e 23 de janeiro de 1903.

O Trem de História faz uma pausa para recolher a carga da próxima edição. Aguardem!


Fontes de referência:

Relatório apresentado pelo Ministro Affonso Augusto Moreira Penna à Assembleia Geral, 1883, p.216; pelo Ministro da Agricultura Antonio Olyntho dos Santos Pires, 1895, p. 56 e 1896, p. 77; Mensagem do Presidente do Estado de Minas, 1903. p.34-35.

MONTEIRO, Norma de Góes. Imigração e Colonização em Minas 1889-1930. Belo Horizonte: Itatiaia, 1994. p.102-103.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 386 no jornal Leopoldinense de 16 de agosto de 2019

43 – O Mediador

Entre os jornais que circularam em Leopoldina entre 1879 e 1899, O Mediador é um dos que ainda não foram trazidos pelo Trem de História, o que se faz agora.

O endereço dele era a Rua Barão de Cotegipe número 42. O redator e proprietário era o advogado Alberto Moretz-Sohn Monteiro de Barros que, além deste jornal sufocado como tantos outros pela política dominante, criou também A Ordem e A Reação nos primeiros anos do século XX. Segundo Dilermando Cruz, em matérias publicadas em O Pharol, periódico da cidade de Juiz de Fora, Alberto Moretz-Sohn escrevia para a Folha do Leste e foi “diretor político” de outro jornal de Leopoldina, O Echo, que circulava por volta de 1905. O seu secretário-gerente foi Alexandre Chaves. No período analisado, além dos residentes na sede municipal, contava com assinantes em todos os distritos de Leopoldina.

O redator mantinha escritório de advocacia na Rua Octavio Ottoni e fora casado com sua prima Ana Miranda Monteiro da Silva, falecida no dia 13 de abril de 1896. No dia 18 de julho de 1904, casou-se pela segunda vez com Adelaide da Gama Fernandes, filha de Francisco de Paula P. Fernandes e Luiza Amélia da Gama Cerqueira, em cuja casa Dom Pedro II almoçara naquela rápida visita a Leopoldina em 1881.

Nota publicada na primeira página do jornal O Mediador, edição número 21 de 28 de janeiro de 1896, dá a medida de seu posicionamento diante do poder público municipal, não se sujeitando à lei da mordaça que parece haver sido tentada na época. Noticia o redator, na primeira página, que o Conselho Distrital impusera multa injustificada a um cidadão após os “empregados da Gazeta de Leopoldina” terem encontrado, nos fundos do quintal do morador, “uma pequena porção de carne seca corrompida”. A nota prossegue informando que não havia prova de que o cidadão tenha sido o responsável pela dispensa do lixo de forma inadequada e que a intenção do Conselho ficou clara logo em seguida: a pessoa multada era o 2º Juiz de Paz que, com o acontecido, ficou impedido de se manifestar em outros processos injustos contra “negociantes multados por capricho”.

Esta era uma característica de O Mediador observada nas edições preservadas, todas do acervo do Arquivo Público Mineiro. Fazia denúncias de forma direta, sem temer o poder econômico do proprietário da Gazeta de Leopoldina, que de tudo fazia para calar a oposição.

Sua primeira edição teve a data de 14 de julho de 1895, três meses após o lançamento do periódico criado por José Monteiro Ribeiro Junqueira.

Durante o período em que O Mediador resistiu à dificuldade de circular num município em que o poder público não aceitava contestações, não foram poucas as matérias que publicou fustigando o Agente Executivo e proprietário da Gazeta de Leopoldina. Numa destas ocasiões o jornal informou que, pela terceira vez, o Agente ameaçara renunciar ao cargo. Na edição de 5 de fevereiro de 1896 o leitor ficou sabendo que o motivo da ameaça foi o “não querer alterações nem modificações” nos planos que pretendia executar à frente da administração municipal, rejeitando qualquer manifestação contrária do poder legislativo que, na prática, era composto majoritariamente por seus aliados.

O jornal denunciava, também, as artimanhas perpetradas pelos empregados da Gazeta de Leopoldina no sentido de desestabilizar os Conselhos Distritais. Um destes casos veio à luz na edição de 18 de março de 1896, em resposta ao órgão de propriedade do Chefe do Executivo municipal que divulgara ter sido o Dr. Guimarães Júnior responsável pela renúncia do presidente do Conselho de Tebas. Os membros do Conselho negaram a interferência de Guimarães Jr e o redator de O Mediador acrescentou que motivos para a renúncia não faltavam, conforme vinha sendo denunciado pela Voz de Thebas, jornal bastante ácido já comentado nesta série de artigos sobre a Imprensa em Leopoldina no final do século XIX.

