Conceição da Boa Vista, Recreio, MG

Atendendo ao pedido de um visitante do blog, interrompemos os comentários sobre os antigos moradores do território onde foi fundada a cidade de Recreio para ajudá-lo a localizar a região que estamos mencionando. Começamos pela imagem atual da área urbana de Conceição da Boa Vista, obtida com o Google Earth.

Por volta de 1830 a região foi ocupada por famílias provenientes, em sua maioria, da Serra da Ibitipoca. A Lei nº 533, de 10 de Outubro de 1851, em seu artigo primeiro determinou:
Art. 1º Ficão elevados da Districtos de Paz: […] Art. 6º O novo Districto de Nossa Senhora da Conceição da Boa Vista do Município do Mar de Hespanha divide com o do Feijão Crú defronte da barra do Ribeirão de S. João no Rio Pomba, seguindo pelo espigão acima entre as fazendas de Manoel de Novaes, e da Bocaina, a ganhar a serra, seguindo por esta até a diviza do Alferes João Baptista com Manoel Ferreira no Cemiterio, e d’ahi a encontrar o rumo da sesmaria dos Mendes, que dividem com o mesmo Manoel Ferreira; e seguindo pelo mesmo atravessando a serra, a encontrar com o rumo da sesmaria de Joaquim Cezario, que divide com os Valins; e no fim do referido rumo em direcção às fazendas da Soledade, e Santa Ursula, ficando estas pertencendo ao Districto do Feijão Crú; e com o Districto da Madre de Deos, fica dividido pela serra da Pedra Branca até embocar no Parahyba, e por este abaixo até a Barra da Parapetinga Grande, ficando as mais divizas taes quaes actualmente se achão estabelecidas.
Já a Lei nº 1902, de 19 de Julho de 1872, declarou
Que eleva à cathegoria de Parochia o curato de N. S. da Conceição da Bôa Vista do municipio da Leopoldina. […] Art. unico. Fica elevado à cathegoria de parochia o curato de N. S. da Conceição da Bôa Vista do municipio da Leopoldina, e conservará as mesmas divisas; revogadas as disposições em contrario.
Posteriormente, com a dificuldade de levar a Estrada de Ferro Leopoldina até o distrito, por conta de problemas com proprietários de terras localizadas entre a estação de Abaíba e o distrito de Conceição da Boa Vista, o traçado foi revisto e criou-se a Estação do Recreio, conforme já explicado neste blog.
O decreto nº 123, de 27 de junho de 1890, criou o distrito de Recreio, que foi elevado a município e cidade pelo Decreto-Lei nº 148 de 17 de dezembro de 1938. A partir desta data, Conceição da Boa Vista deixou de ser subordinada administrativamente a Leopoldina, passando a fazer parte do novo município.
A seguir pode-se observar cartografia publicada na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, nos anos de 1950, contendo o traçado da ferrovia.

 

Casa-se o Ignacio Ferreira Brito

Segundo a mais conhecida versão da história de Recreio, Ignacio Ferreira Brito morou com seu irmão Francisco, até casar-se com Mariana Ozória de Almeida, filha de Joaquim Cezário de Almeida e Luciana Esmeria de Almeida. Importante ressaltar que a sogra de Inácio era irmã da sogra de Francisco, ambas filhas do lendário “comendador” Manoel Antônio de Almeida. 

Quando o Curato de Conceição da Boa Vista foi elevado a Distrito de Paz, em 1851, o nome do sogro de Inácio foi registrado como proprietário das terras que marcavam o limite do novo Distrito com Madre de Deus do Angu. Assim é que reunimos o Joaquim Cezário de Almeida aos mais antigos moradores do território que formou, já no século XX, o município de Recreio.

 

Em 1869, Inácio Ferreira Brito comprou, de Domingos Custódio Neto, uma “morada de casas” no largo da Matriz de Nossa Senhora da Conceição da Boa Vista. Seria, em termos da época, a sua residência na área urbana. Ali ele recebeu o Escrivão, em diversas datas do anos subseqüentes, para oficializar transações imobiliárias. Inclusive a hipoteca da Fazenda das Laranjeiras. Ainda não encontramos a documentação relativa à cessão do terreno onde se instalou a estação ferroviária.

