O Turismo e a Migração

Foi extremamente importante a adesão do Secretário de Turismo, Esportes e Lazer de Leopoldina à campanha Abrace esta Ideia. Gilberto Tony, também ele descendente de imigrantes, se comprometeu a montar um projeto para realizar o evento comemorativo do Centenário da Colônia Agrícola da Constança em abril de 2010. Ao lado de outras adesões de igual importância, a atuação da Secretaria de Turismo nos remete ao destaque que tem sido dado ao rendimento que a Italia obtém através do turismo. Segundo diversos autores, o emigrado que visita a terra natal é uma grande fonte de recursos.

Desde que começamos a publicar a coluna comemorativa do Centenário, em 2006, sempre recebemos mensagens perguntando sobre a programação do evento. A todos temos explicado que não podemos organizá-lo, porque não residimos em Leopoldina nem podemos ir até lá com a frequência que seria necessária. Sendo assim, optamos por comemorar através da publicação de nossos estudos.

Nos últimos meses, aumentou significativamente o número destas mensagens. O que nos faz concluir que o leopoldinense ausente vê no Centenário da Colônia Agrícola da Constança uma oportunidade de rever a cidade natal, os parentes e amigos. E que muitos descendentes de famílias leopoldinenses, mesmo não conhecendo a cidade de seus antepassados, sentem-se atraídos pelo evento.

A todos vocês, que nos escrevem perguntando como será comemorado o Centenário, pedimos que aguardem notícias que certamente virão dos organizadores, à frente o Secretário de Turismo, Esportes e Lazer.

De volta

A opinião de que os resultados da economia agrícola do sul da Italia foram direcionados para o norte é compartilhada por inúmeros autores que estudaram o assunto. Entre eles, há os que defendem o argumento de que a ação estatal, privilegiando algumas classes e regiões, criou e sustentou as condições que aceleraram a emigração. E relatam que, ao se instalarem em países como Brasil, Argentina e Estados Unidos, aqueles italianos abriam novos mercados para produtos que ainda não faziam parte da cesta de consumo local, resultando em uma das bases de prosperidade da economia italiana.Considerando com alguns destes autores que 25 de cada mil habitantes do Reino emigraram em 1913, pode-se imaginar a representatividade destas comunidades no exterior para o país que deixaram. E também compreender melhor um relato do jornalista Emilio Sereni, incluído no livro Il Capitalismo nelle Campagne e mencionado por diversos autores. Trata-se de resposta dada por contadini da Lombardia a um ministro que tentava convencê-los a não deixar o país. Eles teriam dito ao ministro:

O que entendes por nação? É a massa dos infelizes? Sendo assim, somos uma nação. Plantamos e colhemos o trigo mas jamais provamos um pão branco. Cultivamos a videira e não bebemos vinho. Criamos animais e não podemos comer carne. É uma pátria a terra em que não se consegue viver do próprio trabalho?

Percebe-se, assim, que de norte a sul da Italia a emigração era vista como solução pelo trabalhador rural.

Italianos da Basilicata em Leopoldina

Nem todos os imigrantes procedentes da Basilicata foram colonos. Entretanto, os descendentes das famílias procedentes desta região italiana estão hoje vinculados a muitos dos antigos moradores da Colônia Agrícola da Constança.

Arleo, Bianco, Brando, Campagna, Conti, Cunto, Damiani, Domarco, Esposito, Falabella, Gesualdi, Iennaco, Lamarca, Lammoglia, Lingordo, Maciello, Marchetti, Panza, Rinaldi, Schettini e Viola são sobrenomes de ancestrais de muitos leopoldinenses.

A situação na Itália, segundo o Ministério da Agricultura

Os inquéritos do Ministério da Agricultura italiano, do final dos oitocentos, tem sido uma boa fonte de consulta para conhecer um pouco sobre as condições em que viviam os imigrantes que chegaram a Leopoldina no final daquele século. Numa tentativa de classificar a situação descrita nos relatórios a que tivemos acesso, observamos:
  1. Cereais, seda e lã estavam sofrendo concorrência dos preços baixos dos produtos importados;
  2. aumento de impostos;
  3. irrigação dificultada pelo alto custo da água;
  4. aumento do preço da mão de obra que se tornava escassa por causa da emigração;
  5. oferta de terrenos públicos para os contadini se tornarem pequenos proprietários;
  6. crédito agrícola dificultado pela usura.
Interessante notar que, considerados como causas da crise agrícola na Itália, estes fatores são mencionados em literatura como argumentos para as solicitações dos grandes proprietários no sentido de diminuir impostos. Mas os mesmos autores informam que a crise atingia mais fortemente os pequenos proprietários ou arrendatários e que por isto o trabalho dos lavradores contratados era pago com “salários de fome”.

Pesquisa de Opinião

Todos os leitores que responderam a consulta desta semana disseram que sim, que Leopoldina deve comemorar o Centenário da Colônia Agrícola da Constança.

Esta semana temos uma nova enquete. Participe!

Lendas Familiares e Ideologia

Entre as informações recorrentes nas entrevistas com descendentes de imigrantes, algumas poderiam ser reunidas numa categoria denominada Lendas Familiares. Sabe-se que a transmissão oral e permanente de lendas está na base da tradição capaz de formar uma ideologia. Por este caminho é que tentamos compreender algumas falas. 

Sabe-se que a História é construída de visões e perspectivas diversas. Cada um de nós recorre a uma série de informações para concluir sobre um fato. Em geral as conclusões estão sempre abertas a revisões que surjam a partir de novas informações. E assim tem sido no estudo da imigração em Leopoldina.

