
Percorrer os caminhos traçados pelos primeiros entrantes no território do atual município de Leopoldina tem sido o combustível e a razão de muitas viagens do Trem de História. Hoje, com estes mesmos ingredientes, ele visita a Fazenda Thezouro e a sua filha, a Fazenda Cachoeira da Boa Vista.
É bom lembrar, de início, que numa região montanhosa como este leste mineiro é natural que a maioria dos rios e ribeirões contem com quedas d’água ou cachoeiras que, por via de consequência, acabaram entrando na composição do nome de diversas fazendas. Fato que às vezes confunde um pouco a pesquisa em documentos da época, pela repetição do nome em vários pontos do município.
FAZENDA THEZOURO
A fazenda Thezouro foi formada no início do povoamento do Feijão Cru por Luciana Esméria de Almeida, filha de Manoel Antonio de Almeida e seu marido Joaquim Cesário de Almeida, que vinha a ser sobrinho materno do mesmo Manoel Antonio. Joaquim Cesário faleceu[1] aos 18 de março de 1855 e a propriedade passou a ser administrada por sua esposa que a registrou[2] em 1856 pelo tamanho de uma sesmaria, ou seja, mais ou menos 225 alqueires.
Divisava com Bernardo José Gonçalves Montes, José Ferreira Brito e Francisco José de Freitas Lima que mais tarde se tornaram sogros de filhos do casal Luciana-Joaquim Cesário. Eram também vizinhos da Fazenda do Tesouro: Manoel José Monteiro de Castro (1º Barão de Leopoldina) e Antonio Augusto Monteiro de Barros Galvão de São Martinho.
No processo[3] de Derrota[4], em 1868, consta que a Fazenda Thezouro divisava com “um corrigo chamado da Independencia”; com Domiciano Antonio Monteiro de Castro; com os vizinhos originais, Bernardo José Gonçalves Montes (que veio a ser sogro de João Basílio de Almeida), José Ferreira Brito e Francisco José de Freitas Lima. Divisava, ainda, com Prudente Vital de Oliveira que havia comprado 8.512 braças quadradas de Domiciano Antonio Monteiro de Castro, conforme escritura transcrita no processo de Derrota; e com o filho do casal João Basílio e seus cunhados Antonio Venancio de Almeida e Antonio Augusto de Almeida.
Nessa ocasião, Francisco José de Freitas Lima já havia comprado a legítima de Ignacio Ferreira Brito, que era genro do casal formador da fazenda. E o 1º Barão da Leopoldina havia comprado a legítima da esposa de Francisco Gonçalves Neto, que era filha do casal formador da fazenda.
Luciana Esméria de Almeida faleceu[5] dia 1 de agosto de 1864 e foi sucedida na administração dos bens do casal pelo filho mais velho, João Basílio de Almeida.
FAZENDA CACHOEIRA DA BOA VISTA
A história da fazenda Cachoeira da Boa Vista começa alguns anos antes de 30 de outubro de 1868, quando o piloto agrimensor Carlos Pereira de Souza apresentou o Memorial da Derrota[6] da “Fazenda Thezouro”. E, em linha gerais, a partir dos documentos a que se teve acesso, pode ser contada assim.
Algum tempo depois do falecimento de Luciana a fazenda Thezouro foi dividida. Na época, os condôminos eram João Basílio de Almeida e Antonio Augusto de Almeida que eram herdeiros da Tesouro; Antonio Venâncio de Almeida, João Ferreira de Almeida e Antonio de Freitas Lima (genros dos formadores da Tesouro), Francisco José de Freitas Lima (sogro de uma filha dos formadores da Tesouro) e o 1º Barão da Leopoldina, que havia comprado uma parte da fazenda.
A partir daí uma parte da Thezouro recebeu o nome de Fazenda da Cachoeira da Boa Vista e como tal funcionou por aproximadamente duas décadas.
Vinte anos depois, em 1884, Antonio José de Siqueira, um dos condôminos, requereu a divisão[7] da Fazenda Cachoeira da Boa Vista. Nessa ocasião eram condôminos: Antonio José de Freitas Lima; Bernardo Rodrigues Gomes e sua mulher Augusta Leopoldina de Rezende Montes; Manoel José de Siqueira Araújo e sua mulher Maria Virgilina de Almeida Siqueira, residentes na Corte; Romualdo Rodolfo Rodrigues Montes e sua mulher Blandina Leopoldina de Almeida; Antonio Pedro de Almeida; Joaquim Martins de Almeida; Filomena Ludovina de Almeida, filha do finado João Basílio de Almeida; Elisa de Almeida com seu tutor Bernardo Rodrigues Gomes; Dorcelina, Luciano e Eurico filhos de João Basilio de Almeida.
A Fazenda Cachoeira da Boa Vista divisava com as terras de: João Baptista Guimarães e sua mulher; Emidio Manoel Victorio da Costa; João Ferreira de Almeida e sua mulher Maria Cesaria de Almeida; Lucas e João, filhos de João Ferreira de Almeida; Antonio Augusto de Almeida e sua mulher Virginia Pereira Werneck; Antonio Venancio de Almeida e sua mulher Rita Virginia de Almeida; Antonio José de Freitas Lima e sua mulher Honorina Antonia de Almeida; José Antonio de Moraes e sua mulher; Francisco de Souza Guerra e sua mulher; José Luiz Machado e sua mulher; José de Moraes Lima e sua mulher Mariana Augusta de Almeida; Francisco de Moraes Lima e sua mulher; Miguel de Faria Coutinho e sua mulher Felicidade Perpétua de Freitas; Ana Eufrosina de Freitas Lima; Francisco José de Freitas Lima e sua mulher Francisca Margarida.
