175 – Fazenda Campo Limpo de Manoel José de Novaes

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Hoje o Trem de História traz, em seu vagão principal, a propriedade da família Novaes que fazia divisa com a Fazenda Recreio abordada na última edição. E assim como o nome da propriedade de Antonio José Dutra e Mariana Teresa Pereira Duarte faz algumas pessoas pensarem no vizinho município de Recreio, também a Fazenda Campo Limpo já causou engano em alguns estudiosos.

Portanto, necessário se faz esclarecer que houve, pelo menos, duas fazendas com o nome Campo Limpo no território de Leopoldina. Uma delas é a citada pelo Cônego Raimundo Trindade e que pertenceu a Felisberto da Silva Gonçalves. Felisberto era sobrinho do alferes Tiradentes. Ele e a esposa receberam duas sesmarias no córrego do Glória em 1813. Esta sua fazenda Campo Limpo ficava localizada entre as fozes dos atuais ribeirões São Bento e Campo Alegre no Rio Pardo e o filho de Felisberto, Antonio Felisberto da Silva Gonçalves, nela residia em 1867.

A outra fazenda Campo Limpo, cuja história hoje se conta, teve sua origem no Sítio Saudades, pertencente a Manoel José de Novaes e sua esposa Ana Francisca Garcia. Propriedade que em 1874 já recebia o nome de Fazenda Campo Limpo e permanecia com os mesmos 300 alqueires citados no Registro em 1856.

O casal formador dessa Campo Limpo chegou ao Feijão Cru entre 1831 e 1835, com seis filhos. Estabeleceram-se às margens do Rio Pomba onde foram vizinhos de Mariana Pereira Duarte [fazenda Recreio], Francisco da Silva Barbosa [Fazenda Boa Vista], Processo José Corrêa de Lacerda [Fazenda Tabuleiro], Pedro Baldoino da Silva [Fazenda Boa Sorte], Pedro de Oliveira e Silva [Fazenda Pedro Velho], além de Pedro Moreira de Souza e Francisco Martins de Andrade cujas propriedades não foram registradas pelo pároco do Feijão Cru.

A propriedade de Pedro Moreira era a legítima paterna de sua esposa, Gertrudes Balbina de São José, que era irmã de Francisca de Paula Reis, esposa de Pedro Baldoino da Silva. Gertrudes e Francisca eram filhas de Maria Felicia dos Reis e José Ignacio de Souza que era natural do Quilombo, atual Bias Fortes, filho de José Mendes de Souza e Ursula Maria. Lá se casou, em 1809, com Maria Felicia dos Reis, nascida em 1792 em Santa Rita de Ibitipoca. Era filha de Miguel Esteves dos Reis e Clara Teodora de Castro. José Ignacio faleceu em Leopoldina em julho de 1844.

José Ignacio e Maria Felicia foram pais de: 01 – Maria Carolina de Jesus cc José Casemiro da Costa e em 1856 vizinhos da fazenda Pedro Velho; 02 – José Simpliciano dos Reis, que em 1856 foi citado como vizinho da fazenda Tabuleiro, era casado com Mariana Constança de Assunção; 03 – Gertrudes Balbina de São José nascida em 1816 no Quilombo, cc Pedro Moreira de Souza; 04 – Candida Ozoria de Rezende se casou com Antonio Garcia de Novaes, filho do formador da fazenda Saudades ou Campo Limpo; 05 – Francisca de Paula Reis cc Pedro Baldoíno da Silva que registrou a fazenda Boa Sorte em 1856; 06 – Cesario José dos Reis, nascido por volta de 1823; e, 07 – Julia nascida por volta de 1838.

Segundo seu inventário, José Ignacio de Souza formou a fazenda Bocaina, provavelmente em terras adquiridas de Manoel Ferreira Brito que teria sido o fundador da Fazenda São Manoel da Bocaina.

Sobre o casal formador da Fazenda Saudade ou Campo Limpo, registre-se que a matriarca Ana Francisca Garcia nasceu em Aiuruoca, filha de José Garcia e Maria do Rosário. Casou-se com Manoel José de Novaes a 22.06.1808, em Bom Jardim de Minas onde ele nasceu, filho de Domingos José de Novaes e Genoveva Maria do Rosário.

Vale observar que pela proximidade de origem com os Ferreira Brito e os Almeida Ramos, é possível que o casal tenha migrado para o Feijão Cru a convite deles.

