128 – Colônia Agrícola da Constança

Desde 1998, quando os autores começaram a publicar seus estudos, vez por outra tem sido destacada a fundação da Colônia Agrícola da Constança. Isto porque entende-se que estudar sua história implica buscar conhecimento sobre os intervenientes que moldaram a sociedade e foram por ela moldados naquele momento. E é por isto que a ela se volta agora.

Como objeto de pesquisa, a Colônia sempre foi estudada a partir do seguinte normativo legal[1]:

DECRETO nº 280 de 12 de abril de 1910

Crea uma colonia agricola no districto da cidade de Leopoldina, com a denominação de Colonia Agricola da Constança.O Presidente do Estado de Minas Geraes, usando da attribuição que lhe confere o artigo 57 da Constituição Mineira e na conformidade do disposto no artigo I parágrafo I da Lei n. 438 de 24 de setembro de 1906, resolve crear uma colonia agricola no districto da cidade de Leopoldina, com a denominação de “Colonia Agricola da Constança”.

Palacio da Presidencia do Estado de Minas Geraes, em Bello Horizonte, 12 de abril de 1910.

WENCESLAU BRAZ PEREIRA GOMES

Estevão Leite de Magalhães Pinto

A organização de colônias agrícolas em Minas Gerais foi determinada pela necessidade de oferecer atrativos que fixassem os imigrantes em seu território. Exemplo desta preocupação manifestou o Presidente da Província, em 1895, ao declarar que as dificuldades de manter os trabalhadores.[2]

“poderiam ser dominadas si o immigrante fosse obrigado a tomar o destino que se lhe designasse; mas assim não succede, pois que a livre escolha de destino está consagrada em lei, como uma das mais salutares regalias da immigração”.

Assim é que foram organizadas colônias em diversas cidades. No caso de Leopoldina, seu povoamento inicial foi constituído principalmente por imigrantes chegados antes da fundação.

A localização certamente ocorreu em função da disponibilidade de terras a preço adequado. O Relatório assinado por Guilherme Prates a 20 de março de 1910, informa que a Colônia

“Acha-se situada no districto da cidade de Leopoldina, a quatro kilometros da estação da estrada de ferro. Fundada em terras das fazendas annexadas e denominadas Constança, Sobradinho, Boa Sorte, Onça e o sitio Puris, que o Estado adquiriu, tem a área de 17.437.500,00 metros quadrados, dividida em 60 lotes, com cerca de 25 hectares cada um e um logradoiro publico com a extensão de 1.317.500,00 metros quadrados.”

A medida dos lotes apresentava pequenas variações, em função das condições do terreno. Segundo o administrador,

“Está esta colonia sendo fundada no municipio de Leopoldina, no districto da sede, distando da mais proxima estação da estrada de ferro “Leopoldina Railway” cerca de 9 kiloms., distancia que varia para 10, 5 e 4 kil., conforme o ponto de partida.”

O Relatório de 1911 apresenta mudanças ocorridas no primeiro ano de efetiva existência daquele núcleo agrícola. Em 1910 a Colônia ocupara uma área de 18.797.500 metros quadrados, dividida em 65 lotes e 2 logradouros públicos. Logo em seu primeiro ano, o Estado concluiu pela mudança da destinação dos espaços públicos e os incorporou à área agricultável, na forma de três novos lotes.

Ainda com o propósito de aumento do número de lotes, foi também adquirida uma “situação” da fazenda Palmeiras. Com redivisões e acréscimos, o núcleo agrícola passou a contar com 73 lotes. Ao final do exercício de 1912, apenas 64 estavam ocupados, sendo que apenas um por título definitivo.

Segundo o Relatório da Colônia para o ano de 1919, o núcleo contava com 75 lotes ocupados por colonos, 1 vago e 1 destinado à administração do núcleo.

Sem a precisão de localização por instrumentos sofisticados, pode-se informar que as terras da Colônia seriam as que contornam por todos os lados o chamado “trevo de Juiz de Fora”, no km 773 da BR 116, Rio – Bahia. A partir dali, do entroncamento da rodovia Rio – Bahia com a BR-267, pelas duas margens desta última estrada e até as proximidades do distrito de Tebas. Os lotes da margem esquerda da BR-267 teriam seus fundos ou divisas no alto da serra da Vileta. Pela margem direita, no sentido Leopoldina – Juiz de Fora, o loteamento se aprofundava até próximo das propriedades denominadas Bonfim e Taquaril, localizados a sudoeste da sede do município. Deste ponto, e numa linha mais ou menos paralela à BR-267, seguia até encontrar novamente a BR-116 nas proximidades da Igreja de Santo Antônio, no bairro rural da Onça, no limite do atual perímetro urbano de Leopoldina. Dentro desse quadrilátero, quase todas as terras pertenceram à Colônia.

O Trem de História faz mais uma pausa. A próxima edição trará mais história da imigração italiana em Leopoldina e da Colônia Agrícola da Constança. Até lá!

Fontes de referência:

1 - Disponível no Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, coleção Secretaria de Agricultura.

2 - Relatório da Diretoria de Agricultura,Terras e Colonização de Minas Gerais, 1909, disponível no Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 381 no jornal Leopoldinense de 01 de junho de 2019

O papel do Imigrante

A presença do imigrante europeu em Leopoldina pode ser detectada desde os seus primórdios. Entretanto, as esparsas referências não nos permitem seguir rigidamente os passos deste elemento povoador.

