130 anos da Imigração Italiana em Leopoldina

Após a distribuição do Projeto Conhecendo suas Raízes, elaborado pelas secretarias de Cultura e Esporte e Lazer de Leopoldina, recebemos diversas consultas que versam sobre o mesmo tema. Optamos por respondê-las através do blog por acreditarmos que podem interessar a outras pessoas. Vamos reuni-las sob o marcador “A pesquisa em Leopoldina”.
Considerando que 2010 marca os 130 anos da imigração italiana em Leopoldina, dois tipos de pedidos são muito incidentes:
1 – enviar tudo sobre a Imigração Italiana em Leopoldina;
2 – informar todos os italianos que viveram no município.
Prezados amigos, leitores e seguidores: infelizmente não temos como atender a estes pedidos em uma simples mensagem ou postagem. O volume de informações é de tal monta que tornaria inviável a leitura em pouco tempo, além de constituir um arquivo maior do que o permitido para trânsito em programas de e-mail.
Se nos permitem a brincadeira, toda pesquisa tem um “o quê”, um “por quê”, um “para quê” e um “como”.Ou seja, uma pesquisa
– busca responder a uma questão ou problema levantado a partir de um tema;
– tem uma justificativa;
– pretende atingir um ou mais objetivos;
– é realizada através de determinada metodologia.
Ao preenchermos estes quatro itens, e alguns outros que são igualmente necessários, formulamos nosso projeto de pesquisa. Uma sugestão: quando buscarem ajuda, procurem indicar claramente estes quatro itens. Estabeleçam a ideia chave que identifique cada um deles e nos enviem. Desta forma poderemos consultar nosso banco de dados e responder mais rapidamente.
Deixamos um exemplo de pedido recebido há dois dias. O correspondente pediu “tudo sobre a imigração em Leopoldina”. Após trocarmos algumas mensagens, descobrimos que a pessoa queria saber se os Zaffani estavam incluídos entre os imigrantes que viveram no município. E assim pudemos informar que, segundo as fontes consultadas, Lavinia Zaffani, nascida em Casaleone, Verona, aos 21 de abril de 1863, filha de Rinaldo Zaffani e Regina Bonvicini, passou ao Brasil em 1895, desembarcando do vapor Sempione no porto do Rio de Janeiro no dia 31 de outubro. Era casada com Giovanni Meneghelli, filho de Candido Meneghelli e Luigia Marcomini, nascido aos 21 de julho de 1858 em Gazzo Veronese, Verona. O casal deixou a hospedaria Horta Barbosa no dia 4 de novembro de 1895, com destino à estação Santa Isabel, atual Abaíba.
Não temos conhecimento de outros Zaffani em Leopoldina e os filhos de Lavinia, conforme é habitual entre os italianos, não usavam o sobrenome materno.  Sabemos que Giovanni Meneghelli migrou para Alegre, no Espírito Santo, por volta de 1920, provavelmente indo ao encontro de parentes de sua esposa. Pelo menos uma das filhas permaneceu em Leopoldina. Dos filhos do casal, Corina (1885), Evaristo (1886), Salmista (1888), Aristea (1890), Angelo (1892), Crocilla (1895), Jorge (1902), Ana Maria (1907), Maria e Cirilo, só os quatro últimos nasceram no Brasil.
Através do casamento dos filhos, os Meneghelli se uniram aos Piccoli e Borella pela filha Corina, aos Battisaco e Stefani por Evaristo e também aos Conti e Artuzo pelo casamento de Aristea.
Se tivesse sido possível enviar tudo o que apuramos nestes 15 anos de pesquisa,  nosso correspondente precisaria de um tempo relativamente longo para a leitura do material.  Mas quando informou o tema, o objetivo e a justificativa, em poucos minutos localizamos os dados e enviamos um relatório sobre a família.
Continuaremos respondendo as perguntas mais frequentes através deste blog. Reiteramos nossa disposição de contribuir com o que estiver ao nosso alcance.

 

Propriedades pequenas e produtivas

Segundo a Inchiesta Agraria de Jacini, na segunda metade do século XIX as pequenas propriedades eram mais comuns do que o latifúndio na Emilia-Romagna. Em algumas partes da região encontravam-se unidades de 10 a 30 hectares mas o tamanho mais frequente ficava em torno de 9 hectares. Num extrato sobre a Inchiesta Agraria de 1878, Giulio Gatti informa que a propaganda da emigração comparava a diminuta extensão das propriedades rurais na Italia com a possibilidade de adquirir grandes fazendas no Brasil.

