179 – Fazenda Pedro Velho, de Pedro de Oliveira e Silva

O Trem de História de hoje tem como destino a antiga Fazenda Córrego de São Pedro, formada por Pedro de Oliveira e Silva em cerca de 80 alqueires de terras compradas de Francisco José da Silva, conforme registro[1] de 1856.

Tal fazenda confrontava com: 1) Manoel José de Novaes, proprietário do Sítio Saudades / Fazenda Campo Limpo, de quem se falou no  artigo anterior; 2) Francisco Martins de Andrade, que já habitava o território do Feijão Cru desde pelo menos 1843, conforme o censo[2] em que consta como chefe de um fogo onde morava com a esposa Luiza Maria e os filhos Gabriela e Joaquim; 3) Manoel José Pacheco, que pode ser o filho de Mariano José Pacheco listado como contribuinte[3] em Conceição da Boa Vista em 1858; 4) José Casemiro da Costa, casado com Maria Carolina de Jesus, filha de José Ignacio de Souza; 5) Ponciano Rodrigues de Andrade, de quem não se tem informações; e, 6) Manoel Francisco Malta, que registrou[4] duas propriedades em Leopoldina ainda não identificadas.

Pouco se conseguiu apurar sobre Pedro de Oliveira e Silva e sua família. Sabe-se que em 1852 uma filha dele se casou[5] em Piacatuba com Antonio de Sá Rocha. As fontes não esclarecem se nesse ano os pais da noiva já viviam nas margens do Córrego São Pedro onde formaram a fazenda cujo primeiro nome era o do curso d’água.

Além dessa informação, o que mais se tem sobre a fazenda está no processo de divisão[6] requerida quase dez anos depois da morte de Pedro de Oliveira e Silva e no mesmo ano em que faleceu sua esposa. O requerimento foi iniciativa de Antonio José Dias da Paixão, que em algumas fontes é citado como Antonio José Machado Dias da Paixão, e que seria parente de Maria Catarina da Paixão, um dos nomes utilizados pela mulher de Joaquim Dias Neto de quem Antonio José comprou[7] a propriedade em abril de 1871.

Ressalte-se que o objeto dessa compra foi uma morada de casas no arraial de Santana da Mata, em terreno de sessenta palmos com fundos até o rio Pomba, e bem assim uma situação denominada Floresta, de 16 alqueires com benfeitorias, em terras do finado Pedro de Oliveira e Silva conhecidas por Fazenda do Pedro Velho.

Aqui vale o registro de que existiu uma capela de Santana da Mata ao norte da Fazenda Pedro Velho, da qual não foram encontradas referências nos arquivos da Diocese de Leopoldina.

Segundo fontes literárias, no lugar onde se localizava a capela funcionou a Escola Francisco Machado, bem próxima da Fazenda Cachoeira do Pomba que pertenceu a Custódio Machado. O homenageado com o nome da escola seria Francisco Machado Dias Neto nascido[8] a 09 de março de 1860, filho de Joaquim Dias Neto e Maria Catarina, proprietário de 40 alqueires registrados[9] em 1856 sem indicação de nome da propriedade. Custódio Machado, proprietário da Cachoeira do Pomba, era neto de Francisco Machado Dias Neto.

Registre-se que por ocasião da divisão da Fazenda Pedro Velho foram convocados 44 condôminos e mais de 20 confrontantes, incluindo a Câmara Municipal que teria recebido doação do formador da propriedade para constituição do patrimônio de Santana da Mata, no povoado do mesmo nome, à beira do Rio Pomba.

Quanto à família do pioneiro Pedro de Oliveira e Silva, sabe-se que ele e sua esposa Antonia Maria de Jesus foram pais de: 1) Flausina Maria de Jesus casada com Manoel Antonio Martins; 2) Francisco Domingues da Costa; 3) Joaquim Antonio de Oliveira; 4) Manoel Bernardes da Silva que se casou com Maria Joaquina de Jesus e com ela teve filhos nascidos em Piacatuba; 5) Maria Quintiliana de Jesus; e, 6) Rita Maria de Jesus, falecida em Piacatuba em maio de 1854, que foi casada com Antônio de Sá Rocha, filho de Manoel de Sá Rocha e Joana Luzia.

