Mudança de Nome: há 130 anos

No século XIX era comum encontrar anúncios de jornal como o abaixo.

Assunto já mencionado na postagem de 24 de julho de 2010,  para algumas pessoas é surpreendente constatar que as pessoas mudavam seus nomes desta forma. Este recorte, da edição de O Leopoldinense de 1 de janeiro de 1883, é apenas um dos inúmeros exemplos que temos encontrado.

Nomes e Sobrenomes

Um dos entraves para o estudo dos antigos moradores é a questão da formação dos nomes. Inúmeros são os homônimos e grande é a variação dos sobrenomes usados dentro de uma família. Sabe-se que, através do hábito conhecido por “paponímia”, um filho do sexo masculino recebia o nome do pai, um outro era batizado com o nome do avô paterno e os demais poderiam receber o nome do avô materno, de um parente mais distante ou do padrinho de batismo. Mas não podemos pensar em regras fixas, de cumprimento rigoroso. Nem tampouco podemos definir a ordem em que o nome deste ou daquele personagem seria perpetuado na descendência.

Uma outra observação se faz necessária e diz respeito à escolha dos sobrenomes. Apesar de algumas publicações respeitáveis citarem determinadas normas, em nossas pesquisas encontramos um panorama nem sempre de acordo com o estabelecido. De modo geral, as crianças que estudamos recebiam apenas um primeiro nome na pia batismal. Mais tarde, e geralmente na cerimônia de crisma, algumas vezes era adicionado um segundo nome. A primeira referência ao sobrenome nós a encontramos apenas quando o jovem ou a jovem realizava um ato da vida civil, como o casamento ou a participação num inventário. E então, nenhuma regra parecia existir. Tanto encontramos o uso do sobrenome completo do pai quanto da mãe e até mesmo de um parente mais distante.

De todo modo, permitimo-nos abordar uma hipótese baseada nos casos que temos visto: as mulheres das famílias de extratos superiores usavam o sobrenome de família. Ainda assim, isto não era regra geral. Muitas houve que usaram os chamados “nomes de devoção”.

Escolha de Nomes: preferência de uma época

O nome próprio localiza o sujeito no tempo e no espaço, declarou Pierre Bourdieu, e sua escolha provém de outro sujeitos, individuais ou coletivos, com destaque para a família.

Há alguns anos fizemos um estudo sobre os nomes mais comuns encontrados nos mais antigos livros de batismos de Leopoldina, resultando no texto publicado neste endereço.

Entre outras observações, verificamos que houve substancial mudança no estoque de prenomes com a chegada de grande número de imigrantes no final do século XIX.

Mudança de Nomes

Assunto recorrente entre os leitores, a formação dos nomes volta a ser motivo de comentários. Agora são descendentes de imigrantes que se mostram revoltados com as modificações, obrigando-os a procurarem advogados para darem andamento ao processo de retificação. Pedimos, antes de mais nada, que voltem seus olhares ao sistema vigente no final do século XIX e busquem compreender que a prática era diferente. Abstemo-nos de criticar tais situações por consideramos que um olhar anacrônico nos afasta da realidade de cada momento.

Como exemplo, apresentamos dois casos extraídos de antigos jornais, mantendo a grafia original.

Anúncio no jornal O Leopoldinense, edição nr. 51 de 07.11.1880, página 3

Cataguazes – Faço sciente ao respeitavel publico, que encontrando neste lugar pessoa de igual nome ao meu, deixo de Assignar-me Antonio Loureiro e Antonio Carvalho, e tomo o nome de Antonio Somoncalho. 

No mesmo jornal, edição número 11 de 01.02.1891, página 1

João Felismino Gomes, rezidente no Districto do Tapirussú, declara para os devidos effeitos, que desta dacta em diante passa a assignar-se João Gomes Jardim.
João Gomes Jardim
Testemunhas: Manoel Antonio da Motta Junior, Miguel de Me[?]
 

