Imigrantes Italianos no município de Leopoldina

A pesquisa publicada em abril de 2010, por ocasião das comemorações do Centenário da Colônia Agrícola da Constança, sofreu atualizações ao longo do período. Por esse motivo o trabalho que ora se apresenta traz acréscimos ao universo de imigrantes italianos que tiveram algum vínculo com o município de Leopoldina. Permanece a data limite de 1930, ou seja, foram considerados os italianos que residiram no município antes daquela data.

Para melhor compreensão do que será visto neste artigo, é importante lembrar que os atuais municípios de Argirita e Recreio foram emancipados depois daquela data e, portanto, alguns imigrantes que viviam nos distritos que hoje compõem o município de Recreio, assim como os do então distrito de Bom Jesus do Rio Pardo, foram referidos em fontes da sede municipal.

Quanto à metodologia, permanece a convicção de que, para conhecer a trajetória de um imigrante é preciso estudar a composição da família, de tal sorte que seja possível identificá-lo não só aqui no Brasil como também no local de origem. Considerando o período estudado, a fonte primordial, aqui no Brasil, é o registro paroquial. Nos assentos de batismo e casamento é possível coletar, além dos dados de identificação do próprio sujeito, nomes de padrinhos e testemunhas que podem ser do mesmo grupo familiar ou social. Apesar de nem sempre o local de origem das pessoas envolvidas ter sido corretamente informado, a análise das relações sociais das pessoas citadas permite levantar hipóteses para serem pesquisadas. E assim chegou-se ao total de 6.864 italianos ligados direta ou indiretamente a Leopoldina, sendo 4.426 documentados no município. Por conta da prática social de eliminar o sobrenome de família das mulheres casadas, atualmente há 581 mulheres sem origem, já que a investigação é impossível sem saber a qual grupo familiar pertencem.

Como bem lembrou Mioranza (2009, p. 27), “a onomástica envolve áreas da linguística, da antropologia, da sociologia, da geografia, da história e da psicologia”. Isto posto, não se deve desconsiderar o caráter multidisciplinar por conta da acepção da própria palavra, pois onomástica é a arte dos nomes. Toda arte provém de um conjunto de conhecimentos e a onomástica busca suas bases na linguística histórica que reflete o conjunto das práticas de cada momento. Este conceito norteou a decisão de usar a ortografia de cada sobrenome conforme encontrado na mais antiga fonte documental de cada personagem, pois não foram raros os casos em que sobrenomes aparentemente semelhantes no significado foram encontrados escritos de forma diversa conforme a família fosse originária de diferentes regiões italianas. Ressalte-se que os números aqui citados podem mudar sempre que novas fontes forem encontradas. Neste momento são apresentados os 1.173 sobrenomes de imigrantes italianos documentados em Leopoldina.

A título de Bibliografia

Lista simplificada das fontes utilizadas na composição do arquivo de dados relativo aos imigrantes italianos que viveram no município de Leopoldina antes de 1930.

Alistamento Eleitoral de Volta Grande 1900.

Alistamento Eleitoral do município de Leopoldina 1897 a 1900.

Arquivo da Diocese de Leopoldina.

Arquivo da Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo.

Arquivo do Judiciário de Leopoldina.

Arquivo Nacional: Manifestos de Vapores, Registro de Estrangeiros, Livros da Hospedaria da Ilha das Flores e da Agência Portuária.

Arquivo Público Mineiro: Livros da Hospedaria Horta Barbosa, Relatórios das Colônias de Imigrantes e Relatórios da Presidência da Província.

Arquivos civis e paroquiais das localidades de procedência dos imigrantes.

Arquivos de cemitérios das localidades onde viveram os imigrantes.

Arquivos de distritos militares italianos.

Arquivos paroquiais das demais localidades onde viveram os imigrantes.

Associação de recuperação e salvaguarda de arquivos históricos italianos.

Cartórios de Nota, de Registro Civil e do Registro de Imóveis de localidades brasileiras onde os imigrantes viveram.

Coleção das Leis da Assembléia Legislativa da Província de Minas Gerais.

Coleção das Leis Municipais de Leopoldina, MG.

Coleção Kenneth Light: documentos da Fazenda Paraíso pertencentes aoArquivo do Museu Imperial de Petrópolis.

Documentos pessoais como Carteira de Estrangeiro, Carteira Nacional de Habilitação e Certidão de Naturalização emitidas por órgãos brasileiros, Certidão Consultar e Passaporte italianos.