Francisco Ferreira Brito constitui família

Francisco Ferreira Brito casou-se, antes de 1859, com Messias Rodrigues Gomes, filha de Antonio Rodrigues Gomes (filho) e Rita Esméria de Almeida. O sogro de Francisco foi, seguramente, um dos primeiros moradores do Feijão Crú. Em 1829 comprou parte das sesmarias concedidas a Fernando Afonso Correia de Lacerda e Jerônimo Pinheiro de Lacerda em 1817. Em 1856 a fazenda formada por Antonio Rodrigues Gomes tinha o nome de Águas Vertentes e ocupava terras hoje divididas entre Ribeiro Junqueira e Recreio.

A sogra de Francisco Ferreira Brito era filha do “comendador” Manoel Antonio de Almeida, um dos povoadores pioneiros de Leopoldina. Temos, portanto, mais um exemplo de que as famílias se reorganizavam pelo casamento de seus descendentes. Neste caso, recordemos que o pai de Francisco era neto paterno de Manoel Ferreira Brito e Maria Teresa de Jesus, sendo sobrinho-neto de Joaquim Ferreira Brito, outro pioneiro de Leopoldina.

Ao casar-se, o dote da esposa de Francisco Ferreira Brito foram terras da grande fazenda de Antonio Rodrigues Gomes, na qual o novo casal formou a Fazenda da Boa Vista, vendida em 1871 para Vicente Rodrigues Gomes. Entretanto, por esta época o casal residia na Fazenda das Laranjeiras, vizinha da Boa Vista e também da Bocaina, a primeira de propriedade dos herdeiros de Antonio Rodrigues Gomes e a segunda dos filhos e netos de Manoel Ferreira Brito.

Comparando-se os diversos documentos encontrados, conclui-se que Manoel Ferreira Brito ocupou terras que vieram a pertencer ao Distrito de Conceição da Boa Vista, na divisa com o atual distrito de Ribeiro Junqueira. Teria sido, portanto, vizinho de Antonio Rodrigues Gomes (filho).

Divisão Político-Administrativa

Construindo Biografias, tivemos oportunidade de observar relações de parentesco ou compadrio entre quase todas as famílias que iniciaram a ocupação sistematizada de nossa região. No nosso entender, isto aponta para a pré-existência de uma determinada cultura concernente àquele grupo, resultando em tentativas de reconstruir, nas terras do Feijão Cru, o ambiente do qual provinham. Lembra-nos Benito Bisso Schmidt, em Construindo Biografias (Rio de Janeiro, Revista de Estudos Históricos, n. 19, 1997), que as articulações entre a vida pública e a vida privada explicam e justificam o desenrolar dos acontecimentos que se pretenda resgatar com grande distância no tempo. Por esta razão, Schmidt cita Christopher Hill quando sugere incorporar os acontecimentos da época em que o biografado viveu.Para uma contextualização mais detalhada, torna-se necessário remontar à história de Leopoldina por diversas razões. Uma delas é o fato de que muitos dos antigos moradores de Recreio chegaram na região junto com os povoadores pioneiros daquela cidade, sendo com eles aparentados. A outra razão, que inscrevemos entre as principais, é a subordinação político-administrativa do território. Entretanto, para não sermos repetitivos, sugerimos que o leitor consulte o site www.cantoni.pro.br se desejar conhecer detalhes da história de Leopoldina.

Aqui neste espaço, chegamos à década de 1850 com documentos um pouco mais abundantes. Sabemos que desde 1831 o serviço religioso houvera sido iniciado no Feijão Cru. Além das atividades estritamente religiosas, era na Igreja que se realizavam muitos atos da vida civil, como as reuniões políticas e o alistamento eleitoral. Assim, as famílias de Recreio precisavam deslocar-se com alguma freqüência para Leopoldina.

Mas sabemos também que em 1834 fora constituído o patrimônio de Nossa Senhora da Piedade, o atual distrito de Piacatuba, que passou a atender parte das demandas dos moradores que não estavam tão próximos da sede. No outro extremo geográfico, nasceu o Curato de Nossa Senhora da Conceição da Boa Vista, cuja data oficial de criação do Distrito é o ano de 1851.

Em 1854, com a elevação do Feijão Cru a vila e cidade, a Piedade e Conceição da Boa Vista passaram formalmente ao comando de Leopoldina, muito embora saibamos que de há muito operava-se tal vínculo.