 

XII – Sobrenomes

A relação abaixo, publicada em outubro de 2009, sofreu inúmeras correções conforme informado no início da revisão que começou a ser publicada em fevereiro de 2019. Ressaltamos, especialmente, o texto disponível neste endereço.
Este capítulo se encerra com os sobrenomes identificados e que representam o esforço para resgatar um pouco da memória de tantos imigrantes italianos que habitaram o município de Leopoldina.
Abolis, Agus, Albertoni, Amadio, Ambri, Ambrosi, Andreata, Andreoni, Andreschi, Anselmo, Antinarelli, Antonelli, Antonin, Anzolin, Apolinari, Apova, Apprata, Arleo, Aroche, Artuzo
Bagetti, Balbi, Balbini, Baldan, Baldasi, Baldini, Baldiseroto, Baldo, Baqueca, Barbaglio, Barboni, Barra, Bartoli, Basto, Battisaco, Beatrici, Beccari, Bedin, Bellan, Benetti, Bergamasso, Berlandi, Bernardi, Bertini, Bertoldi, Bertulli, Bertuzi, Bestton, Betti, Bighelli, Bigleiro, Bisciaio, Bogonhe, Boller, Bolzoni, Bonini, Bordin, Borella, Bovolin, Brandi, Brando, Breschiliaro, Bresolino, Bronzato, Bruni, Bugghaletti, Bullado, Buschetti
Cadeddu, Cagliari, Caiana, Calloni, Caloi, Calza, Calzavara, Campagna, Campana, Cancelliero, Canova, Capetto, Cappai, Cappi, Capusce, Carboni, Carmelim, Carminasi, Carminatti, Carrara, Carraro, Casadio. Casalboni. Casella. Cassagni, Castagna, Castillago, Cataldi, Catrini, Cavallieri, Cazzarini, Cearia, Ceoldo, Cereja, Cesarini, Chiafromi, Chiappetta, Chiata, Chinelatta, Chintina, Ciovonelli, Cobucci, Codo, Colle, Columbarini, Contena, Conti, Corali, Corradi, Corradin, Cosenza, Cosini, Costa, Costantini, Crema, Cucco
Dal Canton, Dalassim, Dalecci, Dalla Benelta, Danuchi, Darglia, De Angelis, De Vitto, Deios, Donato, Dorigo, Duana
Eboli, Ermini, Estopazzale
Fabiani, Faccin, Faccina, Fachini, Falabella, Falavigna, Fannci, Fanni, Farinazzo, Fazolato, Fazzolo, Federici, Fermadi, Ferrari, Ferreti, Ferri, Fichetta, Filipoli, Filoti, Finamori, Finense, Finotti, Fioghetti, Fiorato, Fofano, Fois, Fontanella, Formacciari, Formenton, Fovorini, Franchi, Franzone, Fucci, Fuim
Galasso, Gallito, Gallo, Gambarini, Gambato, Gasparini, Gattis, Gazoni, Gazziero, Gentilini, Geraldi, Geraldini, Gessa, Gesualdi, Ghidini, Giacomelle, Giamacci, Gigli, Gismondi, Giudici, Giuliani, Gobbi, Gorbi, Gottardo, Grace, Graci, Grandi, Griffoni, Grilloni, Gripp, Gronda, Gruppi, Guarda, Guardi, Guelfi, Guerra, Guersoni, Guidotti
Iborazzati, Iennaco
La Rosa, Lai, Lamarca, Lami, Lammoglia, Lazzarin, Lazzaroni, Leoli, Lingordo, Locatelli, Locci, Loffi, Longo, Lorenzetto, Lorenzi, Lucchi, Lupatini
Macchina, Maciello, Magnanini, Maiello, Maimeri, Malacchini, Mamedi, Mancastroppa, Mantuani, Manza, Maragna, Marangoni, Marassi, Marcatto, Marchesini, Marchetti, Marda, Marinato, Mariotti, Marsola, Martinelli, Marzilio, Marzocchi, Matola, Matuzzi, Mauro, Mazzini, Meccariello, Melido, Meloni, Melugno, Menegazzi, Meneghelli, Meneghetti, Mercadante, Mescoli, Meurra, Miani, Minelli, Minicucci, Misalulli, Mona, Monducci, Montagna, Montovani, Montracci, Morciri, Morelli, Moroni, Morotti
Nacav, Naia, Nani, Netorella, Nicolini, Nocori
Pacara, Pachiega, Padovan, Paganini, Pagano, Paggi, Panza, Pasianot, Passi, Pavanelli, Pazzaglia, Pedrini, Pedroni, Pegassa, Pelludi, Perdonelli, Perigolo, Pesarini, Petrolla, Pezza, Piatonzi, Picci, Piccoli, Pierotti, Pighi, Pinzoni, Piovesan, Pittano, Pivoto, Piza, Porcenti, Porcu, Pradal, Prete, Previata, Principole, Properdi
Rafaelli, Raimondi, Ramalli, Ramanzi, Ramiro, Rancan, Ranieri, Rapponi, Ravellini, Reggiane, Richardelli, Righetto, Righi, Rinaldi, Rizochi, Rizzo, Roqueta, Rossi
Sabino, Saggioro, Sallai, Saloto, Samori, Sampieri, Sangalli, Sangiorgio, Santi, Sardi, Scantabulo, Scarelli, Schettini, Sedas, Sellani, Simionato, Sparanno, Spigapollo, Spoladore, Steapucio, Stefani, Stefanini, Stora
Taidei, Tambasco, Tartaglia, Tazzari, Tedes, Testa, Tichili, Toccafondo, Todaro, Togni, Tonelli, Tosa, Traidona, Trimichetta, Tripoli, Trombini
Valente, Vargiolo, Varoti, Vavassovi, Vechi, Venturi, Verona, Veronese, Vigarò, Vigeti, Viola, Vitoi
Zaccaroni, Zachini, Zaffani, Zamagna, Zamboni, Zamime, Zanetti, Zaninello, Zannon, Zecchini, Zenobi, Ziller, Zini, Zotti

