Como ficou dito no Trem de História anterior, é preciso conhecer e compreender as unidades de medida e os instrumentos utilizados na demarcação das sesmarias para se interpretar corretamente todos os documentos relativos às concessões.
Em relação às unidades de medida, constantes causadoras de confusões sobre o real tamanho das propriedades, é vasta a bibliografia disponível[1]. E com base nela foi montado o seguinte resumo.
Alqueire = 10.000 braças quadradas = 48.400 m2 Are = 100 m2 Braça = 2 varas = 10 palmos = 2,20 Braça quadrada = 100 palmos quadrados = 4,84 m2 Centiare = 1 m2 Corda = 15 braças = 33 m Hectare (ha) = 10.000 m2 Légua de sesmaria = 3.000 braças = 6.600 m Meia Légua em quadra = 1.500 braças2 = 3.300m2 = 10.890.000m2 Palmo = 0,22 m Prato de terras = 225 braças quadradas = 10,89 ares = 1.089 m2 Quarta de terras = 8 pratos = 0,87 há = 8.712 m2 Selamin = 2 pratos = 0,22 ha = 2.178 m2 Vara = 1,10m Sesmaria no último período = 225 alqueires = 10.890.000m2
Quanto aos instrumentos utilizados é preciso alongar um pouco mais a história para melhor entendimento. Numa das medições realizadas em 1818, em Leopoldina, foi citado o instrumento “agulhão” sobre o qual constam apenas declarações de que estava certo ou reto e sem cavidade.
Em 1885, na medição de fazenda do município[2], há o registro de que os instrumentos apresentados para exame foram: Bússola Eclimetro de Casella, composta de agulhão imantado, frisas e óculo; uma corrente de dez metros aferida pelo padrão da Câmara Municipal; e, dez “fixas”.
A primeira explicação é sobre a palavra bússola que tem origem na língua italiana e significa caixa. Popularmente esta caixa acabou se confundindo com o equipamento vulgarmente conhecido como bússola. Embora a “caixa”, quando usada em embarcação seja chamada de “agulha de marear”, em tempos idos este aparelho usado pelo Piloto[3] era referido como “agulhão”.
“Frisas e óculo”, citados no documento de 1885, seriam as partes que compõem o instrumento. As frisas são as marcações na base onde se instala a agulha. Óculo, é o vidro (lente) que funciona como tampa da caixa da agulha. Já o Eclimetro de Casella era o instrumento que determinava diferenças de nível do terreno. Instrumento ainda hoje fabricado pela empresa Casella, de Londres, especializada em equipamentos de topografia. As “fixas” eram os fixadores para prender a corrente ao solo, de modo a permitir que o Piloto calculasse a distância de um ponto a outro.
Outro termo que surgiu na leitura de processos de inventário e demarcações de propriedades foi “vallo”, por vezes relacionado a valim, valusi ou vallusi, que por algum tempo se considerou uma palavra estranha. Hoje, é sabido que, antes das atuais cercas de arame nas divisas, usava-se abrir valetas no solo. Assim, tornou-se compreensível o uso dos termos valim, valusi ou vallusi para designar a função exercida pela pessoa que construía os valos ou, valetas.
Registre-se que num processo[4] de divisão de propriedade foram listados “jornaes[5] pagos a trabalhadores que cuidaram da marcação das divisas dos quinhões”[6], sendo um deles o conhecido imigrante italiano Nicola Savino. E entre os primeiros moradores do Feijão Cru havia uma pessoa de sobrenome Valim, que seria familiar de membro de uma das expedições de Galvão de São Martinho, que aqui chegou com a função de marcar limites ou divisas.
Por hoje o Trem de História fica por aqui. Na próxima viagem virão antigas propriedades rurais formadas no Feijão Cru. Até lá.
Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado na edição 408 no jornal Leopoldinense de 15 de junho de 2020
Fontes consultadas: [1] BRITTO, José Gabriel de Lemos. Pontos de partida para a História Econômica do Brasil. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1934; SAUER, Arthur. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro para 1897. Rio de Janeiro: Laemmert, 1896. p. 34; O Imperio do Brazil na exposição universal de 1876 em Philadelphia. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1875. p.286-287; e, Tabela de medidas agrárias não decimais do Serviço de Estatística da Produção, Ministério da Agricultura - set/1946. [2] Divisão da Fazenda São Manoel da Bocaina requerida por Francisco Ferreira Neto e outros. Processo 38404617 COARPE/TJMG fls 63 img 108-111 [3] Piloto era o encarregado de medições e demarcações. O Decreto nº 3198, de 16.12. 1863, estabeleceu regras para a função e o profissional passou a ser denominado Agrimensor. [4] Divisão da Fazenda Sossego requerida por Silvano José da Cruz Nogueira, processo 38403636 COARPE/MG, fls 154v img 266. [5] Jornal (jornada) significa o pagamento pela diária do trabalhador. [6] Quinhão era a parte que cabia a cada condômino de uma propriedade ainda não dividida.