Colonos não italianos

São freqüentes as consultas de leitores sobre a origem dos imigrantes e perguntam se Leopoldina recebeu apenas italianos.
Entre os colonos instalados na Colônia Agrícola da Constança, vários deles não eram italianos. Entre outros, citamos três que tomaram posse no mês de junho de 1910: Augusto Santos – lote 10, Francisco Dias Ferreira – lote 36 e Júlio Teixeira Figueiredo – lote 47. Infelizmente ainda não pudemos estudá-los, já que existiram homônimos vivendo em Leopoldina na mesma época e ainda não encontramos fontes que os identifiquem adequadamente.

Atividades desenvolvidas na Colônia Agrícola da Constança

A atividade agrícola na colônia foi assim discriminada no Relatório de 1911: culturas de café, arroz, feijão, mandioca, cana de açúcar, milho, amendoim e fumo, com a seguinte produção: 2.585 kilos de café, 60.880 kilos de arroz, 48.215 litros de feijão, 197.750 litros de milho, 225 de amendoim. Não foi mencionado o resultado da colheita da mandioca, da cana de açúcar e do fumo.
Quanto à atividade pastoril, ficou registrado: 444 leitões, 80 bovinos, 59 cavalos, 79 cabritos, 2.703 galináceos e 51 patos.
Os colonos entregavam 20% de suas colheitas como parte do pagamento de suas dívidas. No ano de 1911, o valor arrecadado em cereais foi de 5:221$836. Além disto, os colonos entregaram 1:998$750 em dinheiro. Ao final do exercício de 1911 o total dos débitos dos colonos montava a 61:210$767

População da Colônia Agrícola da Constança em 1910-1911

O RELATÓRIO DA DIRETORIA DA AGRICULTURA, TERRAS E COLONIZAÇÃO, ano de 1911, permite analisar os dados populacionais da Colônia Constança no seu primeiro ano de efetiva existência.
A sua população era então de 386 indivíduos, sendo 183 do sexo masculino e 203 do feminino, distribuídos pelas seguintes nacionalidades: brasileira 53, italiana 164, portugueza 58, alemã 49, espanhola 2, austríaca 6 e turca 4. Ressaltamos que nem todos os habitantes da colônia eram proprietários de lotes. Pelo contrário, um número expressivo era composto de agregados às famílias dos colonos, imigrantes que não haviam se adaptado ao regime de trabalho imposto pelos fazendeiros da região e que, em alguns casos, estavam há quase vinte anos morando provisoriamente nos mais diferentes lugares. Muitas vezes também, o proprietário do lote era apenas aquele que conseguira aprovação ao seu projeto de financiamento. Mas o trabalho era realizado por diversas famílias que seriam meeiras do colono registrado.
Segundo o Relatório acima citado, no exercício de 1911 estavam localizadas no núcleo 18 famílias, com o total de 93 indivíduos, mas uma a abandonou no mesmo ano. No entanto, é preciso observar que o relatório não se refere ao ano civil, mas ao ano decorrido desde o relatório anterior, baseado em mapas de janeiro de 1910.
Quanto aos que abandonaram a colônia, foram 9 famílias com 50 indivíduos, chefiadas por: Angelo Bucciol, August Krauger, August Schill, Bruno Troche, Franz Negedlo, Franz Schaden, Herman Krause, Karl Thier e Demetrio de Lorenzi. Este último instalou-se na Colônia no dia 26.02.1911 e três meses depois a abandonou, tendo sua saída sido registrada a 30.05.1911. O montante da dívida destes colonos era então de 2:821$398.

Entre a chegada ao Brasil e a compra do lote

Através dos Fofano, observamos mais um caso de colonos que foram instalados na Colônia Agrícola da Constança, em Leopoldina, muito tempo depois de terem vindo para o Brasil. Isto ocorreu porque muitos imigrantes foram contratados pela Província de Minas Gerais entre os anos de 1887 e 1894, com o objetivo de substituir a mão de obra escrava. Desembarcados no Porto do Rio, eram encaminhados para Hospedarias de Imigrantes de onde saiam sob contrato com algum fazendeiro ou mesmo alguma câmara municipal.
No caso de Leopoldina, já encontramos famílias que desembarcaram no Rio em 1894, ficaram alguns dias na Hospedaria Horta Barbosa, em Juiz de Fora e foram contratados pela Câmara Municipal de Leopoldina que os encaminhou para fazendas do município. Muitos desses imigrantes, quando da criação da Colônia, ali adquiriram lotes e passaram a cuidar da sua própria terra.

Homenagem de um descendente

APÓS OS 40

Eu nasci lá na roça
foi lá que me criei.
Lá na Boa Sorte.
Tive toda a sorte.
Em Leopoldina nas Gerais,
terra fértil, gente fina.
E saudade hoje tenho demais.