No processo de divisão da fazenda Pedro Velho, há requerimento ao juiz para convocar o interessado Manoel Bernardes da Silva que residia nas Matas do Itabapoana, província do Espírito Santo. Entretanto, na escritura de venda de sua legítima paterna o local de residência[10] de Manoel foi indicado como Batatal, Vila Benevente, que é o atual município capixaba de Anchieta. Não se pode afirmar que dois outros filhos de Pedro de Oliveira e Silva, Francisco e Joaquim, sejam os homônimos referidos em fontes do mesmo município espírito-santense.

O Trem de História fica por aqui. Na próxima edição do Jornal, outro pioneiro de Leopoldina ocupará este espaço. Até lá!

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 431 no jornal Leopoldinense, abril de 2022

Fontes Consultadas:


[1] Registro de Terras de Leopoldina. Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114, nº 77 
[2] Arquivo Público Mineiro CX 03 DOC 04, Termo da Vila de São João Nepomuceno, Mapa da População do Feijão Cru, 1843 fls 15 fam 140 
[3] Livro de Arrecadação de Impostos em Conceição da Boa Vista 1858, fls 11 v 
[4] Registro de Terras de Leopoldina (Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114), s 92 e 93 
[5] Igreja N. S. da Piedade, Piacatuba, Leopoldina, MG, lv 1 cas termo 20 
[6] Divisão da Fazenda Pedro Velho processo 38404535 COARPE/TJMG 
[7] Divisão da Fazenda Pedro Velho processo 38404535 img 365. 
[8] Arquivo da Diocese de Leopoldina, lv 01 bat fls 57 termo 301 
[9] Registro de Terras de Leopoldina (Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114), nº 42 
[10] Divisão da Fazenda Pedro Velho processo 38404535 fls 20 e 23.

176 – Fazenda Tabuleiro, de Processo José Corrêa de Lacerda.

Vizinha do Sítio Saudades ou Fazenda Campo Limpo, de Manoel José de Novaes, a Tabuleiro foi fundada por Processo José Corrêa de Lacerda, genro de Manoel José.

Registre-se, de início, que em virtude da homonímia não foi possível estabelecer qual era o vínculo de Processo José com Romão Pinheiro Corrêa de Lacerda, pioneiro que formou a fazenda da Memória[1] nos primeiros tempos do Feijão Cru. Sabe-se, porém, que os Corrêa de Lacerda eram de Bom Jardim de Minas onde moravam também, os Novaes.

Muitos pesquisadores se dedicaram a estudar os vínculos que os casamentos criavam entre as famílias dos noivos. Maria Beatriz Nizza da Silva[2] mencionou o princípio da igualdade social que era estimulado pela Igreja Católica na escolha dos pretendentes, dando surgimento a adágios e provérbios como o de Antonio Delicado: “Se queres casar, casa com teu igual”. A autora citou, também, o padre Manoel Bernardes em sua obra Nova Floresta[3], publicada em 1706, para esclarecer o que se entendia por igualdade entre os noivos. Tratava-se de fazer combinar idades, condições sociais, saúde e a “qualidade” dos pretendentes, ou seja, similaridade etária, social, física e moral. Considerando que os párocos interferiam profundamente nas decisões das famílias e que conheciam bem os seus paroquianos, conclui-se que realizavam casamentos tendo em vista o princípio aqui mencionado. E assim se compreende o casamento de Processo José Corrêa de Lacerda com Maria Vitoria de Novaes pouco tempo antes da transferência para o Feijão Cru.

Processo não declarou de quem comprou os 120 alqueires em que formou a sua fazenda Tabuleiro, registrada[4] em 08.03.1856. Informou divisas com Manoel José de Novaes e Francisco Silva Barboza (fazenda Boa Vista dos Barbosas), e com a fazenda da Bocaina, o que causou mais uma dificuldade no decorrer da pesquisa. Isto porque as fontes consultadas indicam que a propriedade do sogro de Processo estava entre a Tabuleiro e a Bocaina, inviabilizando a indicação de tais divisas.

Conforme mencionado na coluna anterior, Manoel José de Novaes, formador da fazenda Campo Limpo, havia feito a partilha dos bens em vida, passando-os para a administração dos herdeiros, incluindo seu vizinho e genro Processo José Corrêa de Lacerda que faleceu[5] aos 12.05.1888. Daí a partilha dos bens de Processo eventualmente se confundir com a divisão dos bens de seu sogro.