Reunindo-se estes dois pressupostos, e imaginando uma classificação dos temas das entrevistas, as Lendas Familiares de maior incidência podem ser reflexo de uma ideologia sobre a imigração entre as famílias que se transferiram para o Brasil. Pensando especificamente nos italianos, em que acreditavam quando se dispuseram a deixar seu país?

Para além de diversas outras posições, há um tipo de Lenda que interessa neste momento: a “certeza” de que a temporada no Brasil seria curta e voltariam à Itália com dinheiro suficiente para se estabelecerem como proprietários e não mais como empregados em latifúndios.

Há quem afirme que os candidatos a emigrar eram facilmente convencidos pela propaganda. Entretanto, alguns autores demonstram que a propaganda só surtiu efeito porque a cultura da emigração estava já presente no imaginário do italiano mais pobre. Tanto que, segundo um relatório de Geffcken, datado de 1889, desde a Unificação o italiano acreditava que sair de seu país era a solução para si e para a pátria que o receberia de braços abertos quando tivesse acumulado capitais trabalhando em terra estrangeira.

Casamento de Imigrantes

A revisão do trabalho “A Imigração em Leopoldina vista através dos Assentos Paroquiais de Matrimônio” permitiu refletir sobre algumas questões que ainda precisam ser abordadas. Uma delas refere-se à idade dos noivos, que contraria uma informação recorrente nas entrevistas realizadas com os descendentes, dando conta de que seus antepassados casavam-se por volta dos 15 anos de idade. Embora tal fato não tenha sido comprovado, levantamos a hipótese de tratar-se de uma ideologia transmitida pelos imigrantes a seus filhos.

Pesquisando sobre o assunto, observamos em Note sul Machiavelli, sulla politica e sullo Stato Moderno que Antonio Gramsci informa ser o casamento precoce uma característica do regime de propriedade fragmentada, no qual é exigido maior empenho do trabalhador e não permite o trabalho assalariado. Em outro trecho o autor aborda a limitação da fecundidade, ou diminuição da natalidade, que seria possível no estado moderno, ou Príncipe moderno por ele imaginado, em contraposição do Príncipe de Maquiavel que seria o estado monárquico que preservava os privilégios das classes superiores em detrimento das massas.

Casamento precoce e taxa de natalidade: dois temas para os próximos estudos.

Emigrados de Salerno

A presença de italianos da Campania em Leopoldina, nos anos que antecederam a grande imigração, parece confirmar o que alguns estudiosos citam como “tendência” que afetou a província de Salerno na década de 1880. Em algumas localidades, a população chegou a diminuir no período entre 1884 e 1901, dado que o número de habitantes que se dirigiam para a América era superior ao de nascimentos. Segundo Constantino Ianni, naquele período foram registradas 2.473 partidas de Castellabate, cuja população era de apenas 4.856 habitantes em 1881.

Pesquisa de Opinião

Um leitor de nossa coluna no jornal Leopoldinense enviou diversas sugestões. Comentando a coluna de 1 de junho, A Imigração Italiana Mudou o Mundo, diz o leitor:

“Concordo que os nossos antepassados foram de muita importância para a cidade e não podem ser lembrados só nas páginas do jornal. Mesmo quem não é descendente tem algum benefício por causa do trabalho dos imigrantes.” 

E o leitor pediu para fazermos uma pesquisa de opinião. Enviou diversas perguntas e resolvemos acatar a sugestão aqui pelo blog. Escolhemos uma delas para esta semana e aí está, no lado direito.

Quais as terras que fizeram parte da Colônia?

Aos leitores que pediram mais esclarecimentos sobre o território da Colônia Agrícola da Constança, informamos que abrangia as terras que contornam, por todos os lados, o chamado “trevo de Juiz de Fora”. A partir do entroncamento da BR 116 (rodovia Rio – Bahia) com a BR 267 (estrada Leopoldina – Juiz de Fora), pelas duas margens desta última e até as proximidades do distrito de Tebas, praticamente tudo fez parte da Colônia. Os lotes da margem esquerda da BR 267 teriam seus fundos ou divisas no alto da serra da Vileta. Pela margem direita, no sentido Leopoldina – Juiz de Fora, o loteamento se aprofundava até próximo das propriedades denominadas Bonfim e Taquaril, perto do que se conhece hoje como Samambaia. Desde ponto, e numa linha mais ou menos paralela à BR 267, seguindo até encontrar novamente a BR 116 nas proximidades da Igreja de Santo Antonio, no bairro da Onça, os dois lados pertenciam à Colônia.

 

Da Igreja até o trevo de Juiz de Fora, o lado direito da Rio Bahia fazia parte da Colônia. No sentido inverso, ou seja, da Igreja para o centro da cidade, até o Posto da Polícia Rodoviária o lado esquerdo continha lotes da Constança.

Hoje a área da Colônia é geralmente conhecida como os bairros rurais da Onça – na parte mais próxima à sede municipal, Boa Sorte e Constança – no trecho que vai do trevo de Juiz de Fora até as proximidades do distrito de Tebas.

A parte que hoje é conhecida como Boa Sorte é cortada por estrada municipal de boa conservação, com linha regular de ônibus municipal e oferece um belo trajeto para um passeio de bicicleta ou uma cavalgada.

Veja, ainda, o post “Localização da Colônia”, que traz um mapa do local.