Além de matérias políticas, a maioria delas denunciando desmandos na administração municipal, O Mediador se ocupava de temas gerais que eram característicos da sua época. No que tange à educação feminina, artigo publicado em março de 1896 deixa clara a posição de seu redator: a mulher não poderia ter todos os direitos permitidos aos homens, devendo ser orientada para o cuidado do lar, dos filhos e do bem estar do marido. Neste aspecto, não se distinguia da maioria.

Em 1896, foi o primeiro órgão de imprensa a denunciar os casos de febre amarela que assolavam o município, notícia claramente contrária ao interesse do administrador municipal. Talvez para interromper suas denúncias, no final daquele ano foi agraciado com matéria do poder público sobre os impostos municipais que seriam cobrados no ano seguinte. Sim, agraciar parece ser o termo mais adequado para aquele momento. As verbas públicas utilizadas para publicação de atos da administração municipal raramente eram destinadas aos demais órgãos de imprensa local, ficando restritas ao jornal de propriedade da família Ribeiro Junqueira.

O assunto poderia ir um pouco adiante. Mas o Trem de História precisa encerrar por aqui. Na próxima edição o Trem seguirá viagem.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado no jornal Leopoldinense de 1 de março de 2016

6 – Literatura, Jornalismo e Política

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 1 de setembro de 2014

Continuação do trabalho A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899

Ficou dito na coluna anterior que as últimas décadas do século XIX não foram apenas uma grande época política, mas também literária. E é Nelson Werneck Sodré, no livro “A História da Imprensa no Brasil”, quem lembra que, para Silvio Romero, “no Brasil […] a literatura conduz ao jornalismo e este à política”. O mesmo autor declara que “os homens de letras faziam imprensa e faziam teatro” e menciona a trajetória de literatos como José de Alencar e Machado de Assis.

O Trem de História de hoje lembra que em Leopoldina existiram dois exemplos clássicos de literatos que seguiram este caminho.

O primeiro foi o poeta Dilermando Martins da Costa Cruz, aqui nascido aos 15.09.1879. Tipógrafo dos primeiros anos da Gazeta de Leopoldina publicou vários de seus poemas neste jornal de cujas oficinas saiu também, em 1899, seu segundo livro de poesias – Diaphanas. Em janeiro daquele ano fundou um externato na cidade, conforme a Gazeta de Leopoldina de 22.01.1899. Em 1902 lançou o jornal Folha do Leste, em Leopoldina, do qual era o redator, conforme nota de O Pharol, de Juiz de Fora, 15.11.1904. Segundo ainda O Pharol, (edição de 13.09.1901, pag. 2), em 1901 era promotor de justiça da Comarca de Leopoldina e permanecia como redator da Folha do Leste em março de 1905, conforme noticiou o periódico juizforano na edição de 28 daquele mês. Na edição de 10.06.1905 o mesmo jornal informou que Dilermando Cruz atuava no Echo de Leopoldina. Em 16.05.1906, na primeira página d’O Pharol saiu a notícia de que Dilermando  estava cuidando da fundação de um diário na cidade de Juiz de Fora, o qual estaria nas ruas no final daquele mês, notícia confirmada na edição de 14 de junho seguinte já com o nome do periódico: Correio da Tarde. Tendo, então, transferido residência para Juiz de Fora, no ano seguinte ali nasceu o filho homônimo do poeta que viria a ser prefeito daquela cidade. Em junho de 1907, segundo O Pharol, estava concluído o terceiro livro do poeta Dilermando que seria enviado aos editores Garnier, de Paris. Informação que encontra maior relevância na declaração de Nelson Sodré para quem a Garnier “enobrecia os autores que lançava”.

O segundo exemplo de literato é o de Estevam José Cardoso de Oliveira, nascido em Piraí, RJ, no dia 28.01.1853. Estevam mudou-se para Cataguases em 1865, onde foi alfabetizado. Mais tarde ele se tornou professor de primeiras letras em Campo Limpo (atual Ribeiro Junqueira) onde fundou o jornal O Povo em 1885. Após residir por quase quinze anos em Leopoldina, retornou a Cataguases para onde transferiu o seu jornal. No mesmo ano lançou-se candidato ao Congresso Mineiro e, em 1894, transferiu-se para Juiz de Fora onde fundou o jornal Correio de Minas. Juntamente com Dilermando Cruz cuidou da organização da Liga Literária, semente da Academia Mineira de Letras, fundada em Juiz de Fora aos 25.12.1909, e de cuja primeira diretoria os dois faziam parte.

Não resta dúvida que a atuação política de Dilermando Cruz transparece desde o início de sua carreira jornalística, em Leopoldina, assim como a de Estevam de Oliveira. E esta atuação teve um ponto alto em julho de 1907, conforme nota na edição 171 d’O Pharol, quando os dois escritores levantaram, em seus respectivos jornais Correio da Tarde e Correio de Minas, a candidatura à reeleição como presidente da Câmara do Dr. Duarte de Abreu, tomando posição contrária ao poder vigente numa clara demonstração da atividade político partidária de dois representantes da imprensa leopoldinense dos primeiros tempos.

