Etiqueta: Teoria
Conhecimento descritivo; forma de pensar e entender algum fenômeno a partir da observação.
O Povo também tem Ancestrais
V – Teoria Necessária
IV – Período a ser analisado
A verdade em pauta, novamente
O documento […] resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro determinada imagem de si próprias. […] Cabe ao historiador não fazer o papel de ingênuo. […] importa não isolar os documentos do conjunto de que fazem parte. Sem subestimar o texto que exprime a superioridade, não do seu testemunho, mas do ambiente que o produziu…
Reflexões sobre nosso Trabalho
A história, em sua forma tradicional, se dispunha a “memorizar” os monumentos do passado, transformá-los em documentos.
Nós escolhemos uma via que se contrapõe à história tradicional, a qual se concentrava em acontecimentos ditos importantes, relegando ao esquecimento o que classificava como desnecessário perpetuar. Entendemos por inviável tal posição, na medida em que os historiadores determinaram o que seria importante a partir de uma visão particular de mundo que não é mais aceitável.
Nossa escolha fundamenta-se, entre outras, nas palavras de Fernand Braudel em Escritos sobre a História, onde declara que não existe
indivíduo encerrado em si mesmo […] todas as aventuras individuais se fundem numa realidade mais complexa, a social.
Optamos pela reação contra
a história arbitrariamente reduzida ao papel dos heróis quinta-essenciados.
Realmente acreditamos que a história modula o destino dos homens. Na medida em que pudermos dar voz aos que foram desconsiderados pela história antiga, estaremos contribuindo para um novo lugar de memória, onde a sociedade leopoldinense poderá haurir outros componentes de sua formação identitária.
A Verdade de Cada Um
“O historiador não estuda o presente com a esperança de nele descobrir a exata reprodução do passado. Busca, nele, simplesmente os meios de melhor compreender, de melhor senti-lo”.
Bases para nossos Estudos
Alguns leitores deste blog e do site perguntam como desenvolvemos nossa pesquisa. Reconhecemos que, até o momento, pouco abordamos sobre a metodologia da pesquisa. Brevemente pretendemos suprir esta falha, publicando o capítulo que escrevemos sobre a elaboração do projeto e seu desenvolvimento. Se ainda não o fizemos é porque, em nosso cronograma, definimos que em abril de 2010 substituiremos os textos publicados no jornal O Leopoldinense, disponíveis no site, pela íntegra de nosso trabalho. No momento estamos dando os retoques finais no texto básico para, em seguida, fazermos a revisão dos outros capítulos.De todo modo, e respondendo diretamente à Mara Lúcia, informamos que buscamos fundamentação teórica em diversas áreas. Especialmente na Sociologia e na Antropologia que, segundo Le Goff em Reflexões sobre a História, estão profundamente vinculadas à História Social.
Colonos, gente desconhecida
“Uma das novidades da historiografia actual é a de nos mostrar como viviam os homens no dia-a-dia. Os desconhecidos, aqueles de quem nunca se fala, que não são célebres”.
A partir deste prólogo sentimos estar diante de alguma coisa que ainda não soubéramos expressar. Este era o ponto: conhecer homens e mulheres comuns que viveram na nossa cidade e que provavelmente muito teriam a nos contar. A distância no tempo impedia um contato mas não o inviabilizava integralmente, na medida em que pudéssemos escovar o passado, como sugeriu Walter Benjamin. Segundo Wolfromm,
“todos nós temos nostalgias históricas. Exilados por acaso no século XX, viajantes sem bagagens sobre o mapa do tempo, gostamos de olhar para trás para saber de que era feito o passado.”
Nascidos numa pequena cidade do interior, mesmo que a tenhamos deixado ao final da adolescência dela não nos esquecemos. Em Leopoldina estão as nossas raízes, a nossa força e o alimento primevo. Quando este pensador francês declara que as perguntas mais comuns revelam mais sobre uma época do que as guerras e os feitos dos homens ilustres, sentimo-nos apoiados por mão segura em nossa caminhada. Se o autor generaliza sobre a curiosidade que todos temos sobre o passado, dizendo-a infinita, só podemos tomar suas palavras e dizer que também sentimos que
“ao abrir o correio do passado […] nós dobramos, triplicamos a nossa vida”.
O Homem na História
“Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem [os artefatos ou as máquinas,] por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e das instituições aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram, são os homens que a história quer capturar. Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, um serviçal da erudição”.
Acreditamos que não seria possível conhecer o impacto da Colônia para o município de Leopoldina se não buscássemos compreender o modo de vida daqueles trabalhadores que implantaram as transformações.
Antes da chegada em massa dos imigrantes, a vida transcorria dentro de parâmetros estabelecidos há muito tempo. Os proprietários de terra mandavam derrubar a mata, plantar, colher e vender. Com o capital arrecadado, investiam em compra de novos escravos para melhor explorar uma faixa de terra ainda virgem. Buscavam acumular um montante mais significativo que permitisse ampliar a lavoura e garantir-lhes o status. Além das picadas na mata, mandavam abrir ou recuperar caminhos para o trânsito da produção e também para que sua família pudesse se deslocar. Seja para as festas religiosas no centro urbano, seja para as sonhadas viagens à corte, a vida dos fazendeiros girava em torno de garantir a produção e os meios de locomoção que sustentavam um insipiente convívio social.
O comércio mais significativo – venda da produção agrícola – era direcionado para os grandes centros, gerando necessidades que passavam pela compra ou criação de animais de carga até o investimento na estrada de ferro, já no último quartel do século XIX. Já o comércio local era explorado por prepostos dos próprios fazendeiros, em estabelecimentos denominados por “venda”, geralmente localizados no entroncamento dos múltiplos caminhos que cortavam as propriedades.
O poder decisório estava nas mãos dos grandes fazendeiros. Embora a literatura romântica se refira a propriedades de grande extensão, os registros indicam poucas fazendas ultrapassando os 400 hectares e um grande número de sítios, entre 10 e 50 alqueires mineiros. Os pequenos proprietários ficavam sujeitos, na maioria das vezes, ao sistema de plantio e comercialização definido pelos grandes.
Chegam os imigrantes colonos e o ritmo é modificado. Não parece ter havido uma ruptura significativa e imediata. Mas os trabalhadores livres nas fazendas já não se contentavam em esperar o beneplácito do contratantes para ascender economicamente. Aos poucos foram negociando novas relações de trabalho, incluindo a parceria. Do pedaço de terra que o fazendeiro destinava a cada colono, começaram a nascer os pequenos roçados, as pequenas produções de gêneros variados. Há relatos de colono que vendia milho para a cozinha da fazenda. E de outro que fabricava móveis para vender na propriedade vizinha. Já não era, portanto, o escravo da fazenda que produzia o sapato, a roupa ou a cama para o “sinhozinho”. Instaurou-se uma era de mais liberdade para produzir, vender, acumular capitais e progredir, abrindo a sociedade para a chegada de novos atores. Poucos espaços permaneceram restritos ao uso dos privilegiados descendentes dos fazendeiros.
A Colônia Agrícola da Constança é, pois, consequência de um novo modo de vida. Que foi construído por homens e mulheres, artífices da nova sociedade que se estabeleceu em Leopoldina.