X – Delimitando o Universo Pesquisado

Muitos nomes foram excluídos da listagem por terem sido localizados em apenas uma das fontes consultadas. Em alguns casos foi possível descobrir que, embora o casamento tenha sido realizado na Paróquia de São Sebastião, os noivos não residiam em Leopoldina. Também muitos nomes constantes nos registros de hospedaria como tendo sido contratados por fazendeiros do município, na realidade desembarcaram em uma de suas estações ferroviárias mas foram trabalhar em municípios vizinhos, como Palma, Cataguases e Muriaé. No sentido inverso, imigrantes contratados para trabalhar em outros municípios fixaram residência em Leopoldina poucos meses depois. Entre estes, além dos acima citados há os que foram inicialmente para Ubá, Astolfo Dutra e São João Nepomuceno. Importante destacar, ainda, que Recreio e Argirita eram distritos de Leopoldina no período analisado.
Portanto, é preciso esclarecer que o resultado encontrado não pode ser considerado como definitivo, mas tão somente um esboço que prescinde de maior aprofundamento. Talvez o leitor se pergunte se, a partir da afirmação de que muito ainda há por fazer, não seria mais conveniente adiar a publicação ora encetada. Neste caso, sugere-se um argumento em contrário, no sentido de considerar que, após 15 anos de pesquisas, não foi possível atingir plenamente o objetivo proposto, ou seja, responder adequadamente à questão que motivou o estudo. Se depois de todo este tempo não foi possível identificar todos os imigrantes que aqui viveram entre 1880 e 1930, abandonar o material já reunido seria desistir de comunicar aos moradores de Leopoldina o conhecimento adquirido até então. Esta é, portanto, uma conclusão provisória que se espera seja utilizada pelos próximos pesquisadores.

IX – Alterações em núcleos familiares

Não foram poucos os casos em que um mesmo personagem apareceu com diversas formas de nomes. Somente após inúmeras comparações foi possível reuni-los sob um único sobrenome. Provavelmente muitos mais ainda o serão, quando outros estudiosos complementarem o estudo que ora se conclui.
Por outro lado, ao longo do tempo fomos levados a recompor diversos núcleos, ampliando o número de personagens de nosso estudo. Para este fato, citamos três exemplos.
Sabemos, entre outros, que Giovanni foi transformado em João, Giuseppe em José, Giordano em Jordão e Pietro em Pedro. Sabemos também que muitos italianos receberam dois nomes no nascimento mas que muitas vezes o segundo nome não foi preservado nos registros realizados aqui no Brasil. Portanto, ao localizarmos o batismo do filho dos italianos João e Amália, fizemos uma comparação com os outros dados já recolhidos sobre o grupo familiar e na maioria das vezes concluíamos tratar-se do filho do casal Giovanni-Amabile.
Num destes casos, entre os batismos dos filhos encontramos as seguintes variações para o nome do pai: João, Jovão e Jovane. A mãe apareceu como Maria Amalia, Amalia, Adelia e Maria Adelia. Em nosso banco de dados tínhamos o casal Giovanni-Amabile. Considerando que os oito batismos indicaram que as crianças nasceram a um intervalo médio de 17 meses, e que a primeira criança nasceu 11 meses após o casamento dos pais, montamos o grupo familiar após verificar que os padrinhos das crianças incluíam sempre um dos avós.
Quando fizemos uma revisão no livro de sepultamentos do cemitério de Leopoldina, percebemos que uma das crianças aparecia como filha de “Jordão”. Decidimos refazer outras buscas e consultas a familiares, tendo descoberto que existiu um Giordano na família. Este personagem passou ao Brasil antes dos pais, foi para o estado de São Paulo e só veio para Leopoldina muitos anos depois, já casado e com filhos. Além disso, faleceu em outro estado para onde seus filhos tinham migrado na década de 1920. Mais algumas consultas e aquele grupo familiar foi acrescido de mais 6 pessoas: Giordano, a esposa que também se chamava Amabile e 3 filhos homônimos dos primos nascidos em Leopoldina.
O segundo exemplo é relativos aos irmãos Antonio Sante, Antonio Agostino e Agostino Sante. Os três casaram-se com mulheres de nome Maria e tiveram filhos a intervalos que permitiria localizá-los num mesmo núcleo familiar.
O terceiro caso é dos irmãos Giovanni, Giovanni Battista e Battista Fortunato, cujas esposas se chamavam Ana, Maria e Mariana. Nos assentos paroquiais estes irmãos aparecem ora como João, João Batista ou apenas Batista e as esposas aparecem como Ana Maria ou apenas Maria.