Jornais: Correio da Manhã, Rio de Janeiro, RJ; Gazeta de Leopoldina, Leopoldina, MG; O Leopoldinense, Leopoldina, MG; O Mediador, Leopoldina, MG; O Pharol, Juiz de Fora.

Livros Caixa da Câmara Municipal de Leopoldina.

Livros paroquiais italianos e de localidades brasileiras microfilmados pelaIgreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Portale Antenati. Gli Archivi per la Ricerca Anagrafica. <https://www.antenati.san.beniculturali.it/&gt;

Almanaque de Leopoldina. Leopoldina: s.n., 1886.

ALMEIDA, Salvador Justen de. Fichas Genealógicas das famílias Justen de Almeida e Carvalho. Arquivo Pessoal, 1994-2012.

BOTELHO, Luiz Rosseau. Dos 8 aos 80. Belo Horizonte: Vega, 1979.

BROTERO, Frederico de Barros. A Família Monteiro de Barros. São Paulo: s.n., 1951.

BUZATTI, Dauro José Antigos Povoados de Minas nos Campos das Vertentes. Belo Horizonte: do autor, 1978.

CARNEIRO, Erymá. Do Lombo de Burro ao Computador. Rio de Janeiro:do autor, 1976.

Documentário histórico de Argirita, MG. Argirita, MG: Arquivo da Biblioteca Pública Municipal.

FREITAS, Mário de. Leopoldina do Meu Tempo. Belo Horizonte: Página, 1985.

GONZALEZ, Gildesio Canova. Família Canova. Arquivo eletrônico, 2005.

HÉNAULT, A. Almanak Hénault – Annuario Brazileiro Commercial Illustrado. Rio de Janeiro: s.l., s.d.

LAEMMERT, Eduardo e Henrique. Almanak Laemmert Rio de Janeiro: diversos números.

LOTTIN, Jucely. Colônia Imperial do Grão Pará – 120 anos. Grão-Pará, SC: s.n., 2002.

MATTOSINHOS, José Campos. História de Goianá. Goianá: s.n., 1998.

MENDES, Padre Geraldo Mendes. História Geral do Laranjal. Laranjal: s.n., 1986.

MIORANZA, Ciro. Dicionário dos sobrenomes italianos. São Paulo: Escala, 1997.

MIORANZA, Ciro. Filius Quondam: a origem e o signficado dos sobrenomes italianos. 2 ed. São Paulo: Larousse do Brasil, 2009.

MOREIRA, Rosalina Pinto. Imigrantes… Reverência: italianos na Colônia Santa Maria. O Lutador, 1999.

OLIVEIRA, Elisabeth Dorigo de. Fichas Genealógicas da família Dorigo de Oliveira. Arquivo eletrônico, 2006-2012. RODRIGUES, José Luiz Machado e CANTONI, Nilza. Nossas Ruas, Nossa Gente. Rio de Janeiro: do autor, 2004.

123 – Fontes das Informações

Resgatar a história da cidade e, por via de consequência, a Imigração Italiana em Leopoldina, tem sido um trabalho prazeroso. Principalmente quando se olha para o conhecimento sobre a população leopoldinense que se conseguiu ordenar e disponibilizar para pessoas que quase nada sabiam sobre o passado da cidade e das famílias que aqui se instalaram.

Mas hoje o Trem de História quer fazer um registro importante. Quer deixar claro que é reconhecida a impossibilidade de se retratar fielmente todo o passado, uma vez que, por mais que se controle a análise dos documentos, ela é sempre orientada pelo presente, ou seja, pela interpretação que o pesquisador é capaz de fazer dos vestígios que consegue recuperar. Está sempre sujeita a novas descobertas e interpretações.

Como recorda o mestre francês Marc Bloch[1], “o conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa”.

Através de pistas fornecidas pelos colaboradores, foi possível fazer uma comparação entre as citações encontradas nas fontes. Inclusive, e isto é de enorme importância, entrevistas indicaram caminhos para se identificar transformações sofridas por grande número de sobrenomes.

Nunca será excessivo mencionar dois exemplos clássicos encontrados nos documentos pesquisados. Num deles, um italiano aparece no registro de estrangeiros com o nome de Severino Terceira, nome que dificilmente seria original. O outro exemplo é o de Sancio Maiello que noutras fontes se transformou em Francisco Ismael.