Tomando por base o tamanho dos lotes da Colônia Agrícola da Constança, com 25 hectares em média, verifica-se que a realidade encontrada estava longe de confirmar a propaganda que atraíra aqueles imigrantes. Sabemos que antes do estabelecimento daquele núcleo colonial os imigrantes raramente tiveram oportunidade de adquirir uma boa propriedade, que permitisse o rendimento necessário para o sustento de família numerosa. Foi o caso, por exemplo, de Giovanni Casadio. Com a esposa Luigia Martinelli e pelo menos dois filhos, em 1897 Giuseppe foi contratado para uma fazenda no então distrito de Leopoldina chamado Rio Pardo, hoje o município de Argirita. Em 1910, o filho Giovanni Casadio adquiriu o lote número 35 da Constança, no qual também viveram seus pais. Assim como tantos outros, os Casadio foram bastante operosos e conseguiram uma boa condição de vida.

Outros imigrantes da mesma região, como os Minelli de Bologna, radicaram-se no distrito de Ribeiro Junqueira. Já os Conti, de Marzabotto, tornaram-se proprietários na localidade de São Lourenço, também no município de Leopoldina. Ao que se sabe, estes e os demais imigrantes estão entre os numerosos colonos que transformaram pequenos lotes em exemplo de produtividade.

Italianos da Basilicata em Leopoldina

Nem todos os imigrantes procedentes da Basilicata foram colonos. Entretanto, os descendentes das famílias procedentes desta região italiana estão hoje vinculados a muitos dos antigos moradores da Colônia Agrícola da Constança.

Arleo, Bianco, Brando, Campagna, Conti, Cunto, Damiani, Domarco, Esposito, Falabella, Gesualdi, Iennaco, Lamarca, Lammoglia, Lingordo, Maciello, Marchetti, Panza, Rinaldi, Schettini e Viola são sobrenomes de ancestrais de muitos leopoldinenses.

Emigração Temporária

Leoni Carpi, em Dell’Emigrazione Italiani all’Estero, publicado em 1871, apresenta dados semelhantes aos encontrados na obra de Franchetti e Sonnino, no que diz respeito à cultura de emigrar como um fenômeno que fazia parte da vida do italiano desde tempos remotos. Considerando que Carpi incluiu informações sobre as províncias do norte, enquanto Franchetti e Sonnino trataram da Sicilia, a similitude de informações respalda conclusões extraídas das entrevistas com descendentes de imigrantes italianos que viveram em Leopoldina. Trata-se de considerar que os nossos colonos viviam numa sociedade em que as fronteiras nacionais não impediam deslocamentos frequentes para trabalhar na colheita ou em obras públicas dos países vizinhos.

A emigração temporária era assimilada pelos trabalhadores como um fato natural, permitindo que eles formassem uma boa poupança que garantia o sustento de suas famílias, com as quais geralmente conviviam quase que somente durante o inverno. Entre outros números, os autores citados mencionam os cerca de 10.000 indivíduos da província de Belluno e os 2.000 de Bergamo que passaram a temporada de 1872 longe de suas famílias. Quase todos os autores que consultamos utilizam as antigas obras sobre o assunto para afirmar que a emigração temporária sempre foi considerada uma fonte de riqueza para o Estado italiano.

Sendo assim, não nos surpreende que descendentes das famílias Anzolin, Casadio, Conti, Gottardo, Guersoni, Marchesini, Minelli, Rancan, Tazzari e Zamagna tenham mencionado as temporadas de seus antepassados em outros países. Em algumas delas, parece que o fato dos arregimentadores exigirem que trouxessem a família para o Brasil não foi percebido como contratação do “pacote completo”, ou seja, que filhos e esposa aumentavam a força de trabalho disponível e seriam submetidos ao mesmo regime dos chefes de família. Por outro lado, a Itália negociou a vinda de seus habitantes no mesmo modelo praticado já de longa data, qual seja a de formação de colônias italianas no exterior.

Imigrantes procedentes da Emilia-Romagna

Das províncias de Ravenna e Bologna foram encontrados, em Leopoldina, os sobrenomes Bertulli, Bertuzi, Casadio, Conti, Fachini, Federici, Franchi, Gigli, Gruppi, Guersoni, Lami, Lucchi, Mamedi, Marchesini, Martinelli, Mazzini, Mescoli, Minelli, Morotti, Pazzaglia, Pedrini, Samori, Santi, Tazzari, Vechi, Vigeti, Zamagna. Muitos deles passaram ao Brasil no início da grande fase da imigração, ou seja, entre 1888 e 1892.