Ana Francisca faleceu no dia 28.06.1852 e em seu inventário consta uma informação esclarecedora. Segundo declaração do agrimensor, a propriedade da família estendia-se da margem do Rio Pomba até as terras da Bocaina. Indicando, portanto, que a área urbana no arraial depois distrito de Campo Limpo surgiu na confrontação entre as duas fazendas.

Manoel José faleceu no dia em 05.09.1872 e o inventário foi aberto em maio de 1874. Naquele momento, seus bens já se encontravam sob administração dos herdeiros, incluindo seu vizinho e genro, Processo Lacerda.

Manoel José de Novaes e Ana Francisca Garcia foram pais de: 01 – João Batista, nascido por volta de 1817 e falecido em Campo Limpo em 1873, incapaz, foi representado por curador no inventário do pai; 02 – Maria Vitoria, cc Processo José Corrêa de Lacerda de quem se falará na próxima edição; 03 – Sebastião José cc Francisca Maria de Jesus; 04 – Antonio Garcia de Novaes cc Candida Maria de Rezende, filha de José Ignacio de Souza, da fazenda Bocaina; 05 – Francisco José, nascido por volta de 1830 e falecido solteiro logo depois da morte da mãe; e, 06 – Pedro José cc Candida Pompilia Tavares, casal que viveu no distrito de Tebas.

Chegado à estação, o Trem de História irá preparar a carga de outra propriedade que esteve profundamente ligada a Campo Limpo.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 427 no jornal Leopoldinense, dezembro de 2021

Fontes Consultadas: 
Arquivo Público Mineiro PP 1/10 CX 01 DOC 04, Termo de São João Del Rei, Mapa da População de Bom Jardim - 1831, quarteirão 2, fogo 2 e CX 03 DOC 06, Termo da Vila da Pomba, Mapa da População do Feijão Cru, 1835 fls 21 fam 82; Carta de Sesmaria. SC 352 fls 76 e Coleção Casa dos Contos do APM, cx 87, item3; Seção Colonial, TP 114. Registro de Terras de Leopoldina. nº 56, nº 77 e nº 78 
Igreja N. S. da Piedade, Barbacena, MG, lv bat 1811-1830 fls 128v; lv cas 1795-1812 fls 199; lv cas 1808-1826 fls 1v; lv bat 1788-1798 fls 454 
Inventários de Ana Francisca Garcia, Felisberto da Silva Gonçalves, João Ignacio de Souza e Inventário de Manoel José de Novaes. 
TRINDADE, Cônego Raimundo. Velhos Troncos Mineiros. São Paulo: Gráfica Revista dos Tribunais, 1955. v.2 p.198/199

174 – Fazenda Recreio

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Entre os atuais córregos das Palmeiras e das Virgens, Antonio José Dutra e Mariana Teresa Pereira Duarte formaram a fazenda a que denominaram Recreio, que foi registrada[1] em 1856 pela então viúva, declarando terem sido comprados 417 alqueires sem declarar data ou vendedor.

Antonio José e Mariana se casaram[2] no dia 11 de novembro de 1822 em Barbacena. Ela foi batizada[3] em Ibertioga aos 03 de junho de 1807, sendo filha de Antonio Pereira da Cunha e Teresa Maria Duarte. Teve como madrinha de batismo a sua meia irmã Joaquina Beralda de Santana, mãe de seu futuro marido Antonio José Dutra. No inventário do pai[4] de Mariana, consta que em solteiro ele teve uma filha de nome Joaquina Beralda de Santana que se casou com Manoel José Dutra.

Em 1831 o casal Antonio José e Mariana residia em Santa Rita de Ibitipoca com as filhas Rita (nascida em 1825), Constança (1826) e Maria, além de uma pessoa de nome Joaquina, viúva, que poderia ser a mãe de Antonio José. Não se sabe, ainda, quando se transferiram para o Feijão Cru, pois não aparecem nas contagens populacionais de 1835 e 1843.

Sabe-se que o casal teve, pelo menos, mais três filhos nascidos no Feijão Cru: Ana Eugênia, José Tomaz e João José.

Também não se sabe quando Antonio José faleceu, podendo-se apenas informar que foi antes de novembro de 1854, data da medição[5] e estabelecimento das divisas entre as fazendas Recreio e Santa Cruz, aquela pertencente a Mariana Teresa Pereira Duarte e esta a José Thomaz de Aquino Cabral.