Aliás, Estevam de Oliveira publicou “Notas e Epístolas: Páginas Esparsas da Campanha Civilista pela Tipografia Brasil”, de Juiz de Fora, em 1911, obra na qual demonstrou, como já fizera Dilermando Cruz na edição número 258 d’O Pharol, em 29.10.1905, o desprezo que sentia pela atuação política do então Senador Ribeiro Junqueira, também natural de Leopoldina e um dos sócios do primeiro jornal em que trabalhou Dilermando Cruz, a Gazeta de Leopoldina.

A carga do vagão de hoje está completa. Restou na plataforma, um pouco de política e mais uma parte de literatura. Mas isto será embarcado na próxima viagem do Trem de História, no próximo Jornal.

Atualização do Programa do 5º Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo

V Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo

V ENCONTRO DE PESQUISADORES DO CAMINHO NOVO
Juiz de Fora – 2014

PROGRAMAÇÃO

Dia 06/06/2014 (sexta – feira) – auditório do Instituto Histórico e Geográfico de Juiz de Fora ( Av. Getúlio Vargas, 455 – 4º andar – esquina com Rua Halfeld)

8:30h – Credenciamento e inscrição (gratuita), sujeitas ao número máximo de ocupação, no local

9:00h – Abertura – Luiz Mauro Andrade de Fonseca

9:30h – Comunicação 01 – Alessandra de Carvalho Germano (Arquivo Permanente/UFJF) – Arquivos Públicos e sua interação com os pesquisadores

10:00h – Intervalo

10:30h – Comunicação 02 – Dr. Geraldo Barroso de Carvalho (Barbacena)

11:00h – Comunicação 03 – Profa. Helena Guimarães Campos (Belo Horizonte) – O universo Urbano e as Estradas Reais e Ferrovias

12:00h – Intervalo para almoço

14:00h – Comunicação 04 – Leonardo Bassoli Angelo (Doutorando PPGHis/UFJF) – Indivíduos, grupos, trajetórias : o Caminho Novo e as elites de Barbacena (1791 – 1831)

14:30h – Comunicação 05 – Roney Fabiano Alves (Matias Barbosa) – O Caminho Novo entre Simão Pereira e Matias Barbosa

15:00h – Comunicação 06 – Profa. Leila Barbosa e Profa. Marisa Timponi (Juiz de Fora) – A literatura à margem do Caminho Novo

15:30h – Comunicação 07 – Vanderlei Tomaz (Juiz de Fora) – Olhar de Pedra

16:00h – Intervalo

16:30h – Comunicação 08 – Nilza Cantoni (Leopoldina) – Caminho do Cantagalo e Joana Capella (Cataguases) – Estrada Presídio-Campos

17:00h – Comunicação 09 – Prof. Vanda Arantes do Vale (UFJF – Juiz de Fora) – Caminho Novo: arquitetura de ocupação

18:00h – Encerramento

Jantar de Confraternização (por adesão) – Restaurante Diamantina (Rua Floriano Peixoto, entre a rua Santo Antonio e Av Rio Branco)

Participação da Livraria Quarup
Durante o evento, os autores de livros poderão comercializar suas obras através de venda ou trocas

Dia 07/06/2014 (sábado)
9:00h – Passeio cultural – pontos do Caminho Novo em Juiz de Fora

 

V Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo

V Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo

O Encontro será realizado no Museu de Arte Murilo Mendes, Rua Benjamin Constant 790, no centro de Juiz de Fora.

As inscrições são gratuitas e o credenciamento será feito na entrada do auditório, às 8:30 horas.

Sesmarias do Caminho Novo

Primeiras Sesmarias do Caminho Novo em Minas Gerais, tema apresentado por Francisco Rodrigues de Oliveira e Luiz Mauro Andrade da Fonseca no 3º Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo.

O papel do Imigrante

A presença do imigrante europeu em Leopoldina pode ser detectada desde os seus primórdios. Entretanto, as esparsas referências não nos permitem seguir rigidamente os passos deste elemento povoador.

Observamos que formavam núcleos isolados por origem e mantinham o relacionamento mínimo indispensável com a “gente da terra”.

É a partir da metade do século dezenove que os “estrangeiros” passam a ser notados com mais vigor. Observe-se entretanto que o imigrante português nem sempre é tido como estrangeiro.

Como eles chegaram?

Estabeleçamos três períodos para definir-lhes a história: 1829-1859; 1860-1888; 1889 até os primeiros anos do século vinte.