Quanta saudade lá da roça,
dos meninos, dos amigos, das peladas,
do campo de futebol, do córrego, do riacho,
do cavalo e da carroça.

Lembro-me ainda da primeira escola.
Da Dona Aparecida, do queijo e do embornal.
Da infância toda vivida.
Das pescadas do meu irmão,

do lambari, traíra, do bagre e do piau.

Recordo da estrada poeirenta e deserta.
Do curral dos bois, do touro “minuto”
com a estrela branca na testa.
Da vaquinha “conquista”
toda esquisita, mas muito bonita.

Ainda ouço o chiado do carro de bois,
dos porcos e do galinheiro.
Saudade do Mané padeiro,
da venda do Sr. “Timbira”,
dos primos Kim, Cyro, Mave e da Nira.

Recordo-me ainda dos meus dez anos de idade,
que não voltam jamais.
Saudade às vezes dói muito, dói demais.
Lembro-me do nosso cachorro Bali.
Saudade do Antônio, do Paulinho e da Lilí.

Recordo ainda do pé de abacate,
do vendedor turco mascate,
dos morros, do luar do grande coqueiro.
Dos bons trabalhadores, dos biscateiros,
do cheiro do mato, da árvore sombria,
do trabalho, da enxada do pai e sua alegria.

Saudade não tem idade.
Lembro também da subida na goiabeira,
da grande e verde mangueira,
de todo o milharal , do arrozal,
depois na escola da Onça,
da igrejinha de S. Antônio,
da festa do padroeiro, do pipoqueiro,
do leiloeiro e da missa mensal.

Recordo também das caçadas do pai.
Da paca, do iambú e do jacu.
Da macarronada da minha mãe,
e aos domingos lá de casa ninguém sai.

Saudade dos anos dourados de “cinqüenta”.
Da criancice, das brigas e intrigas.
Parece que foi ontem, já tem “quarenta”
e às vezes o coração não agüenta.

Saudade das chuvas de verão, do trovão,
da enchente, que a gente até gostava,
da minha pequena bicicleta,
que voava pra casa da tia Maria.
Saudade dos bailes, do arrasta pé, das festas,
da alegria e.t.c., e.t.c.

Da fogueira junina na casa do “João Bonim”,
do terço, da procissão do “Anjo Colli”,
dos versos, da prosa, dos contos enfim,
do cantar do galo preto cedo,
e dos passarinhos, João peneném,

do João de barro,do melro, tisiu, do anu,

chamchão, do beija flor, da cambaxirra e do colerim.

Recordo também do cheiro da flor de laranjeira,
saudade do grupo velho “Ribeiro Junqueira”,
do padrinho “Antônio Carraro”, poeta, meu amigão,

fazia versos como tal, contava histórias, era intelectual.

Tenho saudade da Boa Sorte,
de todos, foi lá que me criei,
sem violência, sem maldade
e com toda liberdade.
Sem medo, sem segredo, sem malícia,
saudade do Zé do Pedro, de suas trovas,
de seus versos e de sua preguiça.

Foi lá na roça que eu andei.
Lembro-me do colo da Vó Olívia,
do carinho do Vô Paschoal.
Dormia com eles, na casa grande,
muito grande, parecia senzala sem igual,

É bom ter raízes e ter vínculos,
É bom ter parentes, ser pai.

Ter pais, é bom ter referencial,

é preciso ser capaz,

é imprescindível ter paz, é bom ser paz e ter paz.
Paz aqui na serra, paz na terra,

paz na roça e na cidade.

E paz total.

Portanto estou saudoso de todos,
dos ausentes e dos presentes da família,
da primeira bola da madrinha “Cecília”.
Saudade do leite fresquinho de manhã,
do bonito “caminhão” do leiteiro,
que meu pai colocava na estrada de manhã.
Saudade da bilosca e do pique no terreiro.

Ainda me lembro mesmo do vaga-lume,
do grande lampião e da lamparina,
do queijo puro e da rapadura,
do doce de leite, da gordura,
do melaço da garapa,
do pessoal da “D.Marcelina”.

Recordo ainda da Mina de água fresca,
Do moinho de fubá, do cafezal, da ponte
que a gente mergulhava e empurrava os outros.

Das grandes caminhadas, do alto cupim,
do roçado e do verde canteiro,
da horta, das alfaces, da couve,

da abóbora gigante, das batatas doces,

do tacho do torresmo, do grande pé de aipim.

 

Não sou importante,

sou apenas “Mineiro”

Graças a Deus.

 

José Edison Fofano
Declaro ainda a total fidelidade da frase: “Recordar é viver”.
Petrópolis, fevereiro de 2001.