Maria Vitória e seu marido só tomaram posse[6] da integridade dos bens da legítima paterna dela em junho de 1875. Quase dois anos depois, em março de 1877, foi aberto o processo de divisão judicial da fazenda São Pedro, mais tarde conhecida por Pedro Velho, da qual o casal era um dos confrontantes[7] pela parte que lhes coube no inventário de Manoel José de Novaes. Em março de 1882, quando foi julgada a divisão da fazenda Pedro Velho, o casal Processo e Maria Vitória teve regularizada[8] sua posse naquela fazenda, uma área de 7 hectares. Dois meses depois, houve um acréscimo não especificado nesta área porque se descobriu que anos antes, ao vender a parte que julgava possuir na Fazenda Pedro Velho, Manoel José de Novaes informou uma quantidade menor do que realmente possuía. Desta forma, os domínios de Processo José Corrêa de Lacerda passaram a se estender da margem direita do atual Córrego das Virgens até a margem esquerda do Córrego São Pedro que mais tarde passou a se chamar Arizona. A partir desse momento, a propriedade de Processo e Maria Vitória aparece nas fontes como Fazenda Tabuleiro dos Coqueiros.

Com sucessivas vendas e permutas que ocorreram nos anos seguintes, em 1897 as antigas fazendas Tabuleiro e Campo Limpo estavam reduzidas a 317 hectares, sendo que cerca de 65 alqueires sob o nome de Tabuleiro dos Coqueiros que pertencia a 23 condôminos. Boa parte das vendas permitiu a ampliação da área urbana do distrito que então se desenvolvia na esteira do movimento trazido pela Estrada de Ferro.

01) - Generosa Maria de Jesus cc Prudente Balbino de Souza, filho de Candido Balbino de Souza que teria sido vizinho de Manoel José de Novaes; 02) - Manoel Bento de Lacerda cc Laura Maria de Jesus, teria migrado para Laje do Muriaé; 03) - Maria Justina cc Joaquim Izidoro Ferreira, falecida antes de seu pai; 04) - Prudencio Afonso cc Eduviges, sem outras informações; 05) - Gabriel Antonio de Novaes, teria vivido em município vizinho; 06) - Caetano José cc Felizarda Amélia Salustiana, vendeu sua legítima paterna e teria se radicado na sede do distrito; 07) - Porfiria Maria de Jesus cc João Carlos Neto, ele descendente do formador da fazenda Boa Vista dos Barbosa e ela falecida antes do pai; 08) - Gertrudes Maria de Lacerda casou-se com um dos Honórios Ferreira de Lacerda de quem se sabe que fora condômino da fazenda Córrego do Sapateiro, na margem do rio Pomba, e que vendera sua parte a João Gonçalves Neto; 09) - Processo Felix de Novaes cc Maria Carolina de Oliveira, trocou sua legítima na sede do distrito por uma cota da fazenda Tabuleiro dos Coqueiros; 10) - Florisbela Maria de Lacerda cc Francisco José de Oliveira, faleceu em Ribeiro Junqueira no dia 19 de agosto de 1895.

Para completar as informações sobre a parte norte do distrito de Campo Limpo é necessário abordar o antigo Sítio São Pedro que ficou depois conhecido como Fazenda Pedro Velho. Assunto para a próxima viagem do Trem de História.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 428 no jornal Leopoldinense, janeiro de 2022

Fontes Consultadas:[1] Registro de Terras de Leopoldina (Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114), nº 9

[2] SILVA, Maria Bestriz Nizza da. Sistema de casamento no Brasil Colonial. São Paulo: T.A.Queiroz/USP, 1984. p.66

3] Classificada nas categorias ensaio, estudo e polêmica, Nova Floresta é uma obra em 5 volumes que foi publicada pela editora Oficina de Valentim da Costa Deslandes, Lisboa, Portugal e tem versão digitalizada disponível no site da Universidade Federal de Santa Catarina.

[4] Registro de Terras de Leopoldina (Arquivo Público Mineiro, Seção Colonial, TP 114), nº 4

[5] Inventário de Processo José Corrêa de Lacerda, processo 38402722 COARPE/TJMG img 1

[6] Inventário de Manoel José de Novaes, processo 38405822 COARPE/TJMG img 225

[7] Divisão da Fazenda Pedro Velho, processo 38404535 COARPE/TJMG imgs 2-4.

[8] Divisão da Fazenda Pedro Velho processo 38404535 COARPE/TJMG img 186 e 233.