Em 04.07.1883 Augusta Leopoldina Rezende de Almeida vendeu[8] a Antonio José de Siqueira sua meação na Fazenda da Cachoeira da Boa Vista, que fazia divisa com herdeiros de Francisco José de Freitas Lima, com João Batista Guimarães, João Ferreira de Almeida, Antonio Augusto de Almeida, Antonio Venancio de Almeida e Emidio Manoel Victorio da Costa, num total de 137 hectares e 94 ares. E em 24.09.1883 nova escritura ratifica os termos da anterior registrando que a meação de Augusta Leopoldina Rezende de Almeida foi dada em pagamento a Antonio José de Siqueira.
Augusta Leopoldina Rezende de Almeida, viúva de João Basilio de Almeida, casou-se a segunda vez com Bernardo Rodrigues Gomes que passou, então, a ser condômino da fazenda.
Registre-se que o processo ora analisado menciona o ribeirão São Lourenço em algumas passagens e, comparando-se com outras informações do mesmo processo, conclui-se que a fazenda se localizava em território que pertenceu ao distrito de Conceição da Boa Vista sendo desmembrado para a formação do distrito de Abaíba, criado em 1890.
Por hoje o Trem de História fica por aqui. Mas fique certo o eventual leitor que na próxima edição do Jornal um pouco mais da história da cidade ocupará este espaço. Até lá!
Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA
Publicado na edição 419 no jornal Leopoldinense, abril de 2021
Fontes consultadas:
[1] Cartório de Notas de Leopoldina, MG - 1º Ofício, Maço 20 [2] Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114, Registro de Terras de Leopoldina, nr 40 [3] Processo COARPE – TJMG 38405817. Divisão da Fazenda Cachoeira da Boa Vista. [4] Derrota era o termo usado para denominar o processo de medição de uma propriedade rural. [5] Cartório de Notas de Leopoldina, MG - 2º Ofício, Maço 64. [6] Processo COARPE/TJMG 38405817. Divisão da Fazenda Cachoeira da Boa Vista. [7] Idem [8] Idem
Ainda tem a filha Maria Izabel que mora atualmente em Juiz de Fora, nasceu em 1946 em Santo Antônio do Aventureiro. O italiano Francesco GATTI faleceu em 10/12/1957 em Argerita MG
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Agradecemos pela informação. Não fizemos buscas nos antigos distritos de Leopoldina após 1900.
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Sempre bom ler seus posts. Por acaso vocês teriam o nome da esposa do José Antônio de Moraes, citado no texto? Tenho suspeita de ser um dos meus antepassados. Aliás, há ali alguns sobrenomes que constam da minha árvore. Obrigado!
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Olá: na fonte utilizada não consta o nome da esposa. Entretanto, pelos demais vizinhos identificados, provavelmente trata-se de Sebastiana Apolinária do Nascimento.
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Belo trabalho. Com objetivo de acrescentar o valioso acervo histórico. No final de 1897 a família Gatti vinham atrás de uma nova esperança de reconstruir suas famílias e suas vidas, situação essa comum entre os imigrantes em um misto de necessidade e busca de um sonho por nova terra, patrocinado pelo governo brasileiro na época e encararam uma viagem saindo do interior da Itália na cidade de Muscoline, Brescia cidade equidistante entre Milão e Veneza percorrendo aproximadamente 250 KM até finalmente alcançar o porto de Gênova e embarcarem no vapor Montevideo entre a Itália e o Brasil numa situação bastante precária de viagem de quase 1 mês de longa travessia do Atlântico.
Nessa época, o governo brasileiro, que precisava de mão de obra por conta da abolição para as grandes fazendas no Brasil e incentivava a vinda desses imigrantes e financiava os custos da viagem. Alessandro Gatti aos 37 anos com a esposa Caterina Gatti e os filhos Teresa, Francesco Gatti aos 11 anos, Giovani, Luigi finalmente sem muitas informações chegaram de novembro de 1897 ao porto das Flores no Rio de Janeiro, onde desmarcaram rumo a Minas Gerais onde deram entrada no dia 18/11/1897 na Hospedaria Horta Barbosa em Juiz de Fora, MG conforme consta no Arquivo público mineiro no livro SA-925, página 128, após exatamente 30 dias em 18/12/1897 a família foi contratada para trabalhar na fazenda de café Pedra Branca em Sarandira desembarcando na estação do Retiro. Francesco Gatti italiano casou com Linda Gameli (Guarnielli) Bicas/MG e em 1915 tiveram um filho brasileiro registrado em Argirita Francisco Gatti Filho, que é o avô da minha esposa, Linda Guarnielli.infelizmente por razão de saúde faleceu ainda nova onde o italiano Francesco Gatti que na época já residência no distrito de Providência / Leopoldina onde casou pela segunda vez com a Sra Ana Maria tendo os filhos conforme descrito acima. O Filho do casal Francesco Gatti e Linda Guarnielli, que é brasileiro seguiu o destino para a região de Carlos Alves e posteriormente com o êxodo rural foram morar em Bicas. E seus herdeiros vivos se encontram em Juiz de Fora, como o Sr Francisco Gatti Neto.
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Agradecemos pela bela contribuição.
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Bom dia parabéns pelo belo trabalho somos da família do Francesco Gatti que residiu em Providência conforme o documentário e estamos em busca de maiores informações do nossos antenatos. Casou com Linda Guarnielli também italiana e tiveram um filho brasileiro em 1915 Francisco Gatti Filho que morou posteriormente em Argirita.
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Olá: tenho apenas a informação de que Francesco Gatti e Ana Maria foram pais de Catarina, Alexandre, Estevam, Humberto e Pedro, entre 1932 e 1940
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