124 – Acréscimos e Correções

O Trem de História tem informado que esta série de artigos é uma revisão dos estudos realizados sobre a imigração em Leopoldina e que foram publicados em 2010. O objetivo é trazer os acréscimos descobertos após o fim daquele projeto, bem como corrigir dados à vista de novas fontes encontradas.

Uma destas correções é a que trata da movimentação dos imigrantes.

Entre 1994 e 2009, o acesso às fontes era mais restrito e muitas vezes foi necessário adotar técnica semelhante à dos “mapas conjecturais”, comum em estudos de cartografia histórica. O método consiste em fazer um estudo comparativo entre as fontes disponíveis e, onde houver lacunas, formular hipóteses baseadas nas conclusões possíveis.

A família Camerini foi um desses casos. Dadas as profundas alterações ortográficas nos registros disponíveis, somente com a colaboração de familiares foi possível estabelecer algumas hipóteses que permitiram localizar a entrada da família no Brasil e o casamento de Francesco Camerini com Assunta Antonelli, realizado em 1914 no distrito de Providência.

A colaboração dos leitores foi muito utilizada, não só com o fornecimento de documentos de datas posteriores ao período estudado, como também por relatos obtidos de seus pais e avós. Entretanto, em alguns casos aconteceram conclusões inadequadas.

Um dos pontos que precisam ser esclarecidos se refere à afirmação de colaboradores sobre o local de residência de noivos que se casaram na Paróquia de São Sebastião, mas que não moravam no município. Posteriormente foi verificado que as famílias realmente residiam em Leopoldina na época do casamento e se transferiram mais tarde para outras localidades.

Por outro lado, foram encontrados casamentos realizados em Piacatuba entre noivos que residiam em Itamarati de Minas, mas que antes foram moradores do município de Leopoldina.

Outro ponto surgiu de declarações sobre pessoas constantes nos registros de hospedaria como tendo sido contratados por fazendeiros do município de Leopoldina e que teriam ido para municípios vizinhos. Nesse caso, foram identificados assentos paroquiais de batismo envolvendo tais imigrantes, ficando demonstrado que realmente aqui residiram por algum tempo e depois migraram.

Na maioria desses casos, o problema decorreu do desconhecimento das famílias a respeito da trajetória de seus ancestrais e das profundas alterações na grafia de nomes e sobrenomes em assentos paroquiais, impedindo a imediata identificação.

Também é necessário esclarecer os procedimentos utilizados para identificação do local de nascimento dos imigrantes. Para os que chegaram a partir de meados da década de 1890, muitas vezes a lista de passageiros resolveu a questão por trazer o nome da localidade. Outra fonte foram os assentos paroquiais nos quais algumas vezes constou o local de origem dos noivos ou, dos pais da criança batizada. Quando a família preservou os documentos de seus antepassados, o local de nascimento foi descoberto pelo passaporte. E se o imigrante vivia no Brasil no início da década de 1940, foi chamado a registrar-se segundo normas legais de 1938 e no requerimento teve que declarar a naturalidade.

Observe-se, porém, que não havia um procedimento padronizado por parte dos encarregados dos diversos registros. Razão pela qual, no levantamento concluído em 2003 constavam a localidade de origem de apenas 27% dos imigrantes italianos encontrados e eles estavam distribuídos em 14 regiões da Itália. Das demais nacionalidades, não chegou a 10% o total de identificações de naturalidade.

Atualmente, após consulta a muitas fontes antes indisponíveis, sabe-se que os imigrantes italianos que viviam em Leopoldina procediam de 18 das 20 regiões administrativas em que a Itália está dividida. E o total de identificações chega, agora, a 43%, embora existam diversos casos em que só foi encontrada a província, sem o local exato de nascimento.

Ressalte-se que todos os números aqui apresentados são provisórios, já que a pesquisa não está encerrada e novas informações podem surgir a qualquer momento.

Reitera-se, portanto, o que foi declarado em 2010: se depois de todo este tempo de pesquisa ainda não se sabe tudo sobre todos os imigrantes que aqui viveram antes de 1930, abandonar o material já reunido seria desistir de comunicar aos moradores de Leopoldina o conhecimento adquirido até então.

E assim o Trem de História faz mais uma parada e informa que na próxima estação será embarcado o arquivo da Colônia Agrícola da Constança, instituição que acolheu muitos dos imigrantes que viveram em Leopoldina, cuja fundação ocorreu há 109 anos, no dia 12 de abril de 1910. Aguardem!

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 377 no jornal Leopoldinense de 1 de abril de 2019

As divisas do distrito da Piedade

O distrito da Piedade, atual Piacatuba, teve os seus primeiros limites fixados em 10 de outubro de 1851 pela Lei nr. 533 que criou o distrito:

Art. 5 – O novo Distrito de Nossa Senhora da Piedade do Município do Mar de Hespanha, divide com o do Feijão Cru pelas águas vertentes do Ribeirão da Samambaia, e córrego do Nery; dali em direção às Laranjeiras e à fazenda de João Pedro de Souza no Rio Pomba; por este acima à fazenda do Capitão David; e dali em direção à Serra da Pedra Branca, atravessando o Ribeirão do Pires, até alcançar a fazenda da Graminha, compreendidas as vertentes do Rio Novo; e com o distrito do Rio Novo, divide pela maneira seguinte: ficam pertencendo ao novo Distrito de Nossa Senhora da Piedade as vertentes do Ribeirão da Independência, desde a sua foz no Rio Pardo até a Serra da Parapetinga, e da Barra do mesmo Ribeirão, Rio Pardo acima, ficam compreendidas as fazendas de D. Antônia Maria da Luz, Francisco Tavares e Francisco Mendes da Silva.