Além disso, nos últimos oito anos foi possível ter acesso a documentos italianos que apresentam grafia diferente para nomes e sobrenomes registrados em outras fontes também produzidas no país de origem do imigrante, confirmando que a divergência de grafia existiu tanto lá quanto cá.

De qualquer forma, permanece em vigor a determinação metodológica, do início da pesquisa, de utilizar a grafia encontrada na fonte mais antiga e estendê-la a todos os membros do grupo familiar. Isto se deve à total impossibilidade de manter todas as variações num universo tão amplo de pessoas. Afinal, o trabalho intenta abordar os imigrantes que chegaram a Leopoldina entre 1860 e 1930, identificados nas fontes disponíveis.

É certo que não foram poucos os casos em que um mesmo personagem apareceu com diversas formas de nomes. E somente após inúmeras comparações foi possível reuní-los sob um único sobrenome. Provavelmente mais ainda o serão, quando outros estudiosos se dedicarem ao assunto.

Por outro lado, muitos leitores se surpreendem com algumas ocorrências frequentes. Na maioria das vezes resultado do anacronismo, ou seja, de se olhar o passado sob a ótica atual. As pessoas não compreendem que o registro civil, seja de nascimento, casamento ou óbito, não é a melhor fonte para o período estudado. Há inúmeros casos em que a data de nascimento no registro civil é posterior à data do batismo, como se fosse possível batizar a criança no ventre da mãe ou até mesmo antes de ser gerada. Diversos, também, são os casos de casamento civil muitos anos após o nascimento dos filhos, como se os pais fossem solteiros. E pessoas se manifestam de forma pouco cortês quando não encontram o registro de óbito no cartório da localidade onde ocorreu a morte.

Mas há justificativas para os três casos, como se verá.

Sobre o registro civil de nascimento, basta lembrar que até fevereiro de 1931 havia cobrança de multa por atraso. É fácil concluir que, para evitar o pagamento da multa, era comum alterar a data do nascimento.

Com o Decreto Lei 1.116, de 24 de fevereiro de 1931, ficou estabelecido em seu Art. 1º que “Os nascimentos ocorridos no país desde 1º de janeiro de 1879 e não registados no tempo próprio deverão ser levados a registo até 31 de dezembro do corrente ano”.

Este decreto esclarece, de uma só vez, duas situações. A primeira, que o registro civil no Brasil não foi implantado com a República. E que os registros realizados a partir deste normativo poderiam conter enganos de data e local, já que eram feitos com base em informações orais.

Quanto ao casamento, foi observado que o registro civil acontecia nos casos em que os noivos residiam próximo ao cartório ou, em casos menos frequentes, quando o oficial se deslocava até alguma fazenda e ali registrava vários eventos no mesmo momento.

Há, ainda, relatos de que os trabalhadores não podiam arcar com os custos cobrados pelos cartórios, o que também justificaria a inexistência ou demora no registro.

Já para a falta de registro de óbito, diversos oficiais de cartório informam a ausência deles para um período relativamente longo. Há várias explicações possíveis, entre elas as mortes e sepultamentos ocorridos longe das áreas urbanas.

De todo modo, e ainda reforçando a metodologia definida desde o início da pesquisa, foi dada prioridade aos assentos paroquiais relativos a eventos ocorridos no Brasil. Para os italianos, sempre que possível se recorreu aos Archivi di Stato, instituições que guardam os registros de nascimento, casamento e óbito em solo italiano, entre outros documentos.

E que fique claro: nenhuma das distorções justificaria abandonar a ideia de continuar com o resgate da história.

Por hoje o Trem de História fica por aqui. Na próxima edição ele trará algumas informações sobre a movimentação dos imigrantes dentro de Leopoldina e, também, para fora dela. Até lá!


Nota 1: BLOCH, Marc Leopold Benjamin. Apologia da História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p.75

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 376 no jornal Leopoldinense de 16 de março de 2019

 

121 – Imigrantes Italianos em Leopoldina – O início do estudo

Hoje o Trem de História inicia uma nova viagem, em cuja estação de embarque são recolhidas informações publicadas pelos autores nos últimos vinte anos, as quais servirão de guia para uma nova série de artigos.