Observamos que formavam núcleos isolados por origem e mantinham o relacionamento mínimo indispensável com a “gente da terra”.

É a partir da metade do século dezenove que os “estrangeiros” passam a ser notados com mais vigor. Observe-se entretanto que o imigrante português nem sempre é tido como estrangeiro.

Como eles chegaram?

Estabeleçamos três períodos para definir-lhes a história: 1829-1859; 1860-1888; 1889 até os primeiros anos do século vinte.

Os pioneiros, encontrados na cidade antes de 1859, eram essencialmente comerciantes. Não encontramos referências a agricultores entre eles. Quase sempre identificados como “turcos”, a sala de suas casas era a loja e as demais dependências destinavam-se à moradia. Entre eles estão os primeiros mascates do lugar, homens que visitavam as fazendas levando os produtos para serem vendidos. Eventualmente aparece o elemento português como mascate ou comerciante, mas sua atividade é quase sempre voltada ao comércio de gêneros alimentícios. Provavelmente estes primeiros imigrantes chegaram a Leopoldina buscando produtos a serem “exportados” para São Fidélis.

O segundo período, entre 1860 e 1888, pode ser contado a partir da abertura da estrada destinada a escoar a produção agrícola da região de Barbacena e Juiz de Fora. Para construí-la, foi fundada a Companhia União e Indústria, que contratou engenheiros, técnicos e operários especializados na Alemanha em 1856. Numa segunda etapa, em 1858, foram contratados colonos para desenvolverem a agricultura na Colônia Dom Pedro II, em Juiz de Fora. Necessário também nos referirmos aos trabalhadores arregimentados entre aqueles colonos de 1845/1847 que já não encontravam ocupação nas obras públicas de Petrópolis.

No contrato com o primeiro grupo em 1856, aqui classificado como de artífices, a Companhia União e Indústria se comprometia a pagar as despesas da viagem para o Brasil, empregá-los durante dois anos com salário de 2.000 réis mensais e fornecer alojamento e alimentação durante a vigência do contrato. Esses contratados puderam assim formar uma boa reserva pecuniária. Ao término dos dois anos, estabeleciam-se por conta própria com base na poupança amealhada. Deste grupo saíram os primeiros industriais da Zona da Mata.

Já os colonos contratados depois, obtinham vantagens menores. O transporte do Rio até a Colônia Dom Pedro II era gratuito, mas as despesas de viagem da Alemanha ao Brasil eram financiadas pela Cia em 4 anos. O salário mensal caía para 1.500 réis, a moradia era garantida por um ano apenas e alimentos e demais produtos necessários eram adquiridos pelo próprio colono.

A partir de 1860 a Cia iniciou a venda das glebas aos colonos, com financiamento de quatro anos. A partir daí muitos deles tornaram-se mão de obra assalariada para os fazendeiros da região, já como reflexo da Lei do Ventre Livre em 1871.

O declínio da Compahia União Indústria ocorreu no período de implantação da Estrada de Ferro Dom Pedro II, cujo traçado era, em linhas gerais, o mesmo da rodovia. Muitos colonos alemães, bem como imigrantes de outras nacionalidades, passaram a trabalhar na ferrovia.

Por esta época, 1871, a Companhia Estrada de Ferro Leopoldina obteve concessão para a construção de uma linha de bitola de um metro, ligando Porto Novo do Cunha a Leopoldina. Substituida pela Leopoldina Railway Company Limited, esta companhia foi a principal responsável pela chegada da maioria dos imigrantes. Necessário esclarecer que quase todos estavam no Brasil há mais de dez anos, seja trabalhando na União Indústria ou na Estrada de Ferro Dom Pedro II.

O fluxo de imigrantes para Leopoldina, por conta da Leopoldina Railway Co. Ltd., estende-se por alguns anos. O assentamento desta Companhia ficava próximo a Vista Alegre, às margens do riacho Jacareacanga. Há menção a uma Hospedaria de Imigrantes no local, mas ainda não conseguimos localizar-lhe os documentos.

O terceiro período inicia-se com a Lei Áurea e representa percentualmente o maior volume de estrangeiros chegados à região. Enquanto até aqui os imigrantes eram profissionais das mais diversas categorias, a partir de então a região passa a receber quase que exclusivamente agricultores, basicamente espanhóis e italianos. Historiadores dos mais categorizados já disseram que, fustigados pela fome que assolava sua região de origem, estes imigrantes submeteram-se a condições de trabalho quase iguais às dos escravos que os precederam na lavoura. Diferentemente dos grupos anteriores, entre estes últimos o índice de analfabetismo era bastante elevado, o que contribuiu para torná-los ainda mais frágeis diante dos fazendeiros acostumados a lidar com cativos.

Os primeiros que conseguiram livrar-se dos absurdos contratos com os fazendeiros, estabeleceram-se no trecho que ligava a sede do município a Tebas. No bairro da Onça e na vizinha Fazenda da Constança, famílias de alemães e espanhóis haviam fixado residência e receberam os novos imigrantes sem dificuldades e, principalmente, sem o preconceito que os impedia de participarem ativamente da vida econômica da cidade. Nesta região, a Câmara Municipal havia estabelecido as bases de uma colônia de imigrantes.