No estudo acima, a área em laranja corresponde ao distrito da Piedade em 1851 e a área em cinza não lhe pertencia. A área azul na parte inferior era do distrito do Senhor Bom Jesus do Rio Pardo, hoje Argirita. A linha azul, pelo centro e à direita do mapa, mostra a atual divisa do distrito com Tebas ao sul, a sede do município de Leopoldina a leste e Cataguases a norte-nordeste, demonstrando a área que Piacatuba perdeu entre a criação do distrito e as divisas atuais. Conforme verificado na imagem, a linha divisória sofreu algumas alterações, ora aumentando, ora diminuindo a área do distrito.

Será sempre oportuno buscar novos documentos que possam esclarecer, exatamente, quais eram os limites entre os distritos da Piedade, Rio Pardo e Monte Alegre. Especificamente sobre o Distrito do Rio Pardo (Argirita), sabemos que ele se limitava, pela serra Dourada e vertentes do rio Angu, com o Distrito de Madre de Deus do Angu (Angustura); com o então Curato do Espírito Santo (Guarará), pela serra da Prata e vertentes do ribeirão de mesmo nome; pelas vertentes do rio São João, com São João Nepomuceno e, partindo da serra de Santa Rita, seguia o córrego de São Bento até encontrar, novamente, a serra Dourada, também chamada de serra da Boa Vista.

Lei 1198 de 9 de agosto de 1864

A lei 2027 de 1º de dezembro de 1873 aborda os limites distritais e indica, como pertencentes ao Distrito de Nossa Senhora da Piedade, as fazendas Graminha, a de Manoel Antônio Dutra e a de José Maria Gonçalves Coelho, que marcavam os limites com São João Nepomuceno.

Ainda nesta lei de 1873, encontramos a primeira menção a Francisco de Paiva Campos como freguês da Piedade, sendo ali esclarecido que, até então, sua fazenda pertencia ao Distrito de Dores do Monte Alegre.

Dois anos depois, com a criação da Vila de Cataguases em novembro de 1875, foram retirados do território de Piacatuba, os terrenos da margem esquerda do rio Novo, na parte que hoje pertence a Dona Eusébia. No entanto, na jurisdição eclesiástica, aqueles terrenos continuaram com a Igreja de Nossa Senhora da Piedade.

Em 1880, nova lei vinha tratar dos limites entre Piacatuba e Cataguases. Agora estabelecendo que, do ponto do Rio Novo, onde é a atual divisa entre Itamarati, Cataguases e Dona Eusébia, seguindo pelo córrego Pirapetinga e até encontrar a foz do Rio Pardo, todos os terrenos ao norte ficariam pertencendo a Cataguases. Mas, esta ainda não seria a divisão definitiva. Em setembro do ano seguinte, o trecho compreendido entre a serra da Pedra Branca, em Astolfo Dutra, e o rio Novo, passaria também para Cataguases. Desta forma, as fazendas de João Antônio de Araújo Porto e de José Henriques da Mata, deixaram de pertencer à Piedade. Pouco depois, em outubro de 1882, foi a vez de passarem para Cataguases as fazendas de David Alves Ferreira e Pedro Antônio Furtado de Mendonça. Finalmente, em 1884, nova transferência acrescenta a Cataguases a fazenda de Cândido da Silva Ladeira.

Lei nr 2700 de 30 de novembro de 1880

Em virtude de tantas alterações dos limites entre Cataguases e a Piedade, até hoje continuam a ser mal informados os leitores de jornais e livros publicados na própria região. Especialmente no que se refere ao Museu da Eletricidade, é comum ler que a Usina Maurício está localizada naquele município. Acreditamos que caiba ao morador de Piacatuba, assim como a todos aqueles que amam este belo distrito, lutarem para que seja preservada adequadamente a sua história.

Foi no ano de 1880, com a criação do distrito de Santo Antônio de Tebas, no lugar antes denominado Aplicação de Monte Alegre, que começaram as modificações nos limites da Piedade pelo sudoeste. Ali, num primeiro momento, passaram para o novo distrito as fazendas de Francisco José Barbosa de Miranda, Francisco Paulino Ramos e Francisco Xavier Augusto. Na outra margem do rio Pardo, continuaram, na Piedade, as fazendas de Manoel Ferreira de Souza, Francisco Antônio Nogueira, Eleotério Gonçalves Pereira e João Paulino Barbosa.

Dois anos depois, com a elevação de Tebas a Freguesia, em 1882, passou a contar, em seu território, com as seguintes fazendas desmembradas da Piedade: Valverdes, Manoel Lopes de Carvalho, Rafael Teixeira, Pedro José de Novaes, Francisco Antônio Nogueira da Gama, Francisco Paulino Dias de Oliveira, Luiz José Gonzaga de Gouvêa, Paulo José Ribeiro e Joaquim Rodrigues da Silva.

Este texto foi atualizado em novembro de 2023.