Alterações em Nomes e Sobrenomes

Freqüentemente recebo mensagens a respeito de alterações ortográficas em nomes e sobrenomes. De modo geral os remetentes se referem a erros cometidos. Como esta não é a minha opinião, hoje vou relatar alguns casos com os quais já me deparei.

Antes, porém, gostaria de lembrar que grandes línguas sofreram reforma ortográfica no século XX, afetando a forma como são escritos nomes e sobrenomes. Além disso, é importante observar que na década de 1940 foi adotado no Brasil o Vocabulário Ortográfico e Ortoépico da Língua Portuguesa, organizado pela Academia Brasileira de Letras de acordo com as normas da Academia de Ciências de Lisboa. Entre outras modificações dele conseqüentes, temos a mudança de Brazil (com z) para Brasil (com s).

Sendo assim, creio ser um tanto precipitado afirmar que foram cometidos erros, já que as normas podem ter sido alteradas após o registro de nascimento da pessoa em análise. A propósito, cito o Manual de Redação do jornal O Estado de São Paulo que indica o respeito pela ortografia original enquanto a pessoa for viva, adequando às normas após o seu falecimento. Exemplo clássico deste procedimento é o nome da escritora Rachel de Queiroz que agora vem como Raquel de Queirós.

Entretanto, quando se trata de estudos genealógicos organizados em banco de dados informatizados, é preciso tomar um cuidado adicional. É necessário adotar procedimentos que permitam localizar os nomes pelo sistema de indexação oferecido pelos softwares. Por exemplo: se lançarmos as variações Rezende e Resende será mais difícil localizar um personagem específico entre milhares de outros. Na minha opinião, cada pesquisador deve escolher seu próprio método.

Em meus estudos sobre os imigrantes que viveram em Leopoldina, encontrei inúmeras alterações de sobrenomes. Uma parte pode ter ocorrido por conta de processos de registro de estrangeiro em que foram obedecidas as normas ortográficas vigentes no Brasil da época. Outros indicam problemas de interpretação. O imigrante era analfabeto e o oficial do cartório ou o padre não conheciam a língua italiana. Como nem sempre eram apresentados documentos probatórios, escreviam o que entendiam da fala do requerente.

Mas encontrei também casos diferentes. Nas respostas que obtive dos Archivi di Stati já recebi indicação de duas variações para o mesmo sobrenome. Um deles o traz escrito com duas letras “z” e com duas letras “c” e explica “ma poi individuato come …” Consultando uma professora de cultura italiana, ela afirmou que tais diferenças ainda são bastante comuns na Itália, variando a ortografia entre as diversas regiões e até mesmo entre comuni próximas.

Outro. Encontrei uma variação no sobrenome de uma família a respeito da qual localizei três documentos: o passaporto, a lista de embarque na Itália e o Certificato di Famiglia emitido pelo Archivio di Stato. Até hoje não decidi qual grafia adotar porque as três são diferentes e as variações também aparecem em dois Atti di Nascita de descendentes.

Escolha de nomes: preferência de uma época

Análise da escolha de nomes dos filhos entre as famílias que viviam em Leopoldina na segunda metade do século XIX.