![]() Maurício de Almeida Abreu, no artigo Sobre a Memória das Cidades, ressalta que memória é a capacidade de armazenagem e conservação de informações, elemento essencial da identidade de um lugar. Para ele, a memória de uma cidade é coletiva, compartilhada. E a memória coletiva é também uma corrente de pensamento contínuo, que retém do passado somente aquilo que ainda está vivo ou capaz de viver na consciência de um grupo. Ela está sempre se transformando porque os grupos que dela guardavam a lembrança vão desaparecendo. E quando isto acontece e não se quer perder uma lembrança, é comum e aconselhável que seja registrada, transformando-se então em memória histórica. Isto porque as memórias coletivas se eternizam muito mais em registros e documentos do que em outras formas materiais. Lembramos, ainda, conforme nos ensinou Jacques Le Goff em História e Memória, que “o documento é monumento” porque é um registro feito pelo homem e que representará, para a sociedade que lhe suceder, uma visão de como funcionava à época em que foi produzido. O mesmo autor nos ensina que um documento é uma “roupagem, uma aparência, uma montagem” em torno de determinado acontecimento. Portanto, a memória histórica é construída e realimentada pelos registros e documentos que constituem os monumentos da história, os quais preservam a memória das cidades. Esta é nossa intenção. Auxiliar na preservação da memória da cidade de Leopoldina através do registro no Jornal daquilo que pesquisamos. Por isto, hoje o Trem de História segue pelos trilhos das comemorações da emancipação do Feijão Cru em 27 de abril de 1854, relembrando um pouco do que se passou. E o faz pelo prazer de preservar a memória de uma cidade que desde 1877 tem o Trem na sua história, empresta o seu nome à história do Trem no Brasil e não pretende perder o Trem da História. Tocando em frente, é necessário registrar que a mais antiga evidência da existência do povoado que deu origem a Leopoldina está no livro Município de Rio Pomba, de Sinval Santiago, na página 480, que se refere à criação do distrito do Feijão Cru pela Câmara Municipal do Pomba em 1831. Mas é bom lembrar que o Município do Pomba só foi instalado em 25 de agosto de 1832, o que contraria a informação de que a sua Câmara teria criado o Distrito do Feijão Cruz no ano anterior. A favor de 1831 como indicativo da existência de um povoado no Feijão Cru temos as duas doações realizadas por Joaquim Ferreira Brito e sua mulher Joana Maria de Macedo, nos dias 01.06 e 20.11.1831. Por elas pode-se imaginar terem sido feitas para atender às normas para o requerimento de criação do distrito. A segunda delas, a doação de um terreno para a construção da Casa do Cura, reforçaria a suposição da existência de um arraial que procurava se organizar para a criação do distrito. O que se tem como certo é que em 1843 já eram 213 as famílias (2.171 moradores) no distrito de São Sebastião do Feijão Cru. Muitas delas constituídas por filhos dos primeiros moradores, então já casados. E é a partir deste momento que se pode observar a provável existência de moradias dentro do território que foi doado para constituir o patrimônio de São Sebastião. Em 1851 a população do Feijão Cru, um arraial elevado à condição de Freguesia, atingia quase 4.000 habitantes. Esta freguesia chega a 1854 com a realização do sonho de alguns antigos povoadores: consegue se libertar da subordinação, a que esteve sujeita até então, às sedes administrativas de Barbacena depois Rio Pomba, São João Nepomuceno e Mar de Espanha. Em 27 de abril daquele ano foi promulgada a Lei de Emancipação e em janeiro de 1855 foi instalada a Câmara Municipal da Vila Leopoldina. Aqui é válido abrir parênteses para alguns comentários pertinentes. Em Portugal, Vila ainda é um aglomerado urbano intermediário entre aldeia e cidade. No Brasil colonial, povoações eram elevadas a vilas, e essas a cidades, de acordo com o sistema português. Quando o arraial se tornava vila, passava a contar com uma câmara de vereadores, com direito de cobrar impostos e baixar posturas municipais. Recebia um juiz e instalava-se uma cadeia pública. Ao tempo da criação da Vila Leopoldina, já no Império, era este o sistema que funcionava no Brasil. O título de Cidade era mais honorífico e pouco acrescentava em termos de organização política e administrativa. Em função disto, ensina Maurício de Abreu, muitos municípios criados no império e na colônia comemoram o dia da sua fundação como sendo o dia em que foram elevados a cidade, o que não é correto. Na verdade, eles alcançaram autonomia política no dia da criação da Vila. No caso de Leopoldina, o título de Cidade foi concedido pela Lei Mineira 1.116, de 16 de outubro de 1861, ano que está inscrito no atual Brasão do município para lembrar este fato. A partir da emancipação e instalação da câmara municipal de Leopoldina, surgiram os primeiros arruamentos nas imediações da Igreja do Rosário. Possivelmente com as ruas Riachuelo – atual Joaquim Ferreira Brito; Direita – atual Rua Gabriel Magalhães; e, Rosário – atual Rua Tiradentes. Trinta anos depois a Maria Fumaça da Estrada de Ferro da Leopoldina começou a espalhar trilhos e seu nome por boa parte do País. E hoje, dois memorialistas registram alguns fatos que fizeram a sua história. Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA |
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Capacidade de adquirir, armazenar e recuperar informações que permitem gerar novas idéias, ajudando a tomar decisões diárias.