Os pioneiros, encontrados na cidade antes de 1859, eram essencialmente comerciantes. Não encontramos referências a agricultores entre eles. Quase sempre identificados como “turcos”, a sala de suas casas era a loja e as demais dependências destinavam-se à moradia. Entre eles estão os primeiros mascates do lugar, homens que visitavam as fazendas levando os produtos para serem vendidos. Eventualmente aparece o elemento português como mascate ou comerciante, mas sua atividade é quase sempre voltada ao comércio de gêneros alimentícios. Provavelmente estes primeiros imigrantes chegaram a Leopoldina buscando produtos a serem “exportados” para São Fidélis.

O segundo período, entre 1860 e 1888, pode ser contado a partir da abertura da estrada destinada a escoar a produção agrícola da região de Barbacena e Juiz de Fora. Para construí-la, foi fundada a Companhia União e Indústria, que contratou engenheiros, técnicos e operários especializados na Alemanha em 1856. Numa segunda etapa, em 1858, foram contratados colonos para desenvolverem a agricultura na Colônia Dom Pedro II, em Juiz de Fora. Necessário também nos referirmos aos trabalhadores arregimentados entre aqueles colonos de 1845/1847 que já não encontravam ocupação nas obras públicas de Petrópolis.

No contrato com o primeiro grupo em 1856, aqui classificado como de artífices, a Companhia União e Indústria se comprometia a pagar as despesas da viagem para o Brasil, empregá-los durante dois anos com salário de 2.000 réis mensais e fornecer alojamento e alimentação durante a vigência do contrato. Esses contratados puderam assim formar uma boa reserva pecuniária. Ao término dos dois anos, estabeleciam-se por conta própria com base na poupança amealhada. Deste grupo saíram os primeiros industriais da Zona da Mata.

Já os colonos contratados depois, obtinham vantagens menores. O transporte do Rio até a Colônia Dom Pedro II era gratuito, mas as despesas de viagem da Alemanha ao Brasil eram financiadas pela Cia em 4 anos. O salário mensal caía para 1.500 réis, a moradia era garantida por um ano apenas e alimentos e demais produtos necessários eram adquiridos pelo próprio colono.

A partir de 1860 a Cia iniciou a venda das glebas aos colonos, com financiamento de quatro anos. A partir daí muitos deles tornaram-se mão de obra assalariada para os fazendeiros da região, já como reflexo da Lei do Ventre Livre em 1871.

O declínio da Compahia União Indústria ocorreu no período de implantação da Estrada de Ferro Dom Pedro II, cujo traçado era, em linhas gerais, o mesmo da rodovia. Muitos colonos alemães, bem como imigrantes de outras nacionalidades, passaram a trabalhar na ferrovia.

Por esta época, 1871, a Companhia Estrada de Ferro Leopoldina obteve concessão para a construção de uma linha de bitola de um metro, ligando Porto Novo do Cunha a Leopoldina. Substituida pela Leopoldina Railway Company Limited, esta companhia foi a principal responsável pela chegada da maioria dos imigrantes. Necessário esclarecer que quase todos estavam no Brasil há mais de dez anos, seja trabalhando na União Indústria ou na Estrada de Ferro Dom Pedro II.

O fluxo de imigrantes para Leopoldina, por conta da Leopoldina Railway Co. Ltd., estende-se por alguns anos. O assentamento desta Companhia ficava próximo a Vista Alegre, às margens do riacho Jacareacanga. Há menção a uma Hospedaria de Imigrantes no local, mas ainda não conseguimos localizar-lhe os documentos.

O terceiro período inicia-se com a Lei Áurea e representa percentualmente o maior volume de estrangeiros chegados à região. Enquanto até aqui os imigrantes eram profissionais das mais diversas categorias, a partir de então a região passa a receber quase que exclusivamente agricultores, basicamente espanhóis e italianos. Historiadores dos mais categorizados já disseram que, fustigados pela fome que assolava sua região de origem, estes imigrantes submeteram-se a condições de trabalho quase iguais às dos escravos que os precederam na lavoura. Diferentemente dos grupos anteriores, entre estes últimos o índice de analfabetismo era bastante elevado, o que contribuiu para torná-los ainda mais frágeis diante dos fazendeiros acostumados a lidar com cativos.

Os primeiros que conseguiram livrar-se dos absurdos contratos com os fazendeiros, estabeleceram-se no trecho que ligava a sede do município a Tebas. No bairro da Onça e na vizinha Fazenda da Constança, famílias de alemães e espanhóis haviam fixado residência e receberam os novos imigrantes sem dificuldades e, principalmente, sem o preconceito que os impedia de participarem ativamente da vida econômica da cidade. Nesta região, a Câmara Municipal havia estabelecido as bases de uma colônia de imigrantes.