Quanto à localização dessa fazenda sabe-se que ao registrar sua propriedade, Mariana Duarte declarou divisas com a fazenda Santa Cruz, de José Tomaz de Aquino Cabral, com Francisco da Silva Barbosa (Boa Vista), Manoel José de Novaes (Saudades), Antonio Carlos da Silva Teles Faião (Barra das Laranjeiras) e Bento Rodrigues Gomes (Cachoeira do Bagre). No Retombo assinado pelo agrimensor Antonio Jacinto Muniz, aos 22 de novembro de 1874, a localização foi indicada como tendo[6] “vertentes para os córregos Recreio e João Ides”.

É possível que este João Ides tenha alguma relação com João Ides de Nazareth Filho, cuja segunda esposa era filha do pioneiro Joaquim Ferreira Brito. E pode ter sido ele o vendedor das terras adquiridas por Antônio José Dutra, já que sua primeira esposa era sobrinha dos dois beneficiários com as sesmarias doadas em 1818, os irmãos Fernando e Jerônimo Corrêa de Lacerda.

No dia 10 de março de 1877 foram convocadas 65 pessoas, algumas delas acompanhadas dos respectivos cônjuges, para o julgamento da sentença do Retombo[7] das fazendas Santa Cruz e Recreio. O memorial descritivo esclarece que o processo foi iniciado na divisa da Fazenda Recreio com a Fazenda dos Barbosa (Boa Vista), cujo marco era a “junção do córrego dos Barbosa com o ribeirão do Recreio” e seguiu pelo “caminho que vai ao Laranjal”. Cita confrontações com propriedades menores, oriundas de desmembramentos da fazenda Águas Vertentes do Córrego do Moinho e da fazenda Cachoeira Alta do Bagre, até retornar ao ponto de partida da medição.

Para a finalização do trabalho, os interessados entregaram seus títulos de posse e outros documentos probatórios, como escrituras particulares de venda que os herdeiros fizeram de parte de suas legítimas, e o agrimensor declarou que a divisão e demarcação das fazendas Santa Cruz e Recreio resultaram em dois quinhões de 187 alqueires e 3 quartas para Mariana Tereza Pereira Duarte e igual área para José Tomaz de Aquino Cabral.

Muito provavelmente Mariana faleceu pouco tempo depois de encerrado o processo. Embora não tenha sido encontrado seu inventário, a conclusão advém de novo processo para divisão da mesma propriedade, agora entre os herdeiros. Aos 7 de outubro de 1879 o mesmo agrimensor assinou[8] a Derrota da medição amigável da fazenda, tendo encontrado 92 alqueires, indicação de que os herdeiros já haviam vendido partes de suas legítimas.

Os herdeiros citados foram os irmãos João José, José Tomaz e Ana Eugênia e seus respectivos cônjuges. Entre os confrontantes havia herdeiros da Fazenda Boa Vista dos Barbosas, da Águas Vertentes e da Cachoeira do Bagre. Tais propriedades foram citadas desde a declaração de Mariana em 1856, o que demonstra que as partes vendidas da fazenda ficavam ao sul, especialmente nas divisas com a fazenda Santa Cruz.

Em 1883, o que restava da fazenda Recreio voltou a ser objeto de divisão amigável entre dois condôminos: João José Tomaz Dutra, filho dos formadores da propriedade, e Vicente Rodrigues Ferreira, filho do formador da fazenda Cachoeira do Bagre e casado com uma filha do formador da fazenda Águas Vertentes. Naquela altura a propriedade havia encolhido para 73 alqueires[9] e entre os confrontantes estavam os irmãos de João José, José Tomaz Dutra e Ana Eugênia Duarte, que haviam separado seus quinhões após o retombo de 1880.

Menos de dez anos depois, morreu João José Dutra. Sua viúva, Maria Antonina de Castro, casou-se pela segunda vez com um herdeiro da Fazenda Fortaleza. Mas isto é assunto para uma das futuras viagens do Trem de História porque a próxima terá como destino uma das propriedades vizinhas à Fazenda Recreio. Até lá!

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 426 no jornal Leopoldinense, novembro de 2021

Fontes consultadas: 
[1] Registro de Terras de Leopoldina (Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114), nº 66. 
[2] Igreja N. S. da Piedade, Barbacena, MG, lv cas 1808-1826 fls 173v 
[3] idem, lv bat 1740-1816 fls 127
[4] Museu Regional de São João del Rei, caixa 43, ordem 20
[5] Divisão amigável das fazendas Recreio e Santa Cruz. Processo 38402027 COARPE - TJMG, img 36.
[6] idem, img 37
[7] Idem, imgs 46-53.
[8] Divisão amigável da fazenda Recreio. Processo 38402779 COARPE – TJMG, img 9
[9] Divisão amigável da fazenda Recreio. Processo 38403387 COARPE - TJMG, img 73