Memórias e diálogos que compreendem o lugar
O texto da doutoranda Sônia Barreto de Novaes, publicado no nr. 12 da Contemporâneos -Revista de Artes e Humanidades, aborda uma preocupação que aflige pensadores de várias pequenas cidades brasileiras: o encolhimento das atividades culturais, muitas vezes definidos como sendo a morte da cidade.
Novaes analisa o caso de Piracaia, SP, focando nas memórias como propulsoras da legitimação dos espaços. O resumo do artigo informa:
“Em pesquisa que está sendo realizada em uma cidade do interior paulista estamos entendendo o estreito elo entre memória e desenvolvimento cultural. Esse estreitamento é, por vezes, tão ínfimo que mal nos damos conta que o desenvolvimento do local como um todo, mas principalmente da cultura, não ocorre porque não valorizamos nossas memórias, colocando-as como mero depósito de onde podemos extrair recursos, sem, no entanto, alimentá-las. Percebemos também que, estas memórias estão nas narrativas e, o registro destas subleva sentimentos de pertencimento e permite aflorar o ser enquanto cidadão dialógico nos diferentes espaços que ocupa. Dentre as questões pautadas no dia a dia estão àquelas relacionadas ao patrimônio material e imaterial como forma de representação perene diante das imbricações desenvolvimentistas que a Cidade vem tomando. “
Leiam o texto completo neste endereço.
Educação Patrimonial: Museu Cultural da Humanidade
Juliana Machado Melo
Resumo
O Tombamento: de instrumento a processo na construção de narrativas da nação
Resumo
Esta dissertação consiste em uma análise da medida de preservação “tombamento” como um processo de construção de narrativas nacionais. Instituído no Brasil a partir do Decreto-Lei n° 25 de 30 de novembro de 1937, o “instrumento do tombamento” tem consolidado e materializado na memória social através do “Patrimônio Histórico e Artístico Nacional” um passado e uma identidade da nação. A partir do processo de tombamento do Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Icó (CE) discute-se a formação do “Patrimônio Histórico e Artístico Nacional” na década de 1970, considerando a gama de intencionalidades presentes na seleção desse acervo nacional. Sob essa perspectiva, o “tombamento” foi compreendido como um processo político e cultural dinâmico que ressignifica os bens culturais através da atribuição de novos valores, cujo deslocamento simbólico os insere em uma historicidade nacional. Para a abordagem do “tombamento” como um processo que organiza socialmente a continuidade histórica da nação e subsidia a construção de narrativas nacionais são utilizadas as noções de “invenção de tradições” (HOBSBAWN; RANGER) e “comunidade imaginada” (Benedict Anderson).
Palavras chave: : Museologia. Patrimônio Cultural. Tombamento. Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Narrativas nacionais. Preservação.
História, tempo presente e história oral
Artigo de Marieta de Moraes Ferreira
Resumo:
Partindo da interdição da história recente e do uso de testemunhos diretos no século XIX, este artigo busca discutir a relação entre passado e presente na história e os novos caminhos para o estudo da história do século XX. Estabelecendo a diferença entre história e memória (e entre historiador e history maker), este trabalho trata dos problemas teóricos e metodológicos da história oral hoje.
O passado como negócio
Resumo
A memória histórica é o resultado de uma lenta negociação em que as disputas políticas se apresentam como parte do processo de ordenação do passado. A memória e a história – em perspectivas diversas – elaboram narrativas capazes de conferir sentido às mudanças operadas no mundo social. O presente trabalho avalia as interpretações sobre o processo revolucionário ocorrido em outubro de 1930, enfatizando as distinções reveladoras do tempo e do lugar dos intérpretes em seu compromisso de explicar o passado.
O fim da memória
Resumo
Este artigo, conferência de abertura do XV Congresso da Associação Internacional de História Oral em 2008, discute o contexto político e acadêmico de transformações por que passou o campo historiográfico nas últimas décadas do século XX, para situar a emergência e a afirmação de uma nova metodologia: a história oral. As relações entre as “novas formas de historiar” e os procedimentos da história oral são analisados através da experiência pessoal da autora, que torna sua trajetória profissional uma estratégia para pensar os caminhos percorridos pelos “historiadores orais”.
Disponível aqui: Meyer
Lugar e imagem: desvelando significados
Resumo
Como uma representação social contemporânea de um espaço público urbano pode revelar as suas transformações? Com o objetivo de refletir sobre significados visíveis e encobertos da imagem, detivemo-nos na análise de um espaço enquanto lugar. Selecionamos o desenho pictórico, o mapa pictórico e a fotografia como imagens capazes de evocar lugares. Essas imagens, associadas a textos de diferentes origens, permitem oferecer alguma recognoscibilidade às transformações sociais.
Disponível em: Mesquita