Um solar de Memórias

Com o subtítulo “guardadores de papéis e iconografias da intimidade, no artigo publicado na Revista Patrimônio e Memória jul-dez 2013 a autora Silvana Moreli Vicente Dias propõe “guardadores” como termo “para designar a atividade assistemática e informal” dos amadores que formam coleções de objetos como “bilhetes, telegramas, cartões-postais, cartões de Natal, cartoes de visita e fotografias”.

Resumo: No diálogo epistolar entre Gilberto Freyre e Manuel Bandeira, suportes paralelosàs suas cartas, tais como cartões-postais, imagense mesmo um livro de autógrafos,apresentam particular interesse. Ao lado da leiturade uma parte desse material, sãoanalisadas práticas informais de preservação de objetos relacionados a círculos restritos deamigos e familiares, focando, também, aspectos ligados à formação de arquivos pessoais,que podem eventualmente ser disponibilizados ao público. Por fim, será possível discutir adinâmica da sociabilidade do período e sua relaçãocom o processo modernizador em cursono Brasil da primeira metade do século XX,quando, a despeito do aceleradodesenvolvimento econômico e das mudanças políticas, as fronteiras das esferas pública eprivada ainda eram evidentemente misturadas.

Leia o artigo completo neste endereço.

Gilberto Freyre e a Nova História

Tradução de Pablo Rubén Mariconda
RESUMO: O ponto de partida deste artigo é uma série de semelhanças entre a ‘nova história’ associada aos Annales e a história social, psico-história ou antropologia histórica de Gilberto Freyre; semelhanças que vão desde um interesse pela cultura material (alimentação, vestimenta e habitação) até um interesse pelas mentalidades e pela história da infância, tema que preocupou Freyre antes da publicação de Casa-grande & senzala. Estas semelhanças de abordagem foram reconhecidas tanto por Febvre como por Braudel quando descobriram a obra de Freyre no fim dos anos 30. Freyre, no entanto, não estava imitando o Annales e nem
Febvre ou Braudel o estavam imitando. Freyre aprendera seu estilo interdisciplinar na Universidade Columbia, um centro do movimento americano da ‘nova história’ no início do século. Por outro lado, assim como Febvre, Freyre também admirava Michelet. Já a ‘história íntima’ de Freyre é, em algum grau, devedora da Histoire Intime praticada pelos irmãos Goncourt, uma história cuja importância para a história da historiografia ainda não foi suficientemente reconhecida.

Livros importantes para um Historiador

Em agosto de 2010 Fabricio Leal de Souza publicou o resultado de uma pesquisa realizada com os leitores de seu blog sobre os livros indispensáveis na vida de um historiador.

1º. Apologia da História (Marc Bloch)

2º. Raízes do Brasil (Sérgio Buarque de Holanda)

3º. Casa-Grande & Senzala (Gilberto Freyre)

4º. Era dos Extremos (Eric Hobsbawm)

5º. História e Memória (Jacques Le Goff )

6º. Formação do Brasil Contemporâneo (Caio Prado Júnior) e O Queijo e os Vermes (Carlo Ginzburg)

7º. Domínios da História (Ciro Flamarion Cardoso)

8º. Mitos, Emblemas, Sinais (Carlo Ginzburg)

9º. A Escrita da História (Peter Burke), A Ideologia Alemã (Friedrich Engels), O Capital (Karl Marx) e Como se escreve a História (Paul Veyne)

10º. A Escola dos Annales (Peter Burke), A Escrita da História (Michel de Certeau), O Príncipe (Nicolau Maquiavel) e Passagens da Antiguidade para o Feudalismo (Perry Anderson)

Ainda que alguém discorde da ordem de preferência dos leitores do Fabrício, não se pode negar o valor das obras mais votadas.

 

Relendo Gilberto Freyre

Durante a Festa Literária Internacional de Parati – FLIP deste ano, surgiu a vontade de reler Gilberto Freyre. Para além das críticas que alguns fazem a este autor, não podemos deixar de considerá-lo um marco. E não só pela obra mais famosa – Casa Grande & Senzala. Outras como Ingleses no Brasil e Novo Mundo nos Trópicos são também interessantes. Sem contar com aquela que é considerada sua estréia como autor: Vida Social no Brasil nos meados do Século XIX.
Pois relendo este trabalho que o próprio autor considera “um ensaio produzido por um adolescente”, pode-se encontrar, no prefácio à primeira edição em língua portuguesa, afirmativas como:
[foi concebido para] “encontrar-se a si mesmo nos seus avós, nos seus antepassados, nos brasileiros de uma época anterior à sua e à dos seus pais.” (2008, p.35)
E já no início do trabalho propriamente dito, Freyre declara que
“o Brasil dos meados do século XIX não era só constituído por vários Brasis, regionalmente diversos: também por vários e diversos Brasis quanto ao tempo ou à época vivida por diferentes grupos da população brasileira.”
Esta passagem induz a uma reflexão sobre tantos modelos fechados, obras adotadas pelas escolas e que tentavam convencer de que o Brasil era assim ou assado e que as coisas aconteciam sempre da mesma maneira em todo o ‘território nacional’. Quantos não se surpreenderam ao perceber que a sua cidade, a sua região ou a sua família não guardava relação alguma com o que declaravam tais obras?
E quantos não consideram ridículos alguns fatos que ouvem de seus avós? Neste aspecto, temos uma declaração no final da tese acadêmica, sugerindo que alguma coisa do passado pode parecer grotesca
“para os pósteros que se voltem para esse aspecto de vida dos seus avós ou bisavós com olhos apenas de turistas no tempo”. (p. 115)
Ao contrário, quando buscamos ir um pouco além na tentativa de compreender as motivações de um dado momento, abandonamos os preconceitos e adotamos outra visão não só do passado como de tudo que está ao nosso lado.