Sabe-se que pesquisar é buscar resposta para uma questão que surge no contato com um tema. De modo geral, o processo tem início quando, ao procurar conhecimento sobre um assunto, o leitor se sente atraído por um aspecto não abordado nas obras disponíveis. No caso de pesquisas historiográficas relativas ao resgate da memória de uma cidade, como é o caso deste trabalho sobre a imigração em Leopoldina, isto se torna mais claro por não sido encontrada uma fonte suficiente para esclarecer o assunto.

A convivência com descendentes de naturais de outros países que aqui se estabeleceram desde o século XIX, acrescida mais tarde da pesquisa em fontes documentais, da leitura de obras sobre o tema e de entrevistas com descendentes e especialistas, resultou numa parceria que vem produzindo diversos trabalhos, seja para publicar no jornal da cidade ou para apresentação em seminários.

Um deles foi “A Imigração em Leopoldina vista através dos Assentos Paroquiais de Matrimônio”, cuja primeira versão data de 1999. Nele ficou demonstrado que 10% dos noivos que se casaram em Leopoldina no período de 1890 a 1930 eram imigrantes, sendo 9% italianos e os demais vieram de Portugal, Espanha, Síria, Açores, França, Ilhas Canárias e Egito.

Registre-se que, num primeiro momento, parte destes casais ficou sem definição do país de origem. Mais tarde, através de assentos paroquiais de batismo, foi acrescentada a origem germânica de alguns casais que aqui viviam no período.

Naturalmente, uma questão se impôs logo no início da pesquisa: quem eram aqueles imigrantes? Questão que se tornou a justificativa primeira para realizar a busca delineada.

Embora o senso comum reconheça que o centro urbano é habitado por grande número de descendentes de italianos, eram desconhecidas iniciativas de valorização de tal comunidade. A exceção era a representação anual na Feira da Paz, evento dos clubes de serviço com atividades festivas de congraçamento.

Assim, logo se viu que a busca por informações se mostrava infrutífera, já que as pessoas consultadas nada sabiam sobre a chegada dos primeiros imigrantes nem sobre a trajetória das famílias. Mas para quem já se dedicava há tantos anos a buscar conhecimento sobre Leopoldina, uma certeza já se fixara ali.

Sabia-se que a ordenação de informações resultaria em benefício para os moradores, na medida em que conhecer a própria origem dá ao ser humano a oportunidade de reconhecer-se no tempo e no espaço, realimentando sua própria identidade e abrindo um novo olhar para o mundo.

Sendo assim, ficou decidido que seria feita uma análise daquela sociedade a partir de um de seus elementos constitutivos – os imigrantes, com o objetivo de oferecer aos conterrâneos uma informação cultural até então pouco discutida, qual seja o reconhecimento da presença dos descendentes em todas as atividades locais.

Ao ser esboçado o projeto, foi feito um levantamento das fontes passíveis de serem consultadas. Decidiu-se que os dados obtidos no levantamento dos livros paroquiais seriam comparados com os registros de entrada de estrangeiros; processos de registro dos que viviam no município por ocasião do Decreto 3010 de 1938 [1]; livros de sepultamento; pagamento de impostos e tributos municipais; escrituras de compra e venda de imóveis; e notícias na imprensa periódica.

Como se sabe, é fundamental estabelecer um recorte temporal para tornar viável o empreendimento, bem como o objetivo da pesquisa. No caso em pauta, por ser um primeiro trabalho sobre o universo estudado, era aconselhável restringir também o número de pessoas a serem estudadas. Entretanto, levantou-se a hipótese de variações em torno da lista de nomes identificados nos livros paroquiais. E em razão disto ficou estabelecido que seriam acrescentados os nomes que surgissem nos demais documentos disponíveis e que a citação em mais de uma fonte seria tomada como base para o reconhecimento do imigrante como residente em Leopoldina. Determinou-se, a partir daí, que o período de análise corresponderia à segunda fase da história de Leopoldina, o que se verá nos artigos seguintes.

Por hoje, com os cumprimentos às centenas de descendentes de italianos que vivem em Leopoldina, pela passagem do Dia Nacional do Imigrante Italiano no próximo dia 21, o Trem de História dá uma parada para embarque da carga que seguirá viagem na próxima edição do jornal. Até lá!


Nota 1 – Este Decreto, promulgado por Getúlio Vargas, determinava que todo imigrante residente em território nacional deveria preencher um requerimento a ser encaminhando para controle pelo Departamento de Polícia Marítima, Aérea e de Fronteiras, com dados de identificação pessoal e de sua imigração.

