Homenagem a uma professora que deixou saudades.
Em nosso trabalho Nossas Ruas, Nossa Gente, publicado pela Felizcidade, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público sediada em Leopoldina, um dos verbetes é o da rua Aline Monteiro Gomes, localizada no bairro Dona Euzébia, e que recebeu este nome através da lei nº 3.391, de 26.12.2001.
A tia Aline, como era carinhosamente conhecida, era filha de José Gonçalves Gomes e Francisca Monteiro Lobo. Por sua atuação à frente do Jardim de Infância que em tantos leopoldinenses mirins despertou a sensibilidade e a criatividade, foi uma professora dinâmica e inovadora. Entre manifestações de antigos alunos da tia Aline, destacamos um trecho da entrevista concedida por Maria Georgina Albuquerque a Vânia Diniz[i]
Você nasceu em Leopoldina. Guarda alguma lembrança da sua cidade?
R – Realmente nasci em Leopoldina, Vânia, uma pequena cidade da Zona da Mata Mineira. Apesar da minha pouca idade na época em que ali vivi, as recordações são inúmeras e claras. Trago comigo o cheiro de terra molhada após o prazer da chuva, o canto das cigarras e um esplêndido arco-íris embelezando o céu.
A minha mãe era muito católica, daí a lembrança dos cânticos religiosos e a chegada da imagem de Nossa Senhora em minha casa pra novena do mês de maio. Havia muita alegria na família, com inúmeras visitas e a diversidade de influências dos irmãos mais velhos, cada um com a sua peculiaridade. Aos meus quatro ou cinco anos, minha família mudou-se para o Rio de Janeiro. Como sete dos seus nove filhos já haviam concluído o colegial, meu pai optou por uma cidade maior, com Universidades e possibilidades profissionais que melhor lhes atendessem. Além dos meus avós maternos, tínhamos alguns tios que já moravam no Rio, o que tornou a coisa mais agradável.
Algum fato marcou nitidamente sua infância?
R – Chegando ao Rio, o ingresso no Colégio Assunção representou um divisor de águas. Estava acostumada ao microcosmo da cidade interiorana e embora este se situasse no tranqüilo bairro de Santa Tereza, onde fomos morar, um novo mundo descortinou-se. O espaço físico era excessivo e o refeitório acessado por um elevador panorâmico. Da imensa quadra de vôlei, avistava-se toda a cidade minimizada abaixo, o mar estendendo-se pelo horizonte como num belo cartão postal. Para completar, exigia-se o regime de semi-internato, com o relativo afastamento da minha família sendo compensado pela disciplina dos horários de estudo, biblioteca, aulas de música e esportes. Foi, portanto, uma mudança um tanto drástica, embora não me tenha absolutamente causado danos e perceba hoje o quanto me beneficiou.
Quando descobriu a literatura?
R-A escolinha em que estudava em Minas, já na época era bastante inovadora. Lembro-me muito bem da Tia Aline, professora e proprietária do pequeno estabelecimento. A proposta pedagógica do seu Jardim de Infância, por incrível que pareça, era muito mais avançada que a do tradicional Colégio Assunção, no Rio. Os pequenos alunos eram bastante estimulados e sem que percebêssemos ou tomássemos a aprendizagem como uma exigência a ser cumprida, desenvolvíamos uma imensa curiosidade pelo que havia em volta. A criatividade era incentivada através do vasto material que cobria as enormes mesas da escola e, ao lado das tintas e lápis coloridos, várias estantes repletas de livros faziam a festa dos alunos. Ao chegar no Rio já sabia ler e a minha mãe, também professora, passou a incentivar o meu hábito de leitura, presenteando-me constantemente com livros infantis. Os irmãos mais velhos também enriqueceram muito essa experiência.
Tia Aline mantinha o seu Jardim de Infância no mesmo endereço onde residia, na rua Custódio Junqueira, junto de suas irmãs Corina e Ondina.
Outra de suas irmãs, Sebastiana Monteiro Gomes (apelido Babá), foi casada com o farmacêutico Guanahyro Fraga Mota. Dos irmãos de tia Aline temos ainda a informação de que em 1938 o João residia em Caratinga, MG e que o Osmar era farmacêutico. De Rita temos apenas o nome citado na Genealogia Mineira.[ii]
O pai da tia Aline, José Gonçalves Gomes, foi hoteleiro em Leopoldina. A mãe da tia Aline, Dona Francisca pertencia à tradicional família Monteiro Lobo que já foi objeto de nossos estudos. Casada a primeira vez com seu primo José Augusto Monteiro da Silva Filho, de cujo consórcio não houve descendência, Dona Francisca era filha de Marcos Monteiro da Silva e Maria da Conceição Lobo, cuja ascendência encontra-se no citado estudo
[i] Maria Georgina Albuquerque, psicóloga, radicada em Brasília, nascida em Leopoldina, filha de Wilson Albuquerque e Odívia Carrano. Textos publicados na Usina de Letras onde também se encontram textos de seu irmão, Pedro Wilson Carrano Albuquerque. Entrevista a Vânia Moreira Diniz.
[ii] REZENDE, Arthur Vieira de, Genealogia Mineira, (Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 1937), volume 2 – 2ª parte – fls 119 e seguintes. |