Luja Machado e Nilza Cantoni – Membros da ALLA

Publicado na edição 374 no jornal Leopoldinense de 16 de fevereiro de 2019

O estrangeiro na obra de Plínio Salgado

“Plínio foi muito influenciado pelos debates daquele momento [década de 1920], particularmente, pelo movimento modernista, questão nacionalista e proposta da eugenia paulista, era o solo fértil de que o autor necessitava para se aprimorar intelectualmente, apropriando-se destas matrizes que foram acrescidas às de sua formação, em São Bento do Sapucaí.”

Artigo de Maria Izilda Santos de Matos e Leandro Pereira Gonçalves publicado na Revista Patrimônio e Memória, São Paulo, Unesp, v. 10, n. 1, p. 157-182, janeiro-junho, 2014

Resumo

Plínio Salgado é conhecido como líder e mentor do movimento integralista, todavia, a sua atuação literária teve grande destaque no cenário cultural brasileiro e português. Na sua ampla produção, merece menção o romance O estrangeiro (1926), no qual destaca a figura do imigrante no desenvolvimento da nação e aprofunda a crítica à sociedade de então, refletindo sobre o modelo nacionalista a ser empregado no Brasil. Esta pesquisa buscará analisar esta obra em interface com as propostas dos eugenistas paulistas sobre a questão da imigração.

Leia o artigo neste endereço.

Hospedaria de Jacareacanga, Leopoldina

Conforme se verifica no recorte acima, em setembro de 1895 teria sido adquirido o Sítio Jacareacanga, com o nome incorretamente grafado na nota. O objetivo era nele instalar a Hospedaria de Imigrantes de Leopoldina que, segundo outras fontes, funcionou por um curto período de tempo.

104 anos de criação da Colônia Constança

No dia 12 de abril de 1910 era oficializada a criação da Colônia Agrícola da Constança, no município de Leopoldina.

Decreto de Criação da Colônia Agrícola da Constança

Dia Nacional do Imigrante Italiano

A Lei federal nº 11.687, de 02.06.2008, instituiu o dia 21 de Fevereiro como Dia Nacional do Imigrante Italiano. Leopoldina é uma cidade com forte presença de descendentes daqueles imigrantes que, chegados ao município no último quartel do século XIX, aqui se estabeleceram e contribuíram para o nosso desenvolvimento econômico e social. Apesar disso, não temos notícia de qualquer movimento permanente no sentido de manter viva a memória destes nossos conterrâneos por adoção.

Onde está a proposta encaminhada por José Luiz Machado Rodrigues à Câmara Municipal de Leopoldina, há mais de quatro anos, propondo nomear como Caminho do Imigrante o trajeto que eles faziam quando de seus lotes na Colônia Constança demandavam a cidade?

Para reavivar a memória ou informar aqueles que porventura não tenham participado do movimento que fizemos em 2010, comemorando o Centenário da Colônia Agrícola da Constança e os 130 anos de Imigração Italiana em Leopoldina, republicamos nosso Resumo Histórico.

A transição da Mão-de-obra no Sul de Minas: cultura política na imprensa local (1879-1888)

Artigo de Fábio Francisco de Almeida Catilho publicado na Revista Eletrônica Cadernos de História, vol. VI, ano 3, n.º 2, dezembro de 2008.

Resumo
O presente trabalho tem por objetivo problematizar o discurso da elite regional do Sul de Minas – região pouco estudada embora seja uma das mais dinâmicas do estado – nos periódicos locais acerca da transição da mão-de-obra entre 1879 e 1888. Ou seja, abordaremos o papel da imprensa regional e seu posicionamento político diante das diferentes opções aventadas para se organizar o mundo do trabalho. Nesta contenda, pesavam na decisão dos proprietários e políticos as opções pelo trabalhador imigrante, porém muito oneroso ou o aproveitamento da mão-de-obra recém liberta, no entanto estigmatizada como indolente e morosa. Acreditamos que o estudo de tão importante tema nos revelará muito da cultura política regional, reflexo dos temas discutidos nacionalmente. Através desta análise confiamos ser possível identificar os atores e seus discursos para melhor entender como se deu a modernização do mercado de trabalho no interior do país e a sua inserção no capitalismo mundial.

Leia o texto.

Imigração e família em Minas Gerais no final do século XIX

Este artigo de Tarcísio Rodrigues Botelho, Mariângela Porto Braga e Cristiana Viegas de Andrade já foi aqui mencionado. Mas atendendo o pedido de um leitor, indicamos a leitura integral do texto.

RESUMO

Em fins do século XIX e princípios do século XX os fluxos migratórios atingiram proporções significativas em Minas Gerais, especialmente graças à construção de Belo Horizonte e à expansão da lavoura cafeeira na região sul e na Zona da Mata. A partir dos registros da Hospedaria Horta Barbosa, em Juiz de Fora, no ano de 1896, apresentam-se algumas características desses contingentes: sua composição etária e sua origem, bem como a composição dos grupos familiares que migravam. A julgar pelo perfil encontrado nesse ano, os imigrantes que estavam se dirigindo para Minas Gerais ajustavam-se ao padrão da imigração subsidiada, com predomínio dos grupos familiares. O perfil etário e o de sexo diferenciam-se do perfil clássico dos migrantes, no qual predominam os homens jovens.

Palavras-chave: demografia histórica; imigração; família.


Revista Brasileira de História – Imigração e família em Minas Gerais no final do século XIX

Lembranças de Imigrantes em Leopoldina

“a cidade pode ser lida como um texto que registra as atitudes de uma sociedade perante os fatos mais elementares de sua existência”. (Barros, p.28)
Ao olhar uma cidade nesta perspectiva sugerida por José d’Assunção Barros no livro Cidade e História, publicado pela Editora Vozes em 2007, provavelmente haverá um envolvimento bem diferente daquele cotidiano, quando se atravessam as ruas, ou daquele momento em que se escolhe o melhor ângulo para uma fotografia panorâmica. O mesmo autor, na página 40, cita Roland Barthes, em A Aventura Semiológica:
“A cidade é um discurso, e esse discurso é verdadeiramente uma linguagem: a cidade fala a seus habitantes, falamos nossa cidade, a cidade em que nos encontramos, habitando-a simplesmente, percorrendo-a, olhando-a”.
Este livro foi procurado na estante após ouvir uma entrevista realizada com descendente de imigrante que viveu em Leopoldina na primeira década do século XX. Em certo trecho ela declara que seus avós guardavam a melhor roupa para usar em duas situações: para ir à Igreja ou quando iam visitar o padrinho de um dos filhos que morava na principal rua da cidade. Acrescenta que eles gostavam de olhar para as fachadas e os jardins das casas e sonhavam vir a residir na área urbana. Depreende-se que eram raras as “viagens” até Leopoldina, por parte daqueles colonos que viviam a 4 ou 5 km da sede do município. Em outra situação, o neto de um imigrante disse que seu avô guardou, até o fim da vida, uma fotografia da Estação Ferroviária, dado o encantamento que sentiu ao ali desembarcar depois de quase dois meses viajando para estabelecer-se no Brasil.
Não só os imigrantes achavam bonitas as ruas centrais de Leopoldina. Em livros como o Minas Gerais e seus Municípios, de Roberto Capri, publicado pela Pocai Weiss de São Paulo em 1916, observa-se um certo respeito pelas edificações existentes no centro da cidade. Entretanto, José de Assunção Barros lembrou  (pag. 41) que os habitantes reescrevem suas cidades e os prédios que demonstravam riqueza e poder num dado momento podem degenerar-se no período seguinte e se transformarem até mesmo em símbolos da marginalidade. Este autor ressalta que a deterioração de um bairro pode significar a mudança do eixo econômico ou cultural.
O que terá acontecido, por exemplo, com as chácaras existentes no bairro do Rosário, mencionadas em jornais do início do século XX como locais de grandes festas? O poder econômico transferiu-se para outros logradouros, deixando-as sem manutenção até não ser mais possível recuperá-las? Nos bairros mais afastados, que ao final do século XIX eram ainda área rural com sedes de grandes fazendas, existe alguma construção preservada? Como está aquela sede de fazenda, no Alto Pirineus, que na década de 1960 era como que uma fronteira entre o urbano e o rural?
São questões a serem pensadas, não só em Leopoldina como em qualquer outra cidade. Vieram à tona, neste momento, em consequência de reflexões suscitadas pela lembrança de descendentes de imigrantes. Eles que foram, muitas vezes, artífices de obras de arte como algumas que ainda podemos ver no cemitério municipal